11.3.03

PELO CANO

Quando eu era pequena, eu tinha verdadeira adoração por banheiros. Freud talvez explique, mas eu não faço a menor idéia da razão dessa antiga fixação. Sei que quando ia com a minha mãe visitar a casa de alguém, eu tinha que conhecer o banheiro da pessoa. Não precisava nem usar, mas precisava muito conhecer. E como eu era boazinha e quietinha, e não mexia em nada, a minha mãe deixava. Eu achava que ela era legal, que compactuava do meu vício. Mas depois eu descobri que, enquanto eu estava lá, olhando para os potinhos e vidrinhos em cima da pia, ela estava dando risadas com as amigas da minha mania de criança. Que vergonha!

Uma vez, eu devia ter uns nove anos, fiquei com vontade de fazer xixi na volta do colégio para casa. Como a dona da perua morava no mesmo condomínio que eu, éramos (eu, minha irmã e mais uma penca de crianças que morava por lá) os últimos a serem entregues, obviamente. E eu lá, pedindo a Deus que o percurso fosse feito o mais rapidamente possível. Foi quando um colega de sofrimento pediu ao garoto que estava desembarcando se ele poderia usar o seu banheiro. O menino era muito legal, e perguntou se mais alguém queria. É claro que eu não perdi a oportunidade... além de satisfazer uma necessidade fisiológica, eu satisfaria uma necessidade curiosiológica. Mas nem estava muito preocupada com isso no momento.

E lá fomos nós: eu, o dono da casa e o menino apertado. Como a casa dele era toda murada, e com uma portão de madeira imenso, e eu era uma criança ingênua, nunca havia imaginado o que iria encontrar lá dentro. Quando entrei, tive um baque. Era a casa, uma quase-mansão maravilhosa, imensa, linda. E eu lá, nem imaginando como seria o banheiro, tamanha era a vergonha de ir à casa de alguém que eu só conhecia da perua, na hora do almoço, só para fazer xixi. Entramos, e o menino apertado foi usar o lavabo. Como o garoto dono da casa era muito educado, ao invés de me fazer esperar, disse para eu usar o banheiro da mãe dele. Ok, lá fui eu.

Nossa, era o banheiro. Lindo. Mesmo agora, que não ligo mais pra isso, continuo achando aquele banheiro lindo. Claro, com umas torneiras maravilhosas, e uma banheira branca imensa... fiquei boquiaberta. Fiz o que tinha que fazer, lavei a mão e saí. Me aguardavam o não mais apertado e o dono da casa. Agradeci, saí e entrei na perua. Nisso, o ex-apertado senta do meu lado e solta a pérola: "eu ouvi você fazendo xixi!".

Como criança é boba.

No banheiro com Amente*capta

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