22.7.04

Acidentes

A Sara está a recuperar, disse-me o N. Fiquei tão feliz por sabê-lo, por ela e pelos dois filhos dela - a todos já bem basta a perda do marido e pai no malfadado acidente de automóvel.

O acidente da Sara e família não me saía da cabeça, até sábado passado. Cada vez que me sentava ao volante, lembrava-me dela. Deles. E conduzia com cuidado redobrado.

Até que, no sábado passado, por volta das cinco da tarde, ia eu na auto-estrada Cascais-Lisboa, quase a chegar à saída para Oeiras, na faixa do meio, a cerca de 120 km/hora, quando o pneu de trás (lado direito) explodiu. Literalmente. Andei aos encontrões ao separador central durante (o que me pareceu ser) uma eternidade, para voltar a parar na mesma faixa, quase na mesma posição.

Não bati em mais ninguém, nem ninguém bateu em mim. O carro ficou sem frente, o radiador no meio da estrada. Vale-me o seguro contra todos. Não há ferimentos a registar - a não ser uns quantos altos e nódoas negras, e muitas, muitas dores musculares. A alma também se queixa um pouco dos estragos infligidos pelo medo (sentido a posteriori), mas isso são contas doutro rosário.

Desde sábado, o meu acidente não me sai da cabeça. E, como é costume entre os mortais, depois de situações de perigo efectivo, revejo alucinantemente todas as minhas prioridades. Há males que vêm por bem.

Viver todos os dias cansa

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