31.10.03

Jogando búzios
Por Bia Jagger

Há semanas atrás vocês lembram, eu tive ímpetos de atirar meu telefone pela janela porque percebi que estava em casa, de repente em uma espécie de plantão inconfesso, mais uma vez esperando e esperando aquele telefonema que nem sei se aconteceu. Não fiquei pra saber e se tocou jamais admitirá, o crápula digo, não o telefone.

Aqui no Rio tem uma hora que a praia pinta e em um dia especial que é a partida do inverno e a largada do verão. Isto é claro acontece sempre durante a primavera. Como num sinal cabalístico secreto, todo mundo larga tudo e se move em bandos como lemingues para o point. Quem perder a largada na segunda-feira será facilmente reconhecido pela cor destoante.

Todos adquirem aquela cor de cobre que é a meta final de meses de preparo dos bumbuns e culotinhos para caberem naquele biquíni novo, propositadamente comprado no número abaixo. Os telefones só tocam o mesmo convite : praia!

Eu para racionalizar minha fossa eminente, pensava que era melhor mesmo que eu estivesse só nesta época e que merecia curtir esta minha nova e duramente conquistada liberdade, em um primeiro verão de muitos que passei tentando agradar e sendo em troca agredida.

- É isto aí amiga! Vamos abrir a temporada em grande estilo! Alugamos uma casinha em Búzios que é uma gracinha e vai sair baratinho já que somos 5 com você 6. Todas livres leve e soltas, prontas para torturar quantos Argentinos apareçam em João Fernandes. À noitinha vamos desfilar o bronze na Rua das Pedras comer e beber bem!

Este foi o segundo de outros tantos convites que surgiram assim, pufff e assim decidi também, puff e eis-nos em Búzios. Vocês lembram que eu comentei na volta, só não sabem é o que rolou por lá.

Fortalecida com toda esta liberdade em doses para hipopótamo, pude enfrentar e resistir galhardamente à Lúcia chorando em uma rede na varanda da casa, desde o minuto que desfez as malas até sua volta no dia seguinte mesmo, de manhã e antes do café. Um horror de fossa!

Motivo: tinha acabado com o namoro e não era coisa muito antiga. Que boboca não? Como é que pode, por causa de homem! Eu hein! Tesconjuro e praia!

Eu encontrei no mesmo dia na praia, um velho amigo com quem eu sempre nutri um certo clima no passado jurássico e voltamos a nos ver de noite. Saímos mais cedo do Chez Michou e como eu estava com a chave da casa, resolvemos ir para lá por uma sugestão dele.

Ficamos sós, abrimos um bom vinho e escutamos todos os discos de jazz que levamos conosco. Eu estava no clima, mas ele não. Não me deu nem um beijo, nem de despedida! Eu tomei o lugar da Lúcia na rede, depois que ele se foi e chorei tudo o que tinha, até de manhã.

Não sei o que foi pior, se enfrentar meu poço profundo ou ter que fingir o resto do fim de semana para ficar dentro do meu script de linda leve e solta! Rindo muito sempre eu desejava lá no fundo que todo o capim do mundo secasse e meus homens todos, morressem de inanição.

Nestes 3 dias, comi como uma anta, bebi como uma lontra e tomei todo o sol do Geribá.

Voltei negra! Por dentro também. Meu coração está descascando até agora e dentro de um peito, nada proposital, um número menor!

chefe & cia.

Terminal do Guadalupe

De manhã, não importa o quanto eu arrume o meu cabelo, lute e brigue com ele por não estar do jeito que eu gostaria, de qualquer jeito, eu vou passar ao lado do Terminal do Guadalupe, e sentir aquele odor curtido de urina, vindo dos sanitários públicos. Ainda é 11:15 da manhã. Não importa o quanto a minha cara esteja amassada, e a barra da minha calça suja, ou as minhas botas empoeiradas e mal engraxadas, o cafetão gordo e cearense, que fica sempre parado no telefone público, cuidando do movimento da rua, e conseqüentemente das suas putas, ali próximo à Travessa da Lapa, vai me abordar e dar "bom dia moça, vai almoçar comigo hoje?". E se eu não andar rápido, e não for precisa no meu movimento de desvio, o cara ainda me passaria a mão na bunda. E já pensou? Brigar com um fulano desse em plena calçada? Perigo levar uma navalhada, e agora, não temos mais a Tribuna, com suas páginas sangrentas pra eu ser capa, ou destaque, com foto colorida, na sexta-feira do Hallowen.

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Comprei uma estola de plumas. A verdadeira estola de plumas. Elton John style! Dá a volta no pescoço e ainda bate no chão. As plumas alaranjadas. Tinha cor de rosa, tinha sim, mas quer saber? Eu mudei. De repente voltou aquela vontade de comprar uns Raybanitos de camelô, muy estilosos! E onde é que eu vou com toda essa parafernália? Sei lá, o mundo é enorme! Posso me rebatizar, virar travesti, e a partir de agora ser Dan-Dan, a louca.

Blue Idol

30.10.03

As 3 tattoos

1 siri
6 conchas
1 peixe

hahahhahhaha. É uma caldeirada.

Eu estava conversando lá com a Malu, a tatuadora:

- Você gosta de coisas do mar, hein?

Pois é. Eu gosto. E papo vai, papo vem:

- Como chama a sua filha?
- Marina.

hahhahahhah. É uma obsessão.

Ilha de Siris

Brasília
ou A Lei do Mais Denso

Meu namorado hoje me explicava o que era osmose. Eu sempre entendi a osmose como uma mera absorção. Hoje eu fiquei sabendo que o fenômeno compreende um pouco mais do que isto: é absorção de um corpo (ou meio) menos denso por um meio mais denso.

Ele me explicou que é a pele que nos impede de simplesmente desintegrar, já que somos menos densos que a água de uma piscina, por exemplo. Se não houvesse a pele, toda a água do nosso corpo se esvairia quando entrássemos no mar.

Então eu me lembrei de quando eu vivia em Brasília e tinha constantemente a sensação de que iria me dissipar naquele céu gigante. Os horizontes eram tão amplos e as paisagens tão desertas que eu sentia os pensamentos escapando de mim, depois eu mesma me escapando, até sentir o medo de estar me dissolvendo para sempre e nunca mais voltar a caber em mim.

A solidão me tirara a pele. Eu não me limitava por mais nada, nem pela paisagem, nem por vivalma. E assim eu me esvaía docemente olhando o pôr do sol.

Brasília é um lugar denso para se viver.

O Chaveco

29.10.03

Constatação da noite de ontem:

Existem duas coisas que invariavelmente me fazem chorar: matemática e hardware.

oooooooops!

Preciso me manter longe de mim mesma, antes que eu acabe me machucando. Todos sabem que crianças não devem brincar com fogo. Preciso me levar para passear e ver se me distraio e traio o que venho sentindo, se esqueço do que me preenche e consigo fazer de conta que isso tudo aqui não é comigo e que, apesar das evidências empíricas em contrário, não vai durar para sempre. Preciso urgente de uma viagem para longe da minha vida que me leve a lugares desconhecidos, desses onde eu não queria estar, para ver se encontro lá um outro eu e reencarno viva para parar de matar meu futuro a ferro, fios e cortes. Preciso tomar um porre de algo forte que me faça perder o norte, essa única direção conhecida, e ver se cambaleando a esmo entre vazios encontro o rumo de mim mesma.

Não Discuto

chocolate...

domingo à tarde, sol forte, típico do verão gaúcho. fernando e laura estão em casa, no quarto, quase sem roupas devido ao calor. laura olhava-se longamente no espelho, só de calcinha, analisando-se. fernando, deitado na cama, totalmente absorto na televisão, assistindo a um jogo de futebol. sem olhar para ele, laura perguntou, atenta ao que observava no espelho.

- amor, eu tô mais gorda, né??

fernando ouviu claramente a pergunta, mas preferiu o silêncio, enquanto mentalmente fazia as contas para certificar-se de que estavam ¿naquela¿ semana. seguiu olhando atento o jogo que passava, inclusive reclamando de um erro do ataque de seu time.

- chuta, chuta...
- amor!!! tô falando contigo...
- hein?? ah, desculpa, paixão... tava distraído...
- também, com este monte de cerveja que tu tomou no almoço, e futebol na tv é como seu eu não existisse pra ti, né??
- não, hã... é que... ah, que bobagem, meu amor... o que tu disse mesmo?
- perguntei se tu concorda comigo que eu tô mais gorda?

agora não tinha escapatória. sabia que uma resposta errada neste momento podia encaminhar o tranqüilo fim de domingo em um inferno. mas ele precisava responder. ou enrolar.

- dá uma voltinha, amor.

laura saiu da frente do espelho se colocou na frente da cama, mãos na cintura, girou para um lado, para o outro, sorriso no canto da boca. adorava se mostrar para o marido. parou de frente pra ele, olhos nos olhos, ansiosa, esperando a resposta dele. fernando pensava em como falar isso da melhor maneira possível, e começou bem: desligou a televisão.

- tá meio longe, não tô conseguindo ver direito. vem aqui pertinho, vem...

o sorriso discreto alargou-se no rosto de laura. dirigiu-se insinuante, lânguida, lasciva para a cama. e foi maravilhoso. fernando sabia que tinha que ser maravilhoso, afinal, laura precisava disto. depois, comeram alguns pedaços de chocolate que estava sobre o criado-mudo e foram ao banho com o tesão ainda fervilhando em seus corpos. embaixo do chuveiro resolveram continuar a festa do domingo a tarde. inebriados pela paixão, fernando encostou laura na parede e ergueu-a para poderem transar mais uma vez. mas quando levantou-a, deu um grito ao sentir uma fisgada forte nas costas. soltou laura no chão e colocou a mão às costas com a expressão contraída de quem estava sentindo muita dor. laura cobriu parte do rosto com as mãos, tapando a boca, preocupada.

- tá tudo bem?
- tá, tá... não foi nada...
- foi sim... viu, como eu tô gorda?

fernando preferiu não responder, e colocou a cabeça embaixo do chuveiro frio para demonstrar sua contrariedade com a pergunta. laura saiu emburrada de dentro do box, batendo as portas e encharcando o caminho entre o banheiro e a cama. estava furiosa e fernando sabia que nada do que fizesse neste momento, iria acalmá-la. talvez um pedacinho de chocolate. mas, como oferecer um pedaço de chocolate, para alguém que começaria um regime no dia seguinte??


estranhas palavras

Ah, como é difícil.
Dizem que tudo só depende de você. E pode até ser, mesmo, mas pra isso é preciso chegar a um certo ponto da zona onde as coisas normais nem sempre acontecem.
Por favor, passe-me o controle da minha vida, sim?, como quem pede mostarda à mesa do jantar? Eu acho que não.

