28.4.05

A arte de não ter opinião

Hoje em dia, a maioria das pessoas costuma ter opinião sobre todos os assuntos - e repreendem quem não tem. Deveria ser ao contrário. Não ter opinião é uma arte, talvez um dom divino. Outro dia, li por aí que a Hebe Camargo é uma formadora de opinião. Se a Hebe é formadora de opinião, ter opinião definitivamente não pode ser algo bom.
Eu evito ter opinião sobre qualquer coisa para não arranjar encrenca. Isso irrita algumas pessoas - pessoas que têm opinião sobre tudo, claro -, e elas me repreendem. Eu apenas concordo. Discordar nunca é bom. Quando alguém pergunta minha opinião sobre qualquer assunto, sou direto, falo na lata.

— Você não acha que o George W. Bush é um filho da puta?
— Vou muito bem, obrigado por perguntar.

— O que você acha do governo Lula?
— Deixe-me ver... são cinco horas!

— Meu cabelo está bom?
— Acho que minha mãe está me chamando...

¡Ay, caramba!

- Moça, aquela senhora em pé é gestante?
Olhei, analisei (discreta, como só eu). Ela tinha uma pancinha, mas não dava pra saber se era de gravidez.
- Não sei, eu disse.
E fiquei na dúvida. Antes ficar na dúvida do que ofender a moça.
Alguns minutos depois:
- Moça, pergunta se ela quer sentar aqui.
Eu, perguntar? Nem morta! Será que é gestante? Cutuquei.
- Ei, ela está te chamando.
- Quer se sentar aqui?
- Não, não, obrigada.
É... não era. Situação constrangedora. Se fosse eu no lugar dela, teria segurado a pança com as duas mãos e me dirigido lentamente ao banco, como que protegendo meu bebê/tecido adiposo. Sentar-me-ia e a olharia com ternura, agradecendo, com cara de mãe.
Ofendida, porém sentada.

Admirável Blog Novo, em versão internacional.

27.4.05

Hospitalidade

Minha mãe uma vez ficou ofendida com um coleguinha da minha irmã que foi dormir lá em casa e levou sua própria roupa de cama e de banho. Ligou para a mãe dele e soltou os cachorros: pra onde ela pensava que estava mandando o filhinho dela? Pra uma estrebaria? Estava insinuando o quê? Que na casa dela não tinha toalha?

Já a mãe de uma amiga minha sempre fazia a filha levar sua própria roupa de cama e banho quando se hospedava na casa dos outros. Imagina, minha filha, senão eles vão pensar que você acha que a casa deles é um hotel!

Em outros tempos, soltaríamos ambas as mães na lama. A que ficasse de pé, estaria certa. Eram tempos mais divertidos.

Liberal Libertário Libertino

Em relação à máxima “ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”,
tudo o que conseguiu na vida, até então, foi masturbar-se,
cuspir uns caroços de melancia que brotaram ao acaso
e mandar e-mails de vez em quando...

um blogue sem qualidades

Sobre o ato de blogar

Tempo é relativo, que o digam aqueles que estão habituados à leitura constante de blogues. Se um blogueiro fica dois ou três dias sem atualizar a página, sempre surgirá algum internauta a comentar: "cadê você?".
Em geral, posts são marcados por uma linguagem informal, descompromissada, não raro pontuada por erros de grafia que denunciam a urgência com que o internauta escreve seu texto, como rascunhos que já nascem com caráter definitivo. Do comando do cérebro ao ato dos dedos digitando no teclado, palavras borbotam e - clic! - desembocam direto para a tela.
E no entanto, há blogueiros que, sem idéias prodigiosas o suficiente para justificar um novo post, limitam-se a escrever: "estou sem idéias, portanto fiquem com este teste (ou link, ou charge, ou letra de música)". Ou seja, postam como que se sentissem compelidos a publicar pelo menos uma coisa, por mais irrelevante que seja, simplesmente para não permitir que as teias de aranha virtuais ocupem seu blog pelo enorme intervalo de... um dia.
Repare: toda vez que um novo texto é publicado, os anteriores deixam de receber novos comentários. Na blogosfera, mais do que nunca prevalece a cultura do imediato: o post está morto, viva o novo post! Em nome da velocidade no carregamento do site, não mais que dez artigos são publicados na página inicial, enquanto os anteriores são empurrados para o quartinho dos fundos. Pergunto: quantos gatos pingados possuem o hábito recorrente de vasculhar os arquivos de um blog?
É preciso ainda falar de textos longos. Quantas vezes você já não se deparou com algum post mais alongado que, metalinguisticamente, pedia desculpas ao leitor com alguma frase do tipo "se você teve paciência para chegar até aqui...". E isso para não falar dos comentários off topic, ao melhor estilo não-tive-tempo-para-ler-seu-texto-só-escrevi-pra-dizer-oi-adoro-o-seu-blog-visite-o-meu! O fato é inequívoco: ler textos na tela é cansativo e é difícil resistir à compulsão de "folheá-los" na diagonal.
Em meio a tanta urgência e fugacidade há que se reiterar, pois, alguns dos melhores aspectos positivos do meio "blog": o fomento de debates em tempo real, o estímulo à comunicação de idéias, a democratização da publicação de conteúdo na Web, e, principalmente, a liberdade de expressão.
Não posso deixar de lamentar, contudo, os efeitos colaterais surgidos em meio à urgência de novos posts. Ao contrário de textos impressos em celulose, transportáveis para qualquer local e lidos quando bem entender, o prazo de validade de um post vale pelo tempo em que é exibido na home-page. Depois, torna-se jornal virtual a embrulhar peixes cibernéticos precocemente envelhecidos, folheado por uma massa restrita de leitores.

Pensar enlouquece. Pense Nisto.

