29.6.06

Design by Capitu, a oblíqua

Fico sabendo na sexta que no sábado um amigo antigo do gatim ia se casar e a encarregada de achar o presente era, claro, yours truly. Bão, levando em consideração que:
1- eu nunca vi a noiva mais gringa;
2- não vemos o noivo há anos e eu mesma não o conheço tão bem;
3- o casal de lá mora na Suécia, pra onde deve voltar em breve;
4- o casal de cá não anda especialmente endinheirado;
5- o presente tinha que ser pro casal (ou seja, pra casa), comprado na última hora e não podia ser muito pesado (nem na bagagem deles nem no nosso cheque especial),
convenhamos que eu me vi sem muita margem de manobra. Mesmo sabendo que eles moram na terra da ikea, me mandei pra Tok & Stok em busca de algo que não nos fizesse passar vergonha nem (muita) raiva neles. Não foi fácil. Quando finalmente cheguei ao meu short-list, liguei pro marido desnaturado em busca de apoio :
- Lindo, sou eu. Tô procurando o presente de casamento do Martinho e tá difícil.
- Aquele kit de fazer caipirinha que você tinha falado não tem mais ?
- Só tem um, que tá compondo um ambiente, e quando é assim a menina diz que eles não vendem. E ainda que vendessem, é muito pesado, tem um copo enorme de vidro grossão, pesa mais de quilo. E é frágil.
- E aí?
- Então tô entre uns enfeites simples mas legaizinhos, coisas que eles não vão achar lá: umas esculturinhas de ferro de uma designer brasileira ou um jogo de 3 tigelinhas bem rústico, mas bem bacana. É bonitinho mesmo, parece indiano, ou indígena, sei lá. É indie, de qualquer forma...
- É leve?
- É, sim. Não sei bem do que é feito, mas parece chifre...
- Chifre?
- É.
- Pro presente de casamento?
Fui de esculturinhas. Ferro neles. Melhor assim. Mesmo que a ascendência da moça seja viking, e que ela possa considerar as guampas como coisa viril e honrosa, melhor respeitar a brasilidade nagô do noivo... e os nossos dentes. Nada de chifre.

cyn city

28.6.06

EMPREGO

Não gosto de literatura, odeio escrever, nunca vou ao cinema -- não sei como tudo isso se juntou. No começo de 82 fui fazer uns biscates em Buenos Aires e li nos classificados que procuravam alguém para auxiliar um velho. Achei gozado o que pediam no anúncio: "Dá-se preferência a quem não goste de filmes." Fui ver. Parece que em Buenos Aires são poucos os que não apreciam perder tempo no escuro do cinema. Cheguei lá; a mulher dele -- que no começo pensei ser a secretária -- , uma japonesa, me recebeu. Fui levado à sala dele. Idoso mesmo, uns oitenta e tantos, por aí. E cego. Achei gozado um cego numa sala cheia de livros. A japonesa confirmou meu desapego pelo cinema ("Desprezo", insisti) e me explicou: eu iria receber para ler livros técnicos sobre os fundamentos do cinema -- enquadramento, planos, fotografia. Depois de aprender o necessário, iria acompanhar o velho a uma antiga sala de cinema no bairro de Palermo. Minha tarefa era, portanto, ir descrevendo as fitas para ele, utilizando os jargões que guardaria do aprendizado. No começo foi complicado, mas logo me acostumei. "Travelling até uma casa amarela", eu dizia. "Corta para plano médio de uma moça de olhos grandes, grandes e cor de caramelo fervido. Fade." E o velho de olhar grudado na tela, como se enxergasse. Pareciam até brilhar, aqueles globos brancos. Lembro que o único atrito aconteceu na vez em que acabei me entusiasmando com uma cena e fiz sem querer um comentário sobre o cenário -- então o velho me cortou, a voz mais rouca do que de costume: "Quero seus olhos. Não sua opinião." No mais, tudo correu na mais perfeita normalidade. Depois o estado de saúde dele foi piorando, as sessões acabaram e em quatro ou cinco semanas eu deixava Buenos Aires, com um bom dinheiro no bolso. Meses depois recebi um bilhete da japonesa, dizendo que ele havia morrido e deixado uma carta de agradecimento para mim -- que seguia em anexo. Mas era uma longa carta, e eu já disse que não tenho paciência para isso de literatura. Joguei a carta fora sem ler e segui minha vida.

Blog de Bolso

17.6.06

Sobre o Menino do Rio...

