Entre o mito e o biquíni
Ah, a juventude. Há alguns anos, inscrevi-me numa lista de discussão sobre Legião Urbana, na esperança ingênua de trocar idéias consistentes a respeito da discografia da banda. Como era de se esperar, a lista estava apinhada de adolescentes ingênuos (expressão redundantemente redundante) que discutiam, dentre outras coisas, maneiras de mudar o mundo (por momentos pensei estar por engano em um fórum de militantes do PSTU). O mais irônico foi o lugar sugerido pelo grupo para discutir formas de "revolucionar o sistema": a praça de alimentação do Shopping Paulista.
E hoje, cá estamos. O muro de Berlim caiu, a China bebe Coca-Cola, a utopia comunista é só um retrato na parede e Fidel Castro de quando em quando manda opositores para o "paredón". Numa época em que a figura mítica de Che Guevara tornou-se estampa no biquíni da Gisele Bündchen, torna-se difícil não assistir a um filme como "Diários de Motocicleta" sem um quê de melancolia.
Enquanto nos anos 80 Cazuza questionava por uma ideologia pela qual viver, a tal Geração 00 não parece mais se importar com isso. Ao contrário, aparenta ter assimilado bem até demais essa era pós-utopias, focando seus ideais e objetivos na mera sobrevivência individualista. Aquele garoto que ia mudar o mundo já não senta em cima do muro: agora prefere escorar-se nele, enquanto faz uma pose blasé para um retrato a ser postado em seu fotolog.
Pensar enlouquece. Pense nisto.
1.7.04
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