30.12.08

PROGRAMA ZEN

Conhecemo-nos numa aula de yôga. Vi logo que ele era peculiar, mesmo antes de saber que se tinha especializado em feng shui. Fomos jantar sushi e, durante o jantar, ele fez-me um origami com o guardanapo. Já em casa praticámos reiki e fizemos sexo tântrico.

insónia

você é um personagem que não existe fora das palavras. você é inventado com a força e a complexidade de um ser humano, real para mim, mas não passa de papel. você é só papel.

aymberê

Primeira chupada

Minha mãe viajou pra um congresso na Bahia e eu tinha a casa livre por três dias. Eu já tô acostumado a ficar sozinho em casa, mas como todo bom nerd, sempre fico assistindo algum filme que eu baixei no emule ou jogando emulador de snes, mas dessa vez eu queria tentar alguma coisa com uma garota que eu já tinha ficado antes, o nome eu vou omitir por motivos óbvios... Vou me limitar a dizer que ela é baixinha, usa óculos, peitão e cabelo curto.

Liguei pra casa dela e ela estava assistindo televisão, perguntei se podia vir na minha casa me ajudar com física (foi a única coisa que consegui pensar na hora), pensei que ela iria negar, mas acabou aceitando! Disse que não tinha nada pra fazer de tarde, mas achou estranho, ela nunca foi uma aluna exemplar na matéria, mas sempre teve uma fama de CDF, sempre estava carregada de livros fora do currículo escolar e usa óculos. Isso pra maioria dos estudantes faz com que a pessoa seja inteligente, mesmo escrevendo INTELIJENTE em uma redação.

Tinha pouco tempo, então vesti alguma coisa mais decente (quando eu fico sozinho em casa, as roupas se limitam a uma cueca ou bermuda velha) e fui comprar todo o dinheiro que minha mãe tinha deixado em cerveja. Também comprei um champanhe, mulher gosta dessas coisas, pensei na hora.

Quando ela chegou, foi logo perguntando se era boa tomarmos álcool antes de estudar, lembrando do Chico Sciense, eu respondi: "Uma cerveja antes do almoço...", eu sei, eu sei, é DEPOIS do almoço, mas eu não ia perder a oportunidade de tentar ser engraçado pelo menos uma vez na vida com essa garota, poderia ser minha única oportunidade. E eu já tinha bebido uma porrada de latinhas, já não estava no meu perfeito raciocinio.

Depois de meia hora bebendo, fomos direto pro sofá e comecou a pegação, ela era bem novinha na época, então não tentei nada de muito ousado, só pegando no peito dela (ohhh, quanto tempo esperei pra sentir aquelas bolas de carne, como diria Frank Zappa) e os triviais beijos na boca.

Depois de uns 10 minutos assim, percebi que a garota estava pronta pra "algo mais", botei meu pau duro pra fora e pedi pra ela comecar a chupar, ela olhou com uma cara estranha, pronto, comecei a pensar, parabéns, vai ficar batendo punheta o resto do final-de-semana. Mas depois de pensar um pouco, ela comecou a chupar, ohhh, e acho que não era a primeira vez dela, ela chupava muito bem, tanto que eu ficava empurrando a cabeça dela as vezes, acho que ela se incomodou um pouco com isso, então relaxei e deixei terminar, como já estava um pouco bebado não lembrei de avisar pra ela quando já estava quase gozando e... sim, gozei na boca dela. Ela fez uma cara engraçada, cuspiu no chão e comecou a rir, ri aliviado também, pra muitas mulheres isso seria um ultraje, mas ela levou numa boa.

Depois comecamos a beber denovo e conversar, depois de um tempo fiquei curioso e perguntei que gosto tinha... vocês sabem... o gozo! Ela disse que tinha gosto de lágrima (WTF?) e que grudava no céu da boca. Depois ela perguntou se tinha alguma coisa pra comer e eu disse que só tinha lembrando da bebida, ela riu e foi na cozinha pegar mais cerveja.

Na volta ela disse que estava sentindo umas coceiras e pediu pra eu dar uns beijinhos na buceta dela (que meigo). Tá, eu disse, mas só depois que você me chupar de novo. Ela concordou e comecou a chupar, mas por algum motivo que eu nunca vou entender, o alcool já tinha feito muito efeito e eu dormi antes do segundo ato.

Ela deve ter ficado meio frustrada, quando acordei todas as garrafas da geladeira estavam no chão e nem sinal da garota. Passei o resto do final de semana conversando no msn, jogando Super Mario e limpando a bagunça. Quando minha mãe chegou e perguntou oque eu tinha feito todo o final de semana, só respondi: Computador.

Encontrei com ela no colégio, fui me aproximando e ela virou a cara. Nunca mais nos falamos. Sempre teremos Paris.

disque P para Paris

Na rodoviária

Toda uma confusão de filas. "Quero ir pra Campinas! e não tem passagem!", escuto de soslaio. E prà praia? Quem quer ir? Mil mãos candidatas a levantarem-se. Para ir até a minha cidadezinha e deixar a megalópole onde me fiz a vida miserável, preciso de dois ônibus, porque não há ônibus direto. Levo a mala, mais a valise de mão: toda palavras-cruzadas, livros, poesias, cadernos de escritas. Meu pé! Mas que conho! Por que não olha por onde anda? Por que a gente tem de ir ver a família obrigatoriamente nessas épocas nefastas de fim de ano? "E pra Bertioga, tem?"; terei de ficar-me estacada quatro ou seis horas esperando o ônibus. Depois, mais umas esperando o ônibus para a minha cidade. Bom ano-novo, senhora. Puxo meu dominox e a caneta.

sete linhas

Manera que tudo e' manero

Um papa obcecado pela ordem astronomica e temporal, um tal Gregorio 13, medieval feito um iron maiden, achou de bom tom puxar uns dias aqui, interromper outros tantos ali, acrescentar algumar horas, dar vazao aos bissextos, mexer no calendario juliano que estava todo errado e tambem para solucionar certas colheitas que ja estavam quase acontecendo no inverno.
Quase nao pega feito algumas leis no Brasil. Na Suecia deu tanto rolo que quase inventam um 30 de fevereiro.
Por isso, aproveitem bem enquanto o ano-novo comeca no dia 1 de janeiro. Pode vir um papa doidao e dizer que Gregorio estava errado, que o ano tem 730 dias e que tudo comeca em 1 de novembro, na ressaca de um halloween de arrepiar.
Ou pode vir outro e dizer que nao existe o conceito de ano, mes, semana, dia, hora, minuto, segundo, formula um, cem metros rasos. Nada. O que existe e' um continuum temporal e isso e' deus e ponto final. Ou eternas reticencias pai filho patati-patata amem.
Ja que instalou-se uma crise mundial a partir da nova ordem mundial de Bush Pai, vem um papa bem purpurina e diz que todo ano tem 24 horas, todo dia e' reveillon e vai comecar a farra.
Tem esse japones que escreveu 2009 karako e kanjis. Quem souber o que significam, me diz.
Na verdade, essa foto e' de 2006, so inverti o ultimo algarismo pra ilustrar o texto.
Fake, happy new year e' fake, marketing pessoal feito acreditar em roupa branca, sete pulinhos, sopa de lentilha, sete bolinhas de nhoque, folha de louro na carteira ou porres homericos.
Ou barquinho de Iemanja sujando a praia.
Quer fuder com a agua? Faz oferenda na pia do banheiro e escova os dentes com a porcariada misturada, macumbeiro exibido.

estrovenga

Às vezes acontece da gente chamar "amor" ao que é uma espécie de comédia de erros. Quando a paixão brota de desentendimentos e erros de interpretações. Não é que não seja de verdade: é só que o interesse no outro surge daquilo que a gente imagina, fantasia ou simplesmente torce para ser verdade.

Mas também às vezes, embora mais raramente, a gente chama "amor" ao que é encontro, reconhecimento imediato e acerto.

Noturnos Imperfeitos

27.12.08

O Senhor Comentador sabe ler o discurso do Papa nas entrelinhas

O Papa Bento XVI no seu discurso de balanço à Cúria apelou a uma ecologia do homem. O contexto é o seguinte: a homossexualidade e a transexualidade são uma destruição da obra de Deus. Neste caso, a obra de Deus é o homem heterossexual. Para as pessoas liberais nos costumes, esta afirmação é mais uma declaração homofóbica da Igreja Católica. Para os conservadores, que concordam no conteúdo, podem achar o termo “ecológico” já de si um bocado bicha. Ainda mais quando O Papa mencionou que protegemos as florestas tropicais e não protegemos o homem. O homem heterossexual, claro. Se o Papa o tivesse comparado com a eminente extinção do lobo ibérico ou do urso polar, teria reunido mais consenso. Floresta tropical é uma coisa demasiado rebuscada, um pouco como essas festas temáticas que são sempre um bocado gay. Mas eu percebo onde quer chegar. Ao contrário dos seus colegas islâmicos, o Papa não está a apregoar o enforcamento dos homos e afins nem nada que se pareça. O Papa está, no meu entender, apenas preocupado com a possível extinção dos heteros. Por outras palavras, está a dizer-nos que já passou o tempo em que as mulheres deviam ser tratadas como flores de estufa. Segundo Bento XVI, chegou o momento de declarar os homens que gostam de mulheres como património sexual da humanidade. Faz sentido porque alguém tem de reproduzir. Desta vez não são os homossexuais que devem ser separados da sociedade: são os heteros que devem ter um território inacessível à mão do homem. Neste caso, literalmente. Outro pormenor. que não é um pormenor, foi que o Papa não mencionou as lésbicas nem as transexuais mulheres, e não por serem poucas. Eu interpreto isto como um prelúdio de abertura dentro da Igreja. Um acto de fé que nos diz no subtexto, que no fundo elas podem sempre voltar ao caminho certo. Acho animador e muito simpático da parte do Papa. Um apelo cheio de esperança, muito apropriado nesta quadra. Faço minhas as suas palavras, e desejo a todos um grande e ecológico Natal.