Dicas práticas para quem usa elevador

Por mais que pareça o contrário, o elevador é um complexo meio de transporte.
Alguns pensam que é só apertar ou um botão e tudo se resolve. Não, não, não.
Muitos de nós, todos os dias, presenciamos cenas patéticas envolvendo elevadores; outros tantos, é claro, são os que as cometem.
Assim, as dicas abaixo são para aqueles que ainda estão em fase de aprendizado quanto ao uso dessa coisa complicadíssima.
Apertar o Botão Várias Vezes
É difícil convencer panacas, mas entendam que NÃO ADIANTA NADA APERTAR O BOTÃO VÁRIAS VEZES. Isso não acelera o elevador. Não passa de boato a história de haver um dispositivo de aceleração que é acionado quando se aperta o botão 300 vezes em um segundo, tal o antigo jogo de fliperama “Decathlon”. O mesmo se aplica quanto aos botões internos do elevador.
Física I: Entrar e Sair
Por mais que você queira entrar, É PRECISO ANTES DE TUDO ESPERAR QUEM VAI SAIR. Só depois disso você entra. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, e é claro que essa lei vale para o corpo humano.
Física II: Posicionamento Interno
Suponhamos um edifício de 20 andares e você descerá no 19. É de bom tom, e de razoável inteligência, tentar se posicionar NO FUNDO do elevador. Salvo quando isso é realmente impossível, dada a lotação, é um tremendo atestado de imbecilidade a pessoa que vai descer nos últimos andares permanecer pertinho da porta. O mesmo vale para quem vai descer nos primeiros andares: nada de ficar lá no fundão e depois falar “cençaqueuvôdescê”.
Botões “Sobe” e “Desce”
Alguns elevadores são dotados de dois botões nos andares. Pouca gente sabe usar esse dispositivo, embora bem simples. Você vai descer? Aperte o botão para descer. Você vai subir? Aperte o outro. Se o elevador está no quarto andar, você no oitavo, e você pretende ir para o térreo, NÃO É PARA APERTAR PARA SUBIR, só porque o elevador está em andar inferior. Sim, ele vai “subir” até você, mas VOCÊ VAI DESCER, então aperte o botão para descer.
Câmeras Filmadoras
Com o “boom” de filmadoras instaladas em elevadores, os agentes de segurança se decepcionaram com os flagrantes. Em vez de apanhar ávidos casais, simplesmente observam pessoas espremendo cravos e espinhas, ou então fazendo caretas olhando para o espelho. Não passe esse tipo de vergonha!
Mantenha a Noção nos Papos
Qualquer que seja o assunto, é de péssimo tom mantê-lo no elevador. Por se tratar de um ambiente fechado, no qual geralmente pessoas se apertam, o ideal é TENTAR FECHAR A MATRAQUINHA POR PELO MENOS ALGUNS MINUTOS, evitando-se a poluição sonora. Assuntos de extrema urgência, obviamente, são exceção à regra. De todo modo, alguns outros temas podem muito bem esperar um pouco, dos quais são exemplos: hemorróidas, diarréia, vômitos etc.
Evitando “Papos Clássicos de Elevador”
Quando o elevador não está muito cheio, algumas pessoas infelizmente partem para os chamados “papos de elevador”. Em vez de demonstrar simpatia, isso faz com que o interlocutor, em geral, ganhe úlceras de tanta raiva. Vamos evitar esse tipo de coisa! Chega de “falsa simpatia”! Exemplos de assuntinhos que causam raiva:
- Observações climáticas;
- Comentários futebolísticos;
- Anedotas em geral.
Evite Assuntos Longos
Caso você seja o tipo de pessoa que não se emenda, pelo menos evite assuntos muito longos. O tempo que se passa num elevador, salvo quando ele quebra, é muito inferior ao levado em uma viagem de ônibus de São Paulo a Mossoró. Assim, uma história muito longa não deve ser iniciada, porque o interlocutor obviamente vai ficar curiosos, e não haverá temo hábil para nem mesmo passar da introdução.
Flatulência
Não peide no elevador. Por mais que você tenha incontinência gasosa, por mais que sua barriga dê aquela pontada forte, por mais que seu sistema digestivo clame pela liberação de gases, NÃO SOLTE ROJÃO NO ELEVADOR! E a norma não vale apenas para elevadores lotados. Segundo análises do dia-a-dia, um peido do brabo, mesmo em elevador vazio, continua ativo por umas três horas. Há casos e casos de gente que pega o elevador fedido, e, mesmo não sendo autor do traque, ainda por cima é olhado com ódio pelos que entram depois. Estuda-se a implantação de Pena de Morte nesses casos (e também para quem segura a porta).
Assovio: Nem Sabendo É Legal
Não é todo mundo que sabe assoviar. Algumas pessoas emitem sons completamente desafinados, que prendem a atenção dos ouvintes não pela qualidade, mas pelo desafio de se descobrir que raio de música é aquela. O assovio, no elevador, é uma coisa chata até para quem sabe fazer. Imagine então quando alguém da “turma do chiado” resolve expor sua falta de musicalidade.
Saiba Usar a Escada
Uma forma de se demonstrar sabedoria, quanto ao uso do elevador, é exatamente NÃO USÁ-LO em algumas ocasiões. Você vai descer um, dois ou talvez três andares? Use a escada! Vai subir um andar, ou quem sabe dois? Use a escada também, caraca! Corre à boca-pequena que Deus castiga com tromboses agudas, além de outras mazelas, aqueles que usam o elevador para percursos ridículos.

Dicas do Gravataí Merengue

Hoje olhei minha cara no espelho e não era eu. Estou sem dormir há três noites. Dói tudo, o coração também. E me sinto doente terminal. No fim do feriadão já não estava bem e fiquei quase oito horas esperando um ônibus, na rodoviária mais escrota que já conheci. Viajei a madruga toda acordado. Desci no metrô de São Paulo e pensei que estivesse em Tóquio. Não me lembro de ter andado para embarcar. Tava no meio da multidão e ela embarca em bloco, uma coisa só, que se movimenta e passa pela porta, uns grudados nos outros. Uma espécie de levitação coletiva. Na troca de trens foi pior. Só uma parte da multidão conseguiu entrar, e eu fiquei na borda da plataforma, muito além da faixa amarela, o trem voando perto da minha orelha. Meus joelhos já estavam estourados quando vi a escada rolante na mesma situação. Quebrada. Saí da estação levando a mochila direto pro trampo, não podia atrasar. Estranharam a minha cara quando cheguei. Voltei pra casa 10 da noite, a luz cortada, não lembrei de comprar vela, caí na cama de tênis e roupa na ilusão de que iria dormir. E dormi. Meia hora. Alguns litros de café me mantêm agora num estado lusco-fusco, não tenho certeza de muita coisa. As pessoas continuam estranhando a minha cara no trampo. Tenho que tomar remédio ou já tomei? Não estou reclamando, só fazendo um registro, é assim que se diz? Amanhã vai ser outro dia.

A vida é bela no catarro verde

25.4.05

O mês certo para nascer

O orkut me chamou a atenção para algo interessante. Muita gente, mas muita gente mesmo, nasceu no mês de abril. Só na minha lista tem, nesse momento, 15 pessoas aniversariando nos próximos 10 dias. Tentei fazer cálculos simples para tentar entender esse fenômeno, somando 9 meses às datas críticas. Dia dos namorados, Ano Novo, Carnaval e até o Natal e a Páscoa, onde as pessoas costumam comer muitos Perus e Ovos, não foram esquecidos. Infelizmente eu não achei nenhuma data que encaixasse perfeitamente na ordem dos 9 meses, que compreende a segunda metade de julho até agosto, mais ou menos.
O que me chamou a atenção é que nesse período costuma-se tirar férias de meio de ano, aquelas férias de 15 dias que quando a parada começa a ficar boa, o "feriadão" já acabou. Nesse período de férias de meio de ano, que difere monetariamente do período das férias de início/fim de ano por causa de detalhes como o 13º e bonificações (se você for um senador, acrescentar 14º e 15º) - o que, resumidamente, deixa todo mundo duro - , é quando rola a parada!