(...)

The real folk blues

Os Oito Mandamentos Para Falar Ao Telefone

1. Não deveis urinar.
Esse é de longe meu problema principal. Minha filosofia urinária principal diz que quando vc precisa mijar, vc TEM QUE mijar. Só houve uma vez, que eu me "aliviei" bem devagarzinho, com medo de ser notado, mas isso aconteceu em nome do amor. Em todas as outras vezes, é como xixi de cavalo e a situação ainda é agravada pelo fato de que eu sinto a necessidade de anunciar o mijo, não importando o rumo da conversa: "EU TÔ MIJANDO!".

2. Não deveis beber metade de uma garrafa de vinho.
E muito menos uma inteira.

3. Não deveis ficar equilibrando-se na cadeira, e principalmente, não deveis cair dela.
Sério, isso tem que acabar.

4. Não deveis oferecer-se pra comprar coisas pras pessoas.
Eu estou duro. Completamente. Todo meu dinheiro é imaginário, e apesar de eu amá-lo, no mundo real ele não tem muito uso. Não me deixe vender o computador também. A menos que vc seja bem bonitinho e eu queira realmente ajudar.

5. Não deveis deixar vir à tona memórias obscuras, esquisitas e escondidas da infância.
E se isso acontecer, deveis reclamar de cólica e desligar o telefone.

6. Não deveis insistir em listar as inúmeras razões pelas quais os homens não se interessam por vc.
Principalmente se vc se interessa pelo homem que está no telefone.

7. Não deveis fingir que não acordou agora.
Porque vc nunca consegue enganar ninguém.

8. Não deveis colocar o telefone no meio das pernas ou dentro da cueca.
Na verdade, eu não tenho nada a ver com isso, quem faz é uma outra pessoa. Mas agora que eu sei disso, temo não resistir e experimentar.

. my own pretty hate machine .

Guardanapo V

Na mesa à frente um grupo paga e outro senta. Dois casais. Um camarada lá pelos 25~30 anos, com um inacreditável bigodinho no melhor estilo Cantinflas, acompanhado dos pais e da namorada.

Na mesa ao lado, um casal de namorados come uma pizza 1/2 margueritta,1/2 tomate sêco com rúcula entre sorrisos e casos contados.

A garçonete insiste em demorar em nos trazer dois copos com gelo.

Na mesa do camarada com bigode de Cantinflas, a conversa sobre futebol não parece empolgar nem a mãe dele nem à namorada. Permanecem mudas.

De repente todas as atenções são voltadas aos quatro sagüis que passam correndo por cima dos cabos telefônicos e brincando nas árvores. Nem ligam para os ônibus e buzinas dos carros. Por um momento lembro do casal de sabiás que canta na minha janela todas as manhãs, em outra rua movimentada do Rio de Janeiro.

O pai do rapaz pergunta porque ele tem jogado pouco futebol, ele diz que perderia a namorada se ficasse jogando pelada aos sábados. O pai retruca, com a moça presente, que se fosse com ele ela teria que se acostumar, que ela que fosse fazer outra coisa. Sem graça, permaneceu quieta, talvez pensando nas outras coisas que poderia fazer enquanto o camarada de bigode Cantinflas jogava bola. Se me perguntasse, eu teria dado várias sugestões. Nenhuma delas levaria em conta o que o Cantinflas iria pensar a respeito. Muito menos o pai dele.

Depois de pedir à gerente, chegam os copos com gelo. Na outra mesa, toca o celular do rapaz. Aquele que saboreava a pizza e trocava sorrisos com a namorada. Ele atende e sua expressão é de contentamento. A namorada fica olhando. O papo demora, em tom baixo. Ela deita a cabeça na mesa. A mão direita sobre o braço esquerdo, exibe suas unhas vermelhas. Tenho uma opinião particular sobre unhas vermelhas, mas ela não cabe aqui.

Após uns 10 minutos, o rapaz desliga o celular e a namorada pergunta quem era. Sorridente, ele responde ser fulana, sua grande amiga e que ela estava doida para conhecê-la. A moça faz uma cara de irritada e diz que ela estava mentindo, que não devia ter o menor interesse em conhecê-la, bate as unhas vermelhas na mesa, ajeita o vestido branco de bolinhas pretas e sai da mesa de qualquer maneira em direção ao banheiro. Todos olham.


Guardanapo VI

Tomate sêco com rúcula parece ser a pizza da moda, servida e pedida em todos os lugares. Já operei na bolsa e digo: quando está todo mundo comprando, está na hora de vender e realizar lucro. Embora rúcula pareça nome de doença. Fulano não vem? Não, coitado. Está com rúcula.

O rapaz espera pacientemente que a namorada ciumenta retorne do banheiro. Um pedaço da metade margueritta mais do que fria, outro da doença, digo, da rúcula.

Na mesa encostada à varanda, as quatro amigas pedem o quê? advinhou quem pensou numa pizza família de tomate sêco com rúcula. Já chegaram às gargalhadas pedindo quatro chopps.

Na mesa do rapaz com bigodinho Cantinflas, o assunto é a péssima fase do Vasco da Gama. Discutem animadamente pai e filho. A mãe devora um pratinho com pickles, a namorada observa o movimento na rua entre um gole e outro de caipvodka. Poderosa ela.

A mulher das unhas vermelhas e vestido branco de bolinhas pretas retorna do banheiro mais nervosa do que levantou. Dá com a coxa na mesa, quase derruba o chopp do pacato rapaz.
- Quer saber? diz ela elevando o tom da voz já estridente. E continua.
- Também vou arranjar um melhor amigo para ir ao cinema comigo, sair para tomar chopp, sem você. E vou pedir para ele ligar quando estivermos juntos. O rapaz, de tão sem graça, parecia não saber nem onde colocar as mãos, ainda tenta se justificar, como se existisse algum motivo para alguém se justificar por ter uma amiga e com ela, ter vontade de sair e bater papo. Era só o que faltava. Fico imaginando por que motivo um sujeito namora uma maluca daquelas. Case study? Vai ver está cursando psiquiatria. Namorada(o) arruma-se aos montes. Amiga(o) não. Conta-se numa das mãos e muitas vezes sem utilizar todos os dedos. O garçom aparece e o sujeito, ao invés de pedir a conta, ainda tem coragem de perguntar se ela quer sobremesa - e ela quer - e pede duas mousses de chocolate. A reclamação continua. Até o Cantinflas já percebeu e acena com a cabeça para o pai, cortando o assunto Vasco da Gama. E sem sair do colorido, já que a moça veste branco e preto. E aquelas unhas vermelhas.

A pizza das quatro amigas chega lá pela terceira rodada de chopp.

papel de pão

28.10.03

Devo estar pagando castigos por atos pregressos.
A minha crise nas costas que não me atacava há 2 anos resolveu atacar 2 vezes no último mês.
Não consigo mexer o braço, nem sequer abrir uma porta sem desencadear uma dor na parte superior das costas. E é dor de gritar mesmo, não são pontadinhas.
Conheço o nome de todos os remédios que tomo (que são os mesmos de minha avó). Estou fazendo acupuntura e tomando florais de Bach. Dormi no chão e acordei gripado.

Às vezes tenho a impressão de que meu inferno astral me ataca sempre com 3 meses de antecedência.

Silenzio, No hay banda

27.10.03

eu não queria pagar os preços das coisas; porque, meu deus?
porque eu tenho que fazer exercícios para emagrecer e estudar para ser inteligente? Que inferno!
Tem pessoas que comem feito umas putas e são magérrimas, e outras que não fazem nada e têm um QI de 180. ai, fodam essas pessoas, elas merecem a morte eterna por ter como função vitalícia causar inveja nas pessoas gordas e burras.
uma solução seria morar com alguém inteligente e magérrimo, e ser influenciado. além de ser...
...privilegiado com tão boa companhia.

adoçante

26.10.03

: Tou bêbida e que se foda!!! ::

Comprei, comprei, comprei sim, meu caralho!!! Tou feliz demais! Tou bêbada e feliz demais, bêbida que nem um gambá, e deus-o-livre, caralho, quanta felicidade! Comprei sim! Capitu Sou EU, o novo do Trevisan, grande bosta! Grande bosta que sou, grande bosta que ele é!!!!

Fiquei brincando de tirar dinheiro do caixa-automático, até resolver o que eu iria fazer. Queria ter um caixa automático em casa, pra ficar brincando de tirar dinheiro, que nem tem maluco aí que queria ter máquina da Coca Cola, só pra ficar espancando o dia inteiro. Ou uma daquelas máquinas dos cassinos de Las Vegas, que fulano roda e tem que fazer um trio de figuras igualzinho, como é o nome daquela porra de máquina, aquela dos desenhos do Pica Pau? Podia até sair dinheiro falso, de mentirinha, eu não ligava. Aquele é meu momento. Meu momento tirar dinheiro do caixa automático. E podem me enterrar junto com os indigentes quando eu morrer, que eu não ligo, eu pelo menos tive o prazer de tirar dinheiro no caixa automático. Ai, que grande bosta de pira! Que pira mais louca!

Aí, eu nem quis saber de porra nenhuma, esse dinheiro é meu, meu último dinheiro feliz, deixa eu ir ali na esquina comprar alguma coisa que me faça gozar, e não tem nada a ver com o pau do meu ex! Me dá o último do Trevisan moça, e embrulha pra presente que hoje a noite é minha, e que se foda o mundo. Trevisan vai entrar pelos meus poros, pela veia, até a última ponta. E se vender Skol nessa porra, me manda duas já, porque o dinheiro dá para os dois vícios sagrados, a cachaça e o Trevisan.

E que se foda! Tou bêbada mesmo, e tou vestida de vermelho, e que se foda! Que se foda o All Star, eu quero é as minhas fantásticas e gigantescas botas, e o meu delineador perfeitamente borrado, e a minha bocona pintada com um batonzão nervoso. Que se foda essa cara pálida, que há quanto tempo mesmo não vê uma pintura?!