Depois de almoçar com uma amiga, fui andar na praia: calça jeans dobrada até o joelho, camisetão, câmera fotográfica enrolada em uma canga, chinelo comprado no dia anterior. Queria pôr os pés na areia, sentir um pouco de água salgada deslizando entre os dedos, ficar um pouco em silêncio. Estiquei a canga, me desprendi dos chinelos, fotografei muito do céu carioca. A praia estava vazia, um fim de tarde com brisa gelada. Eu ando friorenta... Foi a primeira vez que senti frio na minha cidade dos sonhos. Não gosto de frio, mas, lá, até dele eu gosto.
Um garoto parou de bicicleta perto de mim. Pediu que eu cuidasse dela para que ele entrasse no mar. Eu disse que sim, e continuei olhando para o horizonte através das minhas lentes. Não sei quanto tempo ele passou no mar porque me distraí completamente com meus pensamentos. Só me dei conta da sua presença quando, já próximo da bicicleta...

- Tá com cara de apaixonada, hein?
- Anh?
- Você... Olhando assim para o nada e com esse sorriso incontrolável nos lábios. Isso é cara de amor. Olhos de paixão.

Sorri amarelo para o menino e...

(…)

continua no Licor de Marula com Flocos de Milho Açucarados

Da teologia anacoreta

Acabo de ver na televisão uma rapariga que aos dezoito anos fez uma tatuagem no rabo em nome do Senhor. Era crente, diz ela. E diz bem, o Senhor sempre escreveu direito por linhas tortas. Agora, quer remover a tatuagem. Parece que subitamente descobriu que era ateia. Se dúvidas houvessem, neste pequeno episódio está demonstrada toda a superioridade moral do cristianismo, sobre as filosofias bacocas de ateus e pagãos. Não fosse o Senhor e sabe Deus o que teria sido daquele rabo. Não passaria na televisão nacional e, de certeza, não habitaria o meu imaginário durante as próximas noites. Mas Deus vai mais longe. Aparentemente é pouco provável que se consiga remover as sagradas escrituras das nádegas daquela jovem. Problemas técnicos, dizem uns. Mão do Criador, digo eu. Nos próximos anos, em cada queca, em cada bronzeado, em cada dólar ganho à custa do talento daquele corpo nas praias de Miami, estarão as palavras de Deus tatuadas naquele rabo. A converter pagãos e a abençoar beatos. É o purgatório em forma afrodisíaca. É a revolução católica que realmente interessa. É certo que ainda há um longo caminho a percorrer. É necessário munir as nossas paróquias de mulatas e trazer freiras bonitas para a ribalta. Se nos dias que correm há pecado capital na igreja católica, então é o facto de estar a perder as prostitutas brasileiras ilegais para a Igreja Universal do Reino de Deus. Solução? Admitir o sexo oral como forma de penitência. Mas atenção, nada de seguir o exemplo dos protestantes. Um brochezito de vez em quando tudo bem, mas sempre dissimulado e no segredo do confessionário. Porque o sexo, meus amigos, acompanhado de uma boa dose de ascetismo e uma consciência devidamente pesada, ainda é a melhor forma de expiação dos nossos pecados.

Diário de Tiago Galvão

16.6.06

A Fine Romance

A moça casada não consegue esconder a expressão de tédio mas tenta explicar ao marido pugnaz o que exatamente as mulé querem dizer com “romance”. Arrazoa que o frisson de todo começo de relacionamento está vinculado às emoções da sedução, e generaliza dizendo que toda mulher gosta de e precisa ser seduzida, e que o fato de que os homens suponham, depois de casar, que basta ir baixando ou subindo a mão roupa adentro em direção ao hinterland feminil é uma tremenda prova de rudeza ou insensibilidade. O marido pugnaz retruca que, se ele realmente precisasse refazer todo o percurso da sedução a cada vez que, er, procura a patroa no afã de encontrar a mais íntima expressão física do profundo vínculo emocional que os une, não teria casado, cazzo.

A moça entediada faz aquele muxoxo de irritação resignada que as mulheres aparentemente treinam todos os dias ao espelho, como se não valesse a pena o esforço de tentar explicar essas obviedades ao brutamontes, mas o marido não desiste, e contra-ataca dizendo que, em suma, então, o que as mulé querem é que os caras sejam cafajestes. As mulheres da mesa negam, mas ele acrescenta que, na prática, elas esperam que o cara finja, que faça toda a mise en scène da sedução mesmo que não haja sentimento nenhum envolvido, da parte dele –ou seja, que ele continue fazendo em casado o que quase todos os homens fizeram um dia em solteiros, e minta sem a menor vergonha sempre que quiser comer alguém -e, pior, a mesma alguém.

