28.11.03

Maldita tecnologia

Ontem eu só trabalhei até às 14hs, pedi pra ser liberada para resolver um problema pessoal. Nada demais, fui ao banco sacar dinheiro, como pedi outro cartão e ainda não chegou, tive que ir até a minha agência, que fica no pátio da UFBA, na Ondina, (a cinco minutos da praia). Saí do banco e fui o ponto do ônibus (que fica a 20 passos da praia) vi aquele marzão na minha frente, a maré tava cheia, as ondas batendo nas pedras, um espetáculo. Não sei porque, mas senti uma culpa tão grande. Moro em Salvador, num bairro relativamente próximo da praia (vinte minutos), é verão (não existe primavera nem inverno na Bahia) e, já faz mais de um mês que fui à praia. Toda semana eu digo, nesse fim de semana eu vou, mas aí eu acordo tarde ou fico com preguiça ou não encontro uma companhia, sempre tem uma desculpa. Mas hoje dei a louca, desci até a praia, tirei as tamancas e comecei a andar na areia, foram longos dez minutos, molhei os pés no mar, curti um pouquinho o sol frio do fim de tarde. Senti uma pontinha de inveja das pessoas que ali estavam, todas curtindo seu banho de mar, seu jogo de bola, sua cervejinha na barraca... Sonhei um pouquinho, lembrei de verões passados, fiz planos para verões futuros... E, de repente, me lembrei que tinha que passar na lotérica pra pagar a conta do meu celular que alias, já estava atrasada. Foi-se embora toda a poesia de um fim de tarde que poderia ter sido mais agradável se eu não tivesse a porra do celular.

Eu tô que tô

Na segunda-feira uma professora de educação física, de uma escola que não tem quadra de esportes, levou seus alunos para uma aula em um parque público no Rio. Lá, ela teve um desentendimento com uma técnica judiciária que estava acompanhada de seu bull terrier, raça considerada agressiva. Resultado: a dona do cão chamou seu noivo, policial, e este, acompanhado de mais dois bravos agentes da lei, levou a professora à força para a 14ªDP, onde foi autuada por desacato à autoridade, lesão corporal e resistência à prisão. Faltou o registro de um crime ainda mais grave: levar para a rua um bando de alunos de 8ª série sem focinheiras. Por sorte nada de mais grave aconteceu: apesar do susto e do trauma, o bull terrier passa bem.

Letra Morta

O perfume

Todo mundo tem uma música ou comida preferida. Mas e cheiro favorito, você tem? Outro senti o meu. Acho que era no supermercado. De repente, esse aroma chegou às minhas narinas. Algo que não sentia há, sei lá, uns 10 anos. Ou mais. Algo que me trouxe tantas memórias: xampu L’Oreal de pêssego.

Você deve saber qual é. Década de 80? Vinha numa embalagem laranja e redonda? Tinha também de maçã e outras versões das quais não me lembro. Mas o de pêssego… hmmmm, esse era o bom. Acho que não existe mais ou então a embalagem mudou tanto que nunca mais notei. Mas o fato é que senti esse cheiro.

Imediatamente, veio-me à memória as festas-bailinhos, onde dançávamos música lenta a noite inteira. A cada música tirava uma menina diferente para dançar, mas sabia que tinha achado a parceira definitiva quando sentia aquele perfume. E dizia para ela: “L’Oreal. Pêssego”, recebendo um sorriso de retribuição pelo comentário. Depois disso, dançávamos várias vezes mais, especialmente Stairway to Heaven, que era a mais longa da noite.

É claro que ficava tudo só na dança. Talvez na próxima festa você a pediria em namoro (ninguém “ficava” naquele tempo), se ela tive usado o mesmo xampu, claro.

Chez Nigro's - Movimento pela Insanidade Coletiva

48 horas

Há seis anos eu fiz uma promessa a mim mesma: aos trinta anos e um segundo eu desistiria definitivamente da idéia de ter filhos. Prometi que não pensaria mais sobre o assunto, não sentiria mais medo de me arrepender no futuro e não procuraria novas justificativas para a minha opção de não pôr mais uma pessoa no mundo.
Se tivesse me convencido antes, tudo bem; mas, depois dos trinta, eu relaxaria dos meus questionamentos sobre a maternidade e viveria em paz e sem filhos.
O foda é que agora só faltam quarenta e oito horas... Eu detesto viver sob pressão!

Amarula com Sucrilhos

E se eu te disser me inaugura, me inicia, me estréia nova e viva, me desvirgina pra vida, me traz de volta à tona, tu me trarias? Se eu te pedisse para me fazer tua, para seres meu, se eu te implorasse a minha entrega inexorável a bem de ti mesmo, tu te sentirias à altura dos meus cimos, dos meus cumes, te arriscarias entre os meus despenhadeiros, nas corredeiras dos meus rios, nas profundezas dos meus oceanos? Tu serias grande o suficiente para me acolher nos braços, fazer de mim tua fêmea, cobrir os meus cios, matar minha fome, me fazer bastar? Sim, há o que temer. Mas há o que gozar, o que parir, o que andar, o que sonhar, o que sofrer, o que amar, o que viver. Se eu te pedisse permissão para te amar, tu me darias?

Não Discuto

27.11.03

Cenas da vida conjugal

- Então? A última prova como foi?
- Lindo...
- E explicaste-lhe que a cor é uma convenção e que rosa não significa rosa etc.?
- Sim, falei-lhe de Wittgenstein.
- E ele?
- Contou-me tudo sobre as tuas ex-namoradas.

Bombas Inteligentes d'além mar

Confissões de uma mente perigosa

Aventuras da volta.
Umas oito e meia da manhã um mau espírito encarnado em uma bonita moça de vestido cor de rosa ainda tacava Black Tower pela minha goela abaixo.
Até que resolvemos ir embora (estamos véias e não agüentamos mais ficar até o fim da balada). Pegamos uma carona que me deixou em casa primeiro.
Cheguei na porta, trancada. Oh-oh, a anfitriã disse que deixaria aberta... não deve estar aqui ainda. Toco, toco, toco a campainha e nada.
Vou na vizinha. O carro dela está lá. Deve estar em casa. Toco a campainha, bato na janela, nada.
Porteiro. Interfone. Nada, nas duas.
Idéia ótema: vou na casa da sereia cor de rosa pedir abrigo, são três quadras, domingo nove da manhã é comum gente andando de roupa de festa no meio da rua...
Campainha: muda. Não tem porteiro. Toco no vizinho. Faz barulho. Ou seja, a dela está quebrada mesmo. Pensamento maligno: Mas ela deve estar acordada ainda, acabamos de chegar... fácil... pulo a grade e toco a campainha do apartamento direto.
Cerca elétrica? Não... nada é empecilho para mim... é só não encostar na cerca...
Começo a operação. Imagina quem passou por ali e viu a cena. Descubro que é só chegar perto da cerca que ela dá choque. Não precisa encostar. Volto para a calçada e fico rindo sozinha.
Missão abortada. Subo no salto de novo e volto para a casa da anfitriã original. No caminho mais um tombinho básico para a coleção. O salto altíssimo e finíssimo mostra-se incompatibilíssimo com a calçada esburacadíssima. Mais uma futura cicatriz no joelho, mas tudo bem. Em cima do salto, sempre.
Quando chego, anfitriã já está lá, a minha espera. Não vou precisar deitar na porta dela e dormir como uma sem teto, como tinha planejado.
Tiro as lentes, o vestido e durmo com os anjinhos.
Como a lady que sou.

Patifaria Total

Mas aí Seu Bacha, meu paquerinha, aquele que me pediu em casamento, alguém lembra?

O homem que me pediu em casamento na vida e tava realmente falando sério.

Tá certo, ele propôs do alto de toda sua demência senil, mas tava falando sério, oras. Eu acho que conta.

Morreu, o bichinho, aos 102.

:~

(anos, é)

mon coeur vomit

Mulher nem fala bobagem pelo icq (Quem será que estava conversando?)

- Aquele rapaz eu acho simpatico, você nao achou? Veja, se gostar passo o currículo
- Ah não, meio com carinha de nerd, gosto de cara com cara de safado.A gente tinha que morar mais perto. Íamos ser a dupla dinâmica
- Sei, as encalhadas por opção.
- Opção dos homens né?
- Acho que vou fundar a associação das protetoras dos vibradores domesticos.Por uma sociedade melhor e menos neurótica.
- Então temos que aperfeiçoar esse trrem aí. São muito barulhentos. Quem tem gato e cachorro em casa não consegue usar em paz. junta a maior platéia animal pra ver o que está acontecendo
- Me fale do vibrador é legal? Eu prefiro umas coisas mais selvagens como cenoura..mandioca
- Olha pra falar bem a verdade não tem graça nenhuma... automatizar operações manuais nem sempre é um bom negócio.O artesanal ainda é mais interessante
- ahahahaha..artesanal pra mim é pilão, socador de caipirinha, martelo de carne.
- Nossa, martelo de carne??
- Ultra chique.
- Uma vez eu vi um filme que a mulher ia à feira pra escolher os brinquedinhos frescos: cenouras, pepinos... e o marido escolhia mamão, melancia.
- Desses filmes eu ví um com sorvete sorvete de palitinho.
- Nossa, imagina a friagem que pega?
- Ja que estamos falando de coisas assim, uma vez saí com um cara que queria um estimulo a mais,coloquei um halls preto na bunda dele.
- Meu, que absurdo!!! E o cara se estimulou depois disso?
- Disse que foi uma sensação diferente.
- Halls, sempre uma nova sensação....
- A Ardência refrescante..
- Eu fiquei de rolo com um cara que guardava uma caixinha de KY no negocinho da luz do carro sabe, no teto, que acendo quando abre a porta? Ele tirava a tampinha e a caixinha ficava encaixada lá.
- Ui, será que era pra ele?
- Olha, não sei, mas que foi engraçado foi, quando eu vi chorava de rir, se a intenção dele era usar em mim acabou na hora em que eu vi o esconderijo do negócio.
- Notou se o câmbio do carro não estava todo melado?
- hahahahahahaha.

Casos e Acasos Virtuais

História real de um marido bêbado

O casal subiu a serra para um almoço festivo em Itaipava. Foram, se divertiram, e beberam. O cara passou da medida, e quem teve que voltar dirigindo foi a mulher. Ele dormia no banco do carona.

Lá pelas tantas, numa curva mais acentuada, ele acordou, naquele estado que mistura sono com embriaguez. Deu um tapinha amistoso na perna da mulher e perguntou:

- E aí, o que achou das mulheres da festa?

Era óbvio que ele pensava estar conversando com um amigo. É óbvio que ela brigou com ele o resto da viagem para o Rio.

Elas por Elas

Procurar idéias em filmes ou romances é uma forma de filistinismo. A mais civilizada forma de filistinismo; mas, mesmo assim, filistinismo.

Além disso procurar idéias em filmes ou romances me parece grosseiro, como alguém que procurasse moedinhas no bolso de uma mulher enquanto dançasse com ela. Se concentra na dança, old liege.

Alexandre Soares Silva

26.11.03

Essa noite eu tive um sonho, onde eu era uma assassina. Foi um verdadeiro serial killer. Só que eu matava as pessoas de uma forma estranha. E acordei extremamente de bom humor.
Sabe quando você faz aquela cara de que quer abrir sua boca o máximo que der e abre a boca com as mãos? Não sei explicar. Deve dar pra entender. Eu matava as pessoas assim. Sonhei que minha casa estava sendo invadida por pessoas estranhas e que só eu e meu irmão mais velho (Ro), que nem mora comigo, estávamos em casa. E tínhamos que matar essas pessoas. E eu era ninja no ato. Depois que terminamos, começamos a limpar a casa pra minha mãe não descobrir que tínhamos matado essas pessoas. Ela não podia ver o sangue. Só que de repente surgiram quatro pessoas em minha volta, tentando me matar (da mesma maneira que matei os outros), e então eu me rendi. Meu irmão não me ajudou. Eu gritava e ele parecia não me ouvir. Deixei eles me matarem. Sonho doido. Nunca lembro deles (dos sonhos), e quando lembro é isso? PÁRA TUDO.

