5.7.06

Brasil versus França

Bom, a seleção brasileira de futebol levou uma bela ensaboada dos comedores de baguete. Já os brasileiros aqui no Brasil, amontoados em volta dos televisores, engoliram a seco, já pressentindo o humor argentino que se seguirá durante a semana. Até aí tudo bem, é assim que a máquina funciona. Toma lá, dá cá.

Lembro muito da copa do México de 1986, quando ganhei uma camisa canarinho, de algodão, amarela dos punhos e golas verdes. Estampado o nome Sócrates nas costas. Fui com meu pai em uma lojinha chimfrim comprar. Era uma camiseta que eu adorava. Quase mágica, por sinal.

A seleção tinha passado para as oitavas e o pai do Milton, amigo dos meus pais, convidaram os amigos mais próximos para assistir o jogo Brasil e França na mansão dele. Seria uma festança daquelas de não se esquecer mais: churrasco, muita bebida e uma televisão gigantesca de umas 27 polegadas.

O Brasil perdeu nos penales. Para a França.

A festa acabou, aquele clima legal verde-e-amarelo ufanista sucumbiu, os homens esbravejavam e as mulheres choravam. Adolescentes rasgaram suas camistas da seleção, Tacaram fogo na churrasqueira, queimaram bandeirinhas, bandeirolas e flâmulas nacionais, queimaram as camisetas rasgadas, praguejavam. O finado Telê Santana era o homem mais odiado no momento, por trazer tamanha vergonha nacional.

E eu ali no meio, sem entender nada.

Aí veio um adolescente ruivo cheio de espinhas, filho de um ricão e ordenou: "Tira a camiseta moleque!" Porra, o desgraçado arrancou minha camiseta de algodão novinha que eu gostava tanto e tacou na fogueira ufanista que flamejava uma fumaça fedorenta e preta.

Percebi naquele momento o quanto esse nacionalismo volátil brasileiro é pueril e fétido.

E até hoje a coisa desanda para a mesma merda.

ÓPIO - DIÁRIO ELETRÔNICO ENTORPECENTE

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