SEGUNDA IDADE (e meia)
Abaixo, a transcrição literal de uma fita gravada num encontro de ex-coristas ocorrido num Bingo em Porto Alegre, RS.
- É a menopausa, só pode ser.
- Mas tu me empresta um cheque, Jéssica? Eu preciso fazer o teste.
- Deixa de ser louca, Bruna. Uma velha como tu, grávida. Vai criar vergonha na cara.
- 52 e meio, cinco meses mais nova que tu.
- E com quem foi? E sem camisinha, Bruna!
- Jura que não conta pra ninguém? A Bia não pode saber, de jeito nenhum! Nem a Judith! Moralistas, elas e os chuchus na cerca.
- Ai ai ai, Bruna. O que tu tá aprontando...
- Tá bom, Jéssica. Tá bom. Mas não vem querer me encher de culpas. Tu pediu, vai levar. É com o sobrinho do Otávio, aquele meu vizinho de porta, sabe? Ele é advogado, e nos encontramos há umas duas semanas descendo a escada do prédio. Ele tava todo perfumado, precisava ver. Quando abriu a porta da rua ele perguntou onde eu ia e antes de eu responder ele me ofereceu uma carona. Aí eu não podia dizer que eu ia jogar buraco na tua casa, né Jéssica. Eu disse que eu ia pra PUC.
- Pra PUC? Fazer o quê na PUC?
- Eu disse que eu faço Direito. Sei lá, eram umas seis da tarde, foi a coisa que me veio na cabeça e eu tive que dizer. Imagina, buraco na tua casa, Jéssica. É o fim. Nem me lembrava mais como atiçar um homem.
- Atiçar, Bruna? Ele acha que tu é uma velha rica e quer se aproveitar! Uma passa de uva!
- Deixa eu contar, se não não conto mais. Ele falou que tava indo para aqueles lados e eu não pude negar. Tinha que ver o carrão preto dele, acho que era um Chevrolet, desses enormes, sabe? Ele abriu a porta e tudo. Quando girou a chave, me disse que ia passar na casa de um amigo antes, se eu não me importava. Tudo bem, eu disse, mas ele disse isso e colocou a mão na minha perna e apertou de uma maneira carinhosa, só tirava a mão dali pra passar a marcha. Ele foi tão carinhoso.
- E ele te deixou na PUC, e aí?
- Que PUC o quê. Motel, Jéssica. Com cascata, peixinhos e espelhos, um luxo!
- E o amigo?
- Foi junto.
- Eu não acredito! Os dois? Só pode estar doida pra fazer uma coisa dessas agora.
- Deixa disso, Jéssica. Velha é tu. Quadrada. Mas isso com os dois foi naquele dia, só. Agora é um de cada vez. Não deu muito certo, eles não têm muita intimidade, enquanto eu fazia com um, o outro ficava olhando, foi muito estranho pra mim. Queria os dois ao mesmo tempo.
- Eu ainda não acredito! E agora, como é que é?
- Ele passa todas as terças lá na casa do tio dele, aí a gente vai prum motel, sempre um diferente, e depois ele me deixa na porta da PUC e pego um táxi e vou pra casa. Ou pra tua, jogar buraco.
- E o amigo dele?
- Nas quintas. Ai, ele é lindo! É administrador de um escritório contábil na Carlos Gomes. Dos grandes.
- Um cheque, só?
gravação clandestina do Repórter Pinto
22.8.03
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