21.9.06

NO CROSS, NO (WEIGHT) LOSS

Aí, depois de anos sem fazer nada disso e de meses ameaçando começar e não cumprindo por falta de ânimo, grana, tempo, grana, estacionamento ou grana, finalmente comecei a fazer exercício. Desisti da hidroginástica, ou hidrobike (que imaginei que detestaria menos do que outras modalidades, já que não iria me sentir suar, estando dentro d’água) porque nunca tem lugar pra estacionar na porta da academia de natação/hidro etc. que eu queria freqüentar. E sim, fica perto, pertíssimo da agência, e se eu tivesse vergonha na cara dava perfeitamente bem pra ir a pé, mas depois que eu fui assaltada com revólver na cara há dois anos, venho ficando progressivamente mais medrosa e covarde a cada dia que passa. Fora isso tem a preguiça, que além de grande, é enorme. E ah, peraê, se eu quisesse andar, ia fazer esteira ou caminhada logo, né não ? Bão, aí uma colega falou de uma outra academia que tem aqui perto e ela tá fazendo aula lá e putz, se ela tem sessentinha e dá conta, é bem possível que minha frágil e flácida pessoa vinte anos mais nova que isso também consiga, né ? Além do mais, gostei dos principais pontos de venda do boteco : primeiro, a academia é só pra mulher, eliminando reduzindo drasticamente a possibilidade de paqueras, o que diminui significativamente o contingente de babaquinhas caçadoras de emoções e monopolizadoras de aparelhos; não havendo homens, não há desfile de roupitchas, nem de peruas maquiadíssimas, e felizmente também de nenhuma sílfide escultural, pra passar raiva e inveja em nosotras, las viejitas fofas; não sei se por causa do corpo discente predominantemente rechonchudo, não há espelhos a não ser no banheiro, o que nos livra de descobrir, numa olhadela casual, que aquela bunda de hipopótamo que você tinha vislumbrado ali à direita no leg press é nenhuma outra que não a sua própria; a rotina de exercícios é feita em meia hora, incluindo aquecimento e alongamento, e as séries são feitas em circuito, sem pausa entre os aparelhos; é tudo totalmente individual, portanto não tem como colocarem você pra fazer algum exercício junto com alguma mulé suada que você nunca viu e poderia perfeitamente bem continuar sem ver e, mais importante ainda, sem TOCAR, pelo resto da sua vida. E o principal : tem estacionamento na porta, com segurança/manobrista educadíssimo. Então fui lá testar o terreno. E a mocinha-bonequinha-gerundista que me atendeu foi tão gentil e fofa que eu nem consigo falar mal dela, por mais que ela tenha me contado, com ar compenetrado e terminologia simplificada, pra tia burra aqui entender, coisas sobre fisiologia e exercícios e saúde e o caraglio d’oro que eu já tava careca de saber – e algumas até de praticar - quando ela ainda nem era um ovinho de codorna no prato do seu jovem papai. Aí me pesaram, me mediram (aparentemente, já encolhi um centímetro ou dois), me fizeram tirar todos os meus anéis e pulseira e relógio e segurar um aparelhinho que passa corrente elétrica pelo corpo da gente e diz o percentual (percentual ? porcentual ? anyone ?) de gordura no corpo do vivente. A corrente elétrica em si é fraquinha e totalmente imperceptível, mas o choque que eu levei ao ouvir a bonitinha dizer que eu tô com mais ou menos 37% de gordura corporal foi de arrepiar até cabelo encravado em cotovelo com psoríase (não, num tenho isso não, é só jeito de dizer, oras. Pêlo encravado em pele supergrossa, entendeu ? Então.). Minha pobre mente corroída pela NTAP galopante, e que além disso sempre foi péssima em matemática e demais ciências exatas, já começou a fazer as contas à sua maneira prejudicada e a decretar que se eu sou formada por 33,3% de água e 37,5% de gordura, praticamente uma ameba, os 29,2% restantes devem ser os ossos pra sustentar meu enorme peso, e portanto eu não tenho um músculo no corpo e, obviamente, nem vísceras. Sabe aquela história de “fazer das tripas coração” ? Comigo não. Eu não tenho coração, babies, sou um bacon vivo, um torresminho ambulante, um vidrinho de Hellwomann’s com pimenta – mas sem o vidro. E foi isso que me convenceu a assinar o termo de compromisso liberando o povo lá de qualquer ônus caso eu caia morta no meio do salão. É que se eu não tenho coração, nem, obviamente, cérebro (da ausência dessa víscera eu já suspeitava há um tempinho), é praticamente impossível que eu venha a sofrer um infarto ou um derrame, mesmo com toda aquela música baiana no último volume, todas as professorinhas adolescentes animadíssimas e gritantes, a vozinha de robô que diz “Mude. De Estação. Agora.” de 30 em 30 segundos e a desoladora paisagem - feminina pra onde quer que se olhe, ugh – ao redor. Mas vamo nessa, né ? Esporte é vida, esporte é saúde, esporte é... um saco. Mas eu não posso mais fugir.


Cyn City

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