Que se foda o ex, que se foda o pequeno, que se foda as rápidas conquistas em busca de cerveja no Largo da Ordem, que se foda se a vida é barra pesada, que se foda o subsolo do underground, que se foda, que se foda, que se foda as luzes amarelas assimétricas de Curitiba. Que se foda o Fire Fox e sua janela perfeita, de onde as luzes assimétricas não me sossegam o facho, e me cegam de Skol e copos por todos os lados. É sexta feira, antes da meia noite, e eu tou em casa, viva, feliz, e meio embriagada, mas estou em casa, em segurança, e que se foda!

Que se foda Dalton tá aqui comigo, e que se foda.

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Outubro/2003

Eu fui, depois de ter feito amaior merda da minha vida. Melhor não revelar o nome dela. Especialista em dependentes químicos. Tava na lista. Páginas amarelas. Um consultório todo estiloso, branco, com almofadas de cores quentes. Qual é o seu problema Daniele? Eu bebo. Eu tinha dezoito anos. Depois, na semana passada... Era algo totalmente fora de ordem. Flashes de cinco anos atrás, depois flashes daquela semana horrenda. Pai, mãe. Botecos. Namorado. Ex-namorado. Vida. O que quero ser. Mais perdida que cego em tiroteio. Vim andando, não conseguia achar o prédio. Não vou chorar. Eu quase chorei. Engoli tudo. Ela disse que ali era o lugar de chorar. Vou ter que conversar com seus pais, você mora com eles, e enquanto você morar e for sustentada por eles, eles tem que te ajudar. Não só financeiramente. Eu acho que minha família inteira precisa de psicólogo. Eu falo com eles. Saí de lá tonta. Uma mistura de alívio e dor. De peso, e alívio. Tudo misturado. O choro entalado na garganta. Dor no rosto. Palpitação, e ainda tenho que ir trabalhar e dar de cara com aquela catarina vagabunda! Passei duas noites em claro, chorando. Depois comecei a me controlar. Dava uma choradinha, virava para o canto, e tentava dormir. Eu que achava que psicólogo era médico de louco, quase me ajoelhei diante dela, implorando pra que ela não me deixasse mais sair. Mesmo sabendo que ela é médica de gente desequilibrada, eu fiquei feliz, porque nos últimos cinco meses, ela foi a única que me pegou pelos ombros, jogou minha estima pra cima, e disse: Você pode recuperar tudo isso.


Mas...
Não deu certo. Ela não atende por convênio. Meu pai imediatamente achou muito caras as consultas. Chamou a médica de mercenária, só porque ela concordou em voltar a fechar com o convênio do meu pai, porque disse que "gostou de mim", [afinal, quem não gostaria de tratar a mente de Dani Blue?]. Ela também sugeriu que meus pais fossem falar mais de perto com ela [fazer terapia], meu pai, óbvio, se ofendeu. Afinal as loucas da família sou eu e minha mãe, ele não tem nada. Mandou eu procurar outra médica, do convênio dele. Não quis nem saber quando eu disse que ela tinha concordado em voltar a fechar contrato com o convênio dele. Eu disse que não iria em outra psicóloga, passar por todo aquele sofrimento da "primeira vez" novamente. "Esquece", ele disse. Tou pintando meu pai como um carrasco, mas ele não é. Imagina só, a psicóloga deve ter mexido com os brios dele dizendo que a família inteira precisa se tratar.

Agora o assunto virou tabu, ninguém mais fala, ninguém mais comenta. Eu voltei a semana toda pra casa bêbada. Direto para o meu quarto. O segredo sujo da família.


:: Blue Idol :::: you see I, I don't want, to be hurt by love again ::

25.10.03

Essas mulheres...

Tia Magaly sempre foi mulher meio insegura, se achava feia e infeliz porque nunca conseguiu "segurar" um marido,mas era talentosa.
Talentosa na área dela, advogada de mão cheia,procuradora do Estado, moça comportada, até onde sabíamos.
Sempre desconfiei desses bons modos,não com olhos preconceituosos, mas com olhos de curiosidade mesmo.
Em 98 viajamos juntas,dar umas voltas por aí e uma das voltas mais curiosas aconteceu em Berlim.
Foi com a testa brilhando, tinha acabado de fazer uma plástica no rosto, daquelas que se sorri, mexe o dedão do pé.
Todas as noites durante a viagem, saíamos para beber, quer dizer, ela saia pra beber e eu pra olhar, porque ela não me deixava beber, no máximo uma cerveja e olhe lá.
Bebia até ser carregada (por mim) durante a noite e acordava com aquela cara de "o que que eu fiz" querendo vir embora pro Brasil, de vergonha, é claro.
Outro vício dela era o chá com leite.
Numa dessas tardes em que ela tomava o chá e eu me preparava pra carregá-la mais tarde,ela tirou um caderninho da bolsa e disse assim:
- Débora, vou te contar um segredo, mas se você disser isso pra alguém, eu juro que nunca mais te levo pra passear.
- ok,fala aí!
- Ta vendo esse caderninho aqui?
- To, o que que tem?
- Abre..
Abri e ali tinha pelo menos o nome de uns 60 homens, uns com xis outros sem xis na frente.
- Que isso Tia? Nome de cliente?
- Nãoooo, que cliente o que, é nome de homem que eu sempre quis dar mesmo.
- Esses com xis são os que a senhora "traçou"?
- Isso..
- Sem xis é o que não traçou, certo?
- Hum hum
- E os riscasdos?
- São os que a filha da puta da Berenice traçou.
- Berenice?
- Minha ex melhor amiga.
- Ué, não dava pra dividir?
- Ela não deixava, mas esses homens eram meus,ela não tinha nada que se meter nos meus planos.
- Nossa, era disputa então?
- É, mais ou menos como a cerveja, o chá com leite,tudo muito viciante,adrenalina total, mesmo sabendo o risco que estava correndo eu não parava,perdi pessoas que gostava de verdade, estranho isso, como se eu quisesse provar pra mim mesma o quanto eu era melhor que a vaca da Berenice.
- Por isso nunca ficou tanto tempo com uma só pessoa?
- Acho que sim.Castigo talvez, "Não desejar o marido da próxima", já dizia aquele "velho" senhor e a pior sensação é essa a da ressaca em que você acorda sabendo que magoou alguém, promete nunca mais fazer até ver a próxima garrafa.
- Tia traçadora, hein?
- Mais respeito menina!
- Oh tia, o que que é esse último nome na lista aqui?Tá com a data de hoje!
- É o pianista.
- Que pianista?
- Lá do Bar do Hotel.
- Ué, mas não era disputa sua com a Berenice?Ela nem aqui está.
- Esse é o problema, a Berenice era só uma desculpa pra infidelidade e além do mais eu disse que um dia eu daria prum músico Inglês antes que ela, e vou dar!
- Mas estamos em Berlim e não na Inglaterra!!!
- É Homem,Músico e Europeu, o resto a gente vê depois, quando chegar a hora da ressaca, e me passa o chá com leite que hoje a noite é longa.

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Procura-se

Desesperadamente uma certidão de divórcio.
Sem ela não posso casar-me com meu futuro noivo.
Segundo ele, a filha usou como rascunho (é ele disse isso de você), e pede encarecidamente que todas as suas 5 ex-esposas, que lêem meu blog diariamente, envie cópias para nós.
Hoje ele foi comprar as alianças e foi ao sex shop comprar todos os apetrechos para comemoração do noivado.
Uma camisinha verde-limão fluorescente com bolinhas de borracha na ponta é um deles, vamos apagar as luzes e brincar do Retorno de Jedi!
Se as certidões chegarem, em novembro eu caso no templo Budista vestida de branco, que é coisa de moça virgem que não tem caderninhos de anotações igual ao da tia.
Aliás, em Curitiba tem Templo Budista?

Casos e Acasos Virtuais

PERSONAGENS À PROCURA DE UM ENREDO - PARTE I

Criançada, agora ninguém me segura. Com o firme propósito de atingir meu objetivo de vida, que segue o vetusto lema "otium cum dignitate", investirei meu tempo (que é muito) e minha energia numa nova carreira: escritor de roteiros para a novela das oito. Vamos aos personagens:

RINALDO MESURAS D'ANTANHO: Próspero industrial do ramo da mineração. Gordo, careca, baixinho e corno. Famoso pelo talento em gastar quantias fabulosas de dinheiro com excentricidades, como acarpetar todo o Clube de Golfe do qual é sócio com grama sintética fabricada por Yves Saint Laurent. Casado com Quiquinha (neé Francisca) e pai de Pôla.

QUIQUINHA MESURAS D'ANTANHO: Esposa de Rinaldo. Foi comprada aos doze anos num leilão de virgens em Serra Pelada por um procurador do Dr. Mesuras, Pífio Galardão. Boatos maldosos sugerem que Galardão já comeu no mesmo prato do patrão, mas com o prato emborcado. Quiquinha se adaptou extraordinariamente bem a uma vida fútil e luxuosa. Virou socialite, corneando com desenvoltura seu marido com o cirurgião plástico, o ginecologista, o dentista, o psicólogo, o professor de yoga, o gerente do banco, o Padre Jônatan e os colegas do curso de feng-shui.

PÔLA: Filha única do Casal D'Antanho. Garota musculosa, cabelo escovinha pintado de loiro, voz grossa. Ganhou, entre as amigas, o carinhoso apelido de Polacão, que mais tarde foi abreviado para Pôla. Os pais, muito liberais, não enxergam problema algum em receber a turma de Pôla nos churrascos de fim-de-semana onde elas se divertem lutando no gel e disputando queda de braço.

PADRE JÔNATAN SUÍFTE: Pároco da Igreja Madalena Nossa Terra. Beberrão, mulherengo, pulha e cínico. Um dos muitos responsáveis pelo fato de ninguém notar que o Dr. Mesuras é careca, dada a quantidade de chifres. O Padre, secretamente, mantém um negócio de tráfico de Escravas Brancas para o Japão, onde acumula as funções de Proprietário e Degustador.

Confessionário do Padre Levedo

A vida como ela deveria ser

Acordar de manhã cedo, pular da cama e nem calçar os chinelos: correr 10km no barro batido da estrada, ao som dos grilos e guiado pelos vaga-lumes e ver, à direita, o sol nascendo preguiçoso. Voltar prá casa e tomar um banho gelo e te encontrar ainda deitada na cama, corpo banhado pela luz que entra furtiva pela fresta das cortinas.

