22.11.07

Ontem tive meu próprio momento proustiano

Encontrei no supermercado petits pains suédois, que são pãezinhos cortados ao meio e torrados. Lembrei que gostava deles, fiquei toda alegrinha e comprei um pacote.
Cheguei em casa e já fui experimentando um. Hm, crocante e nutty. Mas fiquei meio decepcionada, porque não parecia a mesma coisa. Deixei o pacote pra lá e fui fazer outra coisa.

Mais tarde, fui tirar os queijos da geladeira pra fazer fondue, que era o jantar programado. Gruyère, emmental, e comecei a ralar. No finzinho do emmental, me deu um clique e pensei : hm, isso deve ficar bom com um dos petits pains. Cortei um pedacinho dele e comi com uma das torradinhas suecas.

Era isso! A combinação de sabores me emocionou, e de repente lembrei o porquê : foi a primeira coisa que comi em Paris, na minha primeira vez na cidade, há mais de dez anos. Um fato que eu tinha esquecido completamente, encoberto por tantos outros que se seguiram nesse tempo todo. Mas que, pelo visto, nunca deixou de ter importância.

Em 96, fui a Paris pela primeira vez, para fazer um curso de verão na Sorbonne - Langue et Civilisation Française. As residências estudantis já estavam todas ocupadas, mas consegui alugar um apartamento normal no 7ème através de um anúncio pregado não lembro onde. Cheguei na cidade num domingo, e fui pegar a chave com o administrador, um senhor brasileiro muito tranquilo. Ele foi comigo me mostrar o apartamento e como funcionavam as aparelhagens, código da porta, etc.

Fiquei pasma, porque o lugar que aluguei sem ver era um apê grande, lindo, com quarto, sala, cozinha equipada e banheiro - na verdade poderia ser dividido com mais gente, mas consegui alugá-lo sozinha. Das janelas se via a Torre Eiffel, e a rua tinha a mistura exata de movimento e calma. Não podia querer mais nada.

O administrador então se despediu e explicou que, por ser domingo à noite, ele previu que seria difícil eu conseguir comprar comida naquele horário - e deixou umas coisinhas pra que eu não ficasse sem nada.

Abri a geladeira e encontrei - sim, um pedaço de emmental e um pacote de petits pains suédois. Fiquei comovida com o cuidado inesperado, e senti que aquele período ia ser um dos mais felizes da minha vida.

E assim, na minha primeira noite de verão em Paris, sozinha frente às janelas abertas mostrando a Torre iluminada contra o céu escuro, consciente da minha tremenda sorte de estar ali, tocada pela beleza e gentileza, comi queijo suiço, pão sueco e água - e nada pareceria mais gostoso.

annix

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