Achei duas explicações pro tal sonho:
1- Devo estar escondendo alguma coisa da minha mãe. Realmente estou. Mas é bobeira, que nem tinha o porque de esconder sabe.
2- Meu irmão é um bosta que não me ajuda nas horas em que preciso. Essa tá mais que provado.

afofa. porque eu afofo, tu afofas, ele afofa.

Todo mundo que faz regressão a vidas passadas descobre que foi uma vez um grande faraó no Egito. Esperando ter uma boa notícia dessas e reclamar as pirâmides como herança, fui fazer a tal da regressão.

Que faraó que nada. Descobri que tinha sido ajudante de motorista de van no Egito antigo. Nem ao menos motorista - eu era o ajudante mesmo. O motorista ia dirigindo a van loucamente e eu ia gritando na janela:

- Nilo-Queops! Nilo-Queops, vai aí dona?

Apesar disso, a regressão ia até relativamente quando o motorista atravessou um sinal vermelho e bateu com o carro em um enorme bloco de pedra que estava sendo transportado para se contruir uma esfinge em homenagem ao novo corte de cabelo do faraó.

Isso explicou o meu problema com autoridades e o com grandes blocos de pedra sendo transportados pela rua.

vida ou - (parte II)

Jubrinanca VII

O povo pediu (pelo menos foi o que a Norma Lúcia me disse), então eu resolvi atender: olha a Jubrinanca aí, gente! Mais uma história com amor, aventura, paixão, erotismo e tudo aquilo que as mulheres gostam, sem ter que ficar catando moedas no fundo da bolsa. A história de hoje chama-se Loucuras no divã.

"Que não estava muito boa da cabeça, Laura Jeauperoux já sabia. Mas nunca imaginou que um dia estaria aos beijos e abraços com o Dr. Pierre Vessaneau, uma das maiores autoridades em psiquiatria em toda a França. Não que ela não estivesse gostando da idéia: apesar da postura serena Pierre Vessaneau era um verdadeiro furacão, com mãos ávidas que exploravam minuciosamente a alva carne de Laura. E os beijos? Ah, os beijos... a língua do psiquiatra passeava pela boca de Laura, fazendo com que ela esquecesse de tudo, inclusive que estava no consultório do Dr. Vessaneau.

- Doutor, acho melhor pararmos agora - gemeu a moça.
- E interromper este magnífico progresso? - retrucou o psiquiatra.
- Mas o que os outros pacientes vão pensar de nós? - perguntou Laura.
- Ah, depois eu aumento a dose de Gadernal deles - sussurrou o terapeuta.

Os lábios de Pierre imprensavam os de Laura. Enlaçando o corpo do Dr. Vessaneau entre suas pernas bem torneadas, a moça arranhava as coisas do psiquiatra, dizendo coisas sem sentido.

- Você está gozando ou é outra crise? - indagou o médico.
- Cala a boca e me Freud - urrou a Laura, beijando os lábios carnudos de Pierre".

Alea Jacta Est

24.11.03

Revisão

Revisão é bem legal, só fica na aula quem está afim. Tem gente que fica a manhã inteira tomando sol no pátio, o que me lembra muito os presidiários querendo um lugar ao sol. Eu ficaria dormindo em casa, como faço nas primeiras aulas, eu durmo uma horinha a mais, na MINHA cama.
O interessante é o número reduzido de alunos presentes (contando com os presidiários). Hoje teve uma dobradinha de matemática. Na primeira aula, tinham muitos moleques, e três meninas. No pequeno intervalo entre a troca de aula, as duas meninas resolveram sair da aula. E então eu era a única menina na sala de um monte homens, digo, de moleques. Me senti a verdade aluna de engenharia! Tenho porte estético pra isso.
Um colega meu ainda teve a ousadia de falar: É, nessa sala só tem homem". Falou isso sorrindo. Acredito que não seja por tirar sarro da minha cara, mas sim pela felicidade que estava contida naquele rapaz, por sermos as únicas mocinhas da sala.

Revise o Sanatório

O Diabo é Verde e Chama-se Verdin

genteim... é o capeta!
c fraga?
na verdade, verdin é um buteco... em frente à minha faculdade...
eu e as patys da minha sala reunimo-nos lá todos os dias praticamente pra fofocar, beber... paquerar...

SIM GENTEIM!
to butequeirístiquissíma!

mas é um motivo ótimo.. tem bofes bons... meninas patricinhas.. e lá tem um capeta...
toda vez que uma menina vai lá, ela sai comida e dada... beijada na boca.. tudo

recomendo..

outro dia mesmo estava eu lá quando senta atrás de mim um BOFE LOIRO LINDO TESUDO PERFEITO GATO POSSESSO... que só nao me comeu pq eu tinha afazeres comprísticos..

mas ainda vai vingar as senhoras verão

eu volto aqui pra contar zuzu..
agora nao rola pois meu whisky nao vai deixar
muito menos o sono..
e a rua...

c fraga?

quem nao fraga nao é fragosa
quem nao compra nao é paty
quem nao é paty merece morrer
vc fragou?

bjos na sua perereca se ela for depiladinha que nem a minha!

Irmandade Absolutely Friends Forever

23.11.03

Quinta-feira eu vi Chapeuzinho Vermelho fumando. Vi Minnie fumando também.
Vi uma freira bebendo cerveja e descobri que era na verdade um homem.
Vi Visconde de Sabugosa beijando Emília. Vi outra freira que pensava ser uma colegial.
Vi uma das patas da centopéia fumando. Vi uma joaninha namorando com um vagalume.
Vi uma dançarina do ventre se esbaldando com pasta de dente.
Vi um monge paquerando um neném. Vi um homem bomba que não largava uma poodle.
Bah..
E só eu estava sem fantasia naquela festa..

bolha de sabão

*** Se o Brasil não se classificar para essa Copa, ou para outra qualquer, eu vou ter um discreto prazer com isso. Quem sabe assim as pessoas não percebem que não é coincidência as eleições presidenciais serem sempre no ano da Copa, ou que 99,5% dos ídolos dos campos são subletrados que não passariam numa prova pra gari.

Quem não gostou, paciência.

minha vida dava um blog

Quando eu acordo de manhã, (leia aqui um horário muito próximo da hora do almoço), minha cabeça parece um rádio muito mal sintonizado, porque qualquer música que tocar, eu vou ficar com ela na cabeça o dia inteiro e se eu não ouvir nada, nem um jingle estúpido por milagre divino, vou ficar cantarolando todas as músicas que já ouvi na vida até que em algum momento os neurônios se reunem e escolhem a música do dia. A uns meses atrás passei semanas com "Galinha Magricela" na cabeça.

dormi de rímel acordei de sombra

Há algum tempo uma mulher me ligou de um jornal de São Paulo perguntando se eu gostaria de receber por 1 mes o jornal gratuito, eu disse que sim.O problema é que depois de 1 mes tem toda aquela sacanagem de que se você não cancelar, a assinatura se confirma e você se torna "voluntariamente" um assinante"

Eu como sou uma lerda nata, não liguei , esqueci, a coisa se renovou, começaram chegar os boletos, não paguei nenhum porque eu não queria mais o jornal.
Liguei lá e a dona me disse que pra cancelar a assinatura eu teria que pagar os boletos em aberto.Lógico que eu disse que não ia pagar e ela disse então que a solução era a seguinte: Renovava a assinatura, cancelava os boletos passados e depois eu poderia encerrar a assinatura.
Eu concordei porque não queria pagar nada com juros só que de novo não paguei o jornal achando que com 1 mes de atraso a coisa parava de vir e tudo se encerraria.
Novamente liguei pra cancelar depois de um mês e a mocinha me disse que pra cancelar só depois de 3 meses da assinatura feita, eu disse que não pagaria e ela propôs então que poderia me dar mais 1 mes de jornal gratuito, cancelava o débito passado e renovaria a assinatura.Preciso dizer o que aconteceu depois de 1 mês?
Pois então, é assim que há 6 anos eu recebo o Estado sem nunca ter pago nada.
Hoje a mocinha ligou pra perguntar se eu quero cancelar o débito anterior e renovar a assinatura, eu disse que não, que me rendo e pago os dois meses, pois não quero dever nada pro jornal.
Eu não sou cara de pau, eles que são burros de não negociarem comigo o cancelamento. 6 anos de jornal pra receber 2 meses? Isso porque eu desisti senão levaria essa negociação por mais uns 5 anos.

casos e acasos virtuais

Querido Diário

Hoje começo a fazer dieta. Preciso perder 8 kg. O médico aconselhou a fazer um diário, onde devo colocar minha alimentação e falar sobre o meu estado de espírito. Sinto-me de volta a adolescência, mas estou muito empolgada com tudo. Por mais que dieta seja dolorosa, quando conseguir entrar naquele vestidinho preto maravilhoso, vai ser tudo de bom.

Primeiro dia de dieta. Um queijo branco. Um copo de diet shake. Meu humor está maravilhoso. Me sinto mais leve. Uma leve dor de cabeça talvez.

Segundo dia de dieta. Uma saladinha básica. Algumas torradas e um copo de iogurte. Ainda me sinto maravilhosa. A cabeça doi um pouquinho mais forte, mas nada que uma aspirina não resolva.

Terceiro dia de dieta. Acordei no meio da madrugada com um barulho esquisito. Achei que fosse ladrão. Mas, depois de um tempo percebi que era o meu próprio estômago. Roncando de dar medo. Tomei um litro de chá. Fiquei mijando o resto da noite.
Anotação: Nunca mais tomo chá de camomila.

Quarto dia de dieta. Estou começando a odiar salada. Me sinto uma vaca mascando capim. Estou meio irritada. Mas acho que é o tempo. Minha cabeça parece um tambor. J. comeu uma torta alemã hoje no almoço. Mas eu resisti.
Anotação: Odeio J.

Quinta dia de dieta. Juro por Deus que se ver mais um pedaço de queijo branco na minha frente, eu vomito! No almoço, a salada parecia rir da minha cara. Gritei com o boy hoje! E com a J. Preciso me acalmar e voltar a me concentrar. Comprei uma revista com a Gisele na capa. Minha meta. Não posso perder o foco.

Sexto dia de dieta. Estou um caco. Não dormi nada essa noite. E o pouco que consegui sonhei com um pudim de leite. Acho que mataria hoje por um pedaço de brigadeiro...

Sétimo dia de dieta. Fui ao médico. Emagreci 250 gramas. Tá de sacanagem! A semana toda comendo mato. Só faltando mugir e perdi 250 gramas! Ele explicou que isso é normal. Mulher demora mais emagrecer, ainda mais na minha idade. O FDP me chamou de gorda e velha!
Anotação: Procurar outro médico.

Oitavo dia de dieta. Fui acordada hoje por um frango assado. Juro! Ele estava na beirada da cama, dançando can-can.
Anotação: O pessoal do escritório ficou me olhando esquisito hoje, J. diz que é porque estou parecendo o Jack do Iluminado.

Nono dia de dieta. Não fui trabalhar hoje. O frango assado voltou a me acordar, dançando dança-do-ventre dessa vez. Passei o dia no sofá vendo tv. Acho que existe um complô. Todos os canais passavam receita culinária. Ensinaram a fazer Torta de morangos, salpicão e sanduiche de rocambole.
Anotação: Comprar outro controle remoto, num acesso de fúria, joguei o meu pela janela.

Décimo dia de dieta. Eu odeio Gisele B.

Décimo primeiro dia de dieta. Chutei o cachorro da vizinha. Gritei com o porteiro. O boy não entra mais na minha sala e as secretárias encostam na parede quando eu passo.

Décimo segundo dia de dieta. Sopa.
Anotação:Nunca mais jogo poquer com o frango assado. Ele rouba.

Décimo terceiro dia de dieta. A balança não se moveu. Ela não se moveu! Não perdi um mísero grama! Comecei a gargalhar. Assustado o médico sugeriu um psicologo. Acho que chegou a falar em psiquiatra. Será porque eu o ameacei com um bisturi?
Anotação: Não volto mais ao médico, o frango acha que ele é um charlatão.

