17.7.06

Prosa Caotica

Amar é sofrer, eu vou te dizer. "Não se esqueça de trazer uma lagosta pra mim", disse ela bem assim na beira do cais antes de eu partir para um mergulho de onde não sabia se voltaria. Agora aqui, a 45 metros de profundidade, e descendo cada vez mais, fico me perguntando por que não a mandei à merda, sem endereço. Desde criança que tenho dois sonhos: resgatar do fundo do mar a cruz do bispo Sardinha e me apaixonar por uma samurai que pisasse minha garganta até que me faltasse o oxigênio pra eu gozar. Se isso é pecado, me puna. A cruz do bispo eu ainda não achei, mas continuo mergulhando, e fundo, muito fundo. Tão fundo que acabei descobrindo Isabel dentro de uma ostra, escondidinha. Hoje vivemos juntas, só eu pago o aluguel enquanto ela arde na Fogueira Santa de Israel. Amar é sofrer, não preciso dizer mais do que as canções banais: é só uma gota de sangue verbal, apaixonei-me por uma obreira pentecostal.

Prosa Caotica

A Tirania das Bananas

De todos os objetos e pessoas que povoam minha vida, a banana é dos poucos que consegue cercear minha liberdade e impor sua vontade a mim.

Gosto de fazer tudo na hora que eu quero, do jeito que eu quero. Bem coisa de artista excêntrico. Na época em que eu tinha TV, por exemplo, programava o vídeo e deixava tudo gravando. Não vou ser obrigado a ver o programa na hora que a emissora quer: vou ver quando eu quiser.

Mas a janela de oportunidade da banana é muito pequena. Ontem, estava verde e incomível. Amanhã, estará podre e incomível. Ela exige ser consumida naquele dia específico: não importa o que você cozinhou, quem está recebendo, o que tinha planejado, se foi convidado pra almoçar. Tem que ser hoje ou nunca.

(…)

Compro muitas frutas. Maçãs, pêras, ameixas, uvas, abacaxi, grapefruits, goiabas. Todas elas sabem se comportar. Nenhuma tenta dominar minha vida ou meus horários. Sabem seu lugar. As maçãs e pêras ficam na geladeira indefinidamente. Não me pedem nada. Se eu ficar uma semana sem tesão por maçã, elas continuam lá, me esperando submissamente, e estarão deliciosas na outra semana também.

Só a banana me tiraniza.

Liberal, Libertário, Libertino

PLAYING WITH MY FRIENDS - LU

Cynthia diz:
E você já tá pensando em nomes pro neném ?

Luluzinha diz:
Tava pensando em nomes pra homenagear e entregar os culpados pela gravidez inesperada, né ?

Cynthia diz:
E quais são ?

Luluzinha diz:
Lambrusco ou Valpolicella.

Cyn City - UOL Blog

15.7.06

Hit and run run run

Fui atropelada por um mustang amarelo.
Achei de que depois de velha, nós românticas teríamos aprendido. Mas não. Isso nunca se aprende. Eu vou me apaixonar no asilo pelo bilhete que o velhinho que eu NÃO VI me mandou. É isso aí, é assim que é.
E agora tudo que eu queria era ser os lençóis da cama dele.
E casar com ele de vestido branco com as coxas de fora e cortar as unhas do pé dele e fazer a barba dele com navalha três vezes por semana, só pra ter certeza que ele confia em mim.
E ele nem sabe.
É, eu continuo sendo eu.

adios lounge

A beleza da idéia da reencarnação é que talvez não tenhamos sido brasileiros na outra vida. “Lord que eu fui de Escócias doutra vida”, escreveu Mário de Sá Carneiro. Mas mesmo um guatemalteca já seria bom. Até mesmo uma prostituta de Montmartre que tivesse dado para Toulouse Lautrec e passado sífilis para Maupassant. De modo que da próxima vez que alguém dissesse que você não passa de um brasileiro, você poderia dizer: “Sim, mas na outra vida eu era uma francesa banguela e sifilítica”.

Alexandre Soares Silva

11.7.06

NO MCDONALD'S

— Vem cá, que animal que mata pra fazer bife de soja?
— Hahahaha.
— É... Você tá rindo, mas também não sabe não!

Enviado por Thiago Oliveira.
conversas furtadas

Nenhum jogador é maior que o jogo?

(…)
Boa, Zizou: nos lembrou que só tem cabeça quem um dia sabe perdê-la.

Fakerfakir

UM LITRÃO DE AMOR

Decidi fazer vasectomia, depois de dois filhos no mundo. Não esperava as reações mais desbaratadas entre os próximos. Minha mulher considerou um ato de extremo amor, já que encerrava com ela minha carreira fértil de varão. Abraçou-me com as pernas, emocionada, como se houvesse a pedido novamente em casamento.

(…)

* * *

Estranho é que mantinha provisoriamente a fertilidade. O médico avisou que havia chance de gerar filho (numa hipótese remota, mas estatística) nas primeiras 25 ejaculadas após a operação. O risco é que sobrasse Fabricinhos no saco. Concluídas as vinte e cinco, teria que levar uma amostra do esperma para a análise e receber a sentença final. Comprei um quadro-negro e botei na parede do quarto no lugar do "O beijo", de Klimt, guardado debaixo da cama.

* * *

Péssima idéia. E eu sou homem de contar trepadas? Estava destinado a registrar cada desempenho com um toque do giz. Porém, me afligiu uma dúvida e a transparência do relacionamento dificultou o raciocínio. As punhetas, o que faria com elas? Marcaria também no quadro? Passei a roubar minhas próprias gozadas e a esposa inventou de apagar algumas dizendo que estava me apressando e que não sabia ser honesto nem durante o sexo. Não ia dizer que homem casado também se masturba... Arrumei um controle paralelo nos papeizinhos amarelos, somando as transas reais e as fictícias.

