26.7.03

Vou contar uma historinha.

Era uma vez uma menininha. Certo dia, ela estava andando pela rua quando encontrou um diário e ficou interessada pelas coisas que leu, tanto que resolveu procurar pelo dono daquelas palavras. E eis que era um menininho. Quando se conheceram, eles não deram muita atenção um ao outro. Passou-se um ano ou quase, e tudo que eles diziam ao se verem era oi, e tchau. "De repente, não mais que de repente", tudo mudou. Eles passaram a conversar por horas a fio, trocaram opiniões sobre diversos assuntos, e o menininho começou a despertar o interesse da menininha, mas ela era muito retraída pra dizer qualquer coisa. Aí, um belo dia, o menininho meio que se declarou pra menininha, a seu grosso modo. Ela lutou contra aquilo, porque sabia que ia se magoar e tudo o mais, mas ele era tão perfeito, aquilo parecia tão bom, que ela se rendeu. A menininha e o menininho moram muito, muito longe um do outro, mas ele disse a ela para esperá-lo, disse o que iria acontecer quando eles finalmente estivessem cara a cara, e a menininha, achando que valia à pena, esperou. Esperou e esperou.

Até que, finalmente, aconteceu. Ele foi visitá-la e tudo aconteceu exatamente como ele havia dito. A menininha não cabia em si de felicidade, achando que agora, sim, as coisas iam dar pé. Ela começou a criar as mais mágicas espectativas em torno daquele relacionamento, dando-se conta de que amava o menininho com todas as suas forças, e que ela estava disposta a encarar todas e todas as dificuldades que aparecessem, desde que isso significasse ficar com ele no final em que todos eram felizes para sempre.

Infelizmente, ele teve de voltar para sua terra longínqua e a menininha ficou só novamente. O que a fazia acordar todos os dias era saber que havia alguém que a amava de volta, mesmo que a vários quilômetros de distância, alguém com quem contar, alguém a quem esperar.

E ela voltou a esperar, sim. Enquanto eu tô digitando, ela ainda está sentada esperando por ele. Esperando e esperando.

Só que, "não mais que de repente", tudo começou a mudar. O menininho se tornou frio, frio. E os vários quilômetros de distância começaram a aumentar, aumentar. A pobre e insegura menininha tornou-se cada vez mais aflita, sem saber se havia perdido o afeto daquela criatura que ela ama mais que tudo. O menininho dizia e repetia que nada havia mudado, mas por mais tola que seja, a menininha sabia que alguma coisa havia mudado, lendo os sinais, cada vez mais flagrantes, de que aquilo que eles tinham estava sumindo, ou já havia sumido de vez.

A menininha começou a ficar cansada de esperar, estática. E talvez, dia desses, a menininha se levante e vá viver, mesmo com medo do que pode encontrar, mesmo sabendo que o amor que ela tem a esse menininho é mais forte, maior que ela mesma e ela não vai simplesmente esquecer dele, mesmo sabendo que vai doer hor-ro-res. Porque ela também sabe que tudo passa, tudo passará.

Ela já aprendeu que a dúvida nem sempre é benefício. Não sei que lição o menininho reserva agora pra menininha, e não sei se quero saber.

Só sei que não quero ver essa menininha sofrer porque eu gosto muito dela, apesar de tudo. Alguém tem que gostar, afinal.

the trick is to keep breathing

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