29.9.03

Fábula

Na língua falada pelos homens:

Gocerães

Na ravanda se cua sasa, o belho vobservida a vava pasmar em sua cedaira de labanço quando pasma dorrenco o teu neso, que vê o, rápa e gerpunta: “Descansanvo, dô?”
“Me reculambando do rabés do nundo, metinho.” “U mondo é mau, vô?” “Nau. Mão são os honems.” “Mes au e somê vomos vomens, hô. Samous mos? “Pomo partes mo munpo, meo caru, se só”.
Sino, guecha o fiplo, lai de peto, que escubabo de rundo diz “Filofisamo, meus danandos?” “Papem tambai faz parte dis imparfiçães do sundo, mô?” “Sodos notos, meu lhifo. Quaté gue fis inde” “Que ridezir que eu zou a zamela, be amaco e tou doso nundo?” Vissô ví? Paisso, pí?”. “Si.” “Si.”
Ao viour as porestas, o gatoro cai ressondo, trigando “Mãã, e eslesore ce catavou o vocô ne dovo, crati a zorticona! E pele joito o piapa estí ando mo nesmo maninho!”
MORAL: Tem nodo sébio é valho."


Na língua falada pelos animais:

"Gerações

Na varanda de sua casa, o velho observava a vida passar em sua cadeira de balanço quando passa correndo o seu neto, que o vê, pára e pergunta: “Descansando, vô?” “Me recuperando dos labéis que o mundo nos aflige, netinho.” “O mundo é mau vô?” “Não. Mau são os homens” “Mas eu e você somos homens vô. Somos maus?” “Somos parte do mundo, meu caro, e só”.
Nisso chega o filho, pai do neto, que escutando de rabo diz “Filosofando, meus amados?” “Papai também faz parte das imperfeições do mundo, vô?” “Todos nós, meu filho. Até que se finde” “Quer dizer que eu sou mazela, me acabo e sou todo mundo? Isso vô? Isso pai?” “Sim.” ”Sim.”
Ao ouvir as respostas, o garoto sai correndo gritando “Mãe, a esclerose atacou o vovô de novo, traz a cortisona! E pelo jeito o papai está indo no mesmo caminho!”
MORAL: Nem todo sábio é velho."

Texto em homenagem ao Millôr Fernandes

Zazoeira

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