Décimo quarto dia de dieta. O frango me apresentou uns amigos. A picanha é super gente boa, e a torta, embora meio enfezada, é um doce.

Décimo quinto dia de dieta. Matei a Gisele B! Cortei ela em pedacinhos e todas as fotos de modelos magérrimas que tinha em casa.
Anotação: O frango e seus amigos estão chateados comigo. Comi um pedaço do Sr. Pão. Mas foi em legítima defesa. Ele me ameaçou com um pedaço de salame.

Décimo sexto dia. Não estou mais de dieta. Aborrecida com o frango, comi ele junto com o pão. E arrematei com a torta. Ela realmente era um doce.

Por Moça - que apesar de estar acima do peso, se recusa a fazer dieta.

O original da moça em A Criatura e a Moça

Dias de Dona Beja

Como costumo fazer toda semana, esta manhã fui até o Correio verificar a minha caixa postal. Até aí nada demais, vocês diriam. Porém minha história começa quando, ao me apoiar sobre o balcão do posto, distraída, dei de cara com um exemplar do jornal "Correio de Araxá" meio que jogado de lado. Aparentemente fora esquecido ou descartado. Até aqui nada demais também, não fosse o jornal estar endereçado ao "Professor Leonardo Boff". Minha curiosidade pipocou. Eu já sabia que o sr. Boff era meu vizinho, inclusive já o vi inúmeras vezes no mesmo posto dos Correios. Obviamente ele não me cumprimenta porque não me conhece. Motivo suficiente para despertar minha curiosidade adormecida em relação ao tipo de leitura que o meigo frei costuma descartar. O exemplar em questão datava de 8 de novembro e exibia 3 cadernos: o primeiro, mais volumoso; um outro denominado "Caderno Mulher Feminino", e, por último, o "Correio Literário". Não vou me deter aqui comentando o XXIX Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, a Expomilk 2003, o Bailão do Cowboy, ou o lançamento da primeira água de coco em pó do mundo, matérias de capa do citado hebdomadário araxaense, por julgar que não são temas de interesse direto de meus leitores. (Ou são?) E assim passo à parte mais curiosa de minha narrativa, o caderno literário em si. São 6 páginas exibindo poetas locais, o resultado de um Torneio de Xadrez (?), uma crônica assinada por Irmã Domitila, uma lista de best-sellers! locais (cujo campeão de vendas absoluto é o sr. Nuno Cobra, com o livro "Semente da Vitória") e, pasmem, um artigo do próprio teólogo Leonardo Boff intitulado "Que é o ser humano". Ora, por que será que o frei jogou fora um jornal do qual é colaborador? É o que me pergunto até agora, quatro horas depois de fazer tal descoberta... No entanto, a minha história não acaba aqui, pelo contrário. A melhor parte vem agora. Após fuçar a ostra, descubro a pérola que fez o meu dia: página 6, coluna "Araã!", assinada por Evandro Affonso Ferreira. Não preciso dizer mais nada e, como eu, tenham um bom dia depois de lê-la até o fim:

"Deuses frígidos desalumiam alma chamejante

Sim Senhor meu Deus sei que estou resvalando em culpa mas difícil saber quem neste Teu vasto mundo não tem telhado de vidro; impossível resistir Seleno aquele trilhando minhas veredas nunca antes palmilhadas; faço mea culpa deste meu ultraje ao pudor; sei que tenho praticado atos contrários à virtude; bacante insensata sim Senhor; que tenho me portado qual mulher de costume fácil feito Jezebel Messalina Dalila; que sou a mais depravada e lúbrica de todas as mulheres; impossível resistir Seleno aquele miraculoso que revivificou meus desejos impuros; sim Senhor meu Deus sei que estou salpicando meu caminho de devassidão lama mácula; sei que estou lançando sombra sobre minha angelitude; mas inútil negar Senhor meu Deus que estou vivendo a estação dos amores dos prazeres dos risos; que meu corpo desde sempre assexo ficou subitamente abrasador; impossível resistir Seleno aquele dadivoso que substancia às lufadas meu apetite depravado; sim senhor meu Deus sei que tirei pudor dos gonzos; que desarranjei meu projeto decoroso; que subverti os princípios basilares do recato; mas inútil negar que ardor fogoso desordenado bonifica minha pele alenta meu humor infunde novos ânimos; impossível resistir Seleno aquele lascivo que desnuda meus caprichos voluptuosos; ah Senhor meu Deus esperei meio século para descobrir minha capacidade de exalar encanto e sedução; foram cinqüenta anos anódinos frígidos insípidos; renasci.
Bom dia senhor Títio...sim manhã lindíssima sol esbanjando clareza...como sempre todos os dias logo cedo primeira coisa igreja...murmurando minhas preces ao som de hinos ambrosianos de louvor...entoando litanias diante Daquele-que-falou-e-o-mundo-passou-a-existir...sim sei, o senhor sempre diz isso, que Deus, sendo perfeito, não carecia de nada, logo não tinha por que digamos criar o mundo; mas meus pais ambos certamente no Céu me ensinaram na flor da idade a não abrir mão do archote da fé; sim verdade férias terminando...semana que vem Tribunal de Contas novamente.
O sexto círculo do Inferno dantesco está assim de Títios.
Parece crime de leso-bom senso...sol sobrando lá fora eu aqui hum gostoso ficar assim deitada nua pensando nele Seleno lambendo meu corpo todo feito fazem agora raios infravermelhos.
Nunca vou entender Lisístrata aquela que comandou as mulheres de Atenas numa greve de sexo.
Sim querida calcinha rendada, branca, toda branca para contrastar com minha pele bronzeada.
Hum será que ele Seleno vai gostar deste perfume cheirando a algália...acho que não...hum...jasmim também não...hummm sândalo... vou levar este.
(continua na próxima edição)"

Prosa Caotica

22.11.03

:: daquilo que resta ::

Nem saberia dizer, que me faltam as sílabas: olhos inundados gritam palavras, saudades, vazios, ais que aquela voz tão distante quanto íntima plantou aqui, sob uma pele já tão triste e culpada por suores outros em outros tempos. É inverno e neva. Ainda há chuva torrente depois das ventanias nos dias de sol. Na madrugada, a voz que por meses a fio se escondeu no fundo das lembranças encaixotadas soprou nos meus ouvidos uma vida que já não me pertence. E reanimou lágrimas adormecidas. Ressuscitou traumas como os dos tempos de criança, aqueles que se escondem atrás dos gestos. A voz afagou-me como um pai ausente acaricia, à meia luz, o filho que dorme. E sussurrou todos os desfechos possíveis do longa-metragem. E todos acabam em fim. Não há parte dois. Não há remake. Para os meus olhos, que esbarraram nos retratos daquela história, restam os cílios inundados do que não foi, do que não deixei ser, do que jamais será novamente. Resta o sentimento preso na garganta, irreconhecível, distorcido por todos os espelhos quebrados das minhas personalidades, das minhas inconstâncias, dos meus finais inacabados, mas ainda da mesma essência. Resta a dor retorcendo os músculos, ardendo nos poros, pulsando sob a pele. Resta a certeza de que o amor é sempre o mesmo: o que muda são os amanhãs que ele não traz. Doze meses depois, a voz inabalável sussurrou o amor das entrelinhas, impraticável. E por trás dos meus olhos, ainda a imagem do que jamais será, em nenhum tempo, depois de toda a solidão: há alegres verões, outonos de mãos juntas, invernos como este que agora neva branco em mim. Mas a primavera, pra sempre tão ausente quanto presente nas lembranças, jamais visitará meus dias como em outros tempos visitava. Agora eu sei.

. Ponte sobre o caos .

Pesquisa liberada recentemente sobre o risco das bebidas alcoólicas.

1- O uso contínuo do álcool pode levar ao uso de drogas mais pesadas?
Não, o álcool é a mais pesada das drogas, apenas uma garrafa de cerveja, pesa cerca de 900 gramas.

2- A cerveja causa dependência psicológica?
Não. 89,7% dos psicólogos e psicanalistas entrevistados afirmam que preferem whisky.

3- Mulheres grávidas podem beber sem risco?
Sim. Está provado que nas blitz da polícia, eles nunca pedem pra fazer o teste nas gestantes... E quando elas tem que andar em linha reta, os guardas acham que ela está torta pelo peso da barriga.

4- Cerveja pode diminuir os reflexos dos motoristas?
Não. Uma experiência foi feita c/ mais de 500 motoristas: foi dada 1 caixa de cerveja para cada um, e, em seguida, colocaram um por um diante de um espelho. Em nenhum dos casos, os reflexos foram alterados.

5- Existe alguma relação entre bebida e envelhecimento?
Sim. A bebida envelhece muito rápido. Para se ter uma idéia, se você deixar a cerveja aberta em cima da mesa por muito tempo sem um acondicionamento especial, ela perde o seu sabor em aproximadamente quinze minutos.

6- A Cerveja atrapalha no rendimento escolar?
Não, pelo contrário. Alguns donos de faculdade estão aumentando suas rendas com a venda de cerveja nas proximidades de bares universitários.

7- Bebida mata?
Sim. Anos atrás, soube-se que um rapaz, ao passear pelas ruas, foi atingido por 1 caixa de cerveja que caiu de um caminhão, levando-o à morte instantânea. Além disso, casos de infarto do miocárdio em idosos têm sido associados às propagandas de cervejas com modelos gostosas.

8- O que faz com que a bebida chegue aos adolescentes?
Inúmeras pesquisas vêm sendo feitas por laboratórios de renome. Todas indicam que em primeiro lugar estaria o garçom.

9- A cerveja causa diminuição da memória?
Que eu me lembre não!

Cerveja Blog

Olha... eu realmente acredito que certos fatos da vida parecem menos densos e graves se encarados do ponto de vista de uma mesa de bar, por menos álcool que se consuma. Claro, a companhia é mais que fundamental. Quando a companhia fala de um jeito engraçado, mede as pessoas das outras mesas, olhando pra você e perguntando "Betty Faria?", a gente percebe que nada mesmo precisa ser tão sério assim. E eu me diverti horrores só sob o efeito de uma xicrinha de café preto e uma gotinha de chocolate Hershey.
Estranho é ter lampejos de achar que se sabe o que se quer da vida, e deixar passar... não bater pé, não insistir, não espernear. Onde que a gente aprende coisas erradas como deixar os desejos calarem no fundo do peito? Como a gente se deixa moldar por conformismos? E por que, mesmo fazendo tudo isso, a gente não fica feliz com o que tenta aprender a gostar? Acho que eu deveria tomar café em público mais vezes.

moveable feast

Qual a diferença entre Marlene Silva - menina mulata, de família pobre, que foi sequestrada, torturada, estuprada e abandonada para morrer de fome - e Liana Friedenbach, menina branca, bonita, de familia tradicional, que foi sequestrada, estuprada e morta a facadas?
Claro, não conte a diferença entre sonoridade dos nomes. Eu comeria a Liana só pelo nome que tem.
Marlene morava no morro. Estava na hora errada no lugar errado, fazendo coisa errada. Morreu. Liane morava em uma mansão bem gostosa. Estava na hora errada no lugar errado, fazendo coisa errada. Morreu.
Marlene fumava maconha. Liane fazia compras no shopping.
Morreram.
Vocês conhecem Marlene?

(...)

Uma questão de semântica

21.11.03

o ser humano é um primata

Fico impressionada a cada vez que constato que o ser humano em geral não deixou nunca de ser um mero primatinha. Quando nos afeiçoamos por alguém, ficamos tal como babuínos, fazendo cafuné na cabeça do outro.

Até aí, tudo bem. O duro é quando entra na fase de catar parasitas no ser amado. Hoje vi uma menina que se dedicava a espremer cravinhos do braço do namorado, assim, em público. Um doce, isso.


perolada

a mulher esqueleto

Então a gente conversou muito. E muito. E muito mais ainda.

A explicação dele foi muito plausível, a viagem realmente ocorreu (ele voltou antes). E a conversa foi olho no olho. E eu disse tudo o que penso, tudo o que senti. Contei até que espremi um tomate. E deixei ele falar e falar e falar.

