Pais, filhos, Maluf, etc.
Eu e meu pai sempre discutíamos quando o assunto era política. Mais especificamente, Paulo Maluf. Semana passada, quando eu soube da prisão, liguei pra ele para sacaneá-lo. Liguei em casa, a Quitéria atendeu, eu perguntei se meu pai estava, ela disse que não, ela perguntou se eu queria falar com a minha mãe, eu disse que não, conversamos um pouco e, em seguida, desligamos. Minutos depois eu sai e só voltei no fim do dia. Quando cheguei, uma tonelada de recados dele e da minha mãe me esperavam na secretária eletrônica. Eu não entendi o porquê de tanto desespero e liguei de volta perguntando o que havia acontecido. Ele atendeu e parecia preocupado. Quando eu disse que só tinha ligado pra dizer que o Maluf tinha sido preso, ele disse que já sabia e perguntou se a ligação era só pra falar sobre aquilo. Eu disse que sim e senti um certo desapontamento no tom de voz. Ignorei o tom de voz e desligamos o telefone depois das perguntas e respostas de praxe.
Com o telefone no gancho, voltei a pensar sobre o tom de voz... Só então percebi que aquela era a primeira vez que eu havia feito uma ligação para falar com meu pai e não com a minha mãe, ou com os meus irmãos. Só então eu percebi porque ele havia retornado a ligação tantas vezes, se preocupado... Passei o resto do dia pensando sobre essas relações familiares que mantemos mal resolvidas por achar que ignorar é mais simples. Fiquei pensando sobre pais, filhos, identificação, aceitação, imitação de comportamento, rebeldia, sobre como deve ser a relação de pai e filho dos Maluf, me perguntando sobre o que os dois conversariam presos na mesma cela e sobre o que, eu e o meu pai, conversaríamos se, um dia, fossemos obrigados a passar mais do que alguns segundos falando sobre amenidades.
Como é que a gente constrói uma ponte entre duas montanhas que nunca sairão do lugar e que são separadas por um abismo tão grande?
Licor de Marula com Flocos de Milho Açucarados
Nenhum comentário:
Postar um comentário