14.1.06

Paliativo

Só na terceira noite resolvi beber. Não dormia desde domingo e a semana se encaminhava para o fim. Fiz exercícios, tomei leite morno, cortei o café. Nada adiantou. Não conseguia dormir. O tempo simplesmente não passava. Um ano em uma semana. Uma vida em poucos dias. Era madrugada, passado das duas. Precisava dormir, como fosse. Emboquei o litro de absinto na cabeceira da cama. Três goles generosos. Era como tivesse engolido um gato vivo banhado em ânis. Bebida horrível. Forte e doce. Nunca gostei destas bebidinhas de veado. Mas, diziam, ter efeitos psicotrópicos compensadores. Para garantir entupi o cachimbo com um velho fumo. Tão velho que não consegui enrolar. Cachimbo de raiz-de-roseira ou, não sei o que - outra coisa de veado que não sei porque fui comprar. Do tempo que eu pensava que intelectual tinha que ser meio aveadado. Pode ser! Pode até ser. Mas nunca levei jeito. Nem para intelectual nem para veado. Prefiro charutos e uísque, puros. A gente pensa como uma metralhadora na mão de um macaco entupido de cafeína, quando a gente fuma e bebe muito rápido. Merda. Eram pouco mais de três quando o litro chegou ao meio e o fumo acabou. Acordei as seis. A empregada me achou caído. Parte no sofá, parte no chão. Disse, que eu fosse para cama. Eu precisava trabalhar. Merda de emprego. Levantei, e a sensação que tive foi de que era um boneco inflável e, que haviam me enchido com água. Sensação estranha. Tentei um banho, cai no banheiro. Merda. Olhei no espelho o vi meu olho inchado e algumas marcas em minha cara - como se tivesse lutado boxe sem luvas. Então lembrei que eu mesmo me esmurrara, na noite passada. Dor física para esquecer a psíquica. Dizem que funciona, pelo menos como paliativo. Paliativo, palavrinha de veado.

Proclames da Alma...

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