E, a certa altura, eu lembrei da história da mulher-esqueleto.

A história da mulher-esqueleto é o seguinte. Um esquimó morava sozinho numa casa, e num determinado dia teve que sair pra caçar. Ele se afastou muito da casa, e acabou tendo que armar um acampamento. Quando acordou, deparou-se com um esqueleto deitado ao lado dele. Isso apavorou-o de tal forma que ele catou tudo e saiu correndo. Só que o esqueleto havia se enroscado no meio das coisas dele, então quanto mais ele corria, mais o esqueleto se desconjuntava e se enroscava mais ainda.

Já era noite quando ele alcançou a casa. Entrou correndo no escuro, atirou tudo no chão, cobriu-se e não percebeu que a ossada estava com ele. Quando o dia amanheceu, ele ficou horrorizado ao ver aquele monte de ossos desmontados logo ali ao lado. Dias se passaram e ele sem coragem de mexer naquilo.

Até que um dia, ele olhou para os ossos de um outro jeito. E percebeu que aquela ossada já tinha sido de uma pessoa, de alguém que tinha tido uma vida, de alguém que tinha sofrido e amado e se divertido, de alguém como ele, talvez. E foi tomado de uma profunda compaixão por aquele esqueleto. Foi quando ele decidiu juntar os ossos, remontá-los e dar um enterro digno àquilo que havia sido um ser humano. Começou a desenroscar a ossada, a separá-la do mato, das cordas, das linhas, e a cada osso separado, ele sentia mais compaixão e mais amor.

Quando conseguiu remontar tudo, percebeu que não estava preparado para se separar dele naquele momento, porque tinha se afeiçoado àquele esqueleto. E, num impulso, cobriu aquele esqueleto com peles, e abraçou-o para aquecê-lo. E adormeceu. Quando acordou, aquele esqueleto tinha tomado vida e se transformado em uma mulher, que se tornou sua companheira para o resto da vida.

Então. Na conversa, percebi que estava com um puta esqueleto na minha frente. Um esqueleto completo, de todo o amor que sentia por ele, de tudo o que vivemos, de toda a história de nós dois. E ou eu chorava em cima dessa ossada e ela renasceria, ou chutava aquele monte de osso morro abaixo.

Só que pra chorar em cima desse esqueleto, eu precisava saber se o Ricardo sabia o que tinha na mão, se ele sabia o que representava estar comigo e ter uma namorada como eu. Só assim valeria chorar. E foi quando ele disse um monte de coisas, um monte de promessas, yadda yadda yadda.

De modos que não sei. Não sei o que vai dar isso tudo.

Tenho poucos dados nas mãos: o meu sentimento pelo Ricardo (que é enorme e I just can't help myself), a promessa que ele me fez, toda a conversa olho no olho, meu coração me dizendo pra tentar, o fato de sermos tão fracamente humanos. Só posso contar com isso.

E cá estou eu, chorando em cima do esqueleto enorme de nós dois, separando os ossinhos da linha de pesca. Não sei o que vai virar esse esqueleto: se vai se transformar numa criatura forte, digna de ser abraçada, ou se vai me aparecer um pequeno hamster. Não sei se estou sendo idiota, não sei se tudo merece uma nova chance, não sei e não sei. Mas resolvi tentar.



perolada

Como estou sem nada para postar, resolvi mostrar-lhes uma carta que escrevi há uns cinco anos quando sofri uma grande desilusão amorosa. Por obra do acaso, encontrei-a enquanto arrumava o armário. Sei que Neo não vai gostar nada que eu publique essa carta, mas.. (como ele me fez raiva, estou POUCO ME FU)


Ele fez piada.
Ao contar-lhe a verdade, ele fez piada.
Por toda a vida, procurei alguém para amar. Não bastava ser amada, era preciso amar também. Normalmente, só me ocorria a primeira parte.. Até ele aparecer.
O que me chamou a atenção foi a ironia de suas palavras. Desde a primeira conversa, ele se revelou inteligente e sagaz. Quando dei por mim, ansiava por vê-lo todos os dias. Imaginei que, num mundo tão grande, eu finalmente encontrara alguém que me completava os pensamentos e parecia adivinhar os que estavam por vir.
E então, o que me aconteceu ? A história de amor virou um jogo. Marcava ponto quem respondesse a melhor resposta, perdia quem fraquejasse e deixasse os sentimentos à mostra. Cansada de competir, pedi trégua e confessei a verdade. Declarado vencedor, ele fez piada.
Todavia, apesar do desapontamento, não o odiei. Ele me ensinou algo deveras especial : eu procurava por um espelho ! Num narcisismo inocente, julguei-me a medida da perfeição e, por todo esse tempo, procurei por minha própria imagem; ao encontrá-la, assustei-me com os defeitos refletidos.
Sem querer destruir ou ser destruída, decidi-me a esquecer do espelho e reavaliar os critérios de escolha da pessoa amada. O diferente não mais me aborrece; complementa-me.
E quanto à imagem do espelho.. Ah Deus, até então eu não compreendia coisa alguma ! Não foi ele que não me amou.. Fui eu, por toda a existência, que nunca soube amar ninguém de volta !


Huh. Analisando-a hoje, percebo que, desde aquela época, escrever me é um alívio passageiro..


BooBlog Um blog inútil para voce passar o tempo útil(ou o contrário)

O blog começa a lhe fazer mal quando...


As pessoas perguntam como foi seu dia e você diz para lerem no blog.

Deixa de sair com os amigos para ler comentários.

Cria um personagem fictício para comentar no próprio blog.

Comenta em vários blogs qualquer coisa, só para fazer propaganda do seu.

Dá reload no blog várias vezes para aumentar o número de visitas no contador.

Só escreve sobre assuntos que vão lhe render visitas através dos sites de busca.

Nunca leu um livro, mas acha que pode escrever alguns.

Acha que um dia pode concorrer à ABL.

Fica arrasado com críticas e nem consegue dormir.

Quando está com outras pessoas, só fala de blogs e posts.

Perde completamente a noção de privacidade, sai botando na banca as piores histórias da família e dos amigos e ainda dá nome, endereço e telefone de todo mundo.

Não consegue ficar um minuto sequer longe do micro.

Quando está longe, não vê a hora de voltar pra casa, conferir as estatísticas, os comentários e escrever sobre a sua preocupação em voltar logo para frente do micro.

Acha que as pessoas vão surtar se você deletar seu blog e desaparecer.

Passa o dia pensando no que postar.

Fica deprimido se não há o que escrever.

Fica deprimido porque ninguém comenta os seus posts.

Fica deprimido se o número de visitantes diminui.

Comemora sempre que o contador bate os números redondos.

Passa o dia fazendo propaganda do próprio site.

Quando entra em um banheiro público, deixa o endereço do blog atrás da porta.

Não agüenta nem ouvir falar a palavra blog.

Já pensou em tornar-se um serial killer de blogueiros.

Colocou uma foto no último post e não vê a hora de ser reconhecido nas ruas.

Os fotologs irão transformá-lo em um super astro.

Não desgruda mais da máquina fotográfica. Toda imagem vale um post.

Não vê a hora de acontecer um novo encontro de blogueiros.

Acha que é famoso.

Acha que é engraçado.

Acha que deveria receber pra escrever no blog.

Acha que sua vida vale um filme.

Acha que é escritor.

Acha que a sua vida é uma merda, mas que ficaria insoportável sem o blog.

Acha que é interessante e que suas histórias são impagáveis.

Transforma qualquer assunto besta em confusão só pra chamar atenção.

Acha que é criticando que verão que o seu blog e você existem.

Vive colocando seu nome e o do blog no Google pra ver quem escreveu sobre você.

Quando não tem nada para fazer, fica procurando erros de português no blog dos outros.

Senta a boca nos comentários dos blogs populares, só pra ganhar notoriedade.

Sabe que tem um português sofrível, mas diz que não se importa e capricha nos erros.

Fica indignado ao ver que o seu blog não saiu nas indicações do No Mínimo, Globo, Blogger, Blig e outros.

Manda fazer cartões de visita com o endereço do blog.

Passa mais de oito horas por dia gerenciando o próprio blog.

Noventa e nove por cento dos seus amigos tem blog.

Seus últimos relacionamentos amorosos começaram via sistema de comentários.

Terminou o namoro via post.

Já pensou em pedir as contas do emprego para se dedicar mais ao blog.

Quando está com amigos blogueiros e tem uma idéia para um post, avisa logo: "Eu primeiro! Idéia minha! Post meu!"

Não perde a oportunidade de ser o primeiro a comentar um post.

Sempre que é o primeiro a comentar um post escreve: "Primeiroooooo!"

Só encontra seus amigos via ICQ.

Coloca no blog a foto de alguém que não é você, mas jura de pés juntos que é.

Quando viaja, não relaxa até achar um cyber café.

Fica de mau-humor quando o blog ou suas ferramentas saem do ar.

O Weblogger já te deixou de cama por três dias.

Fica andando de um lado para o outro quando o blog sai do ar.

Só se relaciona com blogueiros famosos e ignora qualquer um que tenha menos de cem visitas diárias.

Fica emocionado quando ganha um award e agradece como se tivesse ganhado o Oscar.

Você se informa das novidades pelo Top Links.

Anda na rua achando que todos sabem quem você é.

Verifica as estatísticas dos blogs antes de se dar ao trabalho de comentar.

Já namorou o(a) autor(a) de um blog popular só para ganhar um link.

Acha que link no seu blog vale mais do que ouro em Serra Pelada.

Não linka ninguém porque acha que não há blog melhor que o seu.

Não linka ninguém por que não quer concorrência.

Linka todo mundo porque quer links de todo mundo.

Quando dorme, você sonha com um template novo.

Coloca scripts para evitar que copiem seus textos e imagens utilizando o teclado e o botão direito do mouse.

Você já pensou em colocar espaço para publicidade no blog.

O computador pifa e você pifa junto.

A internet fica lenta e você liga no provedor e xinga até a mãe dos atendentes.

Não suporta mais escrever no blog, mas não o deleta porque desaprendeu a viver sem comentários.

Você grita, se descabela e esmurra o computador quando expira o tempo de postagem e você perde um post inteirinho.

Seus últimos sonhos de consumo estão todos relacionados ao blog: notebook, câmera digital, webcam, speed...

Passa o dia atualizando o blog só para aparecer no Fresh Blogs.

Tem custos altíssimos para manter o blog como: domínio próprio, hospedagem, tráfego adicional, etc.

Quando está com amigos blogueiros fica calado para evitar que suas idéias sejam usadas por eles.

Já pensou em vender o blog. Passar o ponto.

Está pensando seriamente em colocar uma foto sua de nu frontal com o endereço do blog pra ver se ela vira spam.

Acha que o blog é a sua grande chance de tornar-se uma celebridade.

Anda mentindo descaradamente, mesmo com o contador aberto, sobre o seu número de visitas.

Anda mentindo descaradamente sobre o seu número de visitas e, pra não deixar rastro, desapareceu com o serviço aberto de estatística.

Anda copiando descaradamente velhas idéias e saí espalhando por aí que elas são suas.

Deseja esganar um pescocinho quando vê que copiaram um texto e ignoraram a autoria (a propósito, este texto foi escrito por Alê Félix, do amarulacomsucrilhos.com.br)

Encontra esta porcaria de texto, percebe que esqueceu de citar diversos malefícios causados pelo blog, o atualiza e perde mais alguns minutos da sua vida postando esta merda.

Amarula com Sucrilhos

20.11.03

Eu poderia escrever de forma esnobe como a maioria dos blogueiros:

Fui no James ontem. Lugarzinho interessante. Comi um pão sírio chamado New Sebastian. Pretendo voltar.