o senhor comentador

O MELHOR BLOGUE DO ANO

Foi o meu. A dona do Rosa Cueca ficou grávida, engordou 15 quilos e viu crescer varizes e um cu superlativo. Pariu a criatura mais assombrosa do planeta Terra, emagreceu em tempo recorde, sacou o puto a Chueca em quanto coube nos jeans mais cool do armário e já está pronta para outra. E sem perder a graça, sem deixar de postar e de estar atenta ao mundo e aos seus encantos. Não é falta de modéstia, é que bloggers como eu já somos uma rareza. E isso tem prémio.

rititi

um dia de fúria

Eu me considero uma motorista muito civilizada. Não buzino, dou a precedência sem rancor, sempre ligo a seta antes de virar, de sair de uma vaga ou numa rotatória, paro na faixa de pedestres pro povo atravessar, não supero o limite de velocidade, não estaciono onde não devo. Não incomodo, enfim. Mas tem o seguinte: quando eu sei que estou com a razão, eu peito. Não me interessa se quem tá errado é um caminhão jamanta gigante (a única exceção são caminhões que transportam animais vivos, esses eu não peito por motivos óbvios): se o cara tá errado, eu encaro. Quer furar fila? Na minha frente não passa DE JEITO NENHUM. A única vez que me pegaram, digamos assim, foi um dia em que um idiota me pegou distraída e me ultrapassou na rampa de saída pra Foligno, já na parte zebrada, muuuitos metros depois do fim da faixa tracejada que dava direito à ultrapassagem, e obviamente me deu um susto danado. Jurei que nunca mais aconteceria, e desde então fico ligadona toda vez que pego uma saída da estrada. Se vejo alguém vindo desembestado pela minha esquerda com pinta de quem quer me ultrapassar na rampa, jogo o carro pra esquerda coladinho na faixa. Meu sonho é um dia empurrar um filho da puta desses pra esquerda até ele bater com a fuça no guardrail a 120 km/h. Se depender dos motoristas italianos, um dia vou conseguir.

Mas então. Isso dito, estava eu hoje saindo do estacionamento do Ipercoop muito placidamente, sem pressa nenhuma. Desde que ampliaram o estacionamento, parece que nem eles conseguem dar jeito no labirinto que aquilo ficou, e toda vez que vou lá mudaram alguma coisa na conformação das saídas. Hoje, por exemplo, a saída do estacionamento coincidia com a fila de entrada no posto de gasolina, que vende combustível com desconto pra quem tem a carteirinha do supermercado. Então tá, né, não tem jeito, vamos encarar a fila. Parei no sinal de Stop e liguei a seta, pedindo que alguém deixasse eu passar. Só que no carro que poderia ter dado permissão pra eu passar, que não estava na minha frente mas bem pra minha direita, o motorista estava ocupado contando dinheiro, com direito a lambida no polegar e tudo. Atrás dele, uma fila gigantesca de motoristas putos da vida, já todos com as mãozinhas fazendo o gesto italiano de “ma che cazzo succede?”, internacionalmente traduzido como “wtf?”. E aí eu, apertadíssima pra fazer xixi, fiz uma coisa antipática, mas não necessariamente errada: fui e passei. Veja bem, não atrapalhei ninguém, não furei a fila, não dei fechada em ninguém. Simplesmente considerei a distração do cara como permissão pra passar, que mais cedo ou mais tarde ele ou alguém teria me dado mesmo. Passei e o cara nem percebeu, tanto que as buzinas começaram a tocar só um momento depois e o cara ainda demorou um pouco pra chegar na bunda do meu carro. Pelo retrovisor vi que ele tava putinho, gesticulando feito um doido. Juntei as mãozinhas e inclinei a cabeça, indicando que só passei porque ele tava dormindo no volante feito um dois de paus. Caraca, o homem virou bicho! Quando vi que ele tava soltando o cinto de segurança corri pra fechar o pino da porta. Bem na hora, porque ele veio até o meu carro e tentou abrir! Eu olhando muito pacatamente pra cara dele, e ele gesticulando feito um maluco: “eu tava dormindo, é? Agora quem espera na fila tá dormindo, é?”. E eu imitando o que ele estava fazendo, fingindo que contava dinheiro. O cara ficou lá agitando os braços e eu: “vai me bater? Vai me bater?”. Até que ele cansou e voltou pro carro, e lá ficamos nós parados na fila, eu ouvindo minha musiquinha e ele fazendo gestos de “Mas veja só, macacos me mordam”.

Na próxima vez juro que eu desço do carro correndo antes do cretino e me coloco em posição de combate de caratê (na verdade vai ser uma pose da Chalene mas ninguém precisa saber disso) no meio da rua. Com a raiva que eu fico quando essas coisas acontecem, claramente visível na minha cara, du-vi-do que alguém tenha coragem de me encarar.


will read for food

26.12.08

Jesus Don’t Want me for a Sunbeam

Tem um monte de banda que eu gosto de ouvir: The Who, Wilco, Weezer, White Stripes, Whiskeytown, só pra ficar nas com W.

Mas a verdade é que quando eu escuto qualquer outra música, é como se só estivesse fazendo hora pra ouvir mais umas dos Beatles.

Beatles, sim, é a melhor banda que já existiu. E eu seria capaz de apostar meus pulmões que nunca vai aparecer nada melhor. Só não o faço porque já os coloquei em uma aposta a respeito de uma queda-de-braço entre o Henri Matisse e Mark Twain.

Digo isso porque, como não está dando praia aqui no Rio, andei revendo uns pedaços do Beatles Anthology - que ganhei há muitos e muitos anos de pessoa mui querida e de quem nunca mais tive notícias.

Acontece que, revendo um dos capítulos, mudei o objetivo da minha carreira solo. Agora eu não quero mais ir ao Pitchfork Festival. Não. Minha meta agora é fazer uma turnê nas Filipinas.

Se eu for bem recebido no país que praticamente expulsou os Beatles a tapas, poderei dizer - pelo menos por lá - que sou mais popular que Jesus e os Beatles, todos juntos.

Que aliás, seria uma banda espetacular: “Beatles feat. Jesus”, como se diz. Possivelmente, Jesus saberia conduzir o público tão bem quanto o Paul e teria um espírito tão revolucionário quanto o do John. Acredito, de verdade, que o talento dos quatro rapazes de Liverpool somado ao do homem de Nazaré poderia mudar o mundo mais uma vez. Como eles já fizeram antes, cada um em sua época.

De qualquer modo, dizer que sou mais popular que Jesus seria uma boa estratégia para vender discos. Poderia eu mesmo promover uma grande fogueira de discos meus durante um show no Maracanã.

Só que eu prefiro não me envolver em polêmica com religião e tenho medo de ser interpretado de forma errada. Caso eu afirmasse ser mais popular que qualquer ídolo religioso, posso garantir que seria apenas para aumentar as vendas, jamais para ofender alguém. Muito menos nesse período de Natal, de forma alguma.

Então, em vez de dizer que sou mais popular que Jesus, aqui vai a minha declaração. Anotem, por favor:

“Eu sou mais popular que o Romário.”

Pronto. Agora é só esperar as ligações querendo marcar shows ou apedrejamentos.

daniellrezende

programa de culinária e o fim do mundo

o mundo anda invadido pela mania de cozinhar, como se fosse uma atividade misteriosa, cheia de segredos e truques - ir pra cozinha virou hype! descascar, picar, refogar, assar e fritar pra alimentar a família agora é moda.

cursos de gastronomia pipocam pelo país (pelo mundo, talvez) a preço de ouro e são lotados por patricinhas e mauricinhos que querem ser chefs. a atividade mais básica e rudimentar realizada por qualquer ser da nossa espécie virou, vejam vocês, um luxo.

(para informação geral, não acredito em culinária como forma de arte. não acredito também em neutrinos)

não sei se rio ou choro enquanto acompanho os desdobramentos do culto à culinária: milhares de pessoas investindo rios de dinheiro em cursos de gastronomia para se tornarem chefs (tem trabalho pra tanto chef?) ou em cozinhas milabolantemente complexas e cheias de utensílios lindos que elas jamais usarão. centenas de livros de culinária são publicados todo mês, ensinando receitas que levam coisas como asa de morcego albino da tailândia. homens constroem cozinhas gourmet (ahn?) separadas das cozinhas das esposas, porque afinal o que eles fazem é arte, o que elas fazem é só... comida.

mas a pior parte dessa alucinação coletiva são os programas de culinária na TV: vocês já viram um programa do jamie oliver que se passa num palco de teatro e é filmado? pode ser só preconceito meu, agradeço esclarecimentos, mas qual é o sentido de ir a um teatro e ver um cara fazendo comida em cima de um palco? não dá pra ver a panela e muito menos a comida e é impossível acompanhar a execução, porque ele sempre parece que cheirou 1 quilo de pó...

sem querer vi essa semana (na GNT, é claro) o exemplo mais patético dessa onda de programas de receita: um negão tipo rapper cujo vocabulário é pontuado por "YOs" e que tem um caso sério de TOC. o cara lava a mão 234 vezes durante o programa (que dura 30min) e repete incessantemente que você deve lavar as mãos. ele é americano, claro.

o episódio em questão foi sobre preparação de frango, e a idéia é ser simples e "sem frescura" (muito embora ele use echalotas). o cara começa o programa pegando um frango limpo inteiro (sem cabeça, pés ou entranhas), colocando na tábua e dizendo: "você provavelmente nunca viu um frango inteiro, então dê uma boa olhada que eu vou ensinar a cortar o frango em pedaços!".

meu mundo caiu. como assim, nunca viu um frango inteiro?

ele ensinou 3 formas de preparar o frango, mas prestei pouca atenção, tamanho era meu choque com a revelação: há pessoas que nunca viram um frango inteiro nem no supermercado. já me espanta ter gente por aí que nunca viu uma vaca viva ou um frango ciscando, nunca comeu fruta do pé e não sabe diferenciar escarola de alface. mas nunca ter visto o bicho morto e limpo no mercado? surtei.