As mulheres da mesa ensaiam uma vaia ao marido pugnaz, enquanto pelo menos duas delas se atropelam para dizer que não, elas não querem que o cara finja: querem que ele sinta vontade genuína de seduzi-las de novo a cada dia. Agora cabe aos homens trocar olhares de irônica resignação. A conversa morre aos poucos, e de repente, em meio a um dos silêncios imprevisíveis que de vez em quando surgem em lugares públicos, o cochicho entre a esposa entediada e a vizinha dela à mesa se torna claramente audível: “E qual é o problema de fingir, aliás? A gente finge o tempo todo e eles nem percebem”. Todo mundo ri, menos o marido pugnaz, que olha feio para a mulher. Ele levanta o copo: “Melhor brindar ao quinto aniversário do nosso casamento, porque não sei se vai haver um sexto”. Uma vez mais, todo mundo ri. Menos a mulher.

Filthy McNasty

O Código da Nove - versão 2

Foi encontrado na manhã do dia 27, o corpo do jogador Ronaldo Nazário, nu em seu quarto de hotel em Dortmund, poucas horas antes da partida com a Itália válida pelas oitavas de final da Copa do Mundo, com os braços e as pernas esticados, em forma do homem vitruviano, e tendo o logotipo da Nike desenhado com seu próprio sangue em seu ventre.

A primeira delas foi uma minúscula cinta de silício presa a seu pé esquerdo. Outra pista foi a aliança que o jogador usava em sua mão direita. Dentro dela estava gravada a seguinte mensagem "Fernanda - xxxx-6393 - Eu gosto é de mulher". Uma outra pista foi o logotipo da Nike desenhado em seu ventre arredondado. Em sua mão esquerda, a polícia encontrou um beque. No criado mudo havia 7 caixas de pizza, todas vazias. A última evidência deixada pelo jogador foi encontrada pelos investigadores alemães com luz negra, onde lia-se escrito, ao lado do corpo "Oh, besta dos infernos // Full House da Nike //P.S. Encontre Parreira ".

Diretores da Nike informaram por sua assessoria de imprensa que pretendem processar Ronaldo por quebra de contrato.

(…)

:: At War With The Mystics ::

Supervisão

Hoje foi o dia da supervisão aqui em casa.
Dia da supervisão é o dia em que a minha avó cisma que alguma coisa está perdida, então ela quer ter certeza que não está. Ela nem está precisando, mas ela quer. As coisas acontecem assim:
- Débora, eu quero a blusinha que a sua bisavó bordou pro seu pai quando ele nasceu.
Provavelmente a última vez que essa blusinha foi vista, foi em meados de 1945.
- Não sei que blusinha é essa não.
- Mas traga aqui que eu digo se é ou não
Então eu passo tempo e mais tempo procurando a bendita blusinha de 1945 e ai de mim se não a encontro, parece até gincana escolar, fase avançada.
- Mas pra que a senhora quer?
- Não te interessa.
2 horas depois, quando a casa toda está mobilizada com a situação em busca da peça, vó chorando porque ninguém guarda as coisas dela direito, empregada que deixa de lavar roupa, pai que acorda, eu que deixo meu trabalho, todos na busca, finalmente a gente encontra e leva pra ela.
- É essa aqui?
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...é, deixa eu ver.
- Pronto?
- Pronto, agora pode guardar de novo.

De Pindamonhangaba para o mundo

15.6.06

O Ronaldo está com febre amarela.

cAtaRrO vE®De

13.6.06

A GAIOLA E AS FLORES

Recebi de presente no Dia dos Namorados uma gaiola. Sim, demorei um véu de papel para desvendar o que havia dentro do pacote triangular. Minha surpresa não foi pouca. A Ana me olhava com expectativa. Levei um susto de boca. Depois um susto de olhos. Em seguida, um susto de cabelos. Uma gaiola vazia, branca, como hélice de moinho. Uma gaiola como um engradado de ostras. Uma gaiola como um chapéu na mesa, posando de natureza-morta. Agradeci com os cílios abanando e já desandei a deduzir o que significaria. "Será que é uma indireta para ficar mais em casa?" "Ela quer me deixar preso?" "Sou o pássaro que não enxergo?" "São para minhas leituras avoadas?" Tantas alternativas que não fechei conclusão nenhuma. A Ana, não sei se disse, é adepta da alucinação mais do que do sonho. Pois a alucinação acontece quando estamos acordados.
(…)

.:. Fabricio Carpinejar .:.