Ou então a forma Dani Blue-style de ver o mundo:

Fui no James ontem. Já cheguei alcoolizada no bar. Eu fui jogar sinuca, mas de sinuca não manjo nada, era só desculpa pra ficar na sacada vendo o movimento da rua, o céu púrpura contrastando com o cinza dos prédios, e as luzes amarelas assimétricas de Curitiba, alegria de pobre mesmo. E uma Skolzinha ou outra, pra descer redondo. No James, comi um pãozão massa, cheio de coisas gostosas dentro, que no momento não vou me lembrar o que era. Sei que era algo fino, custava mais de oito reais, nada a ver com os dogões prensados de 1,50, que eu tou acostumada a comer na frente dos botecos. O lugar é muito bacana. Tem uma foto do Paul na parede, da época em que os Beatles tinham quatorze anos e ainda batiam uma punhetinha. Se eu não me engano, tem o Elvis pintado na porta do banheiro masculino, é isso? Só sei que quando eu vi, não quis mais saber de ir ao banheiro feminino, só ia lá, toda hora pra ver aquele Elvis. Depois, eu tava querendo dançar, mas o local tava vaziozão, e as pessoas que estavam lá não dançavam. Droga. Não tocou Beck, não tocou Moby, nem Billy Idol. Também não tinha globo girando no teto, nem pessoas andando de patins, e bexigas vermelhas e azuis por todos os lados. Afinal eu saí de casa pra ir num barzinho rolando um som, ou saí pra ir pra Las Vegas? Mas meu consolo é que tinha umas imagens psicodélicas pipocando a parede. E o banheiro com o Elvis na porta, lugar onde eu fui varias vezes, numa delas inclusive, para vomitar cor de rosa [seria culpa do tal sanduba "New Sebastian"?] Sabe como é, bem que tentaram fazer eu gostar do Belle & Sebastian, mas eu sou povão demais pra isso. No final das contas, troquei olhares insinuantes com uma menina, [me disseram que rolou um clima], mas ela foi embora antes da meia noite. Ah, também rolou umas coisinhas no banheiro [não com a menina]. James Bar, pretendo voltar.

:: Blue Idol :: :: the motherfucker super heroes style ::

Aconteceu esses dias..

Na fila de algum self service da vida:
- Você não come peixe também?
- Não, peixe tem sentimentos, pega um anel de cebola pra mim.
- Não, cebola tem sentimentos.
- Ah Deborinha tenha paciência..
- Cebola é uma coisa que me faz chorar e você quer me dizer que não ela não tem sentimentos?
- Cebola não se movimenta.
- Ta vendo?Quer dizer então que se um peixe ficar tetraplégico e não se movimentar, você come?
- Tá, você ta querendo me dizer que todas as cebolas são tetraplégicas agora, é isso?
- To querendo dizer que a cebola tem muito mais sentimento que um peixe.O peixe se movimenta, pode escapar da pesca se for esperto, já a cebola não escapa, tem o destino traçado para ser traçada, guarda aquela angústia dentro de si e é só colarmos as mãos nela que expressa inconscientemente o sofrimento e começamos a chorar involuntariamente.É doloroso saber disso, que existem pessoas no mundo que comem cebolas pelo fato delas não se movimentarem.
- Dá licença que eu mesma pego o anel de cebola.
- Isso pega o anel de cebola tetraplégica e depois aproveita e pega a cabeça estraçalha de alface e tempera com dentes de alho esmagados.
- Perdi a fome.
- Eu também.
- Vamos ali então que quero comer um bolo.
- No Amor aos pedaços?
- O que que tem?
- Sei lá, me lembrei do silêncio dos inocentes, amor aos pedaços "Compre um bolo e ganhe a orelha direita do seu príncipe".
- Pra juntar e colecionar?
- É, dizem que quem achar o dedo mindinho do Lula ganha um par de coxas.
- Você ta sem fome né?Nunca recusou bolo
- Não é que eu queria comer um cachorro - quente antes mas...
- Aiiiiii!!!!!

Casos e Acasos Virtuais

Quem Não Lê Não é Humano

Alguns anos atrás (calhou de ser alguns anos atrás, mas poderia ter sido ontem, amanhã) vi na esquina da minha casa alguns operários descansando. Eles estavam sentados na grama, sem comer, sem conversar. Como é uma rua quieta, não podiam nem se distrair vendo carros ou pessoas. Olhavam, acho, o muro de tijolos do outro lado da rua, ou talvez alguma rachadura tortuosa na calçada. Estavam assim quando desci a rua no caminho do supermercado, e continuavam assim quando voltei com uma sacolinha na mão. Quando passei andando, olharam fixo pra mim; e eu não os culpo, porque a minha passagem, em contraste com o muro e a rachadura, deve ter tido para eles a importância cerebral que a obra de Aristóteles teve para Santo Tomás. (Um ser humano se mexendo! Óia! O que será que ele tem na sacola, etc.)

Quem não lê está condenado a estar preso num lugar só. Eles não liam, e por isso eram forçados a ficar ali naquela esquina olhando o asfalto. Dez minutos, quinze, meia-hora. Se estivessem lendo, poderiam sair dali, ir para a Samotrácia; mas não liam, e estavam ali, com uma atividade mental provavelmente parecida com a da grama na qual estavam sentados. Quando passei, e o deslocamento do meu corpo criou uma brisa, a atividade mental deles talvez tenha subido drasticamente para o nível de um dente-de-leão sendo despedaçado pelo vento. Mas isso é tudo.

“Ah, Alexandre, que feio, fazendo gozação com os menos favorecidos”. Bom, estou fazendo gozação agora, e confesso que acho as classes iletradas (às quais pertencem Jeca Tatu, Popó, Gugu Liberato e Moisés Safra) um tanto engraçadas. Mas na hora fiquei horrorizado. Percebi o que é ser iletrado: é ser forçado a estar onde se está e na companhia em que se está. Como um cupim. Como uma drosophyla melanogaster olhando para uma banana. Como um jogador de futebol olhando para a capa de um livro de auto-ajuda, ou um sindicalista tentando ler Karl Marx.

Quem não lê, no entanto, geralmente se sente superior a quem lê. Se sente mais prático, mais direto. “Me formei na escola da vida”. “Não tenho tempo para essas coisas. Trabalho muito. Quando pego um livro pra ler, sinto sono”. A sensação que tenho, quando vejo alguém que se sente orgulhoso de não ler, é a que eu teria se fosse convidado para jantar na casa de alguém e, de repente, o anfitrião me mostrasse todo orgulhoso o próprio pênis guardado numa caixinha. “Não tenho tempo pra essas coisas, então mandei remover. Quando tentava usar, pegava no sono”. Bom, só posso pensar- azar o seu. Grande parte do prazer da sua vida foi embora.

(...)

Alexandre Soares Silva

Hello?

Naquele outro dia eu comecei a falar sobre meu pai e saiu outra coisa, o que eu queria dizer mesmo é que tô começando a ficar preocupada.
Explico: meu pai é uma espécie de figura folclórica aqui da cidade, todo mundo conhece e tem alguma coisa engraçada pra contar dele, inclusive eu.
Mas a última nem é muito engraçada porque é uma espécie de "piora", sabe? Ele não atende mais o telefone (o bichinho fica tocando, tocando e ele, todo cara de paisagem, do lado).
Se atende não diz "alô". Parece aquelas promoções de rádio: "não diga alô, diga FM 93 e você ganha um ingresso para o forró de sábado no Tramontina's Club!". Ele não diz nem alô, nem FM 93, nem nada, fica lá, mudo, com um olhar acusador para o pobre do aparelho. Ele tem certeza que é um trote e vai vencer o energúmeno do outro lado da linha pelo cansaço no cabo-de-guerra de quem vai falar primeiro.
E também não desliga depois. O trequinho fica lá, piiiiiiiiii, e ele nem tchuns.
E eu, ligando desesperadamente pra casa e pensando que é outra crise adolescente de minha mãe.

(Pra quem não sabe, Tramontina's Club é um apelido carinhoso e genérico para todos aqueles lugares barra-pesada onde tem briga de faca e a gente fica vendo as faisquinhas de longe.
Coisa daqui de nóis.)

Arroz-de-Leite, agora com cheiro de caju!

19.11.03

elevador de hotel

parte 1: entre dois andares

acordei, comi a última fatia de pão, tomei um copo de suco.
me vesti e saí para o trabalho. entro no elevador, aperto o térreo e dou aquela viradinha clássica para ver como está o figurino diante do espelho. o elevador treme, faz um barulho enorme, dá um tranco e pára.

é tudo muito rápido, claro. mas do momento em que o elevador tremeu, deu tranco, fez barulho até a hora de parar cheguei a pensar que iria despencar dali até o térreo. quando o elevador parou fiquei estática e quieta por alguns segundos, esperando para ver se ele despencaria de vez ou daria algum outro sinal. que nada. ainda bem.

a primeira coisa que pensei depois disso foi: "não acredito que fiquei presa no elevador". estava entre o quinto e o quarto andar, mas isso é equivalente ao oitavo ou nono, porque há uma sobreloja entre o térreo e o primeiro andar do hotel que equivale a uns bons três andares.

pensei logo em seguida: "quanto tempo será que ficarei presa aqui dentro? e se esse negócio resolve cair?"

mas, como já ando um tanto habituada a ser "azarada", pensei:
"vou pedir ajuda. mais cedo ou mais tarde saio daqui".

peguei o telefone não sem um certo receio de: "e se o telefone não funcionar? e se ninguém atender? e se não for tão fácil assim me tirar daqui de dentro?" mas o curioso é que estas perguntas não me deixaram realmente nervosa. estava calma, calmíssima, para quem estava trancada sozinha no elevador entre um andar e outro.

estava discando quando pensei: "e se apertar o botão que força a abertura da porta, será que ela abre entre um andar e outro? mas e se estiver bem no meio da parede, será que eu não vou ficar com medo?"

enquanto esperava que alguém atendesse o telefone, arrisquei e apertei o botãozinho: "melhor tentar alguma coisa por conta própria do que esperar a boa vontade alheia".

não é que funcionou? apertei o botão e o elevador começou a descer. não sei se ele iria funcionar uma hora ou outra e isso foi coincidência. coloquei o fone de volta, fechei a portinha dele e esperei olhando fixamente para o lead que mostra o número dos andares. cheguei ao térreo, a porta se abriu e saí do elevador. comecei a tremer e meu coração disparou. só aí que fiquei assustada e abalada. comuniquei o fato ao segurança. ele percebeu que não estava muito bem e que era sério o que dizia, mas tampouco me abalei. ele disse que chamaria a manutenção e peguei o caminho para o trabalho, mas esqueci de comprar cigarros.

[boop it]

16.11.03

Hoje, digitando os dados de um relatório casca-grossa, ouvi de meu colega de trabalho uma constatação tragicamente genial. Foi espontânea, até porque ele não é de piadinhas, muito menos as infames. Discreto como sempre, no meio das digitações, inicia o diálogo:

- Você já trabalhou de sábado alguma outra vez?
- Já - respondi - Dureza, né?
- É... Alguma vez você já trabalhou de sábado e estava chovendo?
- Hm...

Não é verdade? Você também trabalhou algum sábado, abnegado leitor? Então diga: não fez um puta sol dos diabos?

Gravataí Merengue

15.11.03

Incrível a quantidade de câmeras digitais circulando pela noite (e de gente pendurada no celular em pistas de dança onde é impossível qualquer tipo de comunicação não-corporal). Não basta mais estar num lugar se o fato não for documentado e comunicado à exaustão. É, como disse alguém outro dia, o Big Brother (do Orwell, não da Globo) se instaurando a olhos vistos.
A impressão é que o maldito 'Sorria, Você Está Sendo Filmado' logo vai ser trocado por 'Breve Num Fotolog Perto de Você'.

kaleidoscópio

11.11.03

Sou branquelo (isso mesmo, sou carioca e pareço leite azedo)
Sou magricelo (dinheiro de academia pode ser melhor empregado)
Tenho os dentes tortos (apesar de usar aparelho a uns 7 (SETE) anos)
Uso óculos (quase um fundo de garrafa)
Tenho Deglutição Atípica (que!?)
Tenho Rinite Alérgica (qualquer sereninho faz o meu nariz coçar de forma infernizante e escorrer coriza feito uma torneira...)
Tenho grandes as unhas da mão direita e pequenas as da mão esquerda (não sou louco não, é por causa do violão mesmo...)

Mas foda-se... pelo menos eu PENSO

Permutandidéias

Existem duas regras para alcançar o sucesso:
Regra nº 1: Não conte tudo o que você sabe.

