26.10.04

Vó Luíza

A gente chegava na casa da Vó Ada e fugia da Vó Luíza. Mas pelas orelhas, tínhamos que a cumprimentar. Minha bisavó não gostava de tomar banho. Se escondia na hora do banheiro e era até engraçado. Cheirava a velho, com os cabelinhos enroscados num coquinho, dava um trabalhão pra minha avó. Andava pela casa, baixinha e magricela, e, pelo que me lembro, não dizia coisa com coisa. Já peguei a velhinha variando. Mas, quando o crack da bolsa de 29 detonou a fortuna do bisavô e eles ficaram pobres da noite para o dia, foi ela quem sobreviveu ao ataque cardíaco do marido. Sem um puto no bolso, transformou a mansão em pensão para moças de bem e sustentou a filharada toda fazendo comida e servindo na porcelana chique, presente de casamento. Fomos visitá-la num sanatório para velhinhos bem tratados, minha última lembrança dela. Corria pelos corredores fugindo da gente. Acho que quando ela viu que tinha cumprido suas obrigações pensou: agora eu relaxo. Apesar da aparência austera, suas corridas e fugas eram na verdade risadas e gargalhadas. Ela estava era brincando de pegar...

as partes do corpo

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