Largar o jornal e levantar da cadeira sentindo o cheiro do feijão e te roubar um beijo na cozinha. Deitar abraçado contigo na rede da varanda e acordar com as crianças brincando com o cachorro no gramado, enquanto o sol vai dormir atrás das montanhas.

Voltar à varanda e tocar violão sob as estrelas, sabendo que nenhuma delas tem um brilho tão intenso quando o brilho dos teus olhos

Alea Jacta Est

Meus líquidos infestam tua pele e minha carne treme entre teus dentes. Me salvo da asfixia com os goles de ar que saem da tua boca, sugados pelos meus lábios. Escrevo meu nome a saliva na tua barriga, incrusto meus fluidos entre teus dedos, sinto o cheiro do meu sexo na tua boca, ouço tuas palavras escaparem pelos meus lábios, perco meus cabelos em tuas mãos, encontro meu rosto sobre teu peito, me visto de delicadeza e loucura sob teu peso, preencho tuas frestas com a fome da tua inteireza, banhas meus pés com a tua língua, descubro meu prazer emaranhado na tua força, refazes o meu corpo com teus movimentos. Renasço em gozo repleta de ti.

Não Discuto

Dez

Dez horas me diz o relógio. Dez horas e estou cheio de tédio. Dez horas e quero saltar deste prédio. Dez horas e não sei mais qual o caminho. Dez horas e me sinto sozinho. Dez horas e quero um bom motivo pra continuar. Dez horas e um. Melhor assim. Agora um novo tempo começa. Até chegarmos em dez e dois. Então tudo mais ficará para depois.

MegaZona

brazileira!preta - R.I.P.
28.9.01 - 24.10.03

Foi bom, foi lindo, frutífero e inspirado, dois anos de posts ininterruptamente cuspidos e jorrados diretamente do coração desta que vos escreve, dois anos de paixões e amigos e risadas e momentos tristes e uns outros momentos do caralho, dois anos de miséria e euforia.

Mas tudo o que é bom tudo acaba. Senão não tem graça.

Poderia dizer que não tenho mais tempo e que estou afundada entre fraldas e mamadeiras e noites mal dormidas e um frila na mtv - o que é verdade, mas não me impediria de continuar se eu realmente quisesse. Poderia dizer que agora sou uma mulher casada, fiel e apaixonada e que não sofro mais de amor perdido, o que também é verdade - e é que eu procurei a minha vida inteira. Mas isso também não me impediria de escrever no blog. A única coisa que me impede sou eu mesma. Cansei disso tudo, porque um dia cansa.

E eu não vou ficar me forçando a fazer algo que não quero. Sem paixão não rola. Sem paixão não tem condições. Está nos meus Dez Mandamentos: não faço nada que não queira, nada que seja forçado, senão fica sem alma e sem alma não presta pra nada. O brazileira!preta, de um tempo para cá, tornou-se mais uma obrigação do que prazer. Antes eu era obcecada por postar, postar, postar, escrever, escrever, escrever, o tempo todo, o dia inteiro, com chuva, com sol, neve, granizo, coração partido, álcool nas veias, lágrimas nos olhos. Passou. Claro que eu não vou parar de escrever, senão eu morro. These words I write still keep me from total madness, mas elas agora serão escritas de outro jeito, em outros lugares, lidas por outras pessoas, em jornais ou livros ou revistas ou qualquer outro veículo. Mas não mais aqui. Cansei, saturou, não quero mais saber desse negócio de blog. Só essa palavra já me embrulha o estômago, dá ânsia de vômito, "bloooogh". Cansei. Mas não vou parar. Só vou mudar de novo, e de novo, e de novo. Prometo que aviso quando o Vida de Gato sair. Vocês reclamem com o Joca Reiners Terron, que eu já entreguei o livro para ele e agora não é mais comigo. Estou escrevendo outro livro, agora para uma editora grande, bem grande, mas não vou falar sobre essas coisas porque dá azar. Agora eu vou escrever livros. Chega de blog, chega de escrever de graça, chega de gastar as minhas histórias. Queridos leitores, obrigada por tudo, todo o carinho, todos os emails, todos os presentes e tudo que vocês me deram. Eu vou continuar por aí, nas prateleiras, nas revistas, nos arquivos do blog e no coração de vocês.

E agora chega, que eu detesto despedidas.

Com amor,
Lady Averbuck

before you accuse me take a look at yourself

24.10.03

Eu fui

Moacyr Scliar tomou posse na Academia Brasileira de Letras. Eu fui. Quem diria, hein? Na sexta-feira passada aluguei um smoking numa casa do gênero em Copacabana, passei um gel na careca e lá fui.

Divertido ter passeado incógnito pelos salões da ABL. Cumprimentei Moacyr Scliar, que não me reconheceu e eu nem fiz questão de. Sabe como é, sou muito tímido. Tomei aquela bebida inexplicável que é o tônico dos velhinhos, com vodca e abacate, e fiquei um tanto quanto alto na Casa de Machado de Assis.

A cerimônia em si foi chata, é preciso dizer. Discurso, aplausos, cheio de laquê no ar, calor, repórteres de treze anos escrevendo sobre o assunto, perguntando um no ouvido do outro quem é Moacyr Scliar, aquelas coisas. E eu lá, no meu smoking alugado, a gravata borboleta fazendo com que eu parecesse o José Mauro de Vasconcelos na contracapa da minha edição do O Meu Pé de Laranja Lima.

Circulei, circulei. Dizem que este é o segredo: ver e ser visto. Se bem que, quem me viu, não soube quem eu era. Os poucos que me conhecem por fotografia não ligaram o homem em calças jeans e tênis desamarrado ao bonequinho de cera em smoking alugado (rimou).

Aliás, o discurso de Scliar foi uma preciosidade do começo ao fim. Não à toa, o povo de smoking e vestido longo, as velhas com colares de pérolas, nas rodas que se formaram após a formatura, digo, posse, comentava a ousadia do moço Scliar, que propôs o referendo popular para a escolha dos novos nomes da Academia.

Em especial uma velhinha de lábios finos, que vestia um longo preto com uma renda no busto, de modo a esconder os seios já sem vida, estava indignada. Ela dizia para sua interlocutora, que exagerara um tiquino no blush, sem medo de estar cometendo uma gafe, que o recém-imortal está maluco. No que eu concordei um pouquinho, tenho de dizer. Olhei por cima das cabeças e lá ao longe vi Scliar, em seu fardão tinindo de novo. Ele sorria naquele modo inegavelmente gaúcho de sorrir.

Passei pela estátua de Machado de Assis que fica no pátio da ABL e dei um tchauzinho ao bruxo. Estava meio de pileque, por causa da mistura de abacate com vodca. Como um bêbado de filme felliniano, pensei em gritar para a estátua:

- O que fizeram de você, hein?!

Mas me contive. Desci as escadas, atrás de um grupo de senhores que falavam sobre Mário Quintana, a quem Scliar homenageou. No táxi, a caminho de casa, me perguntei que tipo de glória é essa, de que falam os acadêmicos. E que tipo de glória é a outra, de que fala Machado de Assis na estátua. Há uma diferença enorme entre elas, mas será que ninguém percebe? Ou preferem mesmo ficar recitando o tal do passarão-passarinho?

De qualquer modo, é bom que se registre: referendo popular, em se tratando de Academia Brasileira de Letras, é uma idéia tão, mas tão boa quanto a própria Academia Brasileira de Letras. Se é que me entendem.

O Polzonoff

Jamais esquecerei da história de Milene Modesto, 28, estudante de pós-graduação da USP.

Às 23h40 do dia 22 de outubro de 1999, Milene acabara de sair do trabalho, na Avenida Paulista, quando foi atingida por um carrinho de transporte de cargas que despencou do 25º andar de um edifício em obras. Um acidente infame, inaceitável, absurdo.

Se Milene tivesse parado em uma banca de jornais para comprar um Hall's, teria escapado do acidente. Se sua mãe tivesse telefonado e pedido para a filha comprar pães antes de voltar para casa, teria escapado do acidente. Se os passos de Milene fossem mais apressados, ou mais pausados, ela poderia estar viva hoje, quiçá escrevendo um blog.

Tudo na vida pode ser uma questão de timing. Do alimento um dia fora de prazo de validade ao reencontro de velhos amigos em um elevador que quase fecha suas portas; do milésimo de segundo que decide um campeonato de atletismo ao roqueiro avant la lettre cujas músicas foram esquecidas; do site que seria um sucesso financeiro caso tivesse surgido antes do estouro da bolha aos quadros que Van Gogh não vendeu em vida.

Pensar Enlouquece. Pense Nisto.

Correspondência Secreta

"E é isso, Lindíssima! Eu vou indo. Indo? Essa expressão é muito engraçada. Ela me lembra o temor, o pânico que tinham aqueles bravos e temerários rapazes que, no século XV, exploravam esse vasto e insano planeta. Eles morriam de medo de navegar até o fim do mundo e cair no precipício cósmico. É uma idéia que me seduz muito. Anyway... enquanto não me aparece nenhum precipício, cósmico ou não, eu vou seguindo. Eu já nem lembro pra onde mesmo que vou, mas vou até o fim (Chico Buarque é eterno).
Se eu ainda penso? Ora Regina Paula, é claro que sim!!, lógico! E ainda jogo o jogo dos mal sucedidos, o jogo do "se ao menos". Ficou aquele gosto amargo, o sabor da promessa desfeita, de um romance que nunca aconteceu, nunca vai acontecer. Porque, lindíssima, é claro que ele só continua lindo, perfeito, instigante, estimulante, inebriante e outros antes da vida, porque nunca tivemos nada. Caso contrário ele, no máximo, seria lembrado como "aquele idiota que apertava a pasta de dentes no meio do tubo". A vida é assim. Foi-se o tempo em que eu cantava "você precisa saber o que eu sei e o que eu não sei mais" em rodinhas de violão. Naquele tempo, eu acordava com Pérola Negra, " tente me amar, pois estou te amando", e ia dormir com "ah, que esse cara tem me consumido". Menina boba.Não existe mais nenhum cara com olhos de bandido. Só bandidos com olhos de bom moço….e eles acabavam sempre me enganando e me magoando…então eu desisti deles. De todos eles, sem excessão. Fico aqui, quietinha, esperando…esperando. Vou à locadora sozinha, escolher sozinha filmes que assisto sozinha. Ninguém me cutuca durante a noite para irmos tomar sopa de cebola na Casa do Padeiro, lá na Consolação. Ninguém me liga no meio do dia perguntando se precisa trazer leite quando vier para casa à noite. Ninguém traz a toalha que eu esqueci. Ninguém. Nem existe mais aquela emoção familiar, uma promessa escondida, um telefone que pode tocar a qualquer momento. E dói, viu? Toda opção carrega sua dor, como você bem sabe. A minha não seria diferente da sua. Li uma vez a respeito da dor que de tão familiar já não incomoda mais. É isso. Eu fico aqui, esperando algo tranquilo, com sabor de fruta mordida. E lembrando velhas canções, porque enquanto uso emoções alheias, não tenho que usar as minhas.
Escreva logo! Não tenho nada na cabeça, além de você e desse magnífico cabelo.