Mardito Fiapo de Manga!

Porque minha namorada é especial

- Sua inteligência não fica em segundo plano diante da beleza;
- Suas habilidades culinárias não existem só pra torná-la uma "moça prendada";
- Sua sensibilidade artística não foi ditada pela edição mais recente de alguma revista fashion;
- Seu modo de ser é complexo e diferente, não é como certas pessoas que só têm o botão liga/desliga;
- A risada dela não foi domada pelas convenções e limitações do que é "correto";
- Sua força de vontade é muito maior do que um esforcinho pra não comer chocolate no fim de semana (pra manter o corpinho)
- Seu corpo... bom, não vou entrar em detalhes aqui. :-)

Chez Nous

Até que é bom saber/poder disfarçar os problemas, porque assim se evita de ser um pé-no-saco que só reclama da vida.
Só que eu acho que estou começando a preferir ser um pé-no-saco sincero do que ter esse nariz vermelho, cinto de bambolê e viver nesse circo imaginário estúpido.
*Ajeita o suspensório, se curva, agradece e sai do palco*

Eu diria que...

Amanhã estarei de plantão na sala da casa nova esperando a entrega da mesa. Na sala, porque os outros cômodos estão vaziinhos, então eu tenho que sentar minha bundinha no sofá às 9 da manhã e só levantar quando a mesa chegar e estiver montadinha. O que pode ocorrer logo de manhã ou às 6 da tarde. Plantão, a pessoa estará de plantão. Vou até levar marmita, porque não posso nem vir pra casa almoçar.

Ainda bem que fomos espertos e já tem TV. Que não pega. Nem com a maravilhosa antena piramidal. MAS nós fomos ainda mais espertos, levamos o DVD. Então eu vou passar na locadora e ficar vendo A noviça rebelde e cantando para os vizinhos vovozinhos ouvirem. Lá no prédio só tem vovozinhos. Nós somos os moradores mais jovens.

Quando a gente se mudar, eu vou assar um bolo para cada vizinho do meu andar e a gente vai lá entregar: Oi, somos seus vizinhos novos. Não vai ter um vovozinho que não vá a-mar os casalzinho do apartamento 01.

A menina do didentro

Espera a esposa dormir pra entrar no chat. Descaradamente entra na sala de bate papo com o nick "casado disponivel " ou qualquer variação ao redor disso.Encontra a garotinha dos seus sonhos eróticos e começa a teclar.Lá pelas tantas da madrugada depois de muita conversa e sedução resolve fazer o tão famigerado sexo virtual

- Espera um minutinho tesão.

Vai la verifica se a esposa está realmente dormindo, volta ,lembra que esqueceu de pegar papel higienico no banheiro , levanta, pega papel e mais uma toalhinha de reserva e volta pra frente do computador

- Pronto amor, cheguei!
- Amor eu vou tirar a roupa.
Nessa hora ele lamenta por ela nao ter uma webcam , se excita com a possibilidade da menina estar nua, tira o dito cujo pra fora pra não deixa-la desacompanhada e começa o ato de teclar com uma mão só e a digitação taquigráfica

- q c ta faz.?
- acabei de tirar a roupa e vc?
- Adv? rs

Pois é advinha mesmo. O sujeito está teclando com uma mão só , movimentos desordenados já que a outra não acompanha tanto o movimento da que digita , as vezes ele fecha os olhos pra imaginar a gracinha sem roupa , pensa no que vai digitar , não está com a mínima vontade de digitar. só quer ler e imaginar cenas enquanto a mão desprivilegiada , ou não, cumpre o dever, olha pra porta pra ver se ninguém entra , se assusta com o cachorro que late , coloca o dito pra dentro, levanta , dá uma olhada pela janela , não ve ninguém , sorri porque lembra que a ninfeta está esperando por ele na sala de chat , senta de novo , coloca o dito pra fora .

- Vc está excitado amor?
- Sim meu bem , muito.

A excitação é tanta que dessa vez ele levanta pra ver se não tem ninguém vindo sem parar os movimentos com "aquela" mão , no jogo dos cinco contra um, o cachorro olha assustado pra ele rindo internamente pensando na cena ridícula que o dono está fazendo, ele volta , senta.

- To quase gozando amor.
- Eu tb baby.

E o drama prossegue, ele já não consegue mais teclar , mas ela insiste em perguntar o que ele está fazendo, ele se esforça pra digitar:

- ai

Ai mesmo , porque ele lembra que se sujar o carpete a esposa vai desconfiar , logo ali do lado do computador,ele não quer parar e naqueles movimentos estremecidos, não tira o olho da tela pra ver o que a fofinha está digitando para excita-lo , pega a toalhinha que teve a feliz idéia de trazer,joga no chão, vira pro lado, fica com a cabeça curvada, não sabe se digita, se Lê , se geme , se olha pra porta,se manda o cachorro parar de lambe-lo,mira na toalhinha pra nao cair nada pra fora e ...................................

- Gozei amor.
- Já? Mas vc nem me esperou???

E nem vai esperar porque agora ele junta a toalhinha , não sabe o que fazer com ela , limpa o dito cujo com papel higiênico , os respingos no teclado, o dedo, passa a toalhinha no dito também, pra não deixar nenhum vestígio,expulsa o cachorro que não pára de cheirá-lo, olha pra porta assustado, esconde a toalhinha atrás do vaso , corre pra ver se a esposa não acordou , volta, continua não sabendo o que vai fazer com aquela toalha, volta pra frente do computador com a toalha na mão.

- Nossa amor, onde você foi?
- Terminar de me limpar.

Desliga o computador com um sorriso bobo no rosto, imaginando o quanto foi bom assim, imagine pessoalmente.
Joga a toalha no cesto de roupa suja , apaga a luz do banheiro , deita na cama, é preciso descansar , dormir o sono dos justos e malabaristas.

Merece uma medalha.

Casos e Acasos Virtuais

Já ensaiei tantas despedidas quantas foram as vezes que me deixaste parada à margem da vida esperando por um ônibus que não veio. Ensaiei discursos, retórica, figuras metafóricas, chantagem emocional, barganha de culpa, pedidos esfarrapados de desculpa e mil jeitos de te fazer sentir mal. Programei entradas triunfais e saídas magistrais, ganchos para o telefonema que viria caso não me implorasses pra ficar um pouco mais. Arquitetei planos diabólicos, choros melancólicos e um sem fim de bla bla blás piegas e agora me pegas sem a mínima vontade de nem te desejar boa tarde, vai pela sombra, adeus.

Não Discuto

como conseguir um emprego se você não tem experiência?
como conseguir experiência se você não tem um emprego?
esse é com certeza um dos maiores enigmas da história da humanidade. tá bem, não da humanidade-- mas de quem procura emprego. e não existe uma resposta certa. é cafuzo mesmo. todo anúncio de emprego exige que você tenha experiência. qualquer experiência.
(...) um amigo meu disse que, na primeira vez na vida-- que teve que procurar trabalho na vida, se deparou com esse problema. em todo lugar que ia, escutava a mesma coisa: "você tem experiência?" "o currículo é bom, mas.... você tem alguma experiência?" "a gente precisa de alguém com pelo menos 2 anos de experiência!" e algumas semanas depois, não conseguindo avançar no processo de seleção de estágio, teve uma idéia. uma idéia simples. mas antes de revelar a idéia que ele teve-- vale ressaltar que ele era capacitado e bom no que fazia. caráio. o fila da puta só queria um estágio. ele pensou: "como é que eu posso ter experiência?" "caráio! onde é que eu vou arrumar isso?" "porra!! esses caras são uns bandos de filas da puta! deve ter uma maneira rápida de ter uma experiência!" então, pra acabar de vez com essa burocracia. com essa pedra no caminho que é conseguir entrar no mercado-- ele comprou um labrador. é um labrador. e colocou o nome dele de "experiência."

caráio!

Se tem uma coisa que eu odeio é "parabéns pra você" em restaurante.
Principalmente quando o restaurante é daqueles em que os garçons saem correndo de onde estão para engrossar o coro. É impressionante porque eles simplesmente largam o que estão fazendo para ficar batendo palma em volta de uma pessoa nitidamente constrangida.
Às vezes, o medo de chegar atrasado àquele momento especial é tão grande que nem dá tempo de largar o que estão fazendo. E não tem sensação pior do que você ver o teu garçon chegando com o chopp que você pediu e passando direto pela tua mesa para se juntar a um aniversário que não tem nada a ver contigo.

A ESMO

7.11.03

Apesar de não ser muito chegado em heavy metal, me perguntaram se eu ia no show do Metallica. Só pude lembrar da última vez que eu fui no show deles e quase perdi meus órgãos internos. Eu tinha cismado de ver o show lá na frente. A cada 30 minutos, me aproximava 10 metros. Quando finalmente cheguei na grade o guitarrista inventa de jogar a palheta pro público. Eu tive a certeza de que ia sofrer um desmembramento. Se algum físico ainda afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ele com certeza nunca foi a um show de rock. Passei o resto da noite vendo o show com um olho só (algum Joselito resolveu se apoiar na minha cara e eu não tinha como tirar a mão dele). Quando cheguei em casa, todo rasgado, cheio de hematoma e suado com um suor que não era só meu, minha mãe ainda resolve ser engraçadinha:
- Ué meu filho, virou mendigo?
E é por isso que eu não vou mais em show de rock. Quando conseguir minha intangibilidade talvez eu vá de novo.

leis de murphy

Sábado vai ter Lua cheia com eclipse. O dragão vai engolir a Lua.
A influência desse acontecimento sobre a humanidade é a seguinte:
um monte de gente olhando pra cima.

catarro verde

5.11.03

Minha família é espírita, espírita kardecista; e eles têm, todos eles, um outro tipo de superstição. É a crença em Inimigos.

Nunca vi um inimigo na vida; tenho no máximo gentinha que me xinga anonimamente. Nada que possa ser dignificado com o nome de inimigo... Mas os livros espíritas, em especial os romances espíritas, e a conversa dos meus parentes todos, estão cheios de Inimigos-de-Vidas-Passadas. Até peixeiros têm inimigos em romances espíritas!

Ah, é tremendamente romântico acreditar em Inimigos, eu queria acreditar também. Torna a vida um pouquinho mais parecida com um filme. Mas não consigo, nisso sou cético. Não acredito em inimigos - só acredito em pessoas levemente bestas, que durante algum tempo acham que nós é que somos bestas. Depois se esquecem de nós, porque além de bestas têm pouca concentração.

Alexandre Soares Silva

o homem de quem eu sou a garota

Ele é um lindo, tem minha idade e mais de 1,80. Além de advogado, é juiz de basquete.
As coxas são as mais lindas e as mais grossas que já vi.
E ele é um gostoso, um querido, nunca vi desse jeito. E a risada dele é a mais doce.
E o beijo dele é o melhor do mundo.
E ele também gosta do Laerte e ri na mesma hora que eu e quando ele me olha eu me derreto inteira.
E ele não tem medo. E ele me faz perder o medo.
E ele diz que Deus é bom e justo, porque me deu pra ele numa bandeja de prata. E eu já agradeci pra Deus umas quinhentas vezes.
E o cheiro dele me deixa doida, e o nosso cheiro junto é uma coisa violenta.
E ele tem uma cicatriz na perna de jogar basquete e tem uma cicatriz no braço quando caiu de bicicleta. E eu fico olhando arregalada quando ele me conta essas histórias.
E o dedinho do pé dele é uma graça. E o pé dele é grande.
E ele me chama de bebê e de tatinha do tatinho.
E ele acha meu pezinho lindo.
E ele diz que eu sou uma linda, que eu sou uma delícia, e eu acredito nele como nunca acreditei em ninguém antes.
E ele diz que a alma dele fica arrepiada quando encosto nele. E eu digo que viro luz quando a gente se abraça.
E eu posso dizer tudo o que penso e o que sinto e o que eu acho, que ele ouve, lembra, respeita e concorda de coração.
Ele sabe que tenho frio nos ombros, então quando a gente deita junto ele fica me protegendo.
Ele fala um monte de bobagem na minha orelha que eu adoro ouvir.
Ele fica me mandando emeios contando o que pretende fazer comigo e eu não consigo mais trabalhar.
E é bom ficar de pé dado com ele.
E eu fico achando que me preparei a vida inteira só pra ter ele do meu lado agora.
E meu coração fica mole e morno quando penso nele, e bate de um jeito inacreditável quando ouço a voz dele.