* * *

O triste é que alguns pacientes entendem errado o aviso das vinte e cinco golfadas. Ao invés do potinho de laboratório com a vigésima sexta ejaculação, um deles apareceu no consultório com um litrão de coca-cola e entregou ao doutor, alegando que tinha sido difícil coletar tanta porra. Durante dois meses, gozava dentro da garrafa. Quase se apaixonou por ela, quase morreu no gargalo.

.:. Fabricio Carpinejar .:.

5.7.06

Brasil versus França

Bom, a seleção brasileira de futebol levou uma bela ensaboada dos comedores de baguete. Já os brasileiros aqui no Brasil, amontoados em volta dos televisores, engoliram a seco, já pressentindo o humor argentino que se seguirá durante a semana. Até aí tudo bem, é assim que a máquina funciona. Toma lá, dá cá.

Lembro muito da copa do México de 1986, quando ganhei uma camisa canarinho, de algodão, amarela dos punhos e golas verdes. Estampado o nome Sócrates nas costas. Fui com meu pai em uma lojinha chimfrim comprar. Era uma camiseta que eu adorava. Quase mágica, por sinal.

A seleção tinha passado para as oitavas e o pai do Milton, amigo dos meus pais, convidaram os amigos mais próximos para assistir o jogo Brasil e França na mansão dele. Seria uma festança daquelas de não se esquecer mais: churrasco, muita bebida e uma televisão gigantesca de umas 27 polegadas.

O Brasil perdeu nos penales. Para a França.

A festa acabou, aquele clima legal verde-e-amarelo ufanista sucumbiu, os homens esbravejavam e as mulheres choravam. Adolescentes rasgaram suas camistas da seleção, Tacaram fogo na churrasqueira, queimaram bandeirinhas, bandeirolas e flâmulas nacionais, queimaram as camisetas rasgadas, praguejavam. O finado Telê Santana era o homem mais odiado no momento, por trazer tamanha vergonha nacional.

E eu ali no meio, sem entender nada.

Aí veio um adolescente ruivo cheio de espinhas, filho de um ricão e ordenou: "Tira a camiseta moleque!" Porra, o desgraçado arrancou minha camiseta de algodão novinha que eu gostava tanto e tacou na fogueira ufanista que flamejava uma fumaça fedorenta e preta.

Percebi naquele momento o quanto esse nacionalismo volátil brasileiro é pueril e fétido.

E até hoje a coisa desanda para a mesma merda.

ÓPIO - DIÁRIO ELETRÔNICO ENTORPECENTE

O ato de se vestir

Antes de qualquer coisa os homens precisam entender um conceito básico: roupa para mulher é ornamento. A gente não usa roupa para se proteger do frio ou para cobrir as partes pudendas. Mulher se veste, salvo raras exceções, para ficar mais bonita.

O grande problema é que nós somos exigentes, auto-críticas e temperamentais em relação ao vestuário. Não adianta tentar entender porque uma saia estava caindo superbem na semana passada e hoje ela deixa a bunda da sua parceira do tamanho do Maracanã. Essas coisas acontecem, as roupas e os espelhos tendem a ter comportamentos diferentes dependendo das condições de temperatura e pressão pelas quais passa uma mocinha.

A relação das mulheres com a suas roupas é quase um dogma: existe, mas não dá para explicar. Para evitar a chatice de esperar, leia um bom livro, ligue a TV, navegue na Internet, mas nunca, nunca pergunte o porquê da demora. É um sinal de compreensão e respeito. Inclusive porque a resposta a essa questão é simples: ela demora por você.

Mulheres com Legendas

Bom dia?

(…)
Um "bom dia", de verdade, soa quase como um "eu te amo".

Alea Jacta Est

4.7.06

SEM MAIS NEM MENOS.

Não, a vida não nos explica nada. Ela faz o que bem entende, inventa moda, faz firula, sai de lado, nos deixa com uma mão na frente e outra atrás, sem lenço e sem documento, sem eira nem beira e é isso. Nem bispo tem pra reclamar. Não tem manual de instruções, não deixa consultar os universitários, não obedece as universais leis da física, não tem intervalo, prorrogação, pênaltis, replay, não tem tapetão. A vida chega e pum, apresenta a conta, demanda atitude, não quer nem saber se o pato é macho e exige o ovo, não ouve embromação, não aceita desculpa. A vida não nos dá garantia nenhuma de que é isso mesmo, agora sim, agora vai, acertei, certificado ISO 14000. Não. A vida não é um teste que a gente passa e pronto, tá habilitado, nem um grande problema a ser resolvido. É um quebra-cabeças mutante onde mudam as peças, muda o desenho, muda você e muda o tabuleiro. A vida é foda.

Megeras Magérrimas

2.7.06

Instantâneo

Ele descansa sua cabeça no colo dela. Enquanto os dedos suaves que ele conhece de longa data deslizam por seus cabelos, tenta pensar em como introduzir seu assunto, que não é outro senão o rompimento. Mas não consegue raciocionar, a sua mente parece prestar uma atenção obsessiva no barulho da água que corre tranqüila e melíflua a uns dez metros dali. Decerto foge do que precisa ser feito. Ele sabe disso, mas não consegue ganhar a briga. Então é isso, vai deixando a cabeça ali, identificando pensamentos periféricos sobre ser aquela leve pressão nas têmporas sentida pela última vez, volta ao barulho do riacho, os lábios sempre fechados. E ele sofre nas bordas do momento em que quem vai sofrer é ela.

é por aqui que vai pra lá?

(…)

Thierry Henry foi à escola de oito às cinco e parece que isso lhe fez muito bem.

(…)

CrissMyAss