Bibi"

¡Drops da Fal!

22.10.03

Quem foi a primeira pessoa que pegou uma ostra, abriu, olhou e falou: "hm, parece gostoso!" e comeu?
Vocês já viram como é uma ostra?
É praticamente um catarro embrulhado pra presente!

verdade da leis de murphy

Nunca entendo o motivo das pessoas saírem de casa. Suponho que tenham casas ruins.
Aquela multidão de pessoas na avenida, paradas vendo teatro de rua ou coisa que o valha, todas com casas ruins.
Aquelas pessoas paradas no shopping vendo a tevê que fica na vitrine, o que diabos é aquilo?
Amundsen e Scott e sei lá mais quem atravessando o polo norte de lá pra cá - só porque tinham uma biblioteca ruim em casa. Se tivessem as obras completas de Simenon não fariam isso.
Céus, uma simples coleção de devedês teria evitado o afundamento trágico do Shackleton.
Oh, mas o cinema. Sim, o cinema. Cinco vezes em seis você sabe que vai sentar perto de alguém que fala alto mesmo. Na sexta vez é alguém que fede.
Meu ideal era arranjar uma namorada que gostasse de ficar em casa, mas eis a regra: mulheres bonitas gostam de sair, justamente porque são bonitas. Mulheres feias é que gostam de ficar em casa (justamente porque são feias).
Talvez eu pudesse encontrar um meio-termo, uma mulher mais ou menos, que gostasse de ficar no jardim, sei lá eu. Ou, melhor ainda, uma mulher linda que se achasse horrorosa, que tivesse alguma espécie de trauma com relação à aparência. Eu nunca diria o quanto ela é linda. Não, não. Ela perguntaria se é bonita e eu esperaria cinco segundos, simulando constrangimento, antes de dizer: “Que é isso, até que você está bem.” Dando um tapinha no ombro dela para animá-la.
Há muitas mulheres assim, as mulheres lindas têm todo tipo de insegurança, vocês é que estragam tudo dizendo o tempo todo que elas são lindas.

o ermitão Alexandre Soares Silva

Imaginem. Deus deve ser um sujeito branco e barbudo.
Um semi-albino que toda manhã senta numa poltrona confortável pra tomar o seu café e fumar o seu cachimbo, em frente ao seu aquário azul em forma de esfera enquanto decide quem será o peixe que vai ganhar na loteria hoje, ou quem será o peixe estágiario que terá a sorte de cruzar com uma peixe-Lilith no elevador, ou peixe-empregado que será promovido.
E dentro do grande aquário azul, há um Peixe-Deus de terno e gravata azul que tem meia esfera em suas mãos e zilhões de peixes-ovelhas que só enxergam os seus defeitos quando percebem semelhanças entre os deles e os dos personagens de livros ou filmes que foram escritos ou produzidos enquanto os seus autores estavam tentando acabar com suas crises existenciais colocando na tela o que eles estavam sentindo. Na arte-aquática dos homens-peixes, você é valorizado não pela cultura que carrega, e sim pela qualidade do tédio que você consegue transmitir.
Deus, sentado na sua poltrona, dá uma tragada no seu cachimbo imaginando um longa-metragem.

surrealismo e psi.co.dra.mas

21.10.03

Rasguei as cartas, não o procurei mais, deletei do ICQ (o histórico demorou cinco minutos prá ser totalmente apagado) e do celular e só não devolvi a foto porque... ah, porque eu nunca tive uma. Ainda bem.

E bola pro mato porque o jogo é de campeonato.

me Jane you Tarzan

A busca do imóvel a que chamaremos lar

Sei que, pelamor, ou as pessoas não têm vergonha de oferecer esses imóveis capengas para outra pessoa morar neles ou não sei, perco a fé na humanidade. Diga pra mim: Por que uma pessoa pinta as paredes da sala de laranja quase desbotado e coloca carpete cor-de-rosa para ornar? Por quê? A mente humana é um tal mistério.

E os quartos? De onde os arquitetos tiraram que nesses quartos cabem toda uma cama de casal E um armário? Seria pedir muito que o armário coubesse no quarto, junto com a cama?

Cozinhas-corredor: eu convivo com uma e quero me livrar dessa praga. Não eram tão boas as cozinhas em que cabiam uma mesa, para as pessoas se sentarem, comerem enquanto conversam?

a menina do didentro

  O dia que eu falei com deus

Não me perguntem detalhes, eu lembro de poucos. Só sei que eu dei uma pirada e quis ir sozinha para a praia. Meus irmãos estavam lá com meus avós. Era a combinação perfeita para um fim de semana tedioso e sonolento. Eu, no auge dos meus dezessete anos, precisava ficar só, o que não significava ficar longe de pessoas, mas de um namorado bonzinho que, dois meses depois de me conhecer, prometia durar pra sempre na minha vida. Detestava encontrar esse tipo de homem. Não era justo! Era como se eu rezasse por paixões passageiras e papai do céu me enviasse amores eternos. Uma sacanagem pra qualquer ser humano com menos de cinqüenta anos. Em crise com meu estado civil, arrumei as malas e desci a serra. Seria uma boa tentativa para pecar e voltar a ser solteira.

Tédio, tédio e tédio! Saí do apartamento e fui dar umas bandas pela orla. Viro a esquina e dou de cara com a minha irmã e sua patota. Eu e ela, naquela época, éramos como cão e gato, mas não é que a danada tinha uns amigos bonitinhos? Onde eu estava, que não tinha percebido aqueles meninos? E eu achando que a sonsa só andava com pirralhos! Sonsa eu, que havia inventado de namorar logo depois de um super regime. De nada adiantava ficar gostosa se era pra ter um namorado só. Tratei de me enturmar e, quando vi, um luau estava na programação.
Como luau sem álcool não tem a menor graça, eu e uma espécie de nativo fomos comprar vinho. Não me lembro como, mas conversa daqui, conversa dali, aceitei uma disputa pra ver quem de nós viraria mais paulistinhas (uma bebida estúpida que bebiam como se fosse tequila).
Quando voltamos para a areia, a fogueira já estava acessa. A garotada não quis vinho, estavam muito entretidos com um papo de entregar corações. Eu corria em volta da fogueira bebendo o vinho no gargalo enquanto eles se declaravam e diziam o quanto se amavam. Blah! Que vontade de vomitar. Eu estava tão bêbada que, se eu tivesse caído naquela fogueira, teria explodido. O engraçadinho que ganhou de mim no vira-vira de paulistinhas, colocou-se de pé e leu pra mim uma declaração apaixonante em um português sofrível. Ele era surfista e lindo, podia errar no que quisesse. Abracei-o emocionada. Quase nos beijamos. Tive vontade de beijá-lo. Jogada em seus braços e a um centímetro dos seus lábios, meu desejo foi interrompido pela lembrança do namorado que melou minhas intenções.

- Vamos correr?

Ele caiu naquele papo de bêbada ajuizada e, num jogo de pega-pega, corremos alguns metros, até que ele quis se jogar no mar. Eu, zonza, dei-lhe as costas e continuei correndo. Segui a mancha azul da estátua de Iemanjá que apontava na minha frente. Queria ver se ela ainda se parecia com a minha mãe. Viagem não só de pinguça, mas de infância também. Quando pequena, devido à semelhança, eu achava que a Iemanjá era uma espécie de identidade secreta da minha mãe. Assim como a She-Ra era a princesa Adora ou como a Mulher Maravilha era a princesa Diana. Enquanto eu afundava os pés na areia, percebi um vulto ao meu lado. Aquele pedaço da praia estava deserto. Olhei para um lado, para o outro e vi, ao lado da Iemanjá, uma silhueta que me pediu um cigarro. Virei o rosto à procura do rapaz que corria ao meu lado - sabia que ele tinha cigarros. Em uma fração de segundos, a silhueta desapareceu.
Confusa e arrepiada dos pés a cabeça, eu chorava e corria em direção ao surfista com a certeza de que aquela tinha sido uma visão divina.

- Eu vi deus! Eu vi deus e ele me pediu um cigarro! Eu vi deus e agora eu vou ter que morrer!

Ele chamou minha irmã. Achou que era grave já que eu não parava de dizer que, depois de ter visto a sombra de deus, a morte estaria à minha espera.
Não me recordo de uma bebedeira mais surreal do que aquela. Eu dizia bobagens, ria, declarava meu amor pela minha família - todas essas merdas que estamos cansados de ver em bebuns. Acho que me deram um banho e me trancaram no quarto. Eu queria correr pelada até os pés da estátua. Encanei que aquela seria uma forma de implorar pela minha salvação.
Lá pelas tantas da madrugada, meu namorado e um casal de amigos apareceram por lá. Desembestei a chorar. Ele tinha acabado de tirar a carteira de habilitação, pegou o carro escondido do pai e foi me ver. Disse que estava preocupado, com um mau pressentimento e que não conseguiu esperar por notícias. Esperou o pai dormir, pegou as chaves, os documentos e arriscou.
Me encontrou de calcinha, gargalhando pelo quarto em um estado deplorável. Quando ele apareceu, comecei a chorar e pedir perdão. Além de bêbada, uma imbecil! Minha consciência pesada denunciava meus pensamentos impuros.
Me colocaram no carro e acho que eu dormi. Acordei um tempo depois com a picada de uma agulha. Glicose na veia. Eram os desígnios de Deus.

Amarula com Sucrilhos

Minha mãe hoje estava me falando:

- Como você é boba.
- É, mãe, eu sou.
- Você não era assim, o que aconteceu?
- Eu sempre fui boba, mãe. É que antes combinava com a minha idade, agora não combina mais. Mas se não passou até agora, não passa nunca mais.

