26.6.03

passeando de trem

um moço trabalhador sentou ao meu lado na van da orca. estava lendo poemas de florbela espanca.
deu uma olhada no que lia: o que se diz e o que se entende de cecília meireles.
ele me ofereceu biscoito de polvilho uma hora. agradeci. me disse que não estava gostando muito da florbela. que acabou comprando errado. já estava pra mais de metade do livro lido, no entanto.

me perguntou se eu conhecia florbela. disse que nunca tinha lido. falei que talvez ele não estava gostando por ser poema. não. nunca subestime alguém!

pegamos o trem juntos. ele me perguntou ainda na estação se eu conhecia algum bom poeta. ele gosta de poesias, mas achou florbela pesado. pelo que entendi ela deve usar um pouco de vulgaridade em seus versos. sugeri drummond. espero que ele encontre algo legal dele assim baratinho, numa edição da lpm - como a que lia da florbela. e quem disse que o povo precisa só de comida? precisa alimentar sua alma de letras.

ele parece ser daqueles moços românticos, sensíveis, sonhadores. a hora que achar uma namorada legal, vai enchê-la de versos amorosos.

e eu fui pensando nas relações humanas. em como me encontro. as pessoas emanam uma energia, uma "aura". e eu me encontro assim. e gosto disso. hoje quem senta ao meu lado não é um louco, maníaco, obcecado, mauricinho, mas um moço trabalhador que quer alimentar sua alma.

acho mesmo que pessoas em estado de espírito parecido acabam se sintonizando de tal maneira que se reconhecem no meio da cidade. acredito também que hoje estou muito mais ligada ao mundo ao meu redor. não apenas o trânsito, a correria, os afazeres. mas principalmente nas pessoas, na cor e na luz do dia, no ar, na brisa, neste vasto mundo de sentimentos, emoções, dores, alegrias, tristezas: tudo que paira leve na camada atmosférica e que pode ser captada pelas minhas antenas de borboleta.

captado no boop it

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