22.2.03

Sou a favor da guerra. Confesso sem medo. Não da guerra do Iraque, nem da Coréia do Norte, nem da Chechênia, nem de Angola. Nenhuma em especial. Sou a favor de todas as guerras e por um motivo muito simples: a guerra torna o homem mais forte, mais honrado e mais nobre. Tentarei expor aqui meus motivos a respeito de algo tão controverso. Confesso de antemão que acho que falharei. Espero estar enganado.

Só peço uma coisa, por favor: não me venham com discursos pequenos. Não subestimem minha inteligência. Eu sei que a guerra é uma coisa monstruosa. Eu já vi cenas de judeus sendo enterrados aos pedaços em campos de concentração, muitas vezes vivos. Eu já li Primo Levi, Anne Frank, Isaac Bashevis Singer e tudo o que me caiu nas mãos sobre a Segunda Guerra Mundial. Eu já assisti ao Nascido para Matar e ao Apocalyse Now. Sei que mulheres são estupradas, homens torturados, crianças mutiladas. Sei disso tudo e ainda assim sou a favor da guerra.

Sei que você, leitor, deve estar me achando um monstro. Afinal, são tantos os protestos pacifistas no momento, não é mesmo? E é uma tentação mesmo fazer coro contra Bush e os tais imperialistas americanos. É uma tentação usar lugares comuns uns atrás dos outros e exibir a foto daquele menininho iraquiano cheio de cicatrizes pelo corpo ou e uma mãe que perdeu os doze filhos num ataque durante a Guerra do Golfo, no início da década de 90. Digo, porém, que sou a favor da guerra e, se você, leitor, canta em dó maior o Make Love Not War (sem perceber, creio, que se está falando das mesmíssimas coisas), eu canto em si menor a urgência de um conflito. Seja no Oriente Médio, seja no extremo Oriente ou seja aqui mesmo no Brasil, na Floresta Amazônica, como prenunciam alguns.

(...)

Honra. É uma palavra em baixa, hoje em dia. Ainda mais no Brasil. Honra. Se dois homens são amigos, hoje em dia são homossexuais. Não há um comprometimento extremo entre dois homens — na nossa estreita e pacifista visão — sem este tipo de conclusão porque não há honra. Tudo é reduzido a sentimentos baixos e nada nobres. Aliás, a palavra nobreza é outra que está em baixa. E quando falo em nobreza não faço menção a um rei balofo com um cetro de ouro na mão. Penso, por outra, no olhar elevado do homem diante de situações extremas, como a da perda e da morte. Ora, mas por que é que insisto em fugir à honra, assunto destes parágrafos?

Novamente: honra. Quem prestou serviço militar garante que esta é uma palavra que passa a integrar o vocabulário do ex-recruta. Olha os homens com os quais se mijou junto por alguns meses com admiração e respeito. Com os olhos nos olhos, sabe enfrentar o sofrimento, próprio ou alheio, com altivez. A guerra gera honra que por sua vez gera homens fortes, sem a galhardia que nos é característica e sem o apego mundano a coisas medíocres. A honra torna a vida digna em todas as suas privações. Honra, porém, não combina com hedonismo, que por sua vez não combina com a guerra, que combina com a honra.

(...)

Sou a favor da guerra. Entendo, no entanto, o apelo destes protestos pacifistas, que reduzem o conflito que se aproxima a um simples interesse comercial. Afinal, vivemos numa era em que predomina um sentimento absolutamente efêmero: o prazer. E guerra não combina com prazer e prazer não combina com honra, que por sua vez combina com prazer. Portanto, não é estranho que drag queens ou mulheres nuas na Austrália se digam contra a morte de iraquianos. Afinal, eles não podem entender a complexidade de um conflito e reduzem tudo a lágrimas e sangue. É próprio da nossa era também reduzir tudo a uma meia-dúzia de palavras fáceis.

Pode soar estranho o que vou escrever agora, mas digo mesmo assim: a morte ainda tem muito o que nos ensinar. Uma bomba caindo, várias vidas se perdendo, famílias sendo divididas, pessoas sendo mutiladas, desesperos sendo desencadeados, tudo isso se parece como um verdadeiro inferno, quando na verdade creio que seja apenas um caminho algo mais pedregoso que leva a um Paraíso próximo. Até que um novo caminho espinhoso se interponha no destino do homem.

o texto integral está em O Polzonoff

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