21.1.06

TATUAGEM, CRISÂNTEMOS E BECKETT

Despindo-me e analisando minhas tatuagens de velho lobo do mar, chego à conclusão de que as quatrocentas garatujas espalhadas por meu combalido corpo não me fazem diferente de muito vivente metido a servir de exemplo por aí. Tenho um rei na barriga, uma cascavel no peito, o mundo na palma da mão, uma boca no cotovelo e um tolete de bosta na cabeça. Mas ao menos trago um ramo de crisântemos azuis tatuados na alma, devaneador incurável que sou. Tão devaneador que me esqueci de que tirei a roupa não para ficar tecendo analogia entre minhas tatuagens e os atributos de certas pessoas, mas para mostrar a Millicent que a tattoo “Beckett” no meu pau, em vez de aludir ao teatro contemporâneo, consiste na verdade na abreviação de “Benemérito Patrocinador do Grêmio Recreativo, Esportivo e Cultural do Porto de Nantuckett”. Entretanto, com a altíssima carga de estresse advinda das últimas batalhas navais, periga é eu acabar deixando Millicent esperando Godot.

Ao Mirante, Nelson!

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