(não vou contar a receita, mas a versão light do frango era filé empanado com molho de creme de leite e manteiga, com macarrão. juro por tudo que é mais sagrado)

complementando o quadro mundial de fixação por comida, intercalandos com os blocos de programas de receitas temos os programas de desordem alimentar - obesos mórbidos encontram anoréxicos e malucos que comem somente queijo e nada mais. a comida e o comer se transformaram em circo, meu deus do céu!

**

depois de passado o susto, pensei melhor e acho que a maior parte do mundo não deve estar tão mal assim. até por necessidade, milhões de pessoas dão à cozinha e ao cozinhar o peso e o valor adequado. a realidade não é estados unidos, londres, jardins e leblon, graças a deus. maldita TV, que transforma modinhas de minorias em verdade.

não vou deixar de ver TV, que isso é muito anos 70 pra minha cabeça, mas definitivamente vou evitar certos programas quando encarar a telinha. muito mais discovery e menos GNT. credo

zel

A Zeladora

Um mp3 no bolso do uniforme. Só um dos fones no ouvido. Luva na mão. Abre lixeira. Esvazia lixeira. Fecha lixeira. Pega bandejas. Limpa bandejas. Separa bandejas. Azul, Burger King. Verde, Mc Donald’s. Cinza, Girafas. Detestava copos descartáveis. Olha a colega de uniforme e sorri. Troca música. Apalpa seio. Aperta mamilo. Segue para o vestiário. Tira o lixo das lixeiras do carrinho. Guarda o carrinho. Tira a luva. A colega aparece. Tiram o uniforme. Olham o relógio. Têm dezoito minutos. Apalpa o seio. Dela. Morde os mamilos. Dela. Troca música. Separa cada parte. Sua. Junto com cada parte. Dela. Senta a colega no carrinho. Desliga a música. Tira as pilhas do mp3. Restam cinco minutos. Será que as pilhas vão agüentar?

7 linhas

o que é moralismo, versão brasileira:

uma estudante de direito de 20 anos guardou dinheiro pra ir pra um cruzeiro com os amigos. num imprevisto horrível, ela teve um piripaque e morreu no navio. é triste, é raro, mas acontece. quem tá vivo tá sujeito. Em todas as vezes que eu vi notícias sobre isso, especulações de mau tom eram feitas: oh, ela estava bebendo muito, ela havia consumido drogas (oooh, as drogas!) etc e tal. se consumir drogas matasse assim, traficante não tinha renda. que absurdo falar que morreu porque bebeu muito - quantas pessoas já não beberam muito? e nem por isso morreram. A menina morreu e as pessoas têm que achar uma justificativa moral pra morte dela, como se a morte de um jovem fosse necessariamente um castigo divino, como ela devesse ter feito algo de errado pra morrer. jovens também morrem, pra morrer basta estar vivo, o mundo nem sempre é justo. mas a morte dessa moça no navio ficou sendo ocasião para uma cruzada contra "os excessos" dos jovens. isso a ponto de o advogado da família sair a público pra dizer que a garota era meiga, culta, estudiosa, trabalhava, não tinha vícios. A moça morreu! ninguém precisa defendê-la. Quem não passou por isso nem imagina a dor que é pra família dela a sua morte repentina, e não ajuda a imprensa ficar divulgando especulações cretinas baseadas em nada. nunca que beber muito - ou festejar muito, se divertir muito, dormir pouco ou até se drogar - pode justificar uma morte.

moralismo é imbecil porque parte de uma áurea de mistério em torno das coisas. além de ser crueldade, é ignorância; como se as pessoas não bebessem, não trepassem. um tempo atrás foi divulgado o vídeo de uma menina chupando um cara numa festa de faculdade e alguns alunos fizeram o maior estardalhaço disso. acerca de um boquete! todo o mundo na vida faz e/ou recebe boquete, até o maior perdedor como os tontos que acham que isso é um absurdo. era uma festa, estranho era ter uma câmera filmando o quarto onde eles estavam.

moralismo e preconceito se fiam num mecanismo semelhante. quando meu amigo se mudou pra capital, a tia dele o alertou: cuidado com quem você vai conversar, porque a pessoa pode ser um maconheiro, e ter um bafo de maconha, que quando vai falar com você te nocauteia, aí você cai desmaiado e a pessoa te rouba todos os pertences; e também não deixe a janela do seu quarto aberta, porque podem usar o cheiro da maconha pra te desacordar e te roubar. Mal sabia a tia que o pródigo sobrinho, tão estudioso e competente, vivia ele mesmo fumando maconha.

é bom pra quem gosta

25.12.08

TRADUZIR

Fins-de-semana, feriados e férias são péssimos em termos de blogaria. A coisa parece um funeral, tal é o tédio e a inacção. Haverá explicações para o fenómeno, cada uma delas com repercussões de vária ordem no estado actual do país.
A) A rapaziada prefere blogar em consonância com o horário de trabalho, nos chamados dias úteis – inúteis são eles todos -, certamente nas pausas e nas folgas;
B) A rapaziada encara a blogaria como um trabalho, podendo em alguns casos esse mesmo trabalho ser um ganha-pão ou, pelo menos, uma Bimby para outros cozinhados;
C) A blogaria é dominada por grupos de desempregados, precários, reformados, estudantes e gente com grandes empregos (aqueles cuja flexibilidade horária lhes permite olhar o pôr-do-sol às oito da manhã e sentir a aurora pelas vinte).

insónia

futebol

Se a vida for realmente um jogo de futebol, faz tempo que não faço um gol, mas meu time está ganhando.

smb

"meu pai falou q se eu passar no vestiba me da um nitendo Wii então eu quero passar Ò.ó"

essa geração de hoje (L)

estica & puxa

Sábado, na hora do almoço, todo mundo meio alvoroçado com alguns pequenos detalhes da festinha do Duda (lembrei dos preparativos que sempre rolavam pras festinha de aniversário da minha prima Mariana), chega na mesa o Lucas, filho da empregada da casa, que adora o meu filho mais do que muito parente "de sangue". O Lucas fica por ali, brinca, corre pra lá e pra cá com seu jeito e sorriso do Robinho, até que eu ouço:

- Lá em Goiás a gente aproveita melhor essa mão de obra incipiente...

Pronto, agora eu tenho certeza que o meu pai está por perto, el biejo canalla está de volta e recuperando a sua melhor forma!




Esse lance da passagem de tempo é muito engraçado... o trágico e tenebroso NATAL DE 87 já vai pra mais de 21 anos... e o último natal que eu passei com o coroa foi justamente há 10 anos. Mas algumas coisas nunca mudam, como meu pai ter visto gente saindo daqui o dia inteiro pra comprar coisas e só AGORA dizer que precisa comprar cigarro. Não tem nenhum lugar aqui por perto, e meu pai é alguém que ainda se recupera de uma fratura no fêmur, usa bengala e se locomove com dificuldade. Houve um tempo em que o meu maior sonho era mandar meu pai ir tomar bem no meio do olho do cu quando ele me MANDASSE comprar cigarro, e houve um tempo em que eu exerci com toda a veemência e contundência que me caracteriza, essa prerrogativa - aliás, lembro bem do primeiro dia, na casa da minha vó, quando ele veio me entregar o dinheiro pra eu ir comprar cigarro pra ele e o mandei se foder, em alto e bom som, dando risada -, mas hoje, quando ele pergunta sobre um lugar onde ele pode ir comprar cigarro, sei que não tenho outra alternativa a não ser procurar um lugar que ainda não fechou pra comprar essa merda.

Porque eu sabia, desde o começo, que teria que buscar em algum lugar dentro de mim uma LONGANIMIDADE que nunca tive.

febre alta

a erva que eu gosto

hoje fui comprar erva mate no armazém do senhor iraquiano. ele empilha os pacotes de cruz de malta entre caixas de chá árabes e hindus. me faz sentir exótica. a primeira vez que vi erva para vender em delft, a primeira e única vez, quase não pude acreditar na minha sorte. já havia procurado na internet, mas só encontrei uns fóruns de argentinos recém chegados à holanda, desesperados, subindo pelas paredes. e nada para aliviar el dolor.

entrei no armazém e fui direto à erva. o pacote que tinha em casa já estava por terminar. o dono me perguntou, surpreso: "do you drink that??". os pacotes são de 250 gramas, mas como a minha cuia é pequena...

a cruz de malta chega aqui via beirute.

doce de leite dá pra encontrar no supermercado, se chama "mijn oma" (minha avó) e a receita é argentina. hmmm! que rico. eu fui criada a conaprole, mas recentemente tive que dar o braço a torcer para os argentinos poncho negro e, claro, havanna. experimentem o que vem numa caixinha de papelão. se forem a buenos aires, não deixem de ir à sorveteria persicco e tomar o sorvete de ddl. este é para o dia 1. no dia 2, encarem o de ddl com brownie.

mas tem dias que eu queria mesmo um mu-mu de saquinho.

xicará de mate... ops, chá.

