14.6.03


Adolescentes

Sou a favor de adolescentes. Acho a adolescência uma fase fantástica. Espinhas, puberdade, pêlos, punhetas. Aquela coisa toda. E digo isso por uma simples razão: não entendo por que as pessoas querem tanto acabar com a adolescência, por um lado, e querem tanto prolongar a adolescência, por outro.

Veja só o primeiro caso. São quase todos intelectuais. Ou ao menos acham que são intelectuais. Ou ainda querem ser intelectuais. E só porque passaram uma adolescência atroz, isto é, com tudo de ruim que a puberdade pode oferecer, arrependem-se completamente de terem vivido isso (com razão, claro) e querem que os outros não passem pelo menos sofrimento. Logo, pregam a sublimação da adolescência.

O segundo caso é tão ruim quanto. É gente que adora a adolescência. Talvez por não terem passado, ainda, pelos entraves da idade. É aquele tipo de gente que vai ter espinhas com quarenta anos, sabe? E que põe piercing nos mamilos com trinta anos. Ou que descobre os prazeres do vício solitário em plena maturidade. E por aí vai.

Os adeptos da não-adolescência pregam a supressão de certos valores que são inerentes a este período. Eles não conseguem entender que a adolescência é o tempo certo (eu diria o único tempo) para se duvidar de tudo: Deus, capitalismo, família e sobretudo bom-gosto. Somos marcados por um período de extremo bom-gosto, que é a infância, e depois vem a adolescência, quando damos um tempo para o bom-gosto. Retomá-lo na idade adulta é de bom tom, mas temos que encarar o inevitável: haverá aqueles que escutarão rock para o resto de suas vidas. E acharão bonito ir a uma festa fantasiados de integrante mascarado e andrógino do Kiss.

Os outros, bem, os adeptos da adolescência eterna estão em toda a parte. Deve ter um agora mesmo, ao seu lado. É, aí nada sala do escritório. Ou então em você mesmo. Impregnado neste corpo adulto, um adolescente tardio. Como um encosto. Livre-se dele! Já.

Quero que meu filho seja um adolescente sadio. Terá no pai um crédulo, mas deverá ser, ainda que por pouco tempo, ateu. Ou ao menos agnóstico. Só para ver qual é. E deverá escutar rock de mau gosto (pleonasmo) no último volume, até ensurdecer seu pai e sua mãe que estarão, a esta altura do campeonato, relendo Guerra e Paz. E deverá usar camiseta do Che Guevara e freqüentar passeatas.

Mas isso durante um tempo determinado. Será na dúvida do monstrinho cheio de espinhas que plantarei minhas certezas todas. Isso, claro, se até lá eu tiver alguma.

O Polzonoff

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