1.4.04

Serviço de despertador

Acordei com o telefone tocando.

- Bom dia! O senhor pediu para ser despertado às cinco horas.
- O quê?
- Já são cinco da manhã, senhor.
- Mas que diabo é isso? Quem está falando?
- É da recepção, senhor. Serviço de despertador.

- Você se enganou de quarto.
- Seu quarto não é o 103?
- E daí?
- Está escrito aqui. 103.
- Foda-se que está escrito aí. Eu não pedi para ser acordado.
- O senhor não pediu para ser despertado?
- Nem despertado, nem acordado. Passar bem.
- Espere, senhor!
- Que foi?
- Se o senhor não pediu para ser despertado, quem pediu?
- Como que eu vou saber quem pediu? Que absurdo.
- Você tem que me ajudar!
- Eu tenho que te ajudar?
- Alguém pediu para ser despertado às cinco da manhã, e não vai ser!
- Sorte dele.
- Por favor! Alguém pode perder um compromisso importante, o senhor entende? Eu deveria despertá-lo. Eu! Confiaram em mim.
- Problema seu, meu caro.

Desliguei. O telefone tocou de novo. Eu sabia que não ia conseguir dormir mais. Atendi.

- Que foi?
- Só eu e o senhor estamos despertos agora.
- Não é incrível?
- O senhor tem que me ajudar!
- Como, porra?
- O senhor ouviu alguém dizer que precisava despertar cedo hoje?
- Não.
- Talvez alguém dizer que tinha um compromisso de manhã.
- Eu não conheço ninguém no hotel.
- Poderia ter ouvido algo no elevador. No restaurante.
- Não ouvi porra nenhuma.
- Ai, meu deus. E agora?
- O número do quarto está anotado a mão?
- Sim, senhor.
- Em algarismo?
- Sim, senhor.
- Bem. O número um é parecido com o sete. O zero talvez seja um seis. O três, um oito. Tente primeiro o 108.
- O senhor é um gênio.
- Quem não é às cinco da manhã?
- Não sei como agradecer.
- Nem tente.

Desliguei. Levantei da cama, lavei o rosto e escovei os dentes. Atendi.

- Não deu certo. Acordei alguns hóspedes. Eles ficaram revoltados.
- Continue tentando. Quem sabe o 103 não seja 106? Ou 116. Ou 110. Lembre-se: alguém pode perder um compromisso muito importante. Pode ser questão de vida e morte. E você será o culpado.
- Ai, meu deus.

Desliguei. Tomei banho. Atendi.

- Acordei o hotel inteiro. O hotel inteiro! E ninguém pediu para ser acordado às seis da manhã!
- Às cinco.
- Às cinco! Vários hóspedes juraram que vão me bater!
- Ossos do ofício, meu caro. Às vezes, eles são quebrados.
- Me ajude!

Começou a chorar. Desliguei. Olhei o relógio. Quase seis. Meu deus, eu estava terrivelmente atrasado.

FDR

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