A garotinha está sentada no colo do avô, no sofá da sala com capa cinza clara – o mesmo que está lá até hoje – e o avô olha no fundo dos olhos dela e diz que são olhos de jabuticaba. Só mesmo amor de avô para ver qualquer graça em olhos castanhos como a maioria. A garotinha ri e eles cantam juntos: “Cabooooocla, seu olhar está me dizendo/que você está me quereeeeendo/que você gosta de miiiiiiiiim”. Ele é o seu Nelson Gonçalves e ela é a sua cabocla. A avó entra na sala e acena para a garotinha com a encomenda pronta: um copinho de plástico cor-de-rosa, com uma família de coelhinhos desenhados. A coelha mãe veste um vestidinho azul. A garotinha pula do colo do avô e agarra o copinho. Aquela é quase uma rotina dos dias de férias na casa dos avós. A rotina que ela adora. Dentro do copinho, ela sabe, água e detergente esperam para, com a ajuda de um canudinho pequeno, ser transformados, magicamente, em bolinhas de sabão que vão voar pela vila e se espatifar num dos paralelepípedos enormes, enquanto a garotinha observa tudo, curiosa, sentada no degrauzinho de mármore branco da casa.
A garotinha, é claro, sou eu. E, de repente, a saudade dos meus avós me deu vontade de encolher na cama e ser ela de novo.
Epinion
10.5.04
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