15.3.04

GRANDE APERTO, O FIM DA FELICIDADE & OUTROS FILMES DEFEITUOSOS

Saio do banheiro e sento-me aqui, diante do computador. Começo a escrever este texto, enquanto a chuva parece atravessar o vidro da janela, além do cinza do dia que se espicha lá fora. Você talvez tenha saído da cozinha, onde desligou o fogo e encheu uma xícara de café, e agora sentou-se diante do seu computador e está lendo este texto no meu blogue. Seus dedos longos desistem da havaiana azul (ou verde?) e pisam os tacos frios, depois dos lábios tocarem a borda quente da louça do café. Há uma mancha no canto de sua boca. Você olha pra janela (há uma janela?) no mesmo momento que também olho, depois de pensar um pouco, e, afinal, colocar uma enfermeira neste texto. Ela cuida dum senhor muito velhinho e gentil que está prestes a morrer, mas tem em mente apenas o filhotinho de beagle, e imagina as estrepolias que o cãozinho faz, sozinho em casa, e sorri. O velhinho também sorri pra ela, feliz por ela ter sorrido pra ele, enquanto neste exato instante o cachorro vira seu prato de leite e você derruba sua xícara e também sorri. Enquanto o café se esparrama por sua escrivaninha, eu também sorrio. A chuva diminui e o dia ganha dimensões mais luminosas por isto. A enfermeira recolhe seus utensílios, despede-se do paciente idoso e atravessa o corredor do hospital. Eu penso para onde ela poderia ir, enquanto você pensa que um filhotinho de beagle talvez diminuísse a sua solidão. Eu hesito em escrever a palavra solidão aqui, pois eu não acredito na solidão. Eu não quero começar a pensar agora, isto certamente

HOTEL HELL

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