26.6.03

A tout asservie, Par délicatesse, J'ai perdu ma vie. Rimbaud

Tenho esperado o telefone tocar, tenho ansiado por olhares e pelo toque desajeitado de mãos. Tenho esperado pelo roçar dos lábios no rosto, a pele fresca. Tenho esperado sorrisos e sextas-feiras como se fossem a saída do labirinto de espelhos. Tenho esperado por um sinal que decifre uma vida inteira. Pelo pouso dos aviões, pela proximidade impessoal dentro dos elevadores, pelas reuniões de última hora e pelas nossas pernas sob a mesa de reuniões, pelos cigarros e cafezinhos e aniversários de colegas e cartas como se espera por uma sentença. Tenho esperado a madrugada, a cerveja, o Bailey's, o hálito quente dele na minha nuca, tenho esperado pelo roçar dos corpos, da mão dele na minha cintura na pista.Tenho esperado pelas palavras dentro das palavras, pelo gesto dentro do gesto, pelo sentido dentro sentido. Um ano que é como um barco à deriva dentro de toda minha vida, o ano que comecei a envelhecer, em que as rugas ao redor dos meus olhos foram fotografadas pela primeira vez, um ano de alegria em alegria, de corpo em corpo, de sono em sono, sem que houvesse qualquer verdade nisso tudo, sem que precisasse haver. Um ano inteiro suspenso por um gesto distraído, por milésimos de segundo.

um anos de Nadas

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