De férias, tomando Cintra no sofá, passando "Cocoon" na Globo e "Três Ninjas Contra-Atacam" no SBT e sem nenhum puto no bolso, o que fazer?! Opa, tive uma idéia!
- Querida, tá um saco isso aqui hein.
- É...
- Que que você acha da gente...
- Da gente o quê?
- Da gente... Bem... Cê sabe... (fica balançando a cabeça de forma gingada, dando sorrisinhos marotos e piscando o olho, a fim de fazer com que a parceira perceba que ele quer fazer o que os animais fazem no Discovery Channel)
- Fala logo! Tô ficando nervosa.
- Bem... Da gente fazer aquela coisa que eu sempre gosto de fazer mas você detesta.
- Visitar a sua mãe?
- Como?
- Visitar a sua mãe?!
- Não! Não! Você não captou!
- Então o que, bem?
- Uma trepada, uma foda, uma socada, molhar o biscoito, afogar o ganso, fazer neném, uma chuchada, uma carcada, uma pistolada, uma chanfrada, dar uma pirocada, chamar no saco, te traçar, agasalhar o croquete, enconder a cobra, te dar uma enrabada, passar o ferro, enterrar a mandioca, dar uma fubecada, uma escovadinha, molhar o pavio, enfurnar o robalo, passar a tramela, chamar na chincha, fazer...
- Tá, já entendi! Mas quem disse que eu não gosto disso?!
- Ué! Você gosta?
- Não!
- ...
- Mas melhor isso do que ir pra casa da sua mãe.

Assim eu nasci, como muitos outros, no mês de abril.

Photochopp

Bolsas

Eu detesto usar bolsa. Uso porque detesto mais ainda carregar coisas na mão. Taco tudo dentro da bolsa, penduro a dita cuja a tiracolo (de preferência) e vou embora, quase feliz por não ter nada impedindo minhas mãos, só um estorvo necessário a tiracolo que não me impede de nada. Essa é a lógica da bolsa, pra mim.
Então lança-se a moda das bolsas minúsculas com micro-alças. Bolsas que você não consegue pendurar. Bolsas que você tem que carregar na mão.
Se é pra carregar a bolsa na mão, não é mais fácil carregar a carteira que é menor?
A moda é estranha ou sou eu?

calaboca que eu tô falando!

O LIVRO LÊ

Marcel Proust dizia que jamais duas pessoas lêem o mesmo livro. Grande verdade. Quando me perguntam que livro estou lendo, me pergunto que serventia teria essa informação para a pessoa. Quando me pedem para recomendar algum livro, fico mais perplexo e não entendo como isto poderia importar. Um dia desses uma amiga me dizia que alguém indicou um livro tal para ela para tal e tal propósito e por coincidência eu já tinha lido o tal livro. Tive que pensar bastante para entender a razão da indicação, pois para aquela tal coisa, o livro a mim não disse nada. Depois buscando, buscando, lembrei de alguma coisa que talvez fizesse sentido na indicação. Se a mim ela pedisse a mesma coisa, eu jamais indicaria aquele livro. A indicação de um livro por quem respeitamos só nos fará tentar repetir a experiência dele e assim abdicamos da nossa. Um livro é lido e lê ao mesmo tempo. Se todo mundo escrevesse um livro a respeito do livro que leu, muita coisa interessante se veria. E não estou falando da burrice de vários leitores. Estou falando mesmo é da necessidade de cada um enquanto lê um livro.

Pró Tensão

Amém

Dia de domingo, dia de ir à missa e lavar o cachorro. Não necessariamente nessa ordem, claro. Se bem que pra muita gente é dia de ir a missa e dormir, nessa ordem, e no mesmo lugar. Mas, com o padre que reza missa onde vou, isso é praticamente impossível.
Alguns dias antes da Semana Santa ele estava falando sobre o domingo de Páscoa, dia de ramos, romaria, e começou a passar a agenda dos eventos, quando parou pra dar uma explicação:
- É o seguinte, dessa vez não vou fazer romaria de manhã. E não é má vontade não! É porque no ano passado eu marquei a saída às 7:00 hs, deu 7:40 hs, e lá vinha eu e uma freirinha, andando pela rua deserta, eu com meu raminho e ela com uma vela - isso enquanto encenava tudo -, daí veio um vento e apagou a vela. Foi triste...
Hoje ele resolveu dar uma aula de catecismo e ensinar a forma correta de comungar. Primeiro como deve se portar na fila. Ver um padre, de batina e tudo, no meio de uma missa em cima do altar imitando um malandro caminhando não é lá muito comum. Depois veio a pérola da vez:
- Outro dia, eu estava distribuindo as hóstias, quando entrego a um sujeito e digo: "O Corpo de Cristo", e ele me responde: "Ok". Como assim Ok??? Isso é coisa que se diga?? Ókei! - de novo imitando o malandro, nessa hora nem mesmo os coroinhas seguraram as gargalhadas.
Deus me perdoe, mas às vezes acho que esse padre é meio doido, e é justamente por isso que freqüento a paróquia dele.

um ponto no espaço

24.4.05

.R.a.p.i.d.i.n.h.a.s.

Imagine que você tem peitos que cabem apenas em sutiãs 44/46. Agora imagine que você está perto "daqueles dias" (como diria minha avó), e os dois estão completamente inchados, quase migrando pro tamanho 58. Experimente então fazer cara de paisagem para o fato e encarar uma aula de combat, pulando mais que neguinho com urtiga na cueca. Imaginou? É assim que me sinto agora. E se eu fosse uma índia, certamente meu nome seria Peito Doído.

Coloquei meu carro pra lavar no shopping e voltei toda feliz, com ele reluzindo de tão limpinho. Quando cheguei em casa e tentei destravar o cinto de segurança, percebi que o moço-lavador havia quebrado a trava, e acabei ficando presa. Apertei, apertei e nada da disgrama me soltar. Fui obrigada a fazer contorcionismos genitálicos para sair por baixo do cinto. O que é a vida, meu pai. Nessas horas, agradeço a deus por ser quase uma anã.

Sorvete de Casquinho

Uma coleção de posts infelizes

Eu deveria sair hoje a noite, mas estou com um péssimo humor.
Claro que vou sair de qualquer jeito porque, nunca se sabe, é capaz que acidentalmente eu me divirta.