Banco na hora do almoço

Eu entrei no banco e tive que deixar as coisas pra passar pela porta que gira. Essa mulher, que entrou junto comigo, não tinha nada de metal e conseguiu ficar na minha frente na fila ridícula. A mulher ligeiramente na frente dela saiu da fila, pra falar com algum atendente e voltou alguns minutos depois, bem rápido. Eu tinha visto a mulher sair, essa mulher que entrou comigo também tinha visto. E a que saiu queria voltar pro lugar que estava antes. E ela disse, muito simpática e preocupada pra mulher que entrou comigo, e que a partir de agora vamos chamar simplesmente de “chata”, que tinha saído apenas rapidinho, mas que estava ali antes. E a chata disse que não tinha nada a ver com aquilo e que ela também já estava ali antes. A mulher deu um sorriso, preocupada, e disse que era feio furar fila, mas que ela só tinha saído rapidinho, e ficou na minha frente e eu não era o último. E ela disse de novo pra mim que tinha saído rapidinho e que achava feio furar fila. E eu disse tudo bem, porque não queria discutir se é certo ou não fazer o que ela fez. E a chata ficava dizendo pra mulher da frente dela que estava no horário de almoço. Chata, meio-dia é hora de almoço de todo mundo, é a hora mundial do almoço, cala boca. Aí chegou a vez dela, da chata, e ela queria sacar algum dinheiro lá, mas não tinha todos os documentos, e a moça do caixa disse que infelizmente não podia fazer nada. Aí ela reclamou com ela também, disse que tava no horário do almoço. Aí a mulher do caixa disse pra ela esperar que ia ver com o gerente. Aí a chata ligou pra alguém do celular e disse que tava no banco fazia meia hora. E era mentira isso, fazia só uns 10 minutos. E quando chegou a minha vez, eu fui atendido em 30 segundos, porque é sempre assim. Tinha uns idosos lá, passando na frente de todo mundo. Concordo com esse benefício deles poderem furar fila, só acho que eles podiam não ir na hora do almoço, quando só tem dois caixas trabalhando. Mas não fiquei reclamando disso, porque ir no banco na hora do almoço já é uma merda.

zeus era...

um signo aleatório mora no sofá de minha casa. às vezes, confundo as almofadas com meus gatos, já que ambos são peludos. a televisão foi roubada em maio por uma noiva em fúria: o que fazer com o marido após o altar? a cada semana uma nova revista vai para a pilha dos recicláveis. são os acontecimentos do bairro diagramados por um seminarista convicto de sua religiosidade. a clodomiro amazonas alagou com a chuva de ontem, mas creio que ninguém ligou a pessoa ao sobrenome. já as almofadas, para meu alívio, não ronronam mais.

lostpop

anestesia e você, tudo a ver.

Os defeitos e efeitos e da epidural são super interessantes. Eu adoro aula. Adoro alguém lá frente falando pra mim, explicando alguma coisa, assim, apaixonadamente, tipo a anestesia, gente, a existência da anestesia me faz amar mais o mundo em que vivo. Ô coisa civilizada. Tipo assim, eles - os anestesistas xamânicos, os novos pajés, os escolhidos pra lidar e dosar a dor alheia e a droga institucionalizada. Não, eu não estou sendo irônica não. Eu acho que o direito a anestesia deveria ser incluído no manifesto dos direitos humanos. Anestesia pra todos os povos, pra pobres e ricos, pra qualquer raça e religião - quer dizer, devem ter religiões que não permitem, mas se Deus não quisesse que homem usasse a anestesia não ia ter nos dado a capacidade de inventá-la.

Ok. Efeitos colaterais, nada que é isso. A epidural, essa amiga silenciosa da mulher parturiente, é perfeita, ela vai lá nas fibras longas, ou seja músculos, ela parte da 3a vértebra e portanto e nao pega uma tal de massa branca e vai só pra baixo, pra baixo da cintura, ou seja a parte interessada. E não tudo abaixo da cintura, não, eles, os anestesistas conseguem dosá-la de um modo que as pernas não perdem o movimento!

Fiquei maravilhada com o produto. Os anestesistas não são só bons na droga, não, eles são bons pra cacete na venda também, eles todos poderiam trabalhar no shoptour.

Mas, porém, não obstante todo o mundo maravilhoso do parto sem dor, ei-la que surge, a palavra maldita: catéter. Catéter. Não precisa saber o que é. Você já desconfia que é aflitivo. Mas eu sei o que é e isso me deixa mais ainda preocupada e enojada e aflita. Catéter. Na coluna. Passando por cima do ombro. Com um filtrinho pra dar mais ou menos anestesia. Catéter pendurado, ligando a minha coluna vertebral ao mundo através de um canudinho.

Peraí, meu povo, para tudo. Quanto tempo? Ah, tranquilo, uma ou duas horas depois do parto a gente tira. Hãããããã?! Duas horas DEPOIS do parto? Se for normal. No caso da cesariana fica lá umas 12 horas. (Aqui, nesse momento, eu posso dizer que tive um pequeno desmaio de 5 segundos, mas imediatamente meu cérebro aflito mandou um monte de hormônios pra me acordarem porque julgava que não estávamos seguros e que eu precisava estar acordada pra me defender daquela gente "super-civilizada".)
Quando recobrei a consciência a mulher-pajé-líder-pusher estava dizendo quote"e "daí a enfermeira vem remove o esparadrapo e puxa o tubinho do catéter pra fora, rapidinho".

Sei lá, comecei a visualizar outras possibilidades pra mim. Tipo a possibilidade de agüentar a dor do parto, porque eu sei que não agüentaria a aflição do catéter. Iam ter que me hipnotizar pra por o tal negócio nas minhas costas e ia ter que tomar uma anestesia geral pra deixar a enfermeira tirar o tubinho num movimento rapidinho... Eu sei lá. Eu me convenci de vez de tentar o parto tal e qual Deus sempre quis, aquele em que a mulher grita, empurra, agarra o braço do marido, manda ele fazer alguma coisa, manda ele praquele país e bota a culpa toda nele e naquele espermatozóide de merda, a contribuição mais microscópica e ridícula e injusta da história da humanidade. Eu entro com 15 kilos, 9 meses, pés inchados, bexiga solta, teta caída, estrias, mamilos rachados e você entra com o orgasmo e uma nanopartícula.

Peraí, vamos manter a calma. Agora não tem mais volta e a solução não é elocubrar...

Eu assinei o termo de ciência do lance da anestesia. Mas sabe gente, de todas as coisas que eu descrevi acima, das agruras da gravidez, eu acho que o pior mesmo seria o tal do catéter. Sorry indíviduos dourados da anestesia moderna, mas porra,se vocês fossem bons mesmos, vocês já teriam inventado um sistema menos primitivo que o catéter.

poucas e boas

Consultório do Dr. Osório

- O próximo!
- Bom dia, doutor.
- Ah, Sr. Villas... sente-se, por favor. Eu já estou com o resultado dos seus exames.
- E então, doutor?
- Eu vou lhe ser sincero, Sr. Villas... o resultado é bem preocupante. Não é fácil dizer isso, Sr. Villas, mas o senhor sofre de licantropia.
- ...
- A boa notícia é que existe tratamento.
-... licantropia?
- Eu sei, os casos de licantropia são raríssimos, mas infelizmente, ainda existem registros.
- ... de licantropia?
- Sim, senhor. Inclusive no ano passado foi registrado um no interior do Pará. Mas, como eu dizia, existe tratamento.
- ... licantropia? O senhor tem certeza que eu sofro de licantropia?
- Sr. Villas, eu entendo o que o senhor está passando por um momento complicado, mas o senhor foi diagnosticado com licantropia não apenas por mim, um colega meu confirmou o diagnóstico.
- Licantropia é a maldição do lobisomem, doutor! Quem mais seria maluco de confirmar um diagnóstico absurdo desses?
- Absurda é essa sua atitude de questionar o meu diagnóstico! Fique o senhor sabendo, Sr. Villas, que eu exerço medicina faz trinta anos. E saiba também que o meu colega, o Pai Totonho de Campinho é um profissional do mais alto gabarito!
- ...
- Bom, o importante é que eu tenho aqui comigo o tratamento, o senhor vai querer ou não?
- Doutor... abaixa essa arma, por favor...
- Sr. Villas, o senhor tem licantropia e o único jeito de curar licantropia é com balas de prata.
- Olha... calma, doutor. Vamos conversar... não tem outro remédio?
- Infelizmente o genérico está em falta...

Alea jacta est

SALLY: Bom dia! Feliz Nat... Somir, o que você pensa que está fazendo?
SOMIR: Tomando café da manhã
SALLY: Você está comendo FEIJOADA no café da manha? Ficou maluco? A gente vai almoçar na casa da minha mãe agora!
SOMIR: Justamente por isso... ou você espera que eu coma comida crua?
SALLY: Somir, deixa de ser ignorante! A comida da minha mãe é saudável
SOMIR: Eu não sou uma vaca para ficar comendo grama
SALLY: Você está chamando minha mãe de VACA?
SOMIR: ...
SALLY: Você não tem consideração! Larga esse prato, você vai comer a comida da minha mãe!

*Sally puxa o prato de Somir

SALLY: Anda, vai trocar de roupa!
SOMIR: Não posso ir assim?
SALLY: De CHINELO?
SOMIR: Não é você quem vive dizendo que está calor?
SALLY: E precisa ir mal vestido, porque está calor?
SOMIR: Faz calor. Precisa ir semi-nua porque FAZ calor?
SALLY: Então tá, vai vestido que nem um mendigo, mas depois não reclama se minha mãe falar mal de você!
SOMIR: Sua mãe sempre fala mal de mim...
SALLY: Coitadinho! Chamou a minha mãe de vaca e vai se fazer de vítima agora?
SOMIR: ...
SALLY: Anda, estamos atrasados!
SOMIR: Eu tenho mesmo que ir?

* No caminho

SALLY: Tenta ser simpático...
SOMIR: Ok
SALLY: Não faz piada politicamente incorreta!
SOMIR: Ok
SALLY: Não fala mal de religião, nem do Greenpeace!
SOMIR: Ok
SALLY: Não fala palavrão!
SOMIR: Ok
SALLY: Não corrige o português da minha mãe!
SOMIR: Ok
SALLY: Seja educado!
SOMIR: Ok
SALLY: Você acha que pode fazer isso?
SOMIR: Posso sim, basta entrar mudo e sair calado...

* Chegando lá

SALLY: Mamãe!!!!
MAMÃE SALLY: Sally, querida!
SOMIR: *revirando os olhos
MAMÃE SALLY: Ah... olá Somir, você veio...
SALLY: Claro que veio! Ele está louco para provar sua comida!
SOMIR: *tapa na testa
MAMÃE SALLY: Nossa, como você engordou, Somir...
SALLY: Olha quem está aí! Bobby!

