7.6.03

Você tem certeza do que sente por mim?
Tenho certeza, mas será que você sabe o que eu sinto? Tem certeza que quer saber? Eu não busco nada, porque descobri quem sou. Quando você busca, fica longe, nunca encontra. Quando pára de buscar, você já é. Se você quer proteção, é só deixar essa proteção explodir. Noutras palavras, você é Deus dentro de si mesmo. Mas é claro que é preciso trabalhar isso. Essa busca não é uma busca. Você não viaja buscando, mas despertando. Por exemplo, eu te fodi e não vou levar nada. Eu não aprendi nada, eu despertei. Quando aquilo flui, já está ali. Está tudo dentro de você.

Você ainda esconde algum segredo de mim? Se sim, isso te incomoda? Você gostaria de me contar?
Eu coleciono manchas de sangue. Não qualquer uma, nem qualquer sangue. Minha coleção inclui apenas aquelas marcas em meu colchão, tingidas ali para sempre. É esquisito porque você sabe que não posso ver sangue, sobretudo se for o meu. Sempre fui assim e não há o que mude - pelo menos não havia. Bastava uma encarada numa gota daquele líquido viscoso, de cheiro estranho e gosto inesquecível, para me dar um apagão mental. Já desmaiei fazendo a barba, quando tirei dois dentes cisos de uma só vez - experiência péssima, que me deixou uma cicatriz bem abaixo do nariz por causa de um móvel que cruzou meu caminho rumo ao chão - e até cortando a unha. Morria de vergonha, mas não tinha jeito. Era ver e ir para o chão. Se meu pau fosse transparente, eu seria um saddhu.

Você me perdoaria se eu te traísse?
Lamentos são para os fracos. Acredita que meu pai teve a manha de mandar imprimir essa frase cretina atrás do cartão de visitas dele? Se minha mãe não ligasse tanto para decoração, ele teria um quadro com essas palavras pendurado em todos os cômodos de nossa casa. Quem sabe posto até um banner na porta do sobrado para todo mundo saber que ali era essa a religião seguida. E eu, educado debaixo do pesado manto da tradicional família mineira, sempre acreditei nessas palavras repetidas a cinco gerações pelos machos da minha família. Para mim, aquilo era a lei e ponto. Agora que atingi a transcendência, não há como retroceder. Quem faz parar é o ego. A mente freia e engarrafa o medo. Mas a consciência liberta. E o corpo precisa estar preparado, se deslocar, se propagar, conceber.

Você tem certeza que eu te amo?
Uns fazem kung-fu, outros fazem judô... Eles estão tentando causar dor ao corpo, agredi-lo para ter um prazer. Que prazer é esse? É o fruto da ação que eles vão ter depois da reação. Eles estão buscando uma glória. Quando passam naquela prova recebem congratulações, sentem-se bem. Por exemplo: artes marciais. Quem pratica está ali sentindo dor, maltratando o corpo, né? O amor vai além dos movimentos normais, paralisa tudo. Se você pára, vai sentir um problema dentro do sistema. Vai enrijecer tudo, a não ser que você seja um faquir. Sendo um faquir, você não deixa, mesmo estando o corpo parado, você não deixa. Nem as articulações. Porque a própria consciência está trabalhando. Chama-se fluxo de energia. Ela vai indo para o primário, secundário, e a consciência vai se propagando. É um dom. O amor é um dom.

Você às vezes queria estar solteiro? Se sim, para fazer o quê?
Se a ordem é escolher entre corpo e alma, ambos são teus. Mas, giro em torno do Sol e sigo a ordem que vem de dentro. Não é falsa moral, é ser livre. Não posso sucumbir ao que não quero, ser o que critico. São caminhos opostos. E eu expando a minha luz, sem me reprimir nem me culpar. Eu sigo a minha ordem. Sou líder da minha vida, e a minha liberdade é de alma, mas mantém o corpo preso. E eu queimo, me queimo, ardo em febre, ferro em brasa, minha carne, meu karma. Ainda não somos seres etéreos. Ainda temos essa carne densa que nos prende e nos afasta. Mas não faz mal. Você escolheu minha alma. O que importa é que os veículos mentais das pessoas se despertem, se harmonizem. Quando a mente se submete à sublimação até que ela colabora, mas quando ela não quer ser adestrada, não quer se submeter à consiência, fica mais difícil, porque existe diferenciação dentro do sistema. Tilt.

