Da teologia anacoreta
Acabo de ver na televisão uma rapariga que aos dezoito anos fez uma tatuagem no rabo em nome do Senhor. Era crente, diz ela. E diz bem, o Senhor sempre escreveu direito por linhas tortas. Agora, quer remover a tatuagem. Parece que subitamente descobriu que era ateia. Se dúvidas houvessem, neste pequeno episódio está demonstrada toda a superioridade moral do cristianismo, sobre as filosofias bacocas de ateus e pagãos. Não fosse o Senhor e sabe Deus o que teria sido daquele rabo. Não passaria na televisão nacional e, de certeza, não habitaria o meu imaginário durante as próximas noites. Mas Deus vai mais longe. Aparentemente é pouco provável que se consiga remover as sagradas escrituras das nádegas daquela jovem. Problemas técnicos, dizem uns. Mão do Criador, digo eu. Nos próximos anos, em cada queca, em cada bronzeado, em cada dólar ganho à custa do talento daquele corpo nas praias de Miami, estarão as palavras de Deus tatuadas naquele rabo. A converter pagãos e a abençoar beatos. É o purgatório em forma afrodisíaca. É a revolução católica que realmente interessa. É certo que ainda há um longo caminho a percorrer. É necessário munir as nossas paróquias de mulatas e trazer freiras bonitas para a ribalta. Se nos dias que correm há pecado capital na igreja católica, então é o facto de estar a perder as prostitutas brasileiras ilegais para a Igreja Universal do Reino de Deus. Solução? Admitir o sexo oral como forma de penitência. Mas atenção, nada de seguir o exemplo dos protestantes. Um brochezito de vez em quando tudo bem, mas sempre dissimulado e no segredo do confessionário. Porque o sexo, meus amigos, acompanhado de uma boa dose de ascetismo e uma consciência devidamente pesada, ainda é a melhor forma de expiação dos nossos pecados.
Diário de Tiago Galvão
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