TCHAU
Me matei ontem à noite. Uma montanha de dívidas, enteado chato, mulher com tpm intratável me levaram a isso. À tal saída pela porta dos fundos, sempre aberta pros nossos problemas.
Covardia? Não acho. Mesmo. Uma saída é uma saída, em morte ou na vida - e rima. E podia ser muito pior. Exemplo? Eu poderia ter matado a vizinhança inteira. Seria um genocídio, já que a vizinhança não pára de crescer. Ou liquidado ex e filho, depois me suicidado, o que seria um puta contrasenso. Afinal, eu queria me livrar deles, não trazê-los comigo. Poderia também ter acabado com os dois e cair na gandaia com as putas, vivinho da silva. Mas aí seria delegar minhas responsabilidades pra outro, e isto não faço. Serviço sujo é comigo mesmo. Meu chefe sempre me acusou de centralizador, ´um péssimo gerente!`, ele dizia. É isso aí, sou mêrmo. Então me matei. Até que não foi difícil. Primeiro, dei uma banda pelo quarteirão, pra tomar meus últimos golfejos de ar. Mais tarde, bati um papo com a velhinha budista do nono andar. Ela falou sobre reencarnação e num sei que mais, isto me deu um alívio razoável. Quem sabe eu não voltava como cachorro de estimação de dono de pet-shop? Ou o bichano devotado da boazuda da Piovani? Parecia bom negócio, sim senhor. Subi até em casa, escolhi minha mais resistente gravata italiana e me pendurei na maçaneta de cristal da porta da sala. Enquanto tava ali, estrebuchando, notei que o teto da sala apresentava uma rachadura nova. Daí a maçaneta vagabunda quebrou. Recompus-me e apus um adendo ao bilhete de despedida ´Ps: o teto da sala está rachado. Consertar`. Depois pus o pescoço na porta da cozinha, forcei um pouco, até ouvir CRÉC. Pronto. De repente, senti um frio na bunda. Passei a mão e senti um volume roliço e sem pêlos. Estranhei. Aí veio um negão rebolando e me pegou pela cintura, num passo mirabolante. Enquanto rodopiávamos, olhei pros meus pés e vi as unhas pintadas enfiadas numa sandália dourada e a perna do negão entre minhas coxas depiladas. Levantei a cara pra protestar e o reconheci: era o Cumpádi Washington. Olhei pros lados e vi a Sheila morena à direita e a Sheila loira, à esquerda. Foi então que ouvi a voz do Faustão: ´É ela ou não é? É? Então é! A voz do povo é a voz de Deus! Seja bem-vinda ao Tchã, Sheila ruiva!`. Foi aí que eu desmaiei.
velharia do HOTEL HELL
17.4.03
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário