13.1.03

o posto nove, na praia de ipanema, tem um bandeirão do pt que ainda teima em balançar neste primeiro verão de rosinha no governo do rio de janeiro.

a zona sul era ostensivamente pt durante a campanha eleitoral. continua assim. a conversa pelos bares de cá ainda diz rosinha não mesmo depois da catástrofe confirmada e empossada, o vento que levantava ondas imensas hoje rosnava rosinha não, as belezas insuperáveis e indiscritíveis de toda a cidade que desembocam invariavelmente no posto nove de ipanema pra bronzear aquilo tudo que a gente sente que vive pra ver quando vê, daquelas bocas sai as vezes um rosinha não sem querer, no meio da conversa, ato falho, como se fosse possível voltar no tempo.

foi por isso que, quando a pm desceu a porada com cecetetes e sacou revólveres no posto nove no final da tarde de hoje, batendo em fotógrafos, no público que assistia a um show e em quem estivesse parado por perto, aderimos logo à idéia de que aquilo só podia ser vingança da governadora contra uma área que continua e continuará, cada vez mais, a rejeitá-la.

primeiro, chegaram cinco deles. com os cacetetes na mão, pararam bem em frente à nossa pacífica barraca. não, não estávamos fumando. eu lendo, joão paulo olhando o pôr-do-short (fenômeno da natureza que paralisa a população masculina ao final de um dia de praia, quando as moças sobem lentamente seus shorts, dando aquela reboladinha na hora de encaixar um pedacinho de pano mínimo num quadril enorme), tudo na mais santa paz e sem fumaça de ilegalidade. mas lá estavam eles, cinco palhaços, sacudindo seus cacetetes como que excitados com a possibilidade de criar alguma confusão. fez-se um silêncio tão morto, tão cinza em toda praia, que nem parecia o fim de uma tarde de sol.

temos um amigo, o joão pequeno, que todo mundo que estuda na ECO deve conhecer; joão pequeno, repórter policial, defende a tese de que pm bom é pm morto e que a diferença entre eles e os bandidos é nenhuma. apenas um parêntese de radicalismo, pois ainda tô rvoltada pacas.

voltando ao assunto, os cinco palhaços decidiram que do nosso mato, ou barraca, não saía coelho, e foram circular. logo depois, começou ali, do nosso lado, um showzinho patrocinado por uma rádio fm. o público sentou no chão, todos cantando as musiquinhas, final de um dia de praia feliz em que, apesar de o helicóptero dos salva-vidas não ter parado um segundo só de içar imbecis que teimavam em nadar longe no mar bravo, ninguém se afogou. queijinho coalho pra lá, cervejinha pra cá, começam os assobios. a praia inteira assobiando. era a polícia que se aproximava do local do show e começava a caminhar entre o público com seus cacetetes na mão. foram vaiados. abordaram gente que fumava. mais vaias. os fotógrafos presentes começaram a registrar as primeiras investidas mais brutas da pm. e aí, amigo, o cacte comeu solto. joão, que tava assistindo ao show, quase apanha também. por estar parado próximo ao começo da porradaria. assim, sem distinção. um fotógrafo apanhou porque não quis entregar a câmera, o público reagiu jogando coisas e vaiando a polícia e aí a coisa se tornou generalizada. porradaria indiscriminada, ficou parado perto, apanha.

não parou aí. chegou reforço. camburões, mais pm de shortinho, camiseta, cacetete e até com revólver na mão, que a pm não pode portar na praia. a essa altura, claro, o show já tinha parado, as pessoas jogavam garrafas de plástico cheias de areia e água contra a polícia, a polícia descia o cacete em mais alguns magrelos e a confusão começou a se movimentar como um arrastão na direção da nossa barraca. quem não estava preparado, teve que correr e deixar as coisas pra trás. nós já tínhamos recolhido as nossas coisas e olhávamos mais ou menos à distância, vendo até côcos voando. os pms, agora muitos, até os que não eram de praia, tentavam levar preso um homem, que já tinha a camisa toda rasgada (por eles). o povo tentava impedir. a praia inteira vaiava a pm. uma turba odiava a pm. libertaram o homem e pegaram outro. formaram um cordão em torno dele, que ficou ajoelhado na areia, com os braços presos atrás. daí, não vimos mais nada. a gitaria continuou, o povo não arredou o pé.

rosinha quer instituir o verão do terror. pena que não é contra os criminosos.

relatado por notas.gonzo

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