* Pincher entra na sala abanando o rabo

SALLY: Boooby! Ti Tatchorrinhooo maaaais buuunituuuu...
SOMIR: Cachorro? Parece um rato...

* Bobby se agarra à perna de Somir e faz movimentos copulatórios

SALLY: Viu, Somir? Ele gostou de você!
MAMÃE SALLY: Pobre Bobby, ficou cego dos dois olhos por causa da idade...
SALLY: Vai ver que ele gostou do cheiro do Somir...
MAMÃE SALLY: Pode ser... ele adora cheirar minhas meias sujas
SALLY: Errr... Vamos almoçar?
SOMIR: *sorri e sacode a perna para se livrar de Bobby
SALLY: Senta aqui do meu lado, Somir
SOMIR: * senta chutando Bobby para o outro canto da sala
MAMÃE SALLY: Espero que vocês gostem da minha Raw Food! Os nutricionistas dizem que se cozinhar o alimento, ele perde os nutrientes...
SALLY: A gente adora comida crua, Mamãe!
MAMÃE SALLY: Somir, você está muito calado hoje, o que aconteceu?
SALLY: Nada não, Mamãe, ele está cansado, trabalhando muito...
SOMIR: *Faz que sim com a cabeça
MAMÃE SALLY: Você ainda trabalha fazendo aqueles desenhos para pacote de papel higiênico?
SOMIR: Publicidade
SALLY: Imagina, agora ele está com projetos muito maiores...
MAMÃE SALLY: Vai ilustrar embalagens de supositório?

* Bobby volta a engatar na perna de Somir por baixo da mesa

SALLY: COME, Somir. Você não está comendo! *beliscando por baixo da mesa
MAMÃE SALLY: Sabe, Somir, perdi 3kg com essa dieta de comida crua, você deveria tentar...
SALLY: COME, Somir!
SOMIR: Estou guardando espaço para a sobremesa...

* Após o almoço

MAMÃE SALLY: Somir, aqui está a sobremesa que você estava esperando!
SOMIR: É um pudim?
SALLY: Não, é um doce de tofu
SOMIR: Hã?
SALLY: TOFU
SOMIR: O nome é bem apropriado, tô fu...
SALLY: Deixa que eu corto, Mamãe
SOMIR: Sally, não precisa servir tanto...
SALLY: Precisa sim, afinal, você quase não comeu no almoço!

* Somir prova uma colherada e uma lágrima escorre de seu olho esquerdo

MAMÃE SALLY: Gostou?
SOMIR: Bem...
SALLY: Serve um pedaço para mim, Mamãe! *olha feio para Somir
SOMIR: Serve sim, serve um bem grande...

* Somir joga discretamente o doce de Tofu por baixo da mesa
* Bobby começa a comer o doce de Tofu

SOMIR: Bom menino...
SALLY: Ah, finalmente você está se entendendo com o Bobby!
MAMÃE SALLY: Bobby é ótimo, tem sido muito importante para mim desde que seu pai se foi, ele é minha única amizade verdadeira...
SALLY: Ele é uma gracinha...
MAMÃE SALLY: Não sei o que faria da minha vida sem o Bobby...
SALLY: Ele está melhor, Mamãe?
MAMÃE SALLY: Sim, melhorou. O veterinário disse que cães diabéticos podem levar uma vida longa e saudável...
SOMIR: Diabético?
SALLY: Pois é, Bobby é diabético

* Somir olha debaixo da mesa e vê Bobby acabando de comer o doce e tendo uma convulsão

SALLY: O que foi, Somir, você está pálido?
SOMIR: Nada... é que... cães diabéticos vivem pouco, né?
SALLY: Somir!
MAMÃE SALLY: Somir, porque você insiste em ser uma pessoa desagradável? *chorando
SALLY: Bobby vai viver muitos anos ainda! *abraça a mãe

* Somir olha debaixo da mesa e vê Bobby dar seu último suspiro e morrer

MAMÃE SALLY: Falando nisso, onde está o Bobby?
SOMIR: Sua comida é uma merda!
SALLY: SOMIR!
SOMIR: Desculpa, uma merda não, porque merda é quente, e a comida estava mais gelada que cu de foca...
SALLY: SOMIR! FICOU MALUCO?
SOMIR: Não me admira que sua mãe esteja encalhada, Sally. Comendo essas coisas ela deve peidar muito mal...
SALLY: Mãe... desculpa... eu não sei o que deu nele!
MAMÃE SOMIR: Como ousa vir na minha casa me dizer estas coisas!
SOMIR: Ecologistas se dizem tão a favor da reciclagem... sabem o que vocês deveriam reciclar?
SALLY: *Tampando a boca de Somir
SOMIR: Deixa eu falar, Sally!
MAMÃE SALLY: Sally, mais uma palavra e eu coloco esse marginal do seu marido para fora daqui!
SALLY: Mãe... desculpa...

* Longo silêncio contrangedor

MAMÃE SALLY: Booobyyy! Vem aqui Booobyyy!
SOMIR: Eu acho que deveriam reciclar os próprios ecologistas: quando morrerem, basta enterrar com a bunda para fora, assim podemos estacionar bicicletas neles! Ecológico, não? HÁ!
MAMÃE SALLY: CHEGA! Saia da minha casa, AGORA!
SOMIR: Com o maior prazer...
SALLY: Mãe, desculpa, eu não sei o que deu nele...
SOMIR: Vamos, Sally!

* Somir entra no carro sorrindo e vai embora

desfavor

24.12.08

Por que cazzo

os motéis agora têm aquelas tralhas ridículas espalhadas pelo quarto?

Fomos em um outro dia que tinha umas coisas em cima da cama hahahaha, mas só no dia seguinte eu vi que tinha um monte de cazzo (quase literalmente cazzos) lá, ah, que coisa ridícula!

Tem uns que têm umas jeba (sic) gigantes em cima da mesa de cabeceira (hahahah, cabeceira, cazzo, jeba, tudo a ver), fala sério!

Compreendo que eles contem com a empolgação das pessoas e pretendam faturar mais, mas tenham um mínimo de bom gosto! Põe no cardápio, sei lá, se a pessoa necessitar ela pede:

- Serviço de quarto? Por favor, manda uma jeba vermelha giratória e vibratória pro 401.

ou

- Vocês têm consolo de 30 centímetros? Ah, só tem de 25? Tudo bem, manda dois, por favor.

ou

- Boa noite. Tem... como chama mesmo... ah, esquece, manda uma água e dois copos, por favor.

É constrangedor, eu sei. Só que o cara pensa que só porque não teve que pedir pra entregar no quarto ele está livre de constrangimento? Posso imaginar, vai o cara pagar a conta e:

- Senhor, são 188 reais.
- Tudo isso?
- 104 reais do pernoite, duas cervejas e um Super Mega Blaster Dildo.
- Ah, o Super Mega Blaster era pra ela, viu.

Simata.

céu azul lindo demais

As festas e seus paradoxos.

Vestir roupa nova para seguir hábito velho.
Planejar o futuro e se recordar do passado.
Prometer muito, cumprir quase nada.
Brindar com champagne caro um amor tão barato.

ele por ele

23.12.08

LIVROS PEDIDOS #17

Cliente do sexo feminino, sorridente, vermelha que nem um tomate, hesitante, aparentemente tímida:

− Olhe eu queria um livro, ai, nem sei como dizer, um livro assim, ai que vergonha, desculpe lá, ai está-me a dar vontade de rir - mão sobre o peito, mão sobre a boca, risos -, ai, ai, ai, ai credo, que vergonha, bem olhe, ai, como é que hei-de dizer isto, queria um livro, pronto, não sei se está a ver, um livro assim, um livro que ensinasse um homem a estar com uma mulher, não sei se está a perceber…

Insónia

Um ano depois

“Morri” na noite de 22 de Dezembro de 2007, às quatro horas da madrugada, para “ressuscitar” só nove horas depois. Um colapso orgânico total, uma paragem das funções do corpo, levaram-me ao último limiar da vida, lá onde já é tarde de mais para despedidas. Não recordo nada. Pilar estava ali, estava também Maria, minha cunhada, uma e outra diante de um corpo inerte, abandonado de todas as forças e donde o espírito parecia ter-se ausentado, que mais tinha já de irremediável cadáver que de ser vivente. São elas que me contam hoje o que foram aquelas horas. Ana, a minha neta, chegou na tarde do mesmo dia, Violante no seguinte. O pai e avô ainda era como a pálida chama de uma vela que ameaçasse extinguir-se ao sopro da sua própria respiração. Soube depois que o meu corpo seria exposto na biblioteca, rodeado de livros e, digamo-lo assim, outras flores. Escapei. Um ano de recuperação, lenta, lentíssima como me avisaram os médicos que teria de ser, devolveu-me a saúde, a energia, a agilidade do pensamento, devolveu-me também esse remédio universal que é o trabalho. Em direcção, não à morte, mas à vida, fiz a minha própria “Viagem do Elefante”, e aqui estou. Para vos servir.

saramago

Lembrete a mim mesma

Junte uma palavra à outra com cuidado. Dê-lhes um bom motivo para que dancem juntas antes mesmo de tocar a melodia. Faça com que tenham paixão mesmo que o papel seja somente branco. Aqueça os sentimentos que as carregam para que deixem aqueles que as lerão trêmulos e sedentos por mais. Amacie as palavras duras, faça mais acidas as juras de amor, exponha os medos como se fossem ervas daninhas crescendo ao sol e esconda os dons para os olhos mais treinados. Deixe mensagens para serem decifradas somente por aqueles que conhecem a mão que escreve. Ponha tudo de si em cada historia, mas seja completamente impessoal com seus personagens. Revele-se sem medo com a certeza de que nunca ninguém saberá onde termina seu eu mais intimo e começa a ficção. Explore todos os sentimentos, aqueles que conhece e muito mais aqueles que pode adivinhar no rosto dos que o cercam todos os dias, dos que contam suas desgraças na tela da TV e daqueles que sentam, mudos e anônimos, em bancos de praça e sarjetas pela cidade. Junte uma palavra à outra sempre que for possível, ou melhor, o faça todos os dias mesmo que seus membros estejam doloridos e sua cabeça pareça cheia somente da idiotice e mesmice de seu dia a dia. Faça. Escreva sem medo. É somente quando escreve que se sente plena e feliz, quando sabe que todos os fios da teia estão bem presos em suas mãos. Abra uma nova pagina. Assim.... Boa menina...

com o pé na cova

[/fé]

E quando pensei que não podia mais me surpreender com o povo brasileiro, PEI!