Coitada da minha mãe. Ela ainda se ilude comigo, apesar da música-tema da vida dela ser "Não me iludo mais".

Eu tenho tentado, sabe, eu tenho tentado. Eu tenho tentado deixar de ser boba, tenho convivido com pessoas nem um pouco bobas, tenho observado o comportamento das pessoas consideradas não-bobas, mas ah, sei lá, é genético isso, é mais forte do que eu, não sei. Vou morrer boba, eu acho.

O pior não é isso: o pior é que eu sempre disse "sou boba mas sou feliz, mais bobo é quem me diz" e agora isso nem é mais verdade.

Céu azul lindo demais na ilha de Siris - parte II

20.10.03

Eu tinha um evento social importante para ir, e para isso separei minha calça nova que minha mãe comprou na Zara pra mim. Uma calça preta ótima, dessas que a gente guarda mais do que usa. Deixei em cima da cama junto com a camisa e fui tomar meu banho. Quando saí, o filho da puta do meu gato amarelo tava deitado, bem escrotamente, em cima da calça. Depois que eu zuni ele dali (literalmente: peguei ele pelo cangote e joguei longe) vi o estrago: minha calça preta novinha toda coberta de pêlo de gato. Claro que eu estava atrasado e não dava tempo de ficar escovando. Fui para a festa assim mesmo, parecendo um escalpo de texugo. Maldito gato, eu ainda raspo ele todinho...

Leis de Murphy

Bebês empalhados

Cenário
Shopping Total

Personagens
Mãe: minha mãe
Nina: cadela come-flor morde-calcanhar dorme-no-travesseiro-e-me-espreme-na-parede
(Futura) Empalhadora de bebês: eu mesma


Paradas em frente a uma loja de roupas de bebês, estávamos eu e minha mãe, admirando a vitrine. Ela comentava sobre um vestido que estava exposto na vitrine. Coisa mais linda do mundo. Parecia vestido de princesa. Indescritível.
- Sou apaixonada por carrinhos de bebês, eu disse. Se eu pudesse, compraria um carrinho de bebê só pra mim. Não precisava nem do bebê.
- Você podia colocar uma boneca no lugar, e sair passeando com ela pela rua. (definitivamente minha mãe disse isso num tom irônico)
- É! Ou eu poderia colocar a Nina!
Nós duas nos olhamos. Não... ela destruiria o carrinho em segundos.
- Eu podia colocar um bebê. Até gosto de bebês. (o meu lado sensível estava se manifestando nesse momento). O duro é que eles crescem. Quando são pequenos são muito bonitinhos, mas depois dos cinco anos começam a ficar irritantes. Por mim, eles só viveriam até os cinco anos. Depois disso, era só matar e empalhar. Ainda assim daria para passear com ele no carrinho.
- Você não tem jeito mesmo!
Voltamos em silêncio até o carro e nada foi comentado sobre isso. De certo, pensava: por que não pensei nisso antes?

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Como convencer seu filho a não pedir um irmãozinho:

1º dê um cachorro a ele
2º dê mais um cachorro a ele
3º mostre a ele como os cachorros brigam por coisas fúteis
4º ligue para a sua amiga e peça a ela para relatar suas experiências trágicas com os irmãos
5º compare irmãos a cachorros. Caso não consiga fazer isso, com certeza a sua amiga o fará.
6º ensine seu filho a ser egoísta. E diga que, caso tenha outro filho, ele terá que dividir tudo com ele.
7º se nada disso funcionar, diga que só terá outro filho quando ficar louca, a vaca tossir e o boi gritar: Saúde!


admirável blog novo

19.10.03

Ah, o Garagem...

A veadagem acumulada rompeu os diques e acabamos antecipando nossa ida ao Garagem: fomos ontem eu, Pedro, Paula, Janaína e o ressabiado Marcos. Eu também cheguei lá meio desconfiado, mas alguns minutos e duas cervejas depois já estava até dançando sozinho na pista. Uma loirinha muito da jeitosa veio dançar comigo, o que me levou a descobrir uma nova espécie do gênero feminino: a mulher que vai à boate para se esfregar nos veados. Pois a danada se esfregou em mim até perguntar meu nome e eu responder com minha peculiar voz máscula. Então ela se desinteressou por este óbvio macho que vos fala e foi rebolar suas carnes – e que carnes – em seres mais inofensivos (porque para ser mais inofensivo que eu, só mesmo sendo bicha).
Vi três morenas das mais lindas e fornidas beijando-se alegremente, cena que não me sai da cabeça nem com muita oração, jejum e autoflagelação. Vi uma garota tirar a blusa no meio da pista – e eu era o único homem que olhava com algum interesse para seus peitos miúdos e firmes. Outras mulheres, no entanto, olhavam ainda mais avidamente, e era nestas que ela estava interessada. Uma pena.
Uma balada das melhores. Recomendo a todos, principalmente aos homofóbicos empedernidos, que assim poderão enfim libertar seu lado Pássaro Multicor da Côrte de Assurbanípal, tão oprimido e vilipendiado por toda a vida.

Jesus, me chicoteia!

A platéia no teatro com uma inacreditável cara de platéia de teatro. Ei, como é fácil fazer as pessoas rirem no teatro. Alguém diz, “Que porcaria que são esses carros da Chevrolet!”, e todo mundo ri. Uma mulher à minha esquerda dava uma risada tão artificial que devia ser atriz. Risada de atriz, manjas?

Tenho medo de atores. Oh really. São pagos pra parecer gente lá no palco e eles se esforçam, se esforçam demais, riem e falam gritando, falam cuspindo – instintivamente acho suspeito que eles tenham que se esforçar tanto pra parecer gente. Tem algo de errado nisso aí. Na dúvida, quando encontro atores numa festa – sempre falando alto, num tom de voz estranho – dou cinco passos pra trás. Algum dia vou tentar o Rituale Romanum num deles. Exorcizo te, immundissime spiritus...

Oh, teatro, teatro. Teatro é cultura my ass. Teatro é a cultura de quem não tem cultura mas bem que se esforça.

Alexandre Soares Silva

18.10.03

Fato verídico, aconteceu agora à pouco. Oito da manhã, toca o telefone. Ainda bem que só pra variar eu estou acordada.

Trimmmmmmm... Trimmmmmmmm...

- Pronto?
(silêncio...)
- PRONTO?
(silêncio...)

PLÉIN!
Desligo o tel. Toca em seguida.

Trimmmmmmm... Trimmmmmmmm...

- Pronto?
- (uma voz bastante hesitante de mulher jovem) Daonde fala?
- Com quem a senhora quer falar?
- Mas... daonde fala?
- Por gentileza, com quem a senhora quer falar?
- Eu quero falar com a dona da casa.
- Ela morreu ontem (eu ADORO falar isso pros caras de telemarketing). Não acredite na propaganda, a lepra é uma doença fatal.

PLÉIN!
Desligo o tel. De novo!

Trimmmmmmm... Trimmmmmmmm...

- Pronto.
- Ô BEM (odeio mulher que me chama de bem), eu quero saber quem é que tá falando!
- Vai vender cova em Sucupira, vai.
- Como é que é?

PLÉIN!

Trimmmmmmm... Trimmmmmmmm...

- Pronto.
- ESCUTA AQUI MOCINHA (mocinha é ótimo), esse número tava no celular do meu marido e eu quero saber quem é que tá falando!
- Baixa a bola fazendo o favor, ô anormal. Por que é que a MOCINHA não falou antes? Qual o número do celular do COITADO seu marido?
- "Coitado do meu marido?" Negócio é esse, minha filha? Por que você quer saber?
- Fala logo, mãe, se não quiser tomar outro na cara.
- Ah meu DEUS... 9876543210, Joenilson.
- (não reconheço o número, que dirá um nome tão meigo quanto esse). Pra que número a senhora ligou agora?
- 123456789
- A senhora não tá ligando do celular dele né?
- NÃO, POR QUE?

Aqui eu tinha duas opções: ser legal ou ser terrível. Fiquei com a segunda, porque ela teve o dom de trocar os três últimos números do telefone que estava no celular do esposo dela, caindo no meu e tava enchendo o meu saco.

- Aqui é a Veruska, da Casa de Massagens Lua de Cristal, minha senhora.
- EU SABIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!! Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE, O JOENILSON TÁ SAÍNDO COM MULHER!!!!
- Desculpa, minha senhora, mas na verdade eu sou homem.
- SEU AIDÉTICO FILHO DUMA PUTA!

PLAFT! Ela que bateu o telefone dessa vez. E não ligou mais.

Moral da estória: As pessoas acreditam exatamente no que elas QUEREM acreditar.

Na hora em que o JOENILSON chegar em casa e tiver de dar explicações, eu daria tudo, tudo pra ver a cara da mulher dessa pobre alma quando ela descobrisse que ligou pro número errado.

Lamento só não ter anotado o número do JOENILSON. O meu instinto aranha me diz que ele vai querer uma advogada, urgentemente. Na situação dele, eu providenciaria isso. Rápido.

E mais uma vez o dia foi destruído, graças à Menininha Supermaldosa!

Ouvindo - Judas Priest - Painkiller - Hell Patrol


***

Ruim de acreditar? Moçada, vocês não viram nada....


A Saga de Joenilson - Parte 2

Se eu começasse a escrever profissionalmente todas as coisas ESTRABÓLICAS que acontecem na minha vida, ou eu iria passar por mitômana, ou ficaria rica.

Tokyo, Guadalajara. 10:41.
Exatamente dez e quarenta e um.

Trimmmmmmmmm, trimmmmmmmmmmm...

- Pronto?
- Eu queria falar com a Veruska, por favor!

[GARGALHADA. Não tive como segurar].

- Foi a senhora quem ligou mais cedo perguntando sobre um telefone, certo?
- É a Veruska que tá falando?
- Senhora, presta atenção no que eu vou falar. Olha no celular do seu marido, e olha o telefone para o qual a senhora está ligando.
- SEU VIADO, VOCÊ DAVA O C* PRO MEU MARIDO OU ERA ELE QUE TE COMIA?
- Senhora, eu vou falar de novo, olha no...
- Você sabia que o Joenilson e eu temos quatro filhos? Você sabia que você acabou de destruir a minha vida?
- O IMBECIL, VOCÊ LIGOU PRO NÚMERO ERRADO, CORNA FILHA DUMA PUTA! AQUI É XXXXXXXX, O NÚMERO NO TELEFONE DELE É OUTRO, VOCÊ DISCOU ERRADO, IDIOTA!
- Como que eu to discando errado? Você até falou do meu marido agora!