Eu geralmente sou muito tímido para argumentar durante as aulas.
E mesmo quando o que eu estou pensando em adicionar ao debate é seguido continuamente de "Puta Merda! Como vc pode ser tão burro?!", eu geralmente prefiro guardar meus argumentos só pra mim mesmo.
Como hoje, na aula de "Análise do Discurso", quando todos da classe estavam empenhados em descobrir a razão pela qual a maioria dos hipermercados estão mais concentrados em áreas suburbanas ricas do que em áreas urbanas de baixa-renda.
Eles ficaram discutindo por quase uma aula inteira de 50 minutos, e no final, todos deram de ombros porque nenhum deles conseguiu formular uma única simples teoria.
Vcs não têm idéia de como eu quis me levantar, jogar minha cadeira pro outro lado da sala, e gritar: "A razão para os hipermercados estarem localizados nas comunidades mais ricas é PORQUE PESSOAS RICAS TÊM DINHEIRO. Além disso, pessoas ricas têm mais dinheiro que pessoas pobres! E pessoas ricas, QUE A PROPÓSITO TÊM MUITO DINHEIRO, podem gastar mais dinheiro em produtos que não são essenciais para se viver. E não é do interesse dos hipermercados serem localizados nas zonas pobres, porque PESSOAS POBRES TÊM MENOS DINHEIRO QUE PESSOAS RICAS."
Eu pago mensalmente R$600 para ter o privilégio de assistir essas aulas, e não deveria ter sido surpresa alguma que eu tenha recebido as notas mais altas da turma. E vc sabe por que? PORQUE PESSOAS INTELIGENTES TÊM MAIS CONHECIMENTO QUE PESSOAS BURRAS.

my own pretty hate machine

A dona da razão

Antes de ir embora, ela jogou-lhe na cara o que achava dele: era obstinado e obtuso. Ele disse que não era nada disso, de maneira nenhuma, não era. Ela respondeu que tal atitude só confirmava o que ela dissera. Ele replicou que não confirmava coisa nenhuma, que não era nada daquilo.
Ela, irritada, saiu batendo a porta.
Ele, confuso, correu para o dicionário.

Jesus, me chicoteia!

21.4.05

Sobre baratas e tecnologia

Eu já falei que tenho ojeriza a baratas?
Antes de tudo, EXPLICAR-ME-EI: não é mais um daqueles nhenhenhéns típicos "uiuiui nofsa baratas socorro socorro alguém me acudam GENTE ELA VAI ME DEGLUTIR." Não, não. A coisa possui raízes científicas. Desde que me aprofundei nos estudos da zoologia(contudo, hoje quem aparecer com um livro de biologia na minha frente leva tapa, ESTEJAM AVISADOS), aprendi que as baratas transmitem uma gama de doenças(furúnculos, gastroenterites, hepatite e por aí vai), além de carregarem nas patas protozoários, ácaros e sabe-se Deus mais o quê.
Entenderam o motivo da aversão???? BARATA MATA!
Continuando, nesse mmmaldito tempo chuvoso e quente, as baratas organizaram-se e estão realizando orgias&bacanais no terreno baldio daqui do lado do prédio. Como era-se de esperar, às vezes acontece de uma barata desinformada confundir o endereço e vir bater aqui em casa e, ínvariavelmente, vir pedir informações de localização a MIM.(pelo menos, essa é a única explicação do porquê de elas só aparecerem PARA MIM e quando eu estou SOZINHA.)
E aí, como fica?
Ora, eu me nego a trocar idéias com baratas. Elas são nocivas, eu já lhes disse.
- AAAAAAAAAH! BARATA! ELA VOA! ALGUÉM, ALGUÉM!
Daí aparece o Homer Simpson da minha vida: meu pai.
- Cadê, cadê?
- Correu pra trás do móvel.
- Xi, desse tamanho só vai com veneno.
- Que veneno coisa nenhuma, você sempre diz isso, taca veneno na barata, diz que ela vai morrer e ela não morre coisa nenhuma.
- Minha filha, você, como sempre, critica tudo o que eu faço.
- Não é crítica, é constatação.
- Sua mãe está dormindo, coitada, e você fazendo zuada.
- Queria que eu gritasse em código morse?
- E o veneno, cadê?
- E eu sei? Eu não mexo nisso, a última pessoa que pegou nele foi você.
Então ele saiu à procura do dito veneno enquanto a cucaracha ficou fazendo "pófite-pófite" nas paredes da sala. Da cozinha, pude ouvir as reclamações chorosas:
- Bibibibibi tiraram o veneno do lugar bibibibi todo mundo mexe nas minhas coisas nessa casa bibibibibi ninguém me respeita bibibibibi..
Foi então que, com o barulho que ele fazia enquanto revirava tudo à procura do tal inseticida, minha mãe acordou. Ainda com cara de sono, lançou-me um olhar fuzilante de "queporraéssaagora". Apontei para o tal artrópode e olhei em direção à cozinha, onde meu pai soltava impropérios indecifráveis. Ela respirou fundo, tirou a havaina do pé, acertou a barata, matou-a, jogou o cadáver na porta da cozinha e foi dormir de novo.
Uns dez minutos depois, escutei, da cozinha, um grito de glória:
- MMMMMMMMATEI!!!!! TAVA AQUI NA PORTA!!!
Incrível como a tecnologia inseticida complicou coisas antes tão descomplicadas.

