21.9.05

CUIDADO COM O PEDRO

Cuidado com o Pedro. Pedro é um perigo.
Pedro é um sedutor desavergonhado, e pior, que nem sabe o poder que tem. Mulheres que já haviam se resignado a ficar pra titias, mulheres comprometidas, mulheres decididas, que haviam se prometido que nunca mais, ou nunca mesmo, homens que nunca tinham antes questionado sua opção, ninguém está a salvo da perfídia de Pedro. Ele faz esquecer experiências anteriores ruins e ver um possível futuro cor de rosa, que, saibam, não existe. Ou até existiria, mas só se fosse com Pedro. E Pedro é um só, nem todas podem tê-lo. Vejam como Pedro é insidioso, sub-reptício e mau : você chega num barzinho, é o aniversário de uma amiga querida, e ele está lá. Você não dá muita moral, claro, ele já tem dona. Mas ela não está mais tão fascinada com o gatinho, claro, ela o vê, toca nele, morde, beija, dorme e acorda com ele todo dia, toda hora, provavelmente já está mesmo querendo uma folguinha. Você dá uma sacada nele de longe, e vê que ele é lindo, que seu cabelo é ótimo, sua roupa é um charme, os acessórios foram muito bem escolhidos, e que ele tem cara de inteligente e bem-humorado, apesar de caladão. Aí um sacana de um amigo, sem mais, promove uma troca de cadeiras e pá, joga Pedro no seu colo. Quando menos se espera, você está a centímetros daqueles olhos sérios, negros e doces de jabuticaba, e eles prestam a maior atenção em tudo o que você diz. Em poucos segundos, vocês já estão super à vontade um com o outro, amigos de infância, e até seu marido se mostra meio encantado com o discreto charme do Pedro. O resto da mesa esquece de vocês, isolados numa espécie de bolha de descobrimento mútuo que faz você se esquecer do tempo. E ele põe a mão mais macia do mundo no seu ombro. Você começa a cantar "Everybody’s talking at me", e ele, que certamente nunca havia ouvido essa música, parece gostar, e sorri franzindo o nariz, um sorriso lindo, que mostra um pouquinho da gengiva, cheio de charme e simpatia, mas sempre com um jeitinho meio triste, de derreter o coração. Seu marido, a essa altura também já completamente entregue ao charme do Pedro, compete com você pela sua atenção, e desenterra "Rock’n’roll Lullaby", que é tão velha quanto a música do Nilsson, ou até mais. O Pedro gosta. E a noite vai passando. Ele obviamente está com sono, mas luta contra, e a essa altura já está com um braço em torno do seu pescoço, fazendo cafuné nos cabelos fininhos da sua nuca, roçando um pé descalço e lindo na sua perna. Quando você já está pensando seriamente em sair dali com o maridón num braço e o Pedro no outro, a mulher com quem ele veio o reclama. Diz que ele está cansado, ela está com sono e eles têm que ir. Você considera a possibilidade de dar uma rasteira nela e fugir com o Pedro, e o marido que se vire pra acompanhá-los se puder, mas tem muita gente em volta, ia ser difícil explicar isso pra todos os amigos, podia dar até cadeia, o que não ia ficar nem bem, e você, relutantemente, o devolve, sem saber quando vai vê-lo de novo.

Enquanto seu amigo pega o Pedro de volta do seu colo e o devolve à mãe, você devolve também a mamadeira quase vazia, a fraldinha que usou pra ele não babar no seu ombro – tem dentinhos nascendo, ele está com seis meses – e põe de volta os brincos que havia tirado pra ele não puxar, levemente arrependida de não ter dado ao menos uma mordidinha nas bochechas mais fofas do garotinho mais meigo do mundo. E lá se vai Pedro pro carrinho, vai embora com a mãe, deixando você apaixonada, e pelo menos mais duas mulheres da mesa, assim como você e seu marido, que agora baba mais que o Pedro, pensando por que foi mesmo que nunca quiseram ter um bebê. Ouçam o que eu digo, Pedro é um perigo.

Cyn City

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