24.9.03

E a vida é surpreendente. E surpreende pq a mão que a guia se faz presente através de sinais, quando menos esperamos por eles.

O médico que fui, tb recomendou-me a cirurgia de redução de estômago e intestino como única solução efetiva para o meu problema de obesidade e afirmou categóricamente que todos os problemas na minha vida resumiam-se a isso. Eu não nego que tem algumas coisas que estão acontecendo comigo hoje tenha ligação direta com a obesidade, no entanto reduzir a solução da minha vida a ela é ser simplista demais.

O x é que sai de lá questionando-me se realmente deixei com que ela me engolisse sem que me desse conta, porque sei do efeito devastador que pode causar na vida das pessoas e sempre cuidei-me para que isso não acontecesse comigo. Jamais me privei de nada em nome da obesidade. Já me basta ser obesa, sofrer por conta disso ou marcar para ser feliz o dia que eu for magra, sabendo que esse dia pode nunca chegar, é demais.

Mas sai de lá matutando, analisando cada pedaço da minha vida e tentando fazer todas as correlações possiveis. Cheguei na vida afetiva e pensei: é pode ser. Afinal faz tempo que não sou paquerada, desejada e enveredei por esse caminho. Estava nele quando peguei o metrô na estação Trianon-Masp em direção a Paraíso e absolutamente alheia cheguei a cogitar se a cirurgia não seria valida nesse sentido, já que tenho em relação a ela um coração absolutamente repleto de maus pressentimentos ao imaginar-me fazendo-a, o que não acontece em relação a mais ninguém e olha que conheço bem mais que 3 pessoas que fizeram-na.

Estava assim absorta quando prestes a chegar na estação de destino, percebi que um moço me observava atentamente. Estava sentado enquanto eu mantinha-me em pé. Olhava para o meu rosto, percorria então com os olhos meu corpo e voltava a fixar minha face, com expressão de: valhe a pena. Fez isso 3 vezes e então levantou-se já que chegávamos à estação. Eu segui no meu lugar de frente para a porta, mas sem mover-me antes que a outra porta se abrisse para o desembarque.

Quando ele desceu, virou-se para me olhar e percebeu que eu tb tinha deixado o trem. Dirigimo-nos para a mesma escada e percebi que ele abria espaço para que eu emparelhasse com ele na subida, o que evitei mantendo-me dois degraus abaixo. Já na plataforma de cima a única fila vazia era a que estava exatamente a nosssa frente e então ele parou numa ponta, um outro moço na outra, restando-me o espaço entre ambos, onde fiquei a esperar o próximo trem. Ele parou meio que virado para mim e a olhar-me, porém não de forma constrangedora. Algumas vezes nossos olhares se cruzaram, no entanto mantive-me alheia e desinteressada, sem esboçar qualquer movimento que o estimulasse na aproximação.

Entramos no trem e eu sentei-me parando ele de frente para mim. Continuava a me olhar e eu percebia agora que ele chegava a arfar enchendo o peito de ar, e a alma de coragem, para falar-me algo e no entanto desistia. Fomos assim até a Sé, quando o banco ao meu lado desocupou e então eu mudei de lugar ficando de lado para ele e com liberdade de rir, pq a situação tinha começado a ficar engraçada embora ele enquanto pessoa não me despertasse riso não. Recordo que nesse momento pensei como é fácil alterar-se um destino. Um sorriso promove uma aproximação que pode ser um novo rumo na sua vida, mudar a sua história... E o não sorriso pode fazê-la seguir em frente e tb ter mudado o seu destino.

Na estação Luz a moça sentada ao meu lado levanta-se e ele olha para a outra moça que estava em pé exatamente em frente ao lugar agora vago e como esta não esboça nenhum movimento no sentido de sentar-se ele o faz mais que depressa. E continua a arfar, criando coragem e perdendo-a, até que cheguemos a Santana. Mais uma vez ele levanta-se e sai do trem antes que eu me mova e novamentese depara comigo quando vai olhar para trás, só que dessa vez ele fala comigo. Conversa banal: meu nome o dele, de onde estamos vindo, com o que trabalhamos, a vantagem de eu trabalhar em casa e a dele de trabalhar na rua, até que passada a catrca despeço-me com um:

- A gente se vê por ai.
- Vc pode sair?
- Posso.
- Tem telefone?
- Cel pode ser?
- Pode.

Anota e quando vamos nos depedir diz:

- Te ligo qualquer dia desses... Vc é uma graça sabia?

Eu ri e me afastei indo para onde tinha de ir.

Não acho que ele vá ligar. Acho que foi sim um sinal para que eu não enveredasse por caminhos falsos na minha decisão. Eu posso até decidir-me a operar, mas não embasada nisso, pq é falso.

No entanto não não nego que o ocorrido tenha feito um bem enooooorme ao meu ego. Ahhhh! fez! Mesmo com o mocinho acabando exatamente na altura do meu nariz, fez!

Depois Eu Penso Nisso...

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