Confissões do Serjones pirralho
Não sei se esta merda vai dar uma série, mas vamulá. Quando eu era muito pequeno, primeira série, meus pais me entregaram aos cuidados de uma professora pra me levar todos os dias à aula. Eles não podiam me levar, e essa mulher morava perto de casa. Não sabiam, mas a vaca me fazia carregar os cadernos de toda a turma, que ela trazia pra corrigir. Uns 40 cadernos. Até pegar o ônibus para a escola, tinha uma ladeira fudida, e ela me repetia "respira pelo nariz e solta pela boca!" Te juro por Deus, pra carregar o peso daqueles cadernos eu respirava até pelo cu. Mais: aquela professora tinha me recebido na primeira aula com uma saudação inesquecível: dois tapas na cara, depois de me encurralar na parede por uma safadeza que eu não tinha cometido. Mas o pior era ouvir a filha dela cantando, enquanto eu esperava o momento de seguir carregando os cadernos com a velha: "Eu amo a letra S/por ela tenho paixão/com ela escrevo Sergio/Serginho do meu coração".
***
Quando eu era molequinho, gostava de espiar a empregada tomando banho. Ficava de tocaia.
Quando ouvia o barulho do chuveiro, colava o olho no buraco da fechadura. Ver aquela buceta peluda fazia meu coração disparar feito um cavalo árabe. Era um banheiro de empregada, pequeno como todos eles, e a moça apoiava o pé na privada para ensaboar a coxa e a xana. Eu ficava paralisado. Até que um dia, com meu olho grudado ali, sabe o que eu vejo? Outro olho grudado ali. Só que do lado de dentro. Eu não soube e nunca vou saber como ela descobriu. Nunca fiz nenhum barulhinho! Só me lembro do olho me olhando e da pergunta que veio: "o que cê tá fazendo aí?" Naquela idade, não tive resposta. Nem era o caso de responder. Saí correndo e me escondi, adivinhando o esporro da minha mãe e do meu pai. O da minha mãe veio mesmo. Pesado. Meu pai só fez uma pergunta básica, pra cumprir tabela. Deve ter pensado "o moleque é macho". A empregada tinha um namorado japa lutador de karatê, e eu passei semanas com medo dele saber. Vou te contar. O susto foi tão grande que até hoje eu sonho com aquele olho me olhando. Com a buceta peluda, nunca sonhei. Tudo bem. Eu só não quero é sonhar com o japa do karatê.
catarro verde
21.7.04
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