Boo Blog

19.4.05

CDV, BOA NOITE

– CDV, boa noite.
– Boa noooooiiite, caríssimo atendente! Como vai essa força? E a fam…
– Menos, senhor, menos. Lembre-se do verdadeiro motivo por que ligou para cá.
– Mmmm. Tem razão. (Pigarro). Eu tenho andado muito… Hã…
– Eufórico. Hebefrênico. Fagueiro. Cheio de iniciativa.
– Issssooo, meu grande atend… Quer dizer. Hm. Exatamente.
– E isso afastou todos os amigos.
– Ahááá, na mosc… hm. Sim, certo. Os amigos sumiram.
– Conte-me como andava sua conduta, até isso acontecer. E antes de mais nada, deixe-me só fazer um alerta.
– Sim?
– Menos.
– Ah, certo. Bem, nas últimas semanas – segundo os poucos amigos que tinham restado até então – minhas atitudes passaram dos limites. Minha sociabilidade ficou comprometida.
– Prossiga.
– Eu chegava às segundas-feiras, no escritório, e dizia bem alto: “Bom dia e boa semana a todos! Não esqueçamos o otimismo, a perseverança, o companheirismo – e tenhamos em mente os valores e a missão dessa empresa!” Todos me olhavam como se eu fosse um aidético com hanseníase. Uma vez cheguei a ler e decorar trechos inteirinhos do Inteligência Emocional e do Quem Mexeu no Meu Queijo? para poder citá-los de cabeça na reunião semanal. Quando terminei a citação, olhei ao redor e reparei que a sala de reuniões estava vazia. Papéis largados, cadeiras viradas. Só tinha sobrado a copeira, que me olhava com os olhos esbugalhados e em pânico, segurando uma bandeja vazia.
– Sei. E em casa?
– Ah, eu acordava antes de todo mundo. Fazia questão de preparar sozinho o café da manhã. Sabe aqueles comerciais de margarina, onde a família inteira se senta à mesa logo no começo do dia, sorridente, sem olhos inchados, os rostos reluzentes? Pois é – mas só eu era assim. Minha mulher acordava e tomava 10 miligramas de Prozac junto com o café, me olhando meio passada. Durante meus discursos edificantes e cheios de metáforas sobre como encarar o dia, às vezes um ou outro filho saía correndo da mesa para vomitar, no banheiro. Ou pior ainda: saía da mesa e voltava à cama, para dormir.
– Prossiga.
– Aos poucos o isolamento começou. No escritório, quando o pessoal saía depois do expediente para tomar uns drinques e eu aparecia no bar pedindo uma Coca Diet, diziam cochichando: “Começou a unhappy hour”. A diretoria chegou a pedir que eu trabalhasse em casa – e ainda dobraria meu salário! Em casa, então, nem conto. Um dia, enquanto minha mulher tomava o Prozac diário, comecei a explicar como a depressão era paralisante, e insisti que ela devia reaver a vontade de lutar, abrir-se para a vida. Até li em voz alta algumas frases do Gotas de Sabedoria. Foi o bastante. Ela pegou as crianças e rumou para a casa da mãe.
– Sei. E desde então o senhor não falou mais com ninguém?
– Não. Se eu ligo e algum amigo atende, ao reconhecer minha voz ele é quem diz “Desculpe, foi engano!” e desliga. Sabe que você foi o primeiro a querer falar comigo no telefone, hoje? A primeira voz amiga, que…
– Menos, senhor, menos. Escute. Não se entregue. Seu caso tem solução. Entre outras coisas, o senhor precisa evitar a todo custo as más influências. Esse tipo de leitura, por exemplo.
– Que tipo?
– Leitura motivacional. Isso só vai motivar uma coisa: que todo mundo continue longe do senhor. Passe a Baudelaire. Camus. Augusto dos Anjos. Ouça algumas óperas, principalmente Leoncavallo. Pare também com essa Coquinha Diet e comece a tomar gin-tônica. Depois fique só com o gin. E assim vai. Está anotando?
– Sim, sim. Mas isso não vai me transformar num…
– Num o quê? Num o quê? Escuta, quem é o atendente aqui?
– Certo, certo.
– Então vá por mim. Faça isso e recupere os amigos. Ou pelo menos um mínimo de circunspecção comportamental.
– Puxa. (Pausa) Nem sei o que dizer. Agora eu entendo. Sim, compreendi. Você trouxe luz à minha solidão. Abriu meus olhos. Me fez…
– Senhor?
– Pois não.
– Menos.

Ao Mirante, Nelson!

pobrezinha da américa latina, desde o berço explorada

E ainda chamam os conquistadores de covardes. Não vejo como. Quando meia dúzia de caipiras, armados com pau-de-fogo, dominam um continente inteiro, não são eles os covardes.

"Eles foram ajudados pelas doenças! Fomos dizimados!"

Pois é, até nas doenças a Europa sempre foi mais evoluída que a gente.

E sempre que aparecem uns tontos me pedindo indenização histórica, penso em pagar com aquilo que lhes é historicamente mais caro: um pacote de fumo e alguns espelhinhos.

Dívida... e digo à mesa do bar que lhes demos civilização, e em vez de nos retribuírem com Mozarts, Einsteins, Michelangelos, nos deram apenas Belafonte, Juruna, Basquiat e nomes outros talvez ainda mais ridículos. Quem está em dívida com quem?

É quando querem me bater. O Brasil não está preparado pra esse tipo de humor maléfico. A menos que apareça na televisão, aí todo mundo percebe que é brincadeira -- sobretudo se for no horário eleitoral, que por alguma razão só candidato leva a sério.

dies iræ

12.4.05

O maior mico da minha vida...

Aconteceu já tem um tempo. Uns anos.

Eu precisava ir ao oculista. Consulta de rotina, confirmar o grau para fazer óculos novos. Nada de mais. Como tinha o convênio da empresa da minha mãe, pedi para ela ver entre os colegas dela se alguém tinha alguma indicação.

Dias depois, ela me trouxe um nome e um telefone. Ótimo. Liguei, marquei consulta. Nada de mais.

No dia da consulta, lá vou eu, feliz e contente. Só uma consulta de rotina com um oculista, nada para preocupação. Ou não...

Chegando ao consultório, já começaram os fatos estranhos. Não parecia uma sala de espera normal. As pessoas estavam tristes, cabisbaixas, deprimidas. Extremamente preocupadas. Algumas olhavam para mim com um ar compungido, e eu não entendia porque. "Mas é só uma consulta com o oculista... tanto drama por causa de um problema de visão? Eu, hein...".

Não demorou muito para chegar a minha vez. O médico abriu a porta do consultório e chamou meu nome. Quando me levantei, ele demonstrou surpresa e o mesmo ar de pena do pessoal da sala de espera: "Você veio sozinha??". Balancei a cabeça afirmativamente. "Ora bolas, para que eu ia precisar de companhia em uma visita ao oculista?".

Ele se sentou, suspirou e atirou a pergunta, como se temesse a resposta: "Então, por que você está aqui?". Eu, sem mais rodeios, tirei a última receita com o grau dos óculos antigos da bolsa e coloquei-a sobre a mesa, com a explicação simples e direta: "Bom, é que já faz tempo que eu não confiro o grau, e preciso fazer óculos novos..."

Ele pegou a receita com um ar intrigado. Subitamente, pareceu compreender toda a situação. Olhou para mim como que contendo o riso, provavelmente em uma tentativa – inútil, mas bem-intencionada – de não me deixar constrangida. "Eu acho que você se enganou... eu não sou oculista, sou oncologista".

A palavra ficou ressoando nos meus ouvidos. "Oncologista, oncologista... caramba, o que é que eu estou fazendo aqui??????"

Para quem estiver em dúvida, oncologista é o médico especialista em câncer. E o que é pior, o cara era oncologista cirúrgico. Ou seja, o tipo do médico que só se procura quando tudo o mais já está perdido...

De repente, tudo começou a fazer sentido. O ar pesado da sala de espera, o olhar compungido da secretária, a pena do médico ao me ver entrar sozinha para a consulta. Olhei ao meu redor. Como eu não havia percebido antes? Passei os olhos pelos livros na estante: ‘Câncer na Boca’, ‘Câncer no Estômago’, ‘Câncer na Laringe"... a maca, para que diabos haveria uma maca em um consultório de um oculista??? E aquela máquina esdrúxula para exames oftalmológicos, como eu não tinha percebido que não havia uma ali??

Eu queria sumir. Queria que o chão se abrisse e me engolisse. Comecei a sentir um calor tremendo, imaginei que meu rosto devia estar um pimentão. Acho que nunca me senti tão idiota em toda a minha vida...