Eu tentei falar umas quatro vezes, e ela sempre me interrompia com aquele discurso:

"Você destruiu meu lar".
"Você passou doença venérea pra mim?"
"Você isso, você aquilo, bla bla bla bla bla casa de massagens bla bla bla bla michê bla bla bla bla aidético bla bla bla bla arrombado (!!!) bla bla bla sifilítico (!!!!!!!)..."

Ah, gente, aí eu não aguentei.

- Olha, quer saber de uma coisa? Aqui é de uma casa de massagens sim. Seu marido vem todo santo dia aqui e eu sou o traveco FA-VO-RI-TO dele, tá, mona? E sabe do que mais? Ele vem aqui pra eu comer ele, porque ele prefere dar o c* pra um traveco a aguentar você, sua idiota.

Eu quase ia bater o telefone, mas o que aconteceu em seguida foi totalmente bizarro. A mulher não chorava, ela urrava. É o choro mais medonho que eu ouvi na vida, medonho mesmo, gutural, parecia filme de terror. Comecei a escutar criança chorando também e falando "Que foi, mamãe, que foi?" e aí bateu uma dor de consciência absurda em mim. Comecei a imaginar o coitado do Joenilson, seja ele quem for, chegando em casa e encontrando as roupas todas jogadas no meio da rua, as criancinhas dizendo: "Papai! Papai! Não vai embora!", e a louca da mulher dele gritando, e a vizinhança toda na rua de platéia e tudo porque a malcriada aqui não teve a decência e o respeito de falar logo de cara: "Desculpa, mas a senhora se confundiu".

Pra minha SORTE, e provavelmente para a desse tal Joenilson e seus quatro remelentos, a mãe da moça tomou o telefone da mão dela e começou a falar comigo. Ela deve ser bem velhinha.

(Tirando o Joenilson, os outros nomes eu mudei, ok?)

- Filho, aqui é a Odete, sogra do Joenilson, mãe da Laura. Por que você fez isso? Você não viu que ele era casado, meu bem? (incrivel que ela falou tudo isso de um jeito muito doce, bem coisa de velhinha mesmo, de avó)

A filha dela surtava. "A SENHORA TÁ TRATANDO BEM ESSE VIADO????"

Usei a minha melhor modulação de voz:

- Como a senhora está bem mais calma que a sua filha, eu vou explicar o que aconteceu. Aqui não é casa de massagens, eu não me chamo Veruska e nem sou homem. Acontece que oito da manhã a sua filha ligou aqui, e esse número, o XXXXXXXX, não sei se foi de pizzaria ou o que é que foi mas ligam umas trinta vezes por dia, errado, na minha casa. Eu nunca falo meu nome quando atendo o telefone e a sua filha disse que queria falar com a dona da casa, eu achei que fosse gente querendo me vender alguma coisa e fui super malcriada mesmo.

- É? Laura, Laura, pára de chorar, pára agora.

- Aí ela ligou umas três vezes, eu já estava irritada e ela falou qual era o número pra onde ela estava discando. Ela trocou os três últimos números que estavam no celular do seu genro e eu não falei nada e ainda disse que aqui era uma casa de massagens, mas não é, desculpa o palavreado chulo mas a sua filha já havia me deixado muito puta.

- Ahhhhhhhhh meu Deus do céu, graças a Deus, moça, graças a Deus. Me perdoa, perdoa a minha filha por favor, mas ela é muito ciumenta, eu falo pra ela que isso não adianta nada, mas ela fica procurando coisas, enxergando coisa que não existe, olha moça, Deus te abençoe viu?

- Eu que peço desculpas, sou casada também e fico imaginando como seria se eu descobrisse que o meu marido fica numa casa de massagens com um traveco chamado Veruska!

E não é que a dona começou a rir? A tal da Laura berrava, aí a dona Odete falou:

- Espera só um pouquinho que eu vou tentar explicar pra ela, tá moça?

E eu pude ouvir a mãe tentando falar, a filha não querendo entender, até que eu escutei claramente um PLAFT, como se fosse um tapa, e acho que foi mesmo. A velhinha, com aquela voz fraca de gente idosa, começou a falar grosso: " Pelo amor de Deus, Laura, a mulher achou que você queria vender alguma coisa..." berros, berros e berros, "Você anotou direitinho o número no telefone do Joni?", berros, berros, berros, "Vamos esperar ele chegar em casa, aí você olha o número que tá lá", berros, berros berros...

- Moça, como é que você chama meu bem?
- É Sílvia (não ia falar meu nome não! Ainda mais um nome como o meu.)
- Eu vou acalmar ela, tá, estou com o papel aqui do número do telefone, quando o Joni chegar EU vou pedir o celular dele e EU vou olhar (ela colocou muita ênfase no EU). Se você não estiver falando a verdade, olha moça, isso é muito feio!

Ahhhhhhhhhhhhhhhhh que coisa mais linda gente! "Isso é muito feio!" Só falou ela falar: "Cachorro mau, cachorro mau, mau, mau!" Eu tive que me segurar mesmo pra não rir.

- Não, senhora Odete, eu estou falando a verdade. AGORA eu estou falando a verdade. Mas custava a tua filha ter me ligado e logo de cara falar que queria saber que número era aquele? Ela não precisava ter me irritado!

- Eu sei, filha, eu sei. Desculpa, viu? Tudo de bom pra você, fica com Deus e pode deixar que a Laura não vai mais te ligar, tá?

E mais uma vez o dia foi salvo graças à Velhinha Supersensata!
Será que vai ter capítulo 3? Rezo que não. Mas uma coisa é certa: essa Laura tem problema.
Papai do Céu, prometo que não faço mais isso.

Sarcasmo S. A.

17.10.03

Uma segunda bem usual.

Aquela ressaca de um fim de semana muito bem curtido, totalmente moody & low profile e muito sono acumulado. Eis que o celular toca e é uma amiga minha de Sampa dizendo que estava aqui em Bsb só por uma noite.

Bsb. Segunda. Gate´s.

Chego lá com a intenção de ficar apenas meia hora. Coisa bem rápida mesmo, só pra dar um oi. Mas o assunto foi rendendo e me rendi. Lindo! A chave do carro fica presa lá dentro. Tudo fechado, tudo trancado e a chave verde sobre o banco que mal se podia ver pela película escura.

Daí essa minha amiga paulista diz que sabe abrir carros nessas situações e descola um barbante. E lá vamos nós tentar abrir: encaixa ali, segura aqui, faz um nó assim e ... nada. E nisso uns curiosos/solidários se aproximam. E nisso chega cerveja. E isso vira um acontecimento.

E todo mundo tentando laçar o pino da porta, dar um tranco no barbante e puxar. E várias sugestões bem legais: entorta a porta, quebra o parafuso, corta a borracha do vidro traseiro, tenta essa chave, essa outra, chama o chaveiro... Todo mundo lá tentando alguma maneira de abrir o carro e eu tomando minha cerva me divertindo com aquilo tudo.

Deixa pra lá gente, vou em casa buscar a outra chave. Mas não tinha como eu ir até em casa. Então liguei pra uma amiga SOS:
- oi...
- oi...
- meu carro tá trancado aqui na porta do Gate´s. C já tá dormindo?
- mais ou menos...
- Deixa quieto... c se fosse sair eu ia pedir pra vc passar lá em casa e pegar a outra chave com minha mãe...
- po... c tiver precisando mesmo, numa boa.
- .... err... to... C faz esse favor pra mim?
- claro.

E continuamos lá tomando a cerva, batendo papo, vários tipos de nós, mais e mais curiosos, mais e mais sugestões e o telefone toca. Pela bina asa-norte, pelo horário ... Eu não tinha dúvidas, já comecei a rir antes de atender: quer apostar quanto que é SOS dizendo que o carro quebrou?
Ha! Não deu outra: - Re... to com sua chave, mas meu carro pifou!

Daí os meninos-solidários deram carona até o carro pifado. Um desses meninos solidários entendia tudo de carro e viu que era apenas excesso de óleo. Mais cerveja.

De volta ao carro trancado decidimos que naquela altura do campeonato o melhor era entrar no Gate´s e curtir um pouco a balada mesmo. Nada feito. Fomos barradas. Já não podia mais entrar. Estava tudo acabando.

Daí um taxista, que parou para ver o acontecimento e ficou fazendo lobby pra todos os amigos que podiam ser útil naquele instante, sugeriu que fossemos ao Caldeirão pra tomar uma cerveja. Sugestão acatada.

E lá fomos nós para a UMA cerveja que eu queria tomar.

Quase que deu certo, mas qdo essa uma cerveja estava pra acabar os meninos-solidários apareceram e mais alguns copos também... Conversa vai, conversa vem, aparece um besouro, ou melhor, escuta-se um besouro, que foi chamado masoquista por ficar se debatendo na lâmpada. E o besouro era enorme. E um dos meninos-solidários-com-apelido-de-político começou a ficar muito atento aos movimentos do inseto gigante. Ele estava com medo. E o outro menino-solidário explicou que o besouro era masoquista por defeito da física. Sim. A Física é imperfeita porque um besouro não deveria voar. Juro que eu não quis explicações fundamentadas sobre a tal teoria... Só rimos muito.

Mas a resitência de permanecer acordada ao som de Jô Soares e teorias inéditas e copos de cerveja estava chegando ao fim... Como de costume, levantei, dei tchau e fui embora.

Devaneios Insones

pequenas onomatopéias do meu dia a dia

- meu computador, ao ser desligado, faz nhaga-nhaganhaga-nhaga;
- meu gato Edmílson André, ao conversar comigo pela manhã, faz mmbrraffff;
- minha avó, ao espirrar, faz aaatchôôôôiiin
- o sistema de música ambiente do escritório, ao ser ligado, faz trrrrrrccccc shhhh
- meu relógio de mesa sempre soluça, e faz tac-tac tic, tac-tac tic
- a chuva no telhado aqui fora tá fazendo protouc protouc
- meu pescoço, se eu viro abruptamente, faz clóc
- o sapato da menina andando no piso de madeira do escritório faz plltl plltl plltll
- o leitor de cd do computador, ao ser ativado, faz vvvvvvvvvvvvvvfffffffffffffffffffffffffffffoon
- a janela sendo aberta faz trrrrãããã
- o salto do meu sapato que range faz tuuíc tuuuíc



perolada

Manhã com cara das primaveras que conhecera em tempos antes. Quais? Não importa muito e, de qualquer forma, a memória anda embaralhada. Cozinha banhada na luz espaçosa dessa mesma manhã... basculantes vazando luz e a vista da rua. Mulheres de outros tempos passam em frente à casa... carregam flores e andam lentas... rumam para o cemitério com um arranjo de cores desordenadas. Na cozinha, o melão e o silêncio permeado de pássaros dão alento nesses tempos de desejo murcho.