Lá está a gorda, que se ofereceu como voluntária para ORGANIZAR as doações para os desabrigados de Santa Catarina, pegando um tênis (donativo) e vendo se ele estava descolando ou se era descolado para levar para o "guri" dela. Felizmente para algum guri sem sapatos, sem brinquedos, sem casa e provavelmente com um ente querido a menos, o tênis era imperfeito e a mulher deixou ele lá.

Asterístico: E isso foi um caso isolado? Nããão! Além da Dona Obelística, os militares que foram levar os donativos e uma família que mora numa casa digna de abrigar político resolveram encher as sacolas.

Fiquei em estado de choque. Na moral, doido, puta merda! E pra completar, a porra do bolsa-família atrasou esse mês! Como vou pagar a prestação do som do carro?

PEI!

Coitadas das mulheres

Se seguem a moda, são fúteis
Se não seguem, são barangas

Se priorizam os filhos, são profissionais frustradas
Se cuidam da carreira, são mães desnaturadas

Se dão, são put@s
Se não dão, são frescas

Se malham na academia, são cabeças-ocas
Se não malham, bundas moles

Se falam palavrões, são masculinizadas
Se não falam, complexadas

Se choram, são histéricas de TPM
Se não choram, insensíveis brutalizadas

Se tratam da aparência, burras e frívolas
Se não tratam, desleixadas

Se comem bem, compulsivas tendendo à obesidade e precisando de terapia
Se comem pouco, obsessivas tendendo à anorexia e precisando de terapia

Se dirige rápido, psicótica auto-destrutiva
Se dirige devagar e com cuidado, roda-dura

Se o marido cuida muito, submissa
Se não cuida, mal-amada

megmarques

Interlúdio:

Eu cato um cacto que é um facto e faz-me de fato. Faço um pacto com um pato. Fico intacto, preso do meu tacto. Tenho a aptidão do Humpty Dumpty.

Instruções de leitura dum exercício exemplar de Português: Comece por ler muito devagar. Leia gradualmente mais depressa, até atingir velocidade de cruzeiro. Quando o conseguir, verificará que certas letras ficaram gradualmente omissas, mas isso foi só porque as leu mais depressa: elas estavam lá, e eram precisas. Atente aos movimentos da sua boca.

estorias de embalar

Once in a lifetime crisis

Sacado do talho, pega-se no naco de rosbife e faz-se rebolar na tábua pela mistura de flor-do-sal, pimenta quebrada, um toque de paprika, coentros e cebolinho picados e alho misturado com louro. Rega-se com umas gotas de Molho Inglês e Tabasco e deixa-se a repousar.

Na frigideira já estão a fervilhar no azeite o alho picado, o bacon, as ervas aromáticas, os pedacinhos de tomate e os de pimentos que, depois de aloirados, recebem os champignon frescos laminados até que fiquem macios para aromatizar este preparado com vinho do Porto. Assim que lhe passe o álcool acresce-se o fiambre em cubos pequenos e verte-se a embalagem de natas espessas Président.

Falta envolver, engrossar e adicionar um pouco de Ketchup ao desligar do fogo.

Na outra frigideira o azeite já fumega e espera a passagem da carne para a tostar nas quatro faces.

Depois de cortar em finíssimas fatias, com faca afiada, vai à mesa com os cogumelos à parte, batatas fritas às rodelas e um tinto alentejano com casta Cabernet Sauvignon (p.e. Tapada do Barão).

Arrematar com um gelado antes do café e temos festa.

Bon appétit!

Antes e depois da Polyshop

Quem se acostuma a comer filé, dificilmente consegue voltar pra carne de segunda. As pessoas geralmente preferem uma carne nobre, produzida, com todos os temperos, feita por alguém que entende do negocio, alguém que saiba manusear os sabores, exaltar cada centímetro do pedaço. No caso dos filmes pornôs, eu sou justamente o contrário.

Eu lembro de baixar vários pedaços de filmes pornô no antigo kazaa, geralmente eram filmes da Silvia Saint, que duravam cinco minutos e levavam três horas pra baixar. De vez em quando algum pedaço do filme do Ron Jeremy e até algum filme de colegiais holandesas. Eu fui juntando uma pequena coleção, com muito esforço por causa da minha conexão discada, até que minha mãe descobriu e deletou tudo. Eu tinha 14 anos e foi um mês difícil. Mas eu não desisti, continuei minha procura, mas todos os filmes tinham a mesma premissa: desculpa esfarrapada, boquete, o sexo carnal, sexo anal e o cum shot (ou money shot), era tudo muito mecânico, os gritos eram muito profissionais, eu não gostava. Mas continuava a me masturbar, como qualquer garoto de 14 anos.

Até que começaram a proliferar na internet os chamados sites de GONZO PORN. Tinham dois que eu era muito fã na época, o College Fuck Fest, que “estudantes” montavam uma festa e todo mundo transava com todo mundo e o Bang Bus, que vários malucos numa van pegavam uma “garota desconhecida” na rua e... bem... transavam com ela. Vocês perceberam o “estudantes” e “garota desconhecida”? Olha, eu nunca fui o mais inteligente da minha sala, longe disso, mas dava pra perceber que era tudo armado, assim como 99% dos vídeos de estupro na internet, você consegue perceber no primeiro minuto. Mas já era uma grande diferença pra mim, tinha um lance todo amador, as vezes a luz do sol batia na cara da garota enquanto ela chupava o pau do cara. Era só uma câmera, sem maquiagem, sem estúdio. Só sexo. Os gemidos falsos continuavam, mas eram mais suportáveis dessa vez. Foi quando eu comecei a realmente gostar de ver filmes pornô, com a ascensão dos filmes amadores na internet, que naquela época não eram tão amadores assim.

Muitas pessoas dividem a internet em antes e depois do Napster. Outras em antes e depois da wikipédia, outras tantas pensam que a grande inovação da internet foi o orkut (malditos brasileiros... opa, eu também tenho uma conta). Mas não, pra mim a internet se divide em antes e depois da Polyshop. Você sabe, aqueles anunciantes que vendem uma câmera digital em 500 vezes SEM JUROS. Qualquer garota pode comprar uma câmera, que além de tirar fotos, GRAVA VÍDEOS. Junte a isso a banda larga no Brasil ser cada dia mais do povão, hoje a grande maioria das pessoas consegue bancar pelo menos o plano mais simples e ter acesso a internet 24 horas por dia.

“Amor, eu só vou gravar pra ficar vendo quando você viajar e não morrer de saudades”. Essa frase existe desde a criação das filmadoras portáteis, mas o público se limitava na maioria das vezes aos amigos do suposto namorado carinhoso da garota, que só queria uma recordação dela chupando seu pênis. Mas agora temos o 4share, rapidshare, qualquer coisa share. Até a pessoa mais idiota, consegue selecionar o arquivo .avi e esperar alguns minutos até que ele seja transferido pro servidor, selecionar o link indicado e mandar por email pra os amigos. Nisso, dezenas e dezenas de vídeos amadores são filmados e jogados na internet todos os dias. Existem várias comunidades no orkut DEDICADAS a catalogar esses filmes. Porra, eu devo ter pelo menos uns cinco agora no meu HD, e olha que eu os deleto com freqüência. E essa vai ser minha especialidade aqui no site, eu gosto do formato dos vídeos amadores, dos closes mal feitos, dos gemidos reais, das namoradas reclamando e pedindo pra eles apagarem o vídeo depois de filmar, da falta de condicionamento físico do casal, dos caras se achando um ator pornô italiano por ta comendo a namorada, do namorado tentando enfiar no buraco mais ao sul e garota não deixando. Isso pra mim é um filme pornô.

Buceta! Caralho!

Bento 16 é um completo idiota

É Natal, tempo de paz, de união entre os povos, de amor, de lembrar o nascimento… Aquelas coisas todas. E tempo de o líder máximo de uma das religiões mais importantes do planeta virar e dizer que certos membros da sociedade não merecem estar por aqui.

"O Papa Bento XVI disse nesta segunda-feira (22) que “salvar” a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas do desmatamento."

Então não me venha mais com esse papo de que “o importante é acreditar em alguma coisa, porque isso torna o mundo um lugar melhor”. A partir do momento em que você acredita que existe uma verdade e que todo o resto é errado torna-se automaticamente impossível acreditar em paz-e-amor.

Mas, poxa… “A Igreja Católica prega que, embora a homossexualidade não seja um pecado, os atos sexuais são.” Ou seja, você pode ser gay, só não pode fazer aquela coisa hor-rí-vel que os gays fazem na privacidade de seus quartos. Você pode ser gay, desde que de uma maneira, assim, Will & Grace. Sem sexo, só decoração, desfiles de moda, cortes de cabelo, carros alegóricos, canções de MPB com voz grave e confidências sentimentais. A parte de efetivamente gostar de uma pessoa e expressar isso.. ui… isso é pecado. Morra, por favor.

Cris Dias

22.12.08

I Took Your Name

Meu agente ligou.

Ele diz que eu deveria repensar o meu nome. Expliquei que não fui eu quem o pensou da primeira vez e que talvez essa tarefa devesse caber aos meus pais.

