27.4.05

Sobre o ato de blogar

Tempo é relativo, que o digam aqueles que estão habituados à leitura constante de blogues. Se um blogueiro fica dois ou três dias sem atualizar a página, sempre surgirá algum internauta a comentar: "cadê você?".
Em geral, posts são marcados por uma linguagem informal, descompromissada, não raro pontuada por erros de grafia que denunciam a urgência com que o internauta escreve seu texto, como rascunhos que já nascem com caráter definitivo. Do comando do cérebro ao ato dos dedos digitando no teclado, palavras borbotam e - clic! - desembocam direto para a tela.
E no entanto, há blogueiros que, sem idéias prodigiosas o suficiente para justificar um novo post, limitam-se a escrever: "estou sem idéias, portanto fiquem com este teste (ou link, ou charge, ou letra de música)". Ou seja, postam como que se sentissem compelidos a publicar pelo menos uma coisa, por mais irrelevante que seja, simplesmente para não permitir que as teias de aranha virtuais ocupem seu blog pelo enorme intervalo de... um dia.
Repare: toda vez que um novo texto é publicado, os anteriores deixam de receber novos comentários. Na blogosfera, mais do que nunca prevalece a cultura do imediato: o post está morto, viva o novo post! Em nome da velocidade no carregamento do site, não mais que dez artigos são publicados na página inicial, enquanto os anteriores são empurrados para o quartinho dos fundos. Pergunto: quantos gatos pingados possuem o hábito recorrente de vasculhar os arquivos de um blog?
É preciso ainda falar de textos longos. Quantas vezes você já não se deparou com algum post mais alongado que, metalinguisticamente, pedia desculpas ao leitor com alguma frase do tipo "se você teve paciência para chegar até aqui...". E isso para não falar dos comentários off topic, ao melhor estilo não-tive-tempo-para-ler-seu-texto-só-escrevi-pra-dizer-oi-adoro-o-seu-blog-visite-o-meu! O fato é inequívoco: ler textos na tela é cansativo e é difícil resistir à compulsão de "folheá-los" na diagonal.
Em meio a tanta urgência e fugacidade há que se reiterar, pois, alguns dos melhores aspectos positivos do meio "blog": o fomento de debates em tempo real, o estímulo à comunicação de idéias, a democratização da publicação de conteúdo na Web, e, principalmente, a liberdade de expressão.
Não posso deixar de lamentar, contudo, os efeitos colaterais surgidos em meio à urgência de novos posts. Ao contrário de textos impressos em celulose, transportáveis para qualquer local e lidos quando bem entender, o prazo de validade de um post vale pelo tempo em que é exibido na home-page. Depois, torna-se jornal virtual a embrulhar peixes cibernéticos precocemente envelhecidos, folheado por uma massa restrita de leitores.

Pensar enlouquece. Pense Nisto.

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