12.1.09

O maior espetáculo da Terra

Na virada do ano, os abreu-polzonoff praticavam uma de suas atividades favoritas - dormiam e sonhavam profundamente com blinis - quando foram acordados pela truculência dos festejos alheios. Corri para o quarto do pequeno czar, que abria os olhinhos atônito e dizia:

[Davi]: Uéee. Uéee. Uéee.

Assim que expliquei que, calma filho, são apenas festejos do populacho, ele virou para o lado e voltou a dormir, pois um homem, por mais jovem que seja, precisa ter suas prioridades.

Voltei para a suíte master e encontrei Paulo à janela, apreciando os fogos da Paulista à direita e, à esquerda, fogos que desconfiei serem do Morumbi Shopping, mas que Paulo imediatamente disse estarem perto demais para isso, e que deviam é ser da favelinha ali do lado.

A qualidade dos fogos era excelente - fazendo frente aos da Paulista -, donde concluímos que ter uma favelinha deve ser um ótimo negócio.

Colados na janela e fazendo rodinhas de bafo no vidro, apreciamos por alguns minutos o espetáculo de luz e barulho infernal.

[Paula]: Bonito. Mas não tem nada como passar a virada do ano em Copacabana vendo os fogos de uma cobertura.

[Paulo]: Ih, baixou a Paula provinciana…

[Paula]: Chame como quiser, mas não há nada como estar lá do alto, olhar para cima e ver aquele show de fogos, olhar para baixo e ver aquele…show de horror.

[Paulo]: Hahaha, achei que você ia dizer outra coisa.

[Paula]: Mas o que mais eu poderia dizer daquele mar de gente feia, suada e pobre?

Momento de reflexão.

[Paula]: Fora que aqui os fogos são super sem graça. Tudo igual. Bola. Bola. Bola verde. Bola. Bola azul. Bola. Chuva de estrelas. Bola. Bola. Bola. Não tem aqueles fogos-com-formatos-bizarros-que-você-nunca-entende-na-hora e fica todo mundo olhando um pro outro e perguntando: e esse, o que era? você viu?, para, no dia seguinte, ler no jornal que “praia de Copacabana tem fogos com formato de astronauta pisando na lua, tropeçando, dando um salto mortal com duplo twist carpado e caindo com a cara numa torta de morango” e você não viu porque estava olhando para a porra do outro lado onde só tinha bola. bola. bola. ou você viu mas não entendeu, porque olhou um pouquinho atrasado e só viu fumaça, ou você viu mas não entendeu porque olhou do ângulo errado, sendo que todos os ângulos são errados exceto o do sujeito que projetou a porra dos fogos com formato bizarro.

[Paulo]: Eu olho e só vejo sempre bola. Eu acho que não nada diferente, só as pessoas que ficam bêbadas e acham que estão vendo coisas.

[Paula]: Não, você vê que é bola, mas de repente nota que é uma bola menos redonda, e de uma cor que não-é-verde, então SÓ PODE ser alguma coisa mais interessante que você não está entendendo.

[Paulo]: Por falar nisso, abre aí o UOL pra vermos qual foi a palhaçada desse ano.

(…)

[Paulo]: É por isso que eu gosto da imprensa brasileira: comentando os fogos em CINGAPURA.

[Paula]: Calma, é que numa hora dessas ainda estão os peritos reunidos confabulando sobre os formatos bizarros dos fogos desse ano.

E enquanto olhamos o G1, Ig e outros sites de notícias em busca dessa informação relevante e indispensável para que possamos voltar a dormir sossegados, começamos a ouvir NOVOS fogos. A. Uma. Da. Manhã.

[Paulo]: São os pobres do horário de verão.

Ah, sim, tá explicado.

E agora, por favor, voltemos a dormir.

paula

Um comentário:

Dalva M. Ferreira disse...

Seria cômico, se não fosse trágico. Acho que olhamos esses fogos do mesmo ângulo, Vila Sônia? Beijos e... feliz ano semi-novo!