"Eu sei por que você se confundiu... é que a lista de oncologistas vem logo em seguida à de oculistas no livrinho do convênio...". Ele tentava justificar o injustificável.

"Vou te recomendar um oculista muito bom, um amigo, o consultório dele é aqui pertinho...". Eu já nem ouvia, só queria me levantar e sumir dali.

Ele me entregou o papel com o endereço do tal oculista. Eu peguei, agradeci, virei as costas. Tentei fazer a cara mais tranquila possível, algo assim como "enganos acontecem... que coisa mais curiosa...", mas é claro que a minha expressão denunciava o quanto eu estava me sentido a criatura mais tapada do universo.

Saí direto, sem olhar para os lados na sala de espera. Eles não sabiam, mas a minha cara de desconcerto certamente denunciaria tamanha estupidez.

Saindo do consultório, inventei de olhar para trás. Maldita hora. Só pra piorar as coisas. Uma placa enorme na porta dizia em letras garrafais: "Dr. Fulano de Tal, oncologista cirúrgico". Por que diabos eu não vi essa placa na entrada? Distraída tudo bem, mas assim já era demais...

Saindo do prédio, sentei na escadaria e fiquei lá, uma meia hora, rindo sozinha. As pessoas passavam e não entendiam nada. Mas eu entendia.

Eu tinha uma mera miopia. E isso era muito, muito bom...

Um mico by Renata

What will survive of us is love

“Ridículo” era uma das tuas palavras prediletas –como qualificativo, admoestação, crítica e premonição, era raro que uma conversa passasse sem que você a empregasse, com aquele teu estranho “r” que não tinha o ronco do RR e nem era suave como o R brando. Quando a gente via anciões de 30 anos se comportando bizarramente, você sempre me olhava e me fazia prometer que não, a gente não seria ridículo daquele jeito quando atingíssemos a vetusta idade daquela gente patética. Ou, me golpeando com o punho que ostentava um dedo médio saltado à maneira de soco inglês (aqueles socos doíam, ô), cê me encarava com severidade prussiana e ordenava “não seja ridículo, menino”.

No limiar da autonomia, a gente encarava o mundo adulto com um fascínio horrorizado –os rituais de acasalamento, a necessidade incontrolável de contar vantagem, o comportamento bizarro em cerimônias, a liberdade material e a ausência de disciplina que, estranhamente, pareciam torná-los tão mais infelizes. Porque a gente lia muito, e aqueles romances “naturalistas” todos em que um narrador explica tintim por tintim, em terceira pessoa, o que se passa nas cabeças, almas e encanamentos dos personagens, a chusma que observávamos parecia estranhamente unidimensional, rude, grotesca, meio pintura rupestre. E porque acreditávamos devotadamente nessa “vida interior” riquíssima que os livros expunham, não era exatamente como antropólogos aos selvagens que observávamos a estranha fauna –havia uma certa repulsa, de nossa parte, um fascínio meio horrorizado. Eles eram todos, para resumir como você resumia, “ridículos”.

Sabe, B., eu agora tenho a idade que eles tinham e –talvez em função da tua ausência- não consigo evitar meus momentos de ridículo. Às vezes, chafurdando nele, fico imaginando se as coisas poderiam concebivelmente ter sido diferentes, caso você tivesse sobrevivido. Mas o dirty little secret que vou te contar aqui, com atraso de quase 20 anos, é que a consciência de que estamos sendo ridículos não evita que o sejamos. A crueldade com que você e eu classificávamos todo mundo era privilégio do nosso isolamento: da janela do apartamento, quase todo mundo parece gordo na piscina. Lá embaixo, baby, você descobre que é um dos caras que ficam segurando a barriga.

Do alto de sua prussiana empáfia, é bem provável que você nem lembre da Dri, aquela namorada magricela que demonstrava amor por mim com cartões desenhados a mão contendo promessas tocantes e ortograficamente pobremáticas de fidelidade e paixão (ou, como escreveria a Dri, “paichão”). Well, ela te odiava, anyway. Dizia que era fácil achar todo mundo ridículo, sendo loira, gostosa e rica. Eu sempre descartei as críticas dela classificando-as sob a rubrica “ciúme”. But she had a point there, didn’t she? Porque em meio à tua profusão de paqueras, namorados, enroscos e casos eu era a constante da tua vida, vai ver que eu me achava loiro, rico e gostoso honorário, nem sei. Fact is, I wasn’t.

Quando saí de casa para uma cintilante carreira de garçom/aspiring musician/bad college undergrad, combinamos aquelas coisas patéticas que os jovens costumam, entre as quais reencontros a cada cinco anos –e porque você seria a melhor arquiteta do mundo e eu um astro-pop-sem-ser-mongo, aproveitamos logo pra marcar esses encontros em Firenze. Sonhar baixo, afinal, é coisa de ridículo. Não sei se acidente de automóvel aos 18 anos mereceria tua palavra predileta, baby, mas meu mundo ficou muito mais pobre e muito mais ridículo sem você. Quando vou a Firenze e passeio pelo Boboli, meus olhos se enchem de lágrimas e meu coração transborda de lembranças tuas. As meninas de 13 anos maquiadas como se fossem piranhas e acendendo um cigarro no outro que ficam na porta da escola ali perto talvez me vejam passar com os olhos vermelhos e comentem “ih, olha que turista ridículo”. Você, no prussiano céu de arquitetura impecável que inevitavelmente deve ter projetado e executado nesses 18 anos de ausência, decerto ouve e rola de rir.

Filthy McNasty

11.4.05

Sobre Blogs:

Há cerca de um ano ouço a mesma coisa: essa coisa da Blog acabou. Dizem que ninguém mais se interessa por isso, que a onda acabou, que não existem mais grupos, festas, que a coisa de linkar, comentar, visitar, fazer festa, tudo isso acabou. Eu, enquanto amante dessa coisa chamada "Blog" resolvi dar o meu grito de luta e defender essa ferramenta tão mal compreendida e tão mal utilizada. O intuíto não é provar que o "Movimento Blog não morreu", mas sim que, a fase inicial se foi, e com ela, o mal uso da ferramenta e toda a ilusão que esta incompreensão carrega. Hoje, os blogs são o que realmente devem ser, ferramentas de publicação individual, e não sites de relacionamento e/o promoção pessoal.

Blogout

Dia de domingo

Porque minha mãe sempre cozinha no domingo tomando uma cervejinha. Aí a comida só fica pronta lá pras 4h da tarde, a gente já roxinho de fome. É estratégia, almoço-janta de uma vez só. E eu, que cismam dizer não saber cozinhar, fico lá só cortando cebola e azeitona e tomate e mais cebola e agora cebolinha e salsinha e mais um pouco de cebola (pra quê tanta cebola, meus olhos chorosos perguntam) e passa o sal com alho também, corta mais tomate agora quadradinho, igual a cenoura, abre as latas de milho e ervilha. Pra no final a gente sair satisfeito, tirar um cochilo e só acordar na hora que a boca pede uma coca-cola e já tá passando o Fantástico na globo.