O agente foi bem enfático nisso: com esse nome, “Daniell Rezende”, eu não iria chegar a lugar nenhum. Nada contra os seus dois Ls, ele disse. O problema era que seria um bom nome para um cantor de polca. E polca não ia fazer de mim um compositor e cantor independente cool.

Ele sugeriu que eu adotasse o nome de Faith No More. E não aceitou que já tivesse alguém no ramo da música com esse nome.

- Já existe um cantor chamado Faith No More? - ele estava indignado - Mas que tipo de pai dá um nome desses para um filho?

Entramos em um acordo e concluímos que o nome deveria ficar Steve Buscemi. Consultamos algumas lojas de discos e ninguém tinha nada de nenhum Steve Buscemi. Portanto, o nome estava liberado para ser usado por mim.

De acordo com o meu agente, eu agora preciso assinar apenas “Steve Buscemi”. Eu preciso pensar como Steve Buscemi. Eu preciso ser Steve Buscemi. Ele começou encomendando novos documentos.

Também pediu para colocarem a foto do Faith No More na minha carteira de motorista, para eu ficar com mais cara de cantor.

Estou ainda me adaptando ao novo nome. É meio estranho mudar de nome assim, de repente. Não foi uma coisa gradual, do tipo “primeiro, você muda pra Daniell Buscemi, depois dá um jeito de passar pra Steve”.


Daniell Buscemi

Conheço uma garota que encontrou o namorado agarrado com outra na night. Ela foi tomar satisfações e ele negou, mesmo com todas as evidências.

- Mas eu estou vendo!
Ele:
- E você vai acreditar no que você está vendo ou em mim?

Hahaha.

Marina W

Perplexidades da Pornografia

Confesso que nunca entendi a graça de assistir esportes. Existe algo mais chato, mais frustrante do que ver outra pessoa fazer o que você gostaria de estar fazendo? E o que vale pra esportes vale em triplicata para pornografia. Caramba, assistir o US Open ainda pode até ser tangencialmente interessante, se os jogadores forem bons, mas qual pode ser a graça de ver gente transando? De assistir outro homem comendo a mulher por quem você está de pau duro?

Nunca consegui assistir mais de cinco minutos de pornografia (ou de esportes) sem ficar cronicamente entendiado. Agora, entretanto, talvez pela influência da vida acadêmica, talvez somente pela idade, minha atitude está mudando.

Ao invés de me entediar, meu cérebro levanta vôo. Começo a construir toda uma teoria sobre a cultura de massas contemporânea, sobre o que os filmes e sites revelam das expectativas das pessoas que os produzem, sobre os pequenos tiques físicos que são tão prevalentes que têm que ser fruto de uma direção proposital, sobre a enorme distância entre o sexo de verdade e o sexo na pornografia.

Por exemplo, quem foi que disse que mulher fazendo biquinho é sexy? Será que as mulheres acham isso? Será que os homens acham isso? Será que os produtores de pornografia acham que as pessoas acham isso?

As obcecadas menções ao tamanho do pau refletem uma preferência das mulheres ou uma neura primordial dos homens?

Quando uma dominadora humilha um homem forçando-o a se vestir e se comportar como mulher ela não está implicitamente afirmando que ser mulher é algo intrinsecamente humilhante? Considerando que essa é uma fantasia masculina, escrita para satisfação da lascívia masculina, o que isso nos diz sobre a desvalorização da condição da mulher, mesmo em filmes que celebram uma pretensa "supremacia feminina"? Alguém já viu algum dominador forçando uma submissa a vestir terno e gravata, furar parede ou trocar pneu?

Será que a tradicional esporrada na cara é mesmo uma preferência feminina ou apenas mais uma demonstração de poder masculino?

Por fim, mais do que tudo, eu fico pensando: quem são essas pessoas? Elas acham graça nas besteiras que estão falando? O que pensam disso tudo? (Tenho muitas amigas prostitutas mas agora me dei conta que nunca conheci nenhum ator ou atriz pornô. Hmm, está na hora de fazer novas amizades...)

Talvez seja apenas a velhice chegando – mas agora pelo menos eu me divirto assistindo pornografia.

Enquanto isso, vou rascunhando meu próximo artigo acadêmico: "Projeções do Imaginário Falocêntrico sobre a Alteridade Feminina em 'Elas Gostam É de Cavalos'". Será que consigo publicar?

lll

Quarenta aforismos de mau-tom, potencialmente ofensivos, defendidos com verborragia e grandiloqüência pelo autor deste blogue

1) Tibete é China.

2) As Malvinas são argentinas.

3) Tchetchênia é Rússia.

4) Catalunha não é Espanha.

5) O kemalismo parece um bom caminho.

6) O socialismo também.

7) A União Soviética faz falta.

8) Napoleão Bonaparte é o maior herói nacional brasileiro.

9) A democracia representativa está falida.

10) Há boa Literatura e porcarias.

11) Há boa música e lixo ruidoso.

12) Berimbau não é instrumento (se for, peço a inclusão da matraca e da sirene na mesma categoria)

13) A Anarquia não dará certo enquanto houver gente.

14) Galiza não é Espanha.

15) Muamar Kadafi não me parece tão ruim quanto parece.

16) Côssovo é Sérvia.

17) Terroristas de verdade são os EE. UU.

18) Religião é a negação de qualquer raciocínio e inteligência.

19) Há casos em que a democracia é desnecessária e incômoda.

20) Vegetarianismo militante é histeria politicamente correta.

21) Então, vejo vacas como comida.

22) Coelhos não são animais de estimação, mas sim galinhas de casaco.

23) Circo-escola não é cultura e muito menos “inclusão”.

24) Os brasileiros não temos identidade pátria.

25) País Basco não é Espanha.

26) O trema em português é necessário e imprescindível.

27) A televisão é nociva.

28) Mas basta desligá-la.

29) A Lingüística na USP é catequese e ditadura gerativista.

30) Academia de ginástica = rodinha para hamsters.

31) O Uruguai é um estado-tampão; só existe porque existem igualmente o Brasil e a Argentina e nenhum dos dois decidiu-se em cedê-lo para o outro.

32) A primeira utilidade do jornal é embrulhar peixe.

33) Logo perseguirão os fumantes como perseguiram os nazistas.

34) Antes ninguém se preocupava com colesterol e punham banha de porco no arroz; hoje, na ditadura dos índices médicos, a histeria tomou conta das velhas hipocondríacas e o arroz (ai, o arroz!) ficou sem gosto.

35) Só vou economizar papel quando pararem de publicar os tablóides britânicos, as revistas de fofoca e a “Caras”.

36) Absurdo é a classe média dizer “absurdo” a tudo que lhe contraria. Estou pegando asco da palavra.

37) Tanto desespero cá na terra; enquanto no espaço imediatamente superior à atmosfera tudo continua plácido.

38) A vida em outros planetas está tão longe (se estiver) que não vale a pena preocupar-se com ela.

39) Transes religiosos e descarregos são induzidos por mesmerização.

40) A literatura vai morrer porque o povo está sendo vítima de um processo de imbecilização em massa (viva a tevê!)

Faixa-bônus: não gostou, come menos.


Granada de bolso

amor

estou grávida de ti estamos a ver os patos a coachar e os marrecos correndo as canelas dos bandidos e na hora que estou quase parindo você me olha à meia luz e diz: ESTOU CERTO DE QUE O FILHO NÃO É MEU SUA MENTIHOROROSSSA e vai embora batendo a porta e apagando as velas depois sou eu que fico com o coração batendo abandonado vagabundo feito tatuagem vagabundo

cubo de noite

Bodas

Vinicius de Moraes está morto Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno Vinicius de Moraes morreu e foi para o inferno e o inferno é um elevador o inferno condado que não se usa conjugar em outro tempo que não o tempo presente é um elevador Ele sobe com um pequeno soluço com outro pequeno soluço ele desce: as portas não se abrem jamais mas Vinicius está sujeitado aos compromissos dos demais hóspedes aquartelados neste presume-se imenso hotel Vinicius está aqui eternidade fora ouvindo as pragas entrecortadas dos demais hóspedes que batem de punhos às portas do elevador do inferno e justo agora que a eternidade em todos os seus estratos se lhe desvela Vinicius não pode escrever um poema assuntando todos os estratos da eternidade porque não há estilográficas no elevador no inferno nem lápis nem batom e dentre as coisas que não há no elevador no inferno contam-se igualmente uísque mulheres transatlânticos a rigor não há nada salvo Vinicius marchetado no espelho no elevador no inferno e essa máscara cuja ideação tomou-lhe anos sem falar da própria prática e do constante refinamento da mesma essa máscara está pegada a seu rosto e não sai mais Vinicius suspira ectoplasmático este que não é ao menos eu e contudo o que escolhi por mortalha este funesto dominó que não sai mais que não sai para nunca mais Vinicius geme e com um pequeno soluço o elevador desliza lento até o quinto andar e uma série de cruzados de direita nas portas fechadas do elevador do inferno eia isto é ponto pacífico que Vinicius de Moraes está morto pode-se considerar o assunto encerrado Eis tudo no coração de cada jovem enamorado um elevador sulfuroso

A arte perdida...

Texto para cartão de Natal

Natal é tempo de histeria. E como já dizia Freud, histeria é algo que pega, contagioso feito lepra. As gordas madames que empurram seus carrinhos nos supermercados: o menino-jesus é um pedaço de tender. Que delícia! E reis-magos de castanha e damasco; panetone, o muro-das-lamentações de panetone. É tudo um paraíso-celeste de figo turco. E as crianças que choram pelo papai-noel e os shoppings, apelativos como nunca na sua decoração de natal outubrina; Natal é todo um encher-se, rechear-se, regalar-se, tempo de ataques apopléticos, congestões e bebedeiras homéricas. Começa-se desejando feliz Natal e, depois de mil-cervejas e dez garrafas de vinho vagabundo, manda-se todos tomar no cu.


sete educadas linhas

21.12.08

A fraternidade

Bem... A história é assim: eu estava esperando o elevador no prédio da minha namorada, e chegou uma mãe com dois filhinhos. O mais novo estava vestido de Batman. Quando entramos no elevador, falei para Luísa:

- Não sabia que o Batman morava no seu prédio...

