11.7.04

O que a gente não diz

Oi, tudo bem?

Tudo.
(muito melhor agora, meu deus, como tu tá lindo homidedeus!)

Demorei?

Nah.
(se eu tivesse que esperar num pau de arara apanhando na sola do pé pra ter essa visão, ainda assim estaria feliz)

Vamos almoçar onde?

Onde achares melhor.
(lá em casa, no meio dos lençóis, ouvindo Coltrane, por favoooooor)

Pode ser no italiano?

Pode.
(desisti de almoçar, vou te raptar agora e te levar pra República Tcheca)

Não está com fome?

Não.
(Como é que alguém pode pensar em comer com tudo isso pra olhar? Eu quero é ficar decorando cada detalhezinho dessa imagem, deusdocéu)

Não queres sobremesa?

Não.
(a única sobremesa que me interessa não está no buffet, meu querido, se bem que com chantilly deve ficar ótemo)

Então vamos?

Vamos.
(tu não vais me agarrar, me pegar no colo, me deitar no solo e me fazer mulher? Não? Como assim?)


Tu estás tão quieta, algum problema?

Não, tudo bem.
(Tá tudo bem, só não tô sentindo o lado esquerdo, meus pés congelaram, tô com taquicardia e faz uma hora e meia que não tenho notícia alguma do meu estômago).

Então, tá. Te cuida. Bom te ver.

Tchau.
(agora dá licença que eu vou ali me atirar debaixo da primeira jamanta carregada de concreto que aparecer)

Megeras Magérrimas

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