Domingo é sempre igual até no Sanatorium

Eu acabei de andar do início da Rua Clélia (Lapa) até o final da Rua Monte Alegre (Perdizes) embaixo desse sol foda que tá hoje, simplesmente porque o trânsito parou literalmente, a ponto do motorista do ônibus descer e ficar trocando idéia com o pessoal do comércio. Eu tava tão zureta de cansaço que eu quase fui atropelada na Av. Sumaré, porque eu comecei a pirar no povo que tava ali fazendo cooper de short, e eu dentro de uma calça jeans escura fazendo o mesmo trajeto... e nem prestei atenção que eu tava no meio da Avenida.
Eu saí de casa 7:30. São quase 10:30.
DÁ PRA IMAGINAR O TAMANHO DO ÓDIO QUE EU TÔ DESSA CIDADE?
Meu. Eu tô tão emputecida que eu não consigo nem falar palavrão.
A vantagem é que posso ficar sem exercícios para o resto da minha vida, porque não é a primeira vez que eu faço isso.
Agora dá licença que eu vou fumar um cigarro sentada na frente do computador por cerca de 8 horas, porque isso é que é vida, caminhar séculos embaixo do sol, de calça jeans, respirando o ar puro do trânsito de São Paulo, e chegar no trabalho parecendo que nem tomou banho, e ainda passar o dia sem levantar da cadeira olhando pra uma telinha.
Uhu, mas que beleza. Game Over. Don't feed me, please. Tirem a minha sonda agora.

qum se importa?

Minhas acepções sobre São Paulo

São Paulo, ou Paulo de Tarso, que antes se chamava Saulo, foi um homem que matava cristãos, mas se arrependeu quando Cristo apareceu para ele e o cegou. Depois que foi batizado por um discípulo de Jesus chamado Ananias, um dos nomes mais engraçados da Bíblia, voltou a enxergar e passou a espalhar a palavra do Senhor por todo o Império Romano, transformando o cristianismo na maior religião da época. Mas não é desse São Paulo que quero falar, ele não é importante.

São Paulo (a cidade que morei durante toda minha vida desde ontem e segunda maior cidade do Brasil, atrás apenas de Dois Córregos, maior cidade do universo e onde eu vivia até anteontem) é uma cidade barulhenta. Mal pude dormir essa noite. Som de carros, motos, caminhões, sirenes, gente sendo baleada (ah, como gente sendo baleada é barulhenta!) e jazz. Sim, jazz. O cara do quarto ao lado passou a noite ouvindo jazz. Eu teria pedido para ele abaixar o volume do rádio, mas não pude fazê-lo. Eu teria virado para o lado e dormido, ignorando a música, mas também não pude fazê-lo. Adoro jazz.
Em São Paulo, tudo é longe. A USP (onde estudo a partir de amanhã) é longe - apesar eu de poder ver a Cidade Universitária da minha janela -, o parque do Ibirapuera é longe, o estádio do Morumbi é longe, o shopping (qualquer um deles) é longe, a esquina é longe, o andar térreo é longe. Aliás, o andar térreo é muito longe, 15 andares abaixo. Moro no décimo-quinto andar. Duvido que alguém viva num lugar tão alto, excetuando-se os moradores do décimo-sexto andar. O ar é rarefeito aqui. Aviões passam logo abaixo minha janela. Esticando os braços pela janela, posso tocar satélites, foguetes, estações espaciais e até a Lua. A Lua, amiguinhos! Se o monte Everest fosse aqui ao lado, eu poderia vê-lo de cima.
E, por fim, São Paulo está cheio de ladrões. No meu primeiro dia aqui, já me roubaram 16 reais. Foi uma caixa do Cinemark. 16 reais pra assistir a um filme ruim. Um roubo, um roubo!

¡Ay, Caramba!

Dizem que burrice mata

Eu só acho que podia ser mais rápido.

CALABOCA que eu tô falando!

10.4.05

Eulálio Catamiro

Desligou o telefone. Era mais uma daquelas ligações pedindo para usar o nome de seu marido, falecido, em algum tipo de obra pública, lançamento artístico, algo assim.
Ela se lembra de todas.
- Queríamos usar o nome do Eulálio para batizar uma ponte, você se opõe? – indagou um Prefeito.
- Mas é claro que me oponho! – ela respondeu – Já imaginou quanta gente vai se matar pulando daquela ponte? E os acidentes de carro? Não, não... Nada de nome de ponte, o senhor me desculpe.
- Sim, tudo bem, a intenção era boa...
Sempre havia alguma justificativa que deixava o interlocutor praticamente sem resposta. Ou, quando tentava argumentar, recebia a apelação final.
- A obra do novo aeroporto está quase concluída. Aproveitaremos para renomeá-lo, vai se chamar “Aeroporto Internacional Eulálio Catamiro”. Queremos muito sua presença na inauguração – determinou o Governador
- Desculpa, senhor Governador. Sou sua eleitora, mas nem por isso devo concordar com esse batismo. Não quero o nome de meu marido associado a uma obra assim, você há de entender – respondeu.
- Ah, me perdoe, mas não entendo! É uma obra linda, o orgulho do Estado, e com o nome do seu marido! Veja que coisa boa!
- Não vejo por aí. Imagino os acidentes, imagino o pessoal perdendo vôo, ou então atrasado, reclamando “do trânsito absurdo até o Eulálio”. Não quero que alguém enfrente um trânsito absurdo para chegar atrasado ao nome do meu marido.
- Mas e quem vier em visita? E quem tiver contato com esta nossa Terra usando o Eulálio como intermediário? E os nossos conterrâneos que finalmente conhecerão o exterior, também por meio do Eulálio?
- Não, Governador. Não autorizo. Eu sou a esposa, e não quero o nome do meu marido associado a isso. Não há herdeiros, não há ninguém mais vivo que seja familiar de Eulálio Catamiro. Espero que respeite esse meu desejo.
- Tudo bem, tudo bem. Mas saiba que, no futuro, ninguém mais se lembrará dele. Agora, todos estão ainda comovidos, e é a hora certa de batizar. Depois, minha cara, algum outro aí acaba morrendo, e ninguém mais se lembra de Eulálio! Passar bem! – ele desligou o telefone, crente de ter magoado suficientemente a audaciosa cidadã que ousou recusar tal oferta.
Mas a viúva não estava exatamente chorando. Um leve sorriso podia ser notado em seu rosto. Assim como sorri agora, enquanto se lembra de cada recusa.
Não concedeu entrevista alguma, não liberou fotografias, não aceitou que o nome de seu marido fosse usado para qualquer coisa. Seu advogado já tinha um modelo de ação judicial, mas isso só foi preciso em dois casos, fora do Estado.
O único jornalista que se pôs a tratar do tema, curiosamente a elogiou, convidando todas as viúvas, viúvos e órfãos a fazer o mesmo, ou seja, não explorar a posteridade do ente querido, por mais que fosse uma “pessoa pública finada”.
Ela já se referiu a Eulálio como “pessoa pública finada”. Roubou a expressão do jornalista. Só não respondeu ao artigo, agradecendo, porque não quer mexer ainda mais no assunto.
Sabe bem que o Governador tem razão. Com o tempo, o povo esquece, e ninguém mais vai querer batizar qualquer coisa de “Eulálio Catamiro”.
Como sempre, a grande lembrança que lhe vem é a do velório. Lembra-se perfeitamente daquela mulher, no fundo da sala, aquela que não falou com ninguém. Entrou e saiu, fez lá um sinalzinho da cruz, mas foi o bastante.
A mesma mulher com quem flagrara o marido havia vinte e cinco anos. A mesma mulher com quem o marido disse que não teria nada de mais. A mesma mulher que teria se mudado para a África, ou teria morrido de catapora, ou passado por algo assim.
A mesma mulher que aquele filho da puta jamais deixou de ver ou de amar. E que jamais deixou de amá-lo também.
De tanta raiva pela lembrança, jurou – e vem cumprindo o juramento – que todos se esquecerão de Eulálio Catamiro.

