8.9.04

Hipótese 1

Este mundo é um esboço. Somos experimentos de alguma força metafísica que pretende, num futuro imponderável, construir um universo bem joinha e exato. Esta força, tipo um deus ou sei lá o quê, decidiu fazer um universo experimental. Quer cometer todos os erros que um Demiurgo pode cometer em sua obra para, nos universos a serem montados depois, não errar tanto. E por isso que somos tão imperfeitos e tudo é uma porcaria. Por isso que existem papagaios e fofoqueiras. Padres e testemunhas de jeová no Domingo de manhã. Jornais melodramáticos e telefones impertinentes. Tudo faz parte de um croqui inacabado, um universo café com leite.

Hipótese 2

Este mundo é o inferno. Pecamos antes. Bem antes de aqui chegar. E pecamos muito mesmo, o suficiente pra alguma força metafísica, tipo um deus ou sei lá o quê, criar este universo como forma de punição. E aqui estamos, pagando pelas cagadas em vida pregressa, feitas num outro mundo imponderável. Por isso que atendemos ligações de telemarketing (forças infernais encarregadas de tornar a vida telefônica realmente um inferno), pensamos que seremos felizes, cortando as unhas que não param de crescer e varrendo a calçada. Por isso que existem papagaios e fofoqueiras. Padres e testemunhas de jeová no domingo de manhã. Jornais melodramáticos e telefones impertinentes. O inferno, enfim.

Hipótese 3

Estamos aqui, e não poderíamos estar em outro lugar. Não pecamos, nem somos esboços, senão esboços de nós mesmos. Não há força metafísica ou outro mundo imponderável. Perdemos nosso tempo pensando em bobeiras e falamos demais. Muito mesmo. Transformamos nossas vidas em amontoados de conceitos registrados no Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (apenas os lusófonos; os outros muito falantes falam muitas palavras de outro idioma muito cheio de palavras). Por isso que existem papagaios e fofoqueiras. Padres e testemunhas de jeová no domingo de manhã. Jornais melodramáticos e telefones impertinentes E assim perdemos nossas vidas pensando no que elas poderiam ter sido e jamais conseguimos achar as palavras que definam o que realmente somos.

Outras hipóteses podem ser aventadas. São infinitas. Mas uma força metafísica, tipo uma Brevidade ou sei lá o quê, impede-me de continuar.

Textículo Grátis. Leia antes que vá pro saco.

Nenhum comentário: