10.5.04

A solidão não me é prazerosa. Não me basto como companhia, preciso dos meus silêncios tanto quanto preciso dos silêncios dos outros a fazer eco dos meus. Eu não basto a mim mesma porque minha matéria não cabe em mim. Vivo de transbordamentos e avalanches e preciso em quem transbordar. Vivo de entregas, vivo enquanto me dou de presente, me ofereço. Vivo para extrapolar minhas fronteiras e me imiscuir em terra estrangeira. Vivo enquanto exploro e fecundo, vivo enquanto tomo outros territórios, enquanto me aproprio, possuo e sou possuída. Minha fome não se aplaca em autofagia, preciso da carne de outros, do sangue de outros, dos olhos de outros.

Não Discuto

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