8.3.06

PORQUE A GENTE É ASSIM.

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Eu não gosto de tirar fotos. Não gosto de congelar a cena pra guardá-la onde quer que seja. Nas viagens eu levo máquina fotográfica e esqueço no hotel, na mala, na casa onde estou hospedada. Nos eventos, não contem que eu tenha máquina à mão. Ela só vai se alguém me lembrar e fizer questão. Eu adoro as fotos dos outros, acho lindo álbuns de fotografias, mas não faço as minhas. Não sei bem porquê. Provavelmente porque nada do que está ali foi o que aconteceu. Eu acredito que posso me lembrar com muito mais precisão do que qualquer fotografia. Na memória há o cheiro, os ruídos, a temperatura, a sensação, a emoção do momento, pra muito além do que o que era visto. Acho que a foto pasteuriza a lembrança, acho que é isso.

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Ticcia revelada em Megeras Magérrimas

E a pergunta que não quer calar é por que será que eu não tenho manias?!

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A vozinha é hipocontríaca. Sempre está com dor em algum lugar, sempre está doente, sempre há algum problema grave. Tem um armário lotado de remédios: caixas e mais caixas. E a bolsa da velha é uma filial do armário. Nunca a vi responder está tudo bem! Remédio para dormir ela toma desde antes de eu nascer. Odeio tomar remédios. E quando sou obrigada a fazê-lo; o médico insistiu muito e a explicação foi vasta. Depois de passar a noite inteira com dores lascinantes enquanto meu filho escorria pelas pernas, chegamos no hospital e a enfermeira foi me esticar na maca. Sem querer, arranhei o braço da mulher no meio do urro. Quando o efeito da morfina foi passando e sendo substituído pelas nauseas, comecei a respirar devagarinho com medo de ferir o Lord, até desmaiar de tanta dor. Ao acordar da anestesia, a primeira coisa que vi foi o rosto dele sorrindo pra mim, dizendo que tinha acabado e tudo ia ficar bem. Pedi que ele não me deixasse mais sentir dor. Durante dois dias, de tempos em tempos ele me acordava com comprimidos de várias cores e formatos. Até hoje não tenho a menor idéia de quais ou quantos remédios tomei. Não senti mais dor. No corpo.

Rô, sem manias, no Megeras Magérrimas

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