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A tempestade contemplada pelo retrovisor é bela. Raios riscando o céu que se acinzentava ao fundo da estrada mal conservada. O cinza dos dias londrinos soma-se a meu temperamento melancólico, mas esse cinza de tempestade me fascina. Aquele cinza grávido de aguaceiro, pulsando de eletricidade espirrada em luzes incomparáveis, que rasgam o céu em tiras, ameaçando deixar cair o que há por cima do gris. E cai água densa... E Porto Alegre vira tumulto... e me parece que de tumulto eu gosto... Uma transeunte me lembra Dulce Veiga, do romance de Caio... pessoas irritadas no trânsito alagado. Noite em Porto Alegre. Entrega ao silêncio e ao sono. Protegida pela tempestade.

Outra Parte

Imagem & Inação

Imagem e Ação é prejudicial à saúde mental, e pode quebrar o seu pé, foi o que minha irmã me informou às quatro da madrugada. Passou muito perto de ter também seu nariz quebrado -- sempre que me acordam, acho que estou sendo assaltado, e a reação é um tanto quanto violenta...

Desperto no meio da madrugada para receitar um anti-inflamatório e gastar esparadrapo; ainda bem que não me formei em medicina, e muito menos na Fofito. E um bom tempo perdido numa clínica algumas horas mais tarde, isso não é jeito de se começar um dia...

O dela foi pior, é claro; além de tudo, ainda teve de me aguentar falando sobre curiosidades da física... pensará duas vezes antes de quebrar alguma parte do corpo novamente.

dies iræ

14.10.03

Ih, veja só, o dia das crianças passou e eu nem vi.
Acontece que o dia doze de Outubro é infernal, ninguém quer saber por quê.
Enfim, me toquei hoje e fui perguntar pro meu pai porque ele não me desejou um feliz dia e nem me deu nada como ele sempre faz. Recebi a resposta de que agora sou adulta. Adulta uma ova. Eu não quero crescer. Mas crescer é preciso, e se não fosse agora seria mais tarde, me disse o Gustavo no Domingo à noite.
Por que? Quem estipulou esse lance? Houve algum tipo de convenção aí que eu não fiquei sabendo? Não consta, não consta. Eu não acho certo, não acho legal falar da minha infância como se ela já tivesse passado, como se eu já estivesse pronta pra cair no mundo carregando essa coisa - a infância - de bagagem. Sei lá, não pesa muito, não.
Eu sempre fui feliz, do tipo de criança travessa e apoquentada que nunca consegue ficar triste ou chateada por mais de cinco minutos. A garota que não anda com o grupinho das meninas, bate em todos os meninos porque eles não deixam ela brincar com eles e no fim ficava sozinha desenhando amigos coloridos no papel.
Meu avô morreu quando eu tinha quatro anos, mas a maioria das lembranças, as mais nítidas que tenho, são dele. De como ele me levava nas costas, do cheiro das teclas velhas e amareladas do piano quando ele tocava comigo no colo e do cheiro do charuto que me fazia franzir o nariz, da voz rouca, da risada alta, da barba mal feita, dos óculos que turvavam minha visão demais quando eu brincava com eles, de tudo tudo tudo. Um dia ele não tava mais lá e eu não entendi por que ele não queria mais brincar comigo, ou por que se fazia um silêncio estranho quando eu perguntava onde ele estava. Não entendi e senti saudades.
Depois eu descobri que meu avô era mais que isso, só conheci a pessoa maravilhosa que ele era quando ele não estava mais aqui pra eu poder abraçar e dizer as coisas que eu sempre senti. Um cara que morreu por amor, mesmo. Por não querer acordar a esposa no meio da noite mesmo tendo um ataque cardíaco, por saber que a mente parca da minha avó não aguentava mais vê-lo sofrer. Porque ele tinha câncer nas cordas vocais e achava que dava trabalho em excesso. Não posso dizer o quanto eu admiro essa atitude, a maneira como ele lidava com diplomacia com os problemas financeiros, a forma como ele criou os filhos (dois deles são as pessoas mais sensacionais que eu conheço), o jeito como ele aguentou todas as adversidades e transformou tudo em risos e alegria.
Agora eu cresci. Agora eu entendo que ele era mais do que os meus sentidos identificavam quando eu era menor.
Como foi que, ao "crescer", tendo esse e outros tantos exemplos de como um ser humano digno deve ser, eu me tornei o que eu sou? Quando foi que eu deixei de estar satisfeita com o que eu tenho? Será que isso é crescer?
Se for, não vale a pena. Ou talvez valha e eu não saiba apreciar, sei lá. Alguma coisa saiu errada no processo, e não dá pra começar tudo de novo. Consertar? Não sei, não.
Ignorar, Repetir, Abortar.

The real folk blues

Pocko, o boneco de ventríloquo

Fiz um teste vocacional que me indicou uma forte vocação para ventríloquo. Achei que seria uma boa. Fui ao Fnac, no departamento de ventriloquismo (?), e comprei o Grande Livro das Piadas de Bonecos de Ventríloquo. Mas ainda precisava do boneco. Tinha um em promoção, bem barato. Seu nome era Pocko, como me disse o vendedor.

Pronto. Já tinha o boneco e o livro com as mais clássicas piadas de ventríloquos. Faltava uma platéia. Anunciei no jornal e começaram a chover ligações para que eu animasse festinhas infantis, bar mitzvah, casamentos, bodas de prata, bailes de debutantes e inaugurações de lojas de ferragens.

Fomos, Pocko e eu, para nosso primeiro trabalho, a estréia. Era uma festinha de crianças. Não cheguei a ensaiar, já que tudo parecia muito simples com o livro. Comecei com o clássico:

- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaaa'!

Ao que ele deveria ter respondido:

- Boa tarde, macarronadaaaa!

Mas, em vez disso, sucedeu o seguinte:

- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaa'!

- De que adianta?

- Que foi, Pocko?

- De que adianta tudo isso?

- Hã?

- É. Nós vamos morrer! Nós vamos todos morrer um dia!!!

As crianças começaram a ficar assustadas. Algumas choravam, outras olhavam assustadas e um garoto que parecia o menino do "Esqueceram de Mim" não parava de rir. Tentei controlar a situação:

- Calma, criançada! Ele só está brincando! Ele quer dizer que... que...

Mas Pocko interrompeu:

- O que eu quero dizer é que o fim é certo! Aqui, ó! - Pocko tirou da sua maleta um pulmão em decomposição - É isso que vocês vão virar um dia!!!

As crianças corriam de um lado para o outro, batiam nos pais e colocavam fogo nos enfeites de papel. Pocko e eu fugimos no meio da confusão.

Agora, temos uma festa de Semana das Crianças em uma locadora de fogões industriais para ir. Espero que corra tudo bem.


vida ou- (parte II)

A bonequinha e o Soldadinho

E por falar em coisas do passado, hoje estava me lembrando do Soldadinho. Soldadinho porque ele estudava na Escola militar do Dendezeiros e tinha aquela farda linda, caque e azul royal, usava aquele quepe azul e um veludinho com seu nome escrito na lapela.

Nunca tinha olhado pra cara dele, mas já ficava vidrada em suas pernas enquanto ele jogava futebol. Um dia vi ele lendo na janela. Lindo. Aquela pele morena, nariz fininho, cicatriz no supercílio (sempre adorei cicatrizes). Acho que foi quando me apaixonei por ele. Dia 23 de março de 1991. Tinha treze anos. A prima dele, que era minha amiga, havia dito que eu gostava de ler e ele estava fazendo isso pra chamar a minha atenção.

No outro dia passamos um pelo outro, trocamos balas Ice Kiss e olhares compridos. No começo achei que era coisa da minha cabeça. Todas as meninas queria namorar com ele e ele gostando de mim?? Não...Eu devia estar louca. Mas ele me mandou um recado por um amigo. 3º andar do bloco 8. Fui!
Mascava um chiclete, minhas mãos suavam e meu coração fazia um verdadeiro carnaval no meu peito. Não conversamos muito, estávamos nervosos, era o primeiro beijo dele, mas não era o meu (infelizmente). Tinha que tomar um providencia. Segurei sua mão, encostei no ombro dele, olhei meio de banda e bem calmamente beijei ele. O tempo parou. Eu sei que é meio clichê falar isso, mas se até hoje para, imagine aos 13 anos com o garoto dos seus sonhos? Me lembro que ele achou minha boca doce! Mal sabia ele que era o chiclete que estava estrategicamente escondido pra ele não perceber. Me recordo que depois comprei um saco desse chiclete e vivia com uns cinco no bolso. Estava sempre com a boca doce. E até hoje me lembro do cheiro da saliva dele que ficou e que ele me abraçava meio de lado pra eu não sentir "pressão". Bobinho...

Quando a gente se encontra é meio estranho. Ficamos procurando aquela bonequinha e aquele soldadinho de 12 anos atrás que não existem mais exceto em nossas lembranças. De todos os diários que já tive, as únicas paginas que me restam são as que contam o começo dessa história. Fim? Bom, essas histórias quase nunca têm fim...

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A história do Guarda-Roupa

E não é que eu esqueci mesmo dessa história? Minha irmã que me deu uma lembrada básica. Na época que namorava o soldadinho eu tinha uns 13 pra 14 anos...Lógico que era escondido, meu pai sempre pegou no meu pé e eu tinha que criar enredos mirabolantes pra poder ser uma adolescente normal. E foi nesse dia que o soldadinho bateu na minha porta. Quase cai pra trás, ele tinha passado duas semanas fora, tinha viajado pra ilha ou coisa parecida e eu estava morrendo de saudades super insegura achando que ele tinha me esquecido por conta de alguma sereiazinha de ponta de praia. Então ele bateu na porta. Eu estava sozinha em casa, bom, sozinha não. Minha irmã e a empregada também estavam mas elas não contam, então não resisti e mandei ele entrar. Fomos pro quarto e antes