E eu tô feliz feliz feliz feliz que podia chorar de tão feliz...



perolada

4.11.03

História real de duas ex-mulheres

Ela era a segunda ex-mulher dele. E, claro, era detestada pela primeira. Um dia, recebeu um telefonema do ex-marido, que começou a conversa mais simpático e gentil do que de costume. Estranhou, mas ,á pelas tantas, entendeu tudo. Elle explicou:

- Sabe o que é? Pedi a gerente do banco para mandar um dinheiro para a minha ex-mulher.

Ela ouvia, atenta. Ele continou:

- E a gerente errou de ex-mulher. Ao invés de mandar o dinheiro para a conta da fulana, mandou para a sua.

Ela, rápida, retrucou:

- Veio em ótima hora.

Ele, cada vez mais sem graça, pediu:

- Preciso que você me devolva o doc, por que não há como estornar o depósito.

Ela concordou. Não sem antes argumentar:

- Tudo bem, eu devolvo o dinheiro. Mas você sabe que se o dinheiro fosse para mim e tivesse ido parar na conta dela, ela não devolveria nun-qui-nha, né?

Ele foi obrigado a corcordar. Sabia que se era isso ou ela não devolveria o dinheiro.

Elas por Elas

Números que odeio

39 e 94.

O Polzonoff

3.11.03

Acredite se quiser

Tive que criar a série "Acredite se quiser" porque coisas incríveis, bizarras e inesperadas aconteceram hahahahhaha.

Cheguei agora e fiquei uns 10 minutos dando risada e pensando "não, não, não pode ser verdade, deve ter sido tudo delirium tremens, fala sério".

Nem sei por onde começar. É tudo tão incrível ahhahahahha.

Combinamos de sair e lá pelas tantas a Rose me liga e diz que o véio que ela queria apresentar pra mim estava disponível hoje. Só na cabeça dessa louca varrida podia passar uma idéia dessas, mas como ela tá sem grana, queria alguém pra pagar a conta, então ligou pra ele.

Ok, fomos para o Point 44 (que é muito legal e merece um post à parte), ela, a Márcia e eu. De repente, chega um senhor de idade em avançado estado de decrepitude HAHHAHAAHAHAHAHAA e a gente tinha que fingir que estava tudo normal. Gente, meu pai é 3 anos mais velho que ele e tá em melhor estado hHHAHHAHHAHAHHHAA.

Logo a seguir, ocorreu o seguinte diálogo:

Rose - Olha só como ele é sarado! Vocês precisam ver ele na praia. Ele parece o... como é o nome dele... o não sei quê Douglas.
- Michael Douglas?
- É. Isso.

E o véio ficou todo empertigado, se achando o rei da cocada, e a Rose:

- Não, ele parece o Kirk Douglas.

Sei. Depois do derrame.

(...)

a geriatria continua na Ilha de Siris

A saga do primeiro beijo (Post XXIV)

A paixão nos tira a graça quando acontece pela primeira vez. Não para sempre - com o tempo aprendemos a domá-la, mas no começo ela parece incontrolável. Graças a deus, nesta fase, ela assusta, mas tem os dias contados. A gente até acredita que ela morrerá conosco, mas ela passa. Sempre passa. Dói pra cacete e não há nada no mundo que cure as dores que ela traz. Às vezes, a cicatriz é tão profunda que nos faz olhar pra ela a vida inteira, mas a dor acaba. Paixão de adolescente, ou destrói um pouco do mundo que construímos, ou nos aprisiona. Foi o que aconteceu com a Marilu. Ela era livre, até que se apaixonou. O Kiko monopolizou sua mente, roubou-lhe o sorriso e tomou seu coração. Ela não conseguia se concentrar em mais nada. Por horas, eu fui obrigada a contar tudo o que sabia sobre ele, sua vida, namoradas passadas, família e interesses. Mesmo ansiosíssima com a proximidade do meu primeiro beijo, não pude deixá-la sem as respostas que precisava sobre o moço que, dali pra frente, mudaria a sua vida.
O dia acabou. Minha espera também chegava ao fim. Meus pais, que haviam deixado a Marilu dormir em casa, contrariando todo o sermão do dia anterior, decidiram implicar na hora da chuva de meteoros. Não nos proibiram de olhar para o céu, não teria lógica, já que eles acreditaram na estória do trabalho escolar, mas teríamos que fazê-lo do portão para dentro e não na rua. Foi uma decepção, mas não houve nada que pudéssemos fazer. Nos contentamos em ficar na garagem que nos separava da rua somente por um portão de grades. Dali, seria possível conversarmos com os meninos e olharmos os meteoros que os jornais prometeram.
O céu fechou. As nuvens esconderam as estrelas e a minha família desistiu de manter o pescoço virado para a lua. Eu e a Marilu imploramos pra ficar. Eles deixaram. Barra limpa, não demorou muito para o Murilo e o Ivo chegarem montados em suas bicicletas e se aproximarem do portão.
Conversamos um pouco - eles do lado de fora, nós do lado de dentro. Não teve mesmo jeito. Rimos das marcas roxas que a Marilu deixou no Ivo com a guerra de travesseiros e, pouco depois, os dois decidiram subir no muro pra conversar e me deixaram a sós e entre as grades com o Murilo. Eu não podia mais fugir. Ele começou:

- E então?
- Então...

Minha voz não saía. Ele riu e me pegou pelas mãos. Um friozinho gelado percorreu minha espinha de uma ponta a outra. Senti os pêlos dos braços arrepiarem, como nas estórias de assombração que meu avô contava, com a diferença que, ao invés de lacrimejar e correr pra perto da minha mãe, aqueles arrepios aconteciam misturados a uma deliciosa sensação corporal que me fazia querer abraçá-lo bem apertado. Ele percebeu e deslizou seus dedos pelo meu pulso.

- Você está com frio.
- Só um pouco...

Passou as mãos pelos meus braços como se quisesse aquecê-los.

- Você já tem uma resposta pra mim?

Senti um calor que coloriu minhas bochechas. Suspirei, abaixei os olhos e percebi que nossos rostos estavam próximos. Recuei um pouco.

- Suas mãos estão geladas.

Eu estava inteira gelada. Gelada, trêmula, envergonhada, assustada, preocupada e confusa. E se ele percebesse que eu não sabia beijar? Ele me deixava tão insegura! Era um garoto tão metido a sabichão! Lindo, mas galinha demais, falastrão demais. Eu tinha certeza de que ele espalharia para o bairro todo o quão beija-mal eu era. Eu não conseguia relaxar. Como se não bastasse, ainda considerava a possibilidade dele estar me fazendo de boba.

- Você jura que não está namorando ninguém?
- Não, Alê. Já disse que não. Pergunta pra Marilu, para o Ivo, pra quem você quiser.
- Eu sei, é que você não tem uma fama muito boa e você sabe disso.
- Com você é diferente.
- Você deve dizer isso para todas as meninas.
- Você acha que eu teria esperado até agora a sua resposta, se eu não gostasse de você?

Abraçou-me como pôde. Eu recuei mais um pouco, mas mantive minhas mãos entrelaçadas as dele. Mudei de assunto na tentativa de ganhar tempo:

- É, pelo visto será impossível ver esta chuva de meteoros. O céu está muito nublado. Nem a lua deu as caras.
- Só o fato desta notícia ter permitido que os seus pais deixassem você ficar aqui hoje já foi suficiente.
- Foi uma boa desculpa...
- A gente pode dizer pra todo mundo que começou a namorar em uma noite de chuva de meteoros. O que você acha?
- Uma chuva de meteoros que se escondeu de nós.
- Ah, ela deve ser tímida. Como você.

Mesmo que eu não fosse, teria ficado. Sorri avermelhada e ele me puxou de novo pra perto dele. O portão atrapalhava cada vez mais.

- Parece que essas grades não querem que a gente namore.
- Mas elas não vão impedir, vão?

Encabulada, tentei desviar meu olhar do dele. Não consegui. Senti novamente o rosto dele colando no meu. Ele me pegou pela cintura, me aproximou do seu corpo e beijou meu queixo, meu nariz, me apertou um pouco mais contra as grades de ferro do portão. Eu fechei os olhos, tentei me desvencilhar dos seus braços, mas ele me beijou.
O breu dos olhos fechados misturado com o gelo do meu estômago me causaram comichões que bloquearam meus pensamentos por segundos e, antes que eu me desse conta do que estava fazendo e pudesse avaliar se aquilo era bom ou ruim, um estrondo e um golpe do lado direito do meu corpo me jogou no chão. O Murilo deu um salto para trás apertando uma das mãos. Estava sangrando. A Marilu e o Ivo, desesperados, vieram nos socorrer.

----------> Continua
a novela em Amarula com Sucrilhos

Não sei o que houve que a empregada resolveu limpar meu quarto.
Tirou todas as gavetas de roupa do lugar e não sei onde enfiou, só que isso aconteceu ontem à tarde , alguns minutos antes de eu ir ao médico.
Ok, a madame aqui sempre não pontual, foi procurar calcinha e sutiã pra tomar banho e cadê?
Não achava nem as peças e nem a empregada.
Corrí tomei banho, saí pra ver se encontrava a dona e nada.
- Acho que foi vender minhas roupas no brechó.
Tive empregada que já fez isso. Juro.
Que merda, me sobraram só as calcinhas rasgadas na gaveta do quarto ao lado e os sutiãs da minha avó.
- O que eu fiz?
Coloquei a calcinha rasgada o sutiã da minha avó com 20 botões, a roupa e fui.
O médico estava vazio, fui atendida logo.
- O que está acontecendo?
- Dor, muita dor e bla bla bla....
- Mais alguma coisa?
- Não.
ok, va ali atrás da porta, tem um avental, tire a roupa, fique só de calcinha e sutiã, e sente na maca, não deite.Vou te ensinar a deitar.Quando estiver pronta, me chame.
Puta que o pariu.Nunca fui num ortopedista que eu tivesse que tirar a roupa e justo, hoje, HOJE, acontece isso, calcinha rasgada, sutiã da avó.
Que vergonha!!!
Tirei a roupa coloquei aquele avental ridiculo, aberto atrás, não sei pra que serve aquilo, sentei na maca e me senti muito constrangida de ter que gritar pro médico:
- To pronta, pode vir.
Parecia noite de núpcias, eu ali sentada, esperando o médico vir me ensinar à deitar. Mas precisava tirar a roupa pra isso?
Eu não costumo dormir de aventalzinho de consultório.
-Coloca mão aqui , depois aqui , depois ali e pronto.
Grande coisa e não é o que eu faço todos os dias pra deitar?
- Vira de barriga pra cima
- Tá
- Tô passando a mão na sua perna, tá sentindo?
- Claro né? Tô com dor na coluna, não tô aleijada que não sente as pernas, e é a perna direita que dói.
- Eu sei minha filha, mas tem que examinar as duas.
- Tô apertando aqui, dói?
- Já disse que é a outra perna que dói, a direita.
- Calma, você tá ansiosa né?
- Não, é dor mesmo.
- Sente dor nos seios?
- Não, aqui não tem dor nenhuma não!!!
- Vira de barriga pra baixo.
- Tá.
E foi a mesma coisa, dor aqui, dor ali, aí não!!
- Pode sentar e colocar a roupa.
Gentilmente ele pegou a minha calça e me vestiu.
Ah, mas é um amor de médico, não? Achei até que ia querer colocar minha blusa também.
Calcinha rasgada, sutiã da avó, tudo doendo e médico xarope. Ainda bem que era feio.
Ele me explicou mais ou menos o que era, pediu tomografia, receitou as benditas injeções, disse o que eu podia e não podia fazer e tudo resolvido.
Passei no lugar pra marcar os exames e a mulher disse que eu já poderia fazer, pro meu azar, porque aí era outro avental e outra vergonha.
Malditos aventais!
Mas quem faz uma, faz duas, faz três...
Cheguei em casa a empregada veio dizer que colocou minhas gavetas de roupas em cima do canil e os pombos cagaram dentro.
- Mas que colocasse a tua bunda no sol, onde já se viu, colocar minhas roupas em cima da casa pra tomar sol, é pra pegar uma cor?
Hoje estou sem roupa de novo. Choveu, já vi que nada vai secar e resolvi que vou de fralda geriátrica da minha avó ao médico no lugar de calcinha rasgada.
Muito mais digno.

casos e acasos virtuais

Nunca acreditei em Deus. Mas na juventude, tinha a mania juvenil de perder tempo e esforço em provar coisas. Queria provar que Deus não existia. Gastei muito tempo sendo um ateu.
Depois, descobri a solução dos meus problemas. Economizei tempo pra sacanagem e pra amizade, e não discuti mais a existência de Deus. Se Deus existe ou não, não me preocupa. Tornei-me um agnóstico, a melhor das conveniências.
Imagino que na velhice, lá no leito de morte, acabe acreditando em Deus. Mas não tenho ilusões. Será uma crença absolutamente pragmática. Pragmática e interesseira. Ainda assim, me recuso a pagar seguro, acreditando diariamente na existência do tal Deus.
Sobre o tema, continuo a achar que não há melhor argumento do que o famoso silogismo de Epicuro, um ídolo permanente. Quando a tentação juvenil de discussão volta à cena, vale soltar o bordão. Aí vai:

"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não os impede?"

