28.2.03

Tony Blair, moderador: Bem-vindos ao primeiro debate televisionado entre George W. Bush e Saddam Hussein, ao vivo do QG da ONU, em Nova York. Começaremos com cada um de vocês fazendo uma breve declaração de abertura.

Bush: Gostaria de dar boas-vindas ao meu amigo do mal na ONU, uma das grandes instituições americanas para a propulsão da liberdade no mundo todo.

Saddam: Obrigado, Grande Satã. Espero que no debate de hoje possamos encontrar algum denominador comum entre o comprometimento do povo iraquiano com a paz e o progresso humano e o desejo dos Estados Unidos de destruir o Oriente Médio.

Bush: Tenho de responder a isso?

Blair: Não. A primeira pergunta é bastante simples: o senhor tem alguma ligação com a Al-Qaeda?

Bush: Não tenho.

Blair: Essa pergunta foi para o presidente Saddam.

Saddam: Como disse ao senhor Tony Benn, se eu tivesse ligações com a Al-Qaeda e apreciasse essas ligações, então não me envergonharia de contar ao mundo, mas já que tenho vergonha de contar isso ao mundo, sucede que eu não tenho tais elos.

Bush: Nem eu.

Blair: A segunda pergunta é para o senhor Bush: se os EUA e o Iraque forem para a guerra amanhã, quem ganhará?

Bush: Essa é fácil. Os EUA, certo?

Saddam: Essa até eu sabia.

Bush: Isso porque os poderosos EUA estão do lado da corretividade e da americanidade, contra um eixo do mal composto pelo Iraque, Coréia do Norte e ... quantos há neste eixo? Três?

Blair: Acho que o senhor tem direito a quantos quiser.

Bush: OK, Iraque, Coréia do Norte e França.

Saddam: Vou lhe dizer franca e diretamente que o Iraque não faz parte de nenhum Eixo do Mal.

Bush: Em quem estou pensando, então, no Irânio?

Blair: Vamos para a próxima. Saddam, o senhor está disposto a destruir seu estoque de mísseis Al-Samoud-2 em cumprimento às ordens dos inspetores de armas da ONU?

Saddam: Se o Iraque possuísse essas chamadas armas, eu nunca as destruiria, mas já que não as temos, é uma satisfação cumprir a determinação, embora essas armas não existentes certamente não excedem o alcance proscrito de 150 quilômetros. Eu mesma as testei e nós não temos nenhuma.

Blair: A última pergunta é para George Bush. Senhor presidente, há alguma maneira de Saddam Hussein evitar uma guerra? E que medidas ele precisa tomar agora para chegar a uma solução negociada?

Bush: Primeiro, Saddam tem que compilar 200% com os inspetores da ONU, e eu quero dizer compilação ativada, não compilação passivista. Segundo, ele tem que se desarmar completamente, em cumprimento à Revelação da ONU 1441 e a próxima, a 1441B, que vai exigir que ele se desarme ainda mais completamente. Depois, tem de destruir todos os mísseis Al-Samoud e quaisquer outras armas de destruição em massa que forem encontradas, ou não forem encontradas, de posse dele, sem ser solicitado. Por último, há mais uma tarefa que ele precisa executar, que não tenho permissão para desvelar.
E mesmo isso não será suficiente.

Blair: O intérprete gostaria de levar sua resposta para casa e trabalhar nela durante o fim de semana.

Bush: Ótimo, mas nós exigimos nada menos que a total desarmação.

Saddam: OK.

Blair: Desculpe, mas não tenho certeza que "desarmação" seja a palavra.
Passo a palavra ao Encarregado do Dicionário da ONU, sr. Richard Stilgoe.

Stilgoe: Sim, podemos usar desarmação.

Saddam: Se isso significar a paz, eu o farei.

Bush: Tarde demais.

TIM DOWLING, The Guardian

Surra de Pao Mole

Nenhum comentário: