25.10.04

Salvador, 20 de outubro de 2004, 1h15min

Estava agora mesmo na varanda deste quarto de hotel, olhando o mar discutir com as pedras lá embaixo. Uma briga antiquíssima, anterior à existência de vida na Terra.

Eu poderia agora dizer algo pernóstico como: o mar vence sempre, é o masculino que seduz e aos poucos penetra a terra, fêmea que ao mesmo tempo resiste e cede às investidas do macho impetuoso. Mas como nunca maltrato meus leitores com metáforas burras e pretensiosas (é sempre uma coisa ou outra), digo apenas: enquanto olhava a briga lá embaixo, lembrei da morte. Da minha morte, para ser exato. Eu vou morrer — hoje mesmo, semana que vem, daqui a cinqüenta anos — e nunca mais poderei assistir ao mar quebrando na praia (é bonito, é bonito). Minha morte afetará a meia dúzia de pessoas, talvez nem isso. E as ondas continuarão a chocar-se contra o continente, indiferentes ao fim de mais uma breve existência, e sem saber o quanto eu gostava de ficar de longe, só olhando seu movimento sinuoso.

Poucas vezes me senti tão só.

Marcurélo Jesus, me chicoteia!

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