12.6.06

conversas furtadas

MENINAS NA PORTA DO COLÉGIO

— Pô, olha só, eu tou lendo esse livro, O Código DaVinci, mas pô... Tou sem a menor paciência de ler... Tipo assim, só cheguei na metade.
— É? Esse livro fala de quê?
— De Jesus, e Maria Madalena, tipo... Que eles tiveram um caso, sabe...
— ...
— Aí, tipo assim, o cara que descobriu tudo... Mataram ele...
— ...
— Pô, como é que é o nome dele mesmo? Ah, lembrei: o Silas!
— Eu só sei que esse livro é grossão...

Enviado por Cryss MyAss.


EM UMA FERRAGEM

— Meu chuveiro queimou. Esta é a resistência.
— Ah! A senhora tem a resistência, então quer o chuveiro?

Enviado por Jussara.


CRIANÇA PRODÍGIO

— Que bebê mais fofo! Tá com quantos meses?
— Seis... Mas faz sete mês que vem!

Enviado por Cesar Dias.

conversas furtadas

11.6.06

DIÁLOGOS BOBOS DE INSPIRAÇÃO ANIMAL

Essa é antiga, mas é boa :

- E aí, So, sua gatinha tá melhor ?
- Tá, sim. Eu levei no veterinário mês passado e ele disse que eu não precisava me preocupar com aqueles caroços na barriga dela, que não tinha nada de tumor, era só bola de pêlo.
- Ah, que bom, então. E aí ? Expeliu ?
- Ontem. Dois machinhos e três fêmeas.


Cyn City

AGENDA

– Fala, dona Letícia.
– Doutor Breno, o senhor Lamberto tá aqui.
– Lamberto, Lamberto…
– Seu amigo. Estudou com o senhor no terceiro colegial. Lamberto. Apelido Caveira. Irmão do Farofa, que namorou sua prima. Dizendo que dia desses vocês se encontraram no shopping.
– Olha, dona Letícia, eu não tenho tempo pra… ahn. Ah, tá. Lembrei; vi ele no shopping, sim. Olha. Diz que eu tou muito ocupado, fala que…
– Ele diz que veio tomar o café.
– Como?!?
– Ele diz que o senhor falou pra ele vir tomar um cafezinho na firma qualquer dia desses, e ele veio.
– …
– Doutor Breno?
– Dona Letícia, fala que eu tou ocupado!
– Pois é. O seu Lamberto também tá. Disse que tem outros compromissos. Que não pode se atrasar. E que quanto antes vocês puderem tomar o café, melhor.
– Ah, é, dona Letícia? Meeeesmo? Ele disse isso, é? Que coisa. E o que mais que ele quer, hem?
– Quer o dele descafeinado. Por conta da gastrite.
– …
– Doutor Breno?
– Ahn. Escuta. Fala pra ele voltar outra hora. Inventa qualquer coisa.
– Ué. Tá. Iiiiiiiiiiih, doutor Breno, eu já ia esquecendo. Que cabeça a minha. Deixaram também um recado urgente aqui pro senhor.
– Recado urgente? De quem?
– Do Edevaldo. É pro senhor ligar pra ele.
– Edevaldo?
– É. Da limpeza.
– Da limp… E por que é que eu teria que ligar pro funcionário da limpeza, dona Letícia?
– Ele quer saber o resultado do balanço semestral da firma.
– …
– Doutor Breno?
– Er… Dá pra me explicar que piada é essa?
– Aquela reunião que o senhor fez semana passada, com todo mundo da empresa, lembra? Quando o senhor disse que aqui dentro não tem isso de patrão e empregado, que é tudo transparente, que todo mundo joga no mesmo time. Então. O Edevaldo quer saber o resultado do balanço semestral da empresa. E se puder ser pra hoje…
– Como?!?
– É que ele vai tomar umas com os amigos à noite lá no bar do, como é mesmo o nome, gente?, eu ando tão esquecida; acho que é bar do Tarzan. Pois é, aí ficou de falar do balanço contábil pra eles. Ah, quer saber também se isso de mesmo time quer dizer que o senhor torce pro São Caetano.
– …
– Doutor Breno?
– Me faz um favor, dona Letícia. Vem até aqui na minha sala. Agora.
– Olha, doutor Breno. Não vai dar. Acabou de chegar aqui uma pessoa muito importante, que precisa falar com o senhor.
– Ah, sei. E quem seria, dona Letícia? O Cafuringa, vigia do estacionamento?
– Não. O Ministro do Planejamento.
– Hã?
– É. O Doutor Paulo Bernardo Silva. Tá aqui querendo ouvir o que o senhor ia fazer.
– O que eu ia…
– É, fazer. Ele tá meio nervoso. Diz que o senhor falou em alto e bom som num coquetel aí que se o senhor fosse o Governo dava um aumento pros aposentados e pensionistas do INSS e calava a boca da oposição. Pois ele tá aqui querendo saber como é que o senhor ia fazer isso sem comprometer a previsão do Orçamento pra 2006.
– …
– Doutor Breno?
– Er. Ele quer entrar… agora?
– Imediatamente. Diz que o Congresso vota hoje à tarde o projeto de aumento de 16% e ele não tem tempo a perder. E tem mais.
– Ahn. O quê, dona Letícia?
– Seu Lamberto. O Caveira.
– O que que tem?
– Ele quer saber que hora então ele volta pra tomar o café. Diz que a agenda dele tá lotadíssima pra hoje.

