A CADA UM O QUE É SEU
Você fala relíquias de cristal; ele ouve caixa solta carroceria de madeira. Você tem a voz entre as mãos de quem colheu palavras a noite inteira, escolheu frases uma a uma, ensaiou em inumeráveis rascunhos de memória o melhor arranjo; ele tem ouvidos de grandes precipícios, latas de lixo, esquecimentos, escombros, vasos partidos. Você estende os braços no tom de quem pede licença e quase suplica, ele ouve como quem vira as costas e dá de ombros, fazendo pouco do muito que você acha que oferece. Você encadeia assunto, explica ausência, tenta ser engraçada. Ele cospe monossílabos, descarta coroços de frutas que ele nem sentiu o gosto.
Então você desliga o telefone, as pernas, os braços, os olhos, as mãos, a voz e vai chorar agachada, soluços mudos, num canto do banheiro.
Megeras Magérrimas
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