1.10.05

cAtaRrO vErDe

O que leva uma pessoa a guardar o próprio ranho num lenço de pano enfiado no bolso? Apego afetivo ao muco? Geralmente é um lenço xadrez. E acontece com freqüência pela manhã. Se um cara tirar do bolso um lenço xadrez logo de manhã, saia de perto. Ele vai soprar ali todas as melecas gelatinosas que acumulou durante a noite. Pode sobrar alguma pra você. O barulho é sutil, lembra o escapamento de um Scania. Uma vez aconteceu perto de mim num salão de humor de Piracicaba. Sentado ao meu lado estava um dos Caruso, sei lá se era Chico ou Paulo, os dois são chatos univitelinos, vai saber. Em dado momento, o irmão Caruso meteu a mão no bolso de trás da calça, tirou um lenço marrom e expeliu a gosma viscosa com força e vontade política. Se você nunca ouviu o soprão nasal de um Caruso, nem queira saber. O teatro quase vem abaixo. Só tive tempo de me esconder atrás do folheto da exposição. O cara examinou o produto da propulsão atômica, dobrou cuidadosamente o lenço e guardou tudo no bolso. Ali devia ter pedaço de brônquio, bronquíolo, mucosa, pleura, essas coisas que a gente aprende na aula de ciências. Desconfio que ele guardou pra fazer uma terrine em casa. Terrine de porco.

cAtaRrO vErDe literal

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