9.10.03

Foi como achar aqueles tênis Rainha Iate vermelhos de novo. Aqueles que eu não sei a razão de eu ser tão obcecado por eles, talvez porque eram como os sapatos de rubi da Dorothy. Aqueles que eu queria desesperadamente quando era pequeno, mas minha mãe comprou um tênis preto qualquer porque preto é mais prático e combina com tudo.

Na época, cheguei a ficar até deprimido, mas bem no fundo, eu sabia que aqueles tênis vermelhos ainda iriam ser meus. E eles foram. 10 anos depois. E quando vc já é um homem feito, eles se tornam ainda menos práticos.

Mas eles eram lindos e mágicos e simplesmente tudo o que eu queria que todos meus tênis fossem. Nada me fazia tirá-los dos pés. Admirar sua singularidade. Desejar que todas as coisas pudessem ser perfeitas. Desejar que todas as coisas pudessem me trazer um pouco do prazer da inocência.

Eles me fizeram esquecer como era andar de pés descalços. Eles me fizeram esquecer que poucas pessoas os acham ou ousam usá-los.

Mas eu ousei. Como se eu tivesse 8 anos de idade de novo, com o mesmo coração bobinho. Como se o tempo não tivesse passado e não tivesse sido tão cruel comigo como eu sempre pensei.

Eu não liguei se eles não combinavam com nada. Eu os levei pra casa. Eles se tornaram uma parte de mim.

E então, uma manhã, os tênis não pareciam felizes. Os tênis não queriam mais caber nos meus pés. Eu tentei inocentemente forçá-los várias vezes, mas nada adiantou. Eu fechei meus olhos e desejei que eles, de alguma forma, voltassem a ser do jeito que eram quando eu os vi pela primeira vez. Eu desejei que aqueles momentos não tivessem passado.

Então eu me conformei. Eu os coloquei na caixa, mas não voltei a loja pra devolvê-los. Eu não poderia colocá-los de volta no mundo dos tênis.

Me comprometi a colocá-los na estante mais alta do meu armário, e a sempre acreditar, com meu coração ainda bobinho, que um dia eles irão caber de novo.

. my own pretty hate machine .

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