Ao Mirante, Nelson!

9.6.06

MALDIÇÃO

“COM DORES PARIRÁS TEXTOS ACADÊMICOS ROCOCÓS! POUCOS LERÃO.” “Por que você escreve tudo em maiúsculas?...” “ ‘VOCÊ’ ?!!! CÃO INFIEL! ‘VOCÊ’ ?!!!!!!” “Vós é muito complicado”. VÓS SOIS! IGNORANTE”. “Quero dizer, o uso do pronome ‘vós’... O Senhor não é mesmo onisciente, é?” “SENHOR ESTÁ BOM. FALA ‘SENHOR’... LERÁS TESES ACADÊMICAS, DISSERTAÇÕES, MONOGRAFIAS INTERMINÁVEIS EM TEUS FINAIS DE SEMANA!” “...” “CALUDA! ALUNOS NÃO DEIXARÃO QUE ASSISTAS À NOVELA DAS 8. TERÁS DE DAR AULAS SOBRE MAX WEBER, LER TEXTOS DE BRUNO LATOUR, DERRIDA, DELEUZE". "Mea culpa, mea maxima culpa..." "O SALÁRIO SERÁ RIDÍCULO. AS MULHERES TE ACHARÃO CAGALHÃO E CONFUSO!”. “Majestade!” “FICARÁS CARECA! LENTAMENTE... PARA QUE EU POSSA GOZAR DO PRAZER DE TE VER RIDICULAMENTE TENTAR VÁRIOS PRODUTOS CONTRA QUEDA DE CABELO. MAS NEM TÃO RÁPIDO ASSIM QUE AS PESSOAS NÃO PERCEBAM A PRÓPRIA MORTALIDADE ATRAVÉS DE TUA CABEÇA”. “Mas por que eu?!!! Por que Vossa Excelência não fodeu a vida de Chico Buarque de Holanda?! Tom Jobim?! Esses cachaceiros todos... Gente desregrada e ruim! Excelência, por que me desamparaste?” “SÓ PELA SACANAGEM. E DIGO MAIS: SABES POR QUE ODEIAS TANTO WOODY ALLEN?” “...” “AGUARDA UM POUCO... É DIFÍCIL... ACERTAR O TECLADO... RINDO DESSE JEITO. AI, JESUS! ME ACODE”...

Segunda Mão

5.6.06

O Homem que disse Venâncio

Um dos motivos por que fico revisando textos no Franz Café, é para poder ouvir a conversa dos outros. Nesse dia a conversa da mesa ao lado se dava entre um ator experiente e a jovem atriz. Ele beirava os 125. Ela tinha cem anos a menos. O velho era todo cheio das verdades. Começou a falar sobre sensibilidade, coisa de artista.

Voltei ao texto. Estava procurando a parte onde tinha parado. A frase era:

"O nome dela pode ser Laís Venâncio". E nesse instante o velho disse:

- Meu vizinho, o Venâncio, por exemplo.

No exato instante em que eu li "Venâncio" - no meu texto - , o velho falou "Venâncio"!

Larguei o texto e olhei pra cara do velho. Algo aconteceria. Era um sinal. As pessoas começariam a cantar, o velho se transformaria num espírito, alguém me entregaria um envelope lacrado, alguma coisa. Passei o resto do dia esperando alguma coisa.

Estava há dois quarteirões de casa quando um carro passou por uma poça d'água e me encharcou. Do outro lado da rua, Nora, a costureira espanhola, gritou meu nome.

Finalzinho mixuruca...

começou o Diario da Odalisca