O que você mais gosta em mim?
Me intriga aquela enorme fenda que parte 10 cm abaixo do seu umbigo e onde pode-se vislumbrar formas longínquas e embaçadas. E os pés que eu não vejo. Do desassossego. Sua pele arrepiada pelo meu beijo. Sua boca que me entorpecesse em dez segundos. Eu queria mesmo era inventar você.

E o que mais odeia?
Quando você chega a estágios de se enterrar, se furar e deitar em uma cama de pregos. Isso me deixa puto! Ficar sozinha, trancada naquela brecha úmida, se matando sem ao menos querer brigar não acaba com a ansiedade. Quando o muito obrigado atinge a gente, o ego incha mesmo. A mente fica alegre com isso e vem o conflito novamente.

Você acha que é sacana comigo?
A ardência na garganta impulsiona o cérebro que desespera minha língua que não é corajosa o suficiente para contar que sou muito complicado. E safado.

Você tem ciúmes de mim?
Foi preciso que o Bush fosse indicado ao Nobel para abalar minha fé, mas agora é só uma questão pessoal. Eu consegui esse limite, ninguém conseguiu e eu consegui. Foi um marco em minha história. Eu vejo pessoas que foram lutadores e pararam no tempo. Depois eles foram ver que a mente judiava deles. Ela os prendeu ali dentro. Qualquer coisa que pareça sobrenatural e anormal para as pessoas, é porque está em desequilíbrio. O equilíbrio dessas três polaridades, mente, corpo e consciência faz com que realmente você viva sem extrapolar.

O que te dá ciúmes?
Vamos dizer assim: uns dominam o conceito, outros não. A habilidade de superar a dor e não se agoniar com isso depois é apenas atingir um limite possível. Para extrair o amargo, a consciência tem que achar outro caminho para trilhar se quiser encontrar a felicidade. Percebi que este último não era o que me mobilizava.

Você acha que eu sou muito grudada em você?
Só quando você escova os dentes com a minha mão e lava os pés com as costas da minha língua. Quando você deixa os olhos em cima do meu criado mudo também incomoda.

Eu ainda sou a melhor transa da tua vida?
Quando você solta as engrenagens, o universo penetra meu estômago e Marte absorve tudo para se contrair num espasmo como se isso fosse te escancarar as pernas com um macaco hidráulico. Isso é foder.

Se você não quisesse mais ficar comigo, teria a coragem de me dizer ou ia mudar as atitudes para que eu percebesse sozinha?
Nenhum desejo neste sentido. Engoli a seco e extrapolei na ilusão quando pensei ter superado todos os problemas nesta vida. A caneta falhou em todas as decepções e tive que começar de novo. Sem estar disposto a aceitar tudo em defesa do relacionamento, tentei reerguê-lo. Partido. Quebrado. Amargo. Errado. O mundo parou. Silêncio. Cadê a luz do dia?

Você ainda gostaria de trepar com ela?
Toda justificativa tem uma boa causa. Naquela noite a angústia dos olhares perguntava: o que aconteceu? Ficar impotente em meio a toda aquela tristeza era provar que estava me perdendo e iria sofrer muito. Acho que deveríamos beber um pouco mais antes que eu continue. Vá com calma para não vomitar. Não vou cuidar de você. Percorri cada poro daquele corpo como se estivesse com muita fome. Extasiado com as formas, babei um gemido misturado com gozo à temperatura de 37,5 ºC. A vertigem subiu pelas minhas pernas como uma câimbra. Meu analista garantiu que eu não me reconheceria. Fiz a curva e entrei pelo caminho até a porta da frente, mas não gostei do que vislumbrei. Eu estava certo. Não podia mais haver engano.

Você acha que merece meu perdão?
Mas o que é isso? Um insulto à realidade, à lógica das coisas? Me peça para dançar o Ragatanga mas comece com um por favor que te levarei ao deleite. Sabe o que é passar uma semana vomitando satisfação pelos olhos? Se não podemos fazer nada, vamos jogar War que invadirei a Oceania para me distrair.

Você ainda quer casar comigo?
Me falta aquele clima dos casamentos, onde todo mundo fica viajando nas sacanagens que os noivos logo vão estar praticando. Medo. É grave, doutor? Um pouco de sol, mais verduras e legumes e uma buceta de vez em quando. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Desliguei o ar-condicionado e atendi o telefone. (...) tesão, o maior tesão (...), ...me come (...), mete de uma vez só (...), tudo aqui dentro (...) tudo, de uma vez (...). Achei estranho aquelas palavras e desliguei. Devia ser engano. Vou mudar. Mas vai mudar assim na puta que o pariu. Olhei e não havia cupidos voando em volta da mesa. Tive que me resignar.

na cama de pregos com o FAKERFAKIR

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