10.6.04

Christiano, pálido como farinha de mandioca, suava frio. O cano da pistola, a pelo menos um metro e meio de distância, mantinha-o em silêncio apavorado. Os olhos - sim, Chris estava sem chapéu - tinham a resignação de quem está pronto para ir de encontro a São Pedro nos próximos instantes. Enquanto isso, Samuel encarava-o, praticamente deixando Rodrigo fora de percepção. O jovem misterioso tentou falar. Samuel esforçou-se em ouvir, mas o processador de fala estava com suas pilhas descarregadas.
- Fala mais alto - disse Samuel.
- Eu... eu... só pedi fogo, uai! Não precisa apontar este trabuco nimim!
- Você pediu fogo, agora vai ter.
- Sam, calma...
- Calma o quê?! Pelamordedeus, vocês estão malucos.
O dedo indicador de Samuel empurra a alavanca. Christiano vê sua vida, seus amores perdidos, seus filhos que nunca irão nascer em toda essa fração de segundo. O coração empurra o diafragma para a baixo, e quase ao mesmo tempo, sobe até as amígdalas, juunto com um pavoroso berro que também durou uma fração de segundo.
Rodrigo, de olhos arregalados, não moveu uma célula de seu corpo; nessa fração de segundo, sabia que não podia e não devia fazer nada para ele também não levar uma bala entre os olhos. Samuel estava louco, era preciso interná-lo imediatamente.

Ônibus dos Pensadores

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