14.4.04

AS MÚLTIPLAS EXISTÊNCIAS DE MR. WATERS

Um pouco antes do período Pré-Cambriano, quando não existia Internet e o Espírito movia-se sobre as águas, eu era um Pastor Itinerante. Minha Sagrada Missão de levar a Palavra de DEUS aos Caboclos Entrevados precisava ser exercida da maneira mais tosca imaginável, que era se deslocando fisicamente até os Grandes Sertões e as Veredas para poder Pregar para a Patuléia Ignara.

Apesar de ser um ofício agradável aos olhos do Onissapiente, confesso que muitas vezes este Sacerdote que vos fala se sentia très fatigué.

Numa dessas ocasiões, em Paulínia, após explicar o Dogma da Transubstanciação para um grupo de bóias-frias, uma colhedora de café me convidou a ir com ela mais sua prima até o Festival do Irmão Caminhoneiro que ia rolar mais tarde. Belê, pensei, finalmente um pouco de diversão na vida de um Pastor exausto.

Chegamos no local da festa. Depois de tomar umas canjibrinas e dar uns amassos na caboclinha atrás da barraca de pamonha, peguei uma garrafa de Velho Barreiro - a segunda - e fui assistir ao show do estupendo Falcão. Naquela noite ele apresentou seu clássico cover de "Another Brick in the Wall", só que com a letra de "Atirei o Pau no Gato". Antes do número, ele declarou que tinha sido impedido judicialmente de apresentá-lo por ordem de "um corno lá da Inglaterra chamado Roger Waters", mas que ia tocar assim mesmo. É por atitudes dessas, e por usar ternos feitos de toalha de mesa com motivos natalinos, que eu tiro o chapéu pro Falcão.

Padre Levedo

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