11.6.04

Cristina me conheceu de barba. Mas eu já estava com saudade do meu rostinho lindo e resolvi tirar. Correr o risco de ser rejeitado, chutado, espezinhado, repelido, desprezado por ela. Ou não. Procurei meu barbeador elétrico e cadê?, sumiu no mocó. Soquei a bota na lâmina mesmo, arrancando aqueles puta chumaços de pêlos lambuzados com espuma de barbear. Encerrado o escalpo que me entupiu a pia, verifiquei se não tinha sobrado nada no meu rostinho lindo. Nada. Beleza. Tomei meu banho quinzenal, passei rolão no suvaco e me mandei para o Centro da cidade. Caralho. Só no caminho fiz a descoberta no espelho retrovisor. Puta que pariu, um pêlo! Tinha sobrado um pêlo de barba um pouco acima da minha bochecha direita. E não era um pelinho, era um pêlo considerável! Nem que eu quisesse conseguiria aquela façanha, mas ele estava ali, ali, ali. Parei o carro e puxei o pêlo com os dedos. Nada. Catei aquela tesoura vagabunda que vem no kit de primeiros socorros e ela não cortou. Puxei o pêlo com as unhas. Puxei tanto, que ele acabou enrolando. Agora eu tinha um pentelho no rosto! Nem por uma xana eu ia deixar a Cristina ver aquilo. Lobisomem de um pêlo só? Foi quando eu lembrei das ferramentas do carro. Não, nada de usar macaco ou chave de roda, mas alguma coisa útil haveria de ter. E achei meu alicate! Grandão, revestido de plástico laranja. Com ele consegui finalmente arrancar o pêlo pentelho. Alguns passantes me estranharam olhando para o retrovisor e tentando acertar, com o alicate no rosto, alguma coisa invisível para eles, mas em São Paulo o que mais tem é louco então tudo bem. Cristina? Gostou do meu rostinho lindo. Ela é do tipo que curte beleza interior, sabe? Pâncreas, fígado, baço, essas coisas.

catarro verde

Um comentário:

Anônimo disse...

rá rá rá
essa eu ri!!!