11.7.06

UM LITRÃO DE AMOR

Decidi fazer vasectomia, depois de dois filhos no mundo. Não esperava as reações mais desbaratadas entre os próximos. Minha mulher considerou um ato de extremo amor, já que encerrava com ela minha carreira fértil de varão. Abraçou-me com as pernas, emocionada, como se houvesse a pedido novamente em casamento.

(…)

* * *

Estranho é que mantinha provisoriamente a fertilidade. O médico avisou que havia chance de gerar filho (numa hipótese remota, mas estatística) nas primeiras 25 ejaculadas após a operação. O risco é que sobrasse Fabricinhos no saco. Concluídas as vinte e cinco, teria que levar uma amostra do esperma para a análise e receber a sentença final. Comprei um quadro-negro e botei na parede do quarto no lugar do "O beijo", de Klimt, guardado debaixo da cama.

* * *

Péssima idéia. E eu sou homem de contar trepadas? Estava destinado a registrar cada desempenho com um toque do giz. Porém, me afligiu uma dúvida e a transparência do relacionamento dificultou o raciocínio. As punhetas, o que faria com elas? Marcaria também no quadro? Passei a roubar minhas próprias gozadas e a esposa inventou de apagar algumas dizendo que estava me apressando e que não sabia ser honesto nem durante o sexo. Não ia dizer que homem casado também se masturba... Arrumei um controle paralelo nos papeizinhos amarelos, somando as transas reais e as fictícias.

* * *

O triste é que alguns pacientes entendem errado o aviso das vinte e cinco golfadas. Ao invés do potinho de laboratório com a vigésima sexta ejaculação, um deles apareceu no consultório com um litrão de coca-cola e entregou ao doutor, alegando que tinha sido difícil coletar tanta porra. Durante dois meses, gozava dentro da garrafa. Quase se apaixonou por ela, quase morreu no gargalo.

.:. Fabricio Carpinejar .:.

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