A reação do irmão mais velho é que foi muito engraçada.

- Ele não é o Batman!! Isso é só uma fantasia!! Olha aqui, aqui tem um cordão!!

pêra d'água

20.12.08

Dente molar tem raiz quadrada?

(ele, de broca em punho, impressionado com o tamanho da obturação que já existia no dente que quebrou)
- Nossa, esse amálgama é gigantesco!
(eu, falando chiado com a boca cheia de algodão)
- Tudo vale a pena se o amálgama não é pequeno.

(ele, explicando a textura do cimento cirúrgico)
- Veja bem, ele parece duro, mas por dentro é sempre molinho, molinho.
(eu, colocando a mão no peito, no tom de protagonista de novela mexicana)
- Que nem o meu coração?

(ele, imitando com as mãos fechadas o movimento de uma mordida)
- Esse tipo de bloco de porcelana pode dar um problema o-clu-sal.
(eu, apavorada com a possibilidade do dente metálico from hell)
- É, mas o do outro tipo vai me trazer um problema so-ci-al.

(ele, fazendo as contas)
- Com a gengivectomia, fica tanto.
(eu, parando de preencher o cheque e levantando a cabeça com expressão séria)
- Gengivectomia? Mas doutor.. eu ainda posso ter filhos?

Tenho medo que o meu dentista comece a me cobrar mais caro.

Fora que, toda a santa vez que ele me levanta naquela cadeira, uma voz repete na minha cabeça "Lord Vader.. rise!".

E eu nem vou contar pra quantas pessoas eu repeti "eu prefiro melão" enquanto a anestesia não passava. Nem vou.

uma dama...

Insano

Mercado Central, centro da cidade, com chuva, com pressa, com duas crianças, quase véspera de natal...
Nem queiram saber o que eu passei...


Mesa de Bar

Bestiário (19)

Tinha medo do escuro. Um dia, ficou cego. Passou.

brancoleone

Trilha sonora de filme pornô

Odeio trilha sonora de filme pornô. Fala sério, o que há de errado com essa gente da indústria pornográfica? Eu não faço sexo escutando tecno, psy trance, pandeiros, funk e o caralho à quatro. E acredito que qualquer pessoa com o mínimo de bom senso também não faz.
Por essas e outras, os filmes pornô não são devidamente respeitados como legítimos representantes da sétima arte que são.

O pior é que música de gosto duvidoso já virou um clichê do gênero, uma característica inconfundível. Há filósofos que dizem que filme pornô bom tem que ter música ruim. Por isso odeio filósofos, eles não sabem de nada.

Música de foda boa é Sexual Healing, do Marvin Gaye, Billie Jean, do Michael Jackson, Free Bird, do Lynyrd Skynyrd. Só que do jeito que as coisas andam, prefiro não dizer que esses caras são representantes da fuck music. Porque se eu digo para um pornógrafo que Sexual Healing é música boa pra sexo, ele logo vai pensar que se trata de algum funk carioca ou coisa parecida.

Sonho com o dia em que os filmes adultos serão brindados com grandes trilhas sonoras. Um dia, espero, Quentin Tarantino escolherá as músicas de um desses filmes. Quem sabe John Williams também não possa compor uma trilha, embalando com emoção e maestria uma cena de sexo épica.


Disque P para porno

REVELAÇÃO NO TRENSURB

— Estação final Mercado. Solicito a todos que desembarquem.
— Mãe, é o Deus que tá falando?
— Não, minha filha! É o piloto.

Conversas. Furtadas.

sabe quando você acorda, abre a janela e vê o dia todo iluminado, o céu com aquele azul único que tinta nenhuma consegue alcançar, passarinho cantando num fôlego invejável a sua melodia incrível, ar puro, perfume de flores e cheiro de grama, tudo sorrindo...

pois é, hoje não tá assim não.

no tecido crespo do significante

Sabe como eu me mataria?
Vivendo.

A forma mais lenta, dolorosa e cruel de morrer.

asneiras dela

19.12.08

E vice-versa - versao Projac

O ex-marido, ex-pm e experimentador de pozinho colombiano morreu de overdose depois de estar ligeiramente casado com atriz de alto custo e baixo talento.

Para algumas pessoas, a vida, inutil ilusao, e' realmente uma droga.


Estrovenga

como enredar uma teia de problemas para melhor decorar a sua sala de estar - ou crase: o exercício do uso polêmico II

tecer uma bigorna à vontade do passarinho de voar

(síntese: a recente paixão por cordel e a afirmação de que não)

suuuuuuuperlativa.

Dezembro

Dezembro, né? Aquela mistura de empolgação em nome da alegria das crianças e a velha vontade de dar um fast-forward na trabalheira natalina e despachar logo 2008 junto com as flores brancas pra Iemanja.

kaleidoscópio

18.12.08

Quase vegetariano

De repente o pedaço de carne na minha boca fica com gosto de couve-flor, de repente. Como o ex-operário da fábrica de cerveja que tem o nariz impregnado de cevada e que não encontra prazer na cerveja, mesmo anos depois de não trabalhar mais lá. Tudo começa a ter gosto de couve-flor e a minha vida escorre como um rio diante dos meus olhos.

Às quartas e sábados saía correndo da escola e ia direto pra Rua do Muro, onde tinha a feira, antes que estação fosse construída. A mãe me esperava com as sacolas, que ela ia enchendo com os produtos encalhados – xepa, mesmo – que os feirantes vendiam por poucas liras, pra não ter que trocar pela dignidade das famílias pobres como a nossa. 20 liras. Era quanto custava uma sacola de couve-flor. Voltávamos pra casa e a mãe cozinhava sobre a lenha catada nos dias de sol, amontoada na cabana que o pai construiu antes de desaparecer. Como havia fartura de couve-flor e pouca coisa mais, comíamos couve-flor todos os dias. Couve-flor tem gosto de lira velha. 20 liras. Eu era garoto mas entendia tudo. Com a cabeça enfiada no prato, sentia o olhar da mãe e podia ouvir seu coração apertado, eu entendia tudo. Comia de limpar o prato e ela suspirava aliviada. Almoçava e saía pra catar lenha e vender nas ruas do centro. A mãe usava o dinheiro pra ir à feira.

Nas férias de verão trabalhava na poda das videiras e, depois, na colheita da uva. Aquele dinheiro era importante e a mãe rezava pra que a safra não atrasasse e eu pudesse voltar pra escola em setembro, no início do ano escolástico. Durante a colheita os outros levavam pão pra comer com uva. Como não tínhamos dinheiro pra farinha, levava apenas couve-flor e trocava com um pouco de pão, eu trocava. Couve-flor alimenta os calos das mãos. Pão com uva sob o sol é a lembrança bela e dura das minhas férias.

Quando deixei a escola pra ir trabalhar na construção da estrada de ferro, levava a couve-flor que a mãe cozinhava às cinco da manhã. Comia longe dos outros operários, que o cheiro de couve-flor é desagradável e denuncia os mais miseráveis. Couve-flor fede como suor, fede.

Íamos a poucas festas. Uns poucos casamentos e a festa da padroeira. Pobre tem pouco a festejar, mas quando casei teve festa. Pouca, mas teve. E não teve couve-flor, que comida assim, pobre, come-se escondido e não se oferece a ninguém. Massa, peixe, pão, vinho. Couve-flor, nunca. Couve-flor é a vergonha da pobreza.

Cresci meus filhos com calos e resignação. O salário mal dá pras despesas e não podemos nos permitir os supérfluos da modernidade, mão não posso privar os garotos de desejarem ser iguais aos demais, não posso. O dinheiro dos serviços ocasionais e da campanha da uva, nas férias, fica separado pra ser usado com falsa naturalidade em algumas poucas, das muitas vontades deles. No próximo verão levo os meninos pra ajudar na uva e eles começam a ganhar o próprio dinheiro. Até lá, carne só muito de vez em quando, que pobre tem que suportar privações e eu sou um que suporta. E tem o primo dela, feirante, que trás sempre um saco de couve-flor. Mas quando ela leva os meninos pra velha benzer, uma vez por ano, antes da festa da padroeira, como carne. É por isso que esse pedaço deve ser mastigado devagar, fingindo não ter o gosto da couve-flor que os meninos não comem de jeito nenhum, e que está impregnado no meu nariz pra sempre. Nem enfio a cabeça no prato pra comer depressa e me livrar logo, como fiz a vida inteira, não. Hoje como devagar, pensando no primo dela que só aparece quando estou trabalhando; na lira que nem existe mais: vinte liras equivalem a menos de um centavo de euro (aquela moedinha de cobre azinhavrado), nem existe mais, nem existe; na estrada de ferro que ajudei a construir e que hoje leva a gente embora daqui; no almoço de pão com uva durante a colheita; na lenha catada e vendida por poucas liras pra quem nem precisava dela; na dignidade que restou.

Tento lembrar dos momentos alegres e esquecer a vida dura que sempre tive, tento lembrar. Esquecer da carne sem gosto de carne; do peso das sacolas da feira; do olhar desviado das pessoas pra quem vendia a lenha; do cheiro de couve-flor em baixo da lona, onde almoçávamos em dias de chuva, na construção da estrada de ferro; das poucas festas; dos calos nas mãos irremediavelmente grossas; do dinheiro sempre pouco; da frase dela encerrando a discussão essa manhã, pouco antes que saísse com os meninos pra pegar o trem das sete e meia: “você nem imagina os sacrifícios que tive que fazer pra não faltar nunca a couve-flor que você tanto gosta.”

Carta da Itália