22.3.03

"... São as águas de Maarço fechando o verão
É promessa de viida no teu coração..."
(Águas de Março - Tom Jobim)

Anos, muitos anos atrás, meu irmão aprendeu esta música no piano e convidou meu pai, que tem uma voz educada por serenatas perdoenses, a acompanhá-lo numa audição programada pela professora. Não foi fácil, mas meu pai aceitou o convite e, como se estivesse se preparando para uma apresentação no Palácio das Artes lotado, estudou as notas, marcou no papel as pausas, ouviu esta música incansavelmente. Meu irmão e ele interrompiam o almoço para ir pro piano. Discutiam a música por telefone. Um mês inteiro de ensaio. No fim-de-semana marcado para a audição, veio de Goiânia até BH especialmente por causa disso. Lembro-me que ele disse ter praticado a canção durante todos os 900km de estrada. Tinha decorado todas as respirações do Tom Jobim e sabia exatamente a duração de cada nota. Não podia estar mais preparado.

Hora da apresentação. Um monte de crianças mostravam suas peças no piano da casa da professora. Até que ela chamou a dupla para encerrar a noite "com chave de ouro". O Bruno começou a tocar e meu pai o acompanhava direitinho, até que, de repente, depois de umas quatro estrofes, ele parou de cantar. Parou, assim, de repente, no meio de uma frase e não continuou mais. Só o Bruno, sozinho, sem entender o porquê.

Ninguém entendeu nada. Quando todos perguntaram, perplexos, o que tinha acontecido, meu pai explicou: "vocês estavam batendo palmas, cantando junto, pensei eu estivesse fora do ritmo e parei para não atrapalhar."

Sempre que eu ouço Águas de Março, eu me lembro desse tempo bom. Um tempo tranqüilo, parecido com o descrito por Tom Jobim na música acima.

Recital de Despropósitos

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