Ainda assim, não troco uma boa piada por toda essa discussão.

o AMARAR tá de volta à Capitar

1.11.03

Quando minha mãe disse baixinho olhando-me nos olhos: "não trabalhe muito, não vale a pena", tentava apenas me poupar. Reabilitava-me de uma estafa e queria retornar ao serviço, esquecido de quando, ao chegar em casa vindo do trabalho, arrebentara a pia do banheiro ao apoiar-me no meio de um desmaio, completa e temporariamente aniquilado. Os olhos preocupados e meigos de minha mãe velando seu pálido e jovem filho na manhã distante, trazem-me conselhos desprezados. Por que os filhos não atendem às mães? E eu, especialmente, por que fui tão desobediente daquela vez e de inesquecíveis tantas outras? Por que fui tão rebelde, e o sendo, como fui domesticado? Como é que se amansa um selvagem? Talvez com presentes, como os que ganhei de minha mulher, um veneno dosado, devagar e pacientemente, e com exercícios, tornando-me tão cansado que até o pensar num certo tempo tornou-se uma atividade sempre interrompida pelo sono mortal que me atingia impiedosamente. E com castigos, retirando-me as delícias com que me viciou. Os presentes de minha mulher, sim, eles queimavam minhas entranhas, o ventre que eu tocava, o corpo que eu possuía e a consequente febre que que quando ausente me ardia. Eis duas mulheres, uma pacífica e cordata - minha mãe -, e outra ferina, dominadora, aquela com quem me casei fazem quase vinte e cinco anos, um inesgotável poço de desejo. Se não mais ganho presentes e tenho espaços para andar e tempo para pensar, ressurjo nesta silenciosa madrugada de primavera preparando-me para a liberdade. Mãe não tenho mais. Em compensação, a mulher que me restou em vida é a tormenta, o trovão, a ventania maldita que quase me derrotou. Eu a vi passar por perto horas atrás arrastando consigo um perfume de sabonete após ouvir os ruídos da água do chuveiro caindo enquanto ensaboava o corpo e ainda quis dele estar junto entre espumas e ardências, a língua desejando ser membro, o pênis engolido numa chupada. Como pude tantas vezes poetar arfante sobre aquele corpo? Distante, talvez, mas não esquecido e na memória como se a desenhasse, traço seu contorno numa linha segura a partir de sua testa proeminente, o nariz curto, lábios pequenos e o forte queixo arredondado de onde despenco pescoço abaixo atingindo os seios que sempre couberam na palma da mão e o corpo macio, o umbigo recolhido, até o púbis saliente antes das fortes pernas de quem regularmente se exercita, sem a menor estria, e pés delicados, pernas que me inspiraram toda uma série de desenhos, pinturas e esculturas. Quis falar de minha mãe e desviei a atenção inesperadamente, mas estou preparado para anotar o que me passar pela cabeça, para que o esquecimento não me traia e ainda haverei de contar de outras mulheres, de outros amores, sucessos e fracassos, e de como se faz um homem, feito boi marcado.

Mulheres em Longos Dias, Belas Noites

Sinais de Vulgaridade

A onipresença de picapes e “utilitários”. No início, eu achava engraçadinho. É muita feiúra de espírito. Um Passat amassado (dos antigos) seria menos mal.

Qualquer carro que custe mais que R$40 mil. Carro excessivamente limpo. Braço pra fora da janela. Decalques engraçadinhos. Qualquer tipo de decalque.

Gente que diz “balada”. Gente que diz “na night”, ou “eu sou da night”, etc. Gente que atende o telefone e diz: “Belezinha?”. Gente que vai pra Cancun na lua de mel.

Criança com celular. Qualquer um com celular.

Gente que apresenta a mulher como “minha esposa”.

Serviços de atendimento de absolutamente qualquer empresa do mundo todo (“Pois não, senhor? Mas, senhor, isto é para que possamos estar enviando o Notification Card Two Thousand Two em seu domicílio ou lugar de sua preferência, senhor”).

As músicas “New York, New York” e “My Way”. Cantores: Andrea Bocelli (“aquele ceguinho que canta”), Sarah Brightman, Charlotte Church. Música popular italiana para gerentes de RH (Eros Ramazotti, Laura Pausini, etc ad nauseam).

A maneira com que as pessoas adoooram Elis Regina, e sempre assumem que você adora também (alguém coloca um CD da Elis Regina, uma mulher com copo de uísque na mão sorri pra você e diz: “A Elis é o máximo, não é?”)

Lilian Witte Fibe. Sim, porque ver a vulgaridade de gente como Hebe Camargo ou Angélica é fácil demais. Versão masculina: João Dória Jr. Qualquer um que use aquelas camisas azuis ou cor-de-rosa com gola branca.

Telefilme “baseado numa história real”. Filme de época com mentalidade moderninha. Filme em que o vilão é vagamente aristocrático, mas o herói é “gente como a gente” (ouvindo rock no walkman durante concerto chato, por exemplo).

Gente que escreve carta para jornal, pra “parabenizar” ou “felicitar” pela “sensível reportagem” que “enfoca o problema dos” etc etc.

Crítica que diz que tal filme ou livro “transforma o sonho americano em pesadelo”, e qualquer uma das variantes dessa frase.

Professores de cursinho, porque são “engraçadinhos”.

O santo padroeiro das pessoas vulgares: Ayrton Senna.

O esporte mais vulgar: Fórmula Um. É o esporte nacional dos gerentes barrigudos que se cumprimentam de longe gritando: Graaaande Armandinho! Graaaaande Roberval! Sinceramente, até campeonato de aeróbica é melhor.

Cultura de bar. Figuras folclóricas “da noite”. Jornalistas esportivos. Poesia de jornalista da Globo (por exemplo, descrevendo o brilho nos olhos de um adolescente que vai votar pela primeira vez. Ou a alegria no rosto de uma velhinha que foi aceita numa faculdade qualquer e voltou a se sentir cidadã, mulher na plena acepção do termo, alma independente na luta contínua pelo crescimento e participação, etc. Ai, que bonito).

“Homens de Marketing”. Aliás, a própria palavra “Marketing”. Diga: vendas.

Gente que diz “players” quando quer dizer concorrentes, e “líder” quando quer dizer chefe.

A seção O QUE ESTOU LENDO na Veja (mas é engraçado). A Veja toda, é claro.

Aqueles homens broncos de 60 anos que vão na padaria de sandália e acordam cedo pra ver programa agrícola na TV e lavar o carro, e que tem livros como “Rommel, a Rapôsa do Deserto”(sic) e “Heróis Esquecidos da FAB”. Ah, sim: eles admiram Mussolini porque “os trens sempre chegavam no horário”.

Madame de rosto esticado que diz: “Gente do nosso nível...”. Qual, Madame?

Air guitar.

Igrejas em que senhoras entusiasmadas balançam os braços ao som de violão.

Momento de vulgaridade paroxística: você foi convidado para jantar por um casal recémcasado, quando de repente percebe que os talheres são do Castelo de Caras! (Isso porque você já tinha fingido que não tinha visto o poster de Nova Iorque na sala.)

Livros de etiqueta. Gente que arrota e pede desculpas (soltar pum e pedir desculpas depois pelo menos é engraçado). Gente que manda cartão de agradecimento por qualquer coisa.

Alexandre Soares Silva

Há certas coisas que não adianta querer explicar quando as noites são longas demais e você fica dando voltas pela casa se perguntando em voz baixa como tudo começou. Moro numa rua sem saída de uma cidade pequena onde o único armazém do lugar fica na minha esquina. Quando me canso de andar, é no balcão do armazém que eu paro para pensar. O estabelecimento tem cinco metros de largura por seis de profundidade e dois bêbados fixos que não dão conta da minha presença. Atrás do balcão descascado os braços rechonchudos da dona do armazém embrulham o feijão, o arroz, a farinha, o pacote de macarrão, a lata de sardinha, o sabão em barra, o pão de fôrma já vencido. Sim, e as salsichas. Toda vez que chego com sede eu sei que só posso pedir cerveja barata, cachaça ou coca-cola. Peço a cerveja e os braços rechonchudos erguem a tampa do freezer coberto de ferrugem. São braços brancos, flácidos, onipotentes. E ocupam o espaço de todo o armazém. Quando eles se movem, os bêbados param de beber, o ar fica em suspenso e a poeira não baixa. A lâmpada engordurada não balança mais sobre a única mesa. Quem está fora não entra, quem está dentro não sai. Eu fico imóvel e ouço a tampinha da garrafa quicar no chão. Quatro vezes. Volto a piscar só quando os braços se acomodam no balcão feito uma raposa empalhada. Retomo o pensamento de onde parei. Há certas coisas que não adianta querer explicar quando as noites são longas demais.

Prosa Caotica

Desde muito pequena eu freqüento a escola. Minha mãe e meu pai trabalhavam, portanto me colocaram numa escola assim que possível.

Eu estudava numa escolinha pra crianças (Rosazul), que tinha desde a maternal até o prezinho. Era o meu segundo lar. Conhecia todos os professores, a diretora, as tias da cantina...
Quando eu estava no jardim, tinha minha turminha da pesada. Eu e umas amiguinhas vivíamos aprontando. Tínhamos a mania de fugir da sala para nos esconder. Na ingenuidade que a idade nos conferia, nosso esconderijo predileto era embaixo da mesa da diretora. Logo que dava pela nossa falta, a professora ia direto pra lá. Sempre nos colocavam de castigo na sala do maternal. Era o pior grau de humilhação na tabela moral da escola. Depois de cumprida a pena, saíamos do berço de cabeças baixas, sem ter coragem de encarar nossos colegas de classe. Isso, claro, até a nossa próxima fuga espetacular. E, óbvio, até o próximo castigo, já que voltávamos à mesa da diretora...

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Meus anos no Rosazul foram maravilhosos e divertidos. Meu primeiro beijo foi dado lá.
Igor era o nome dele... loirinho, olhos azuis. Apenas na troca de olhares nos entendíamos. Eu olhava pra ele, ele olhava pra mim, e nos escondíamos debaixo da mesa. Ficávamos nos amassando lá, beijando calorosamente. Claro que no beijo não entrava língua. Nojento demais! Mas o jogo de bocas era fenomenal. Digno de profissionais.
Nessa mesma época, coincidentemente, comecei a ter dores de barriga terríveis. Pelo menos pareciam terríveis pra uma menina de quatro, cinco anos...
Fui então investigar com minha mãe. Eu estava com medo.
- Mãe... como é que uma pessoa se sente quando está grávida?

Blog de uma Cucaracha