bico de pena

- Você, por acaso, viu "O Jogador", do Dostoiévski?
- Sei nem que time é este.

silenzio, no hay banda

Bizarrices da Família

Meu irmão ligou pra minha mãe do Níger (onde está fazendo pesquisa de campo para seu doutorado em Louvain-la-Neuve) para pedir que ela reze por ele porque vai atravessar hoje um rio cheio de hipopótamos.

dadarquia

O dia em que a terra parou

Essa manhã, Roma amanheceu em silencio. Mais de 600 mil pessoas se amontoavam ao redor da Piazza San Pietro para o maior funeral que a Europa já viu, a do Papa João Paulo II. Mais de 200 líderes mundiais estavam presentes. Ao redor do mundo dezenas de milhões de pessoas acompanhavam emocionadas, ao vivo, o funeral do que já está sendo considerado o maior papa da era moderna cristã. Por duas horas, o mundo parou.

Enquanto isso, eu dormia tranqüilo, e tinha sonhos eróticos.

cacofonia

9.4.05

O Rio de Janeiro está uma loucura

Ir ao Rio nunca é uma empreitada tranqüila. As ruas do centro da cidade explodem gente pelos bueiros. O calor derrete o cérebro, forma uma bolha em volta do corpo e você pinga e pinga no meio-fio junto com os aparelhos de ar-condicionado. Ok, a imagem é vagabunda, meu cérebro ainda está pastoso, mas a sensação é essa. Daí, a gente foge do bafo quente direto pra dentro de um táxi geladinho e o motorista, muito solícito, nos presenteia com relatos escabrosos de seu cotidiano no ofício. Você já está com medo porque não mora no Rio, porque fugiu do Rio, porque sabe o que aconteceu com você lá e o que ainda acontece e blablablá, e o motorista lhe conta por exemplo em detalhes como foi quase degolado e baleado por uma dimenor estudante branca e uniformizada que queria roubar-lhe a féria do dia e o carro, o que ela conseguiu. E que o delegado conhecia a mencionada assaltante mirim mas não podia fazer nada porque ela era dimenor etc. e tal. Que uma loura com pinta de executiva, sua cliente habitual nas corridas, era assaltante de políticos ricos e famosos. Que uma carreta acabou de passar por cima de um ônibus que vinha na contramão matando não sei quantos porque você não se lembra. Daí você paga o táxi, sai do geladinho e entra na bolha quente de novo porque marcou com seu amigo na porta do restaurante geladinho que NÃO PERMITE QUE VOCÊ FUME. Você entra porque já se cansou e fica sem fumar. E você e seu amigo ficam putos porque ambos fumam. Mas a saudade é maior e vocês esquecem, começam a conversar e pedem salada pro garçom porque o corpo está quente e vocês não agüentariam comer nada quente. Então o amigo quer saber de você, quer saber da nova cidade em que você mora porque você abandonou o Rio e ele quer saber como você está se virando e se sentindo. Hum-hum, tá legal, você conta. Depois pede pra ele falar do Rio. Ele conta uma fofoca política quente, nem bem uma fofoca mas um rumor à boca pequena dos cariocas, que eu não posso contar aqui e isso é uma merda, mas os cariocas falam de alguém que possivelmente está com câncer e eu abro a boca ããã e fecho. O amigo conta outras coisas mais, de lavagem de dinheiro de uma famosa empresa digamos que do entretenimento e você ããã porque não sabia, mas os cariocas sabem. Os cariocas que vivem lá sabem. Você toma um chope, pede outro, ninguém fuma e um grupo de bailarinos entra no restaurante. Não para bailar. Os bailarinos comem pizza. Você olha pra eles porque há muito tempo não vê bailarinos ao vivo. O amigo conversa, você ouve. Você conversa, o amigo ouve. O Rio é o Bronx, a Broad Street. Mas você não se droga mais. Nem fuma um cigarro. Na saída do restaurante, sob um céu estrelado e quente, vocês fumam enfim e se despedem. Um avião passa bem acima da sua cabeça direto pro Santos Dumont. Você sente vontade de chorar. Estou morrendo de saudade. Você canta. Mas saudades não pagam dívidas. Você entra na bolha fria de outro táxi. Para um pouco mais de mim, tecle zero.

Prosa Caotica

5.4.05

NEWS

Daria pra enterrar logo esse papa e mudar de assunto? Já encheu o saco.

catarro verde

4.4.05

WON'T YOU TAKE ME TO FUNKYTOWN

Antes de ir para Far Far Away, conversas telefônicas da família Cafeína:

- Pronto!
- Oi, pai, sou eu! Estás melhor da gripe?
- Bah, guri, esta gripe me derrubou!
- Tomaste remédio, pai?
- Não, foram só 20 dias. (!!!)
- Mas já estás melhor?
- Ah, agora eu tô bem.
- Que bom. A mãe tá por aí?
- TÔ NA LINHA!!!!

(Na casa dos Cafeína, eles adoram ouvir conversas telefônicas alheias)

- Tchau pai!
- Tchau, meu filho. Beijo pra ti!

- Oi, mãe! Estavas na linha ouvindo? Que feio!
- Ué, eu tenho que ver se não é pra mim, oras!
- Ah...
- Espera um pouco, meu filho. PAI, SAI DA LINHA!
- CLIC!
- Pronto, podes falar. Teu pai fica escutando a conversa dos outros...


cafeína