Bodas
Vinicius de Moraes está morto Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno e o inferno é um elevador o inferno condado que não se usa conjugar em outro tempo que não o tempo presente é um elevador Ele sobe com um pequeno soluço com outro pequeno soluço ele desce: as portas não se abrem jamais mas Vinicius está sujeitado aos compromissos dos demais hóspedes aquartelados neste presume-se imenso hotel Vinicius está aqui eternidade fora ouvindo as pragas entrecortadas dos demais hóspedes que batem de punhos às portas do elevador do inferno e justo agora que a eternidade em todos os seus estratos se lhe desvela Vinicius não pode escrever um poema assuntando todos os estratos da eternidade porque não há estilográficas no elevador no inferno nem lápis nem batom e dentre as coisas que não há no elevador no inferno contam-se igualmente uísque mulheres transatlânticos a rigor não há nada salvo Vinicius marchetado no espelho no elevador no inferno e essa máscara cuja ideação tomou-lhe anos sem falar da própria prática e do constante refinamento da mesma essa máscara está pegada a seu rosto e não sai mais Vinicius suspira ectoplasmático este que não é ao menos eu e contudo o que escolhi por mortalha este funesto dominó que não sai mais que não sai para nunca mais Vinicius geme e com um pequeno soluço o elevador desliza lento até o quinto andar e uma série de cruzados de direita nas portas fechadas do elevador do inferno eia isto é ponto pacífico que Vinicius de Moraes está morto pode-se considerar o assunto encerrado Eis tudo no coração de cada jovem enamorado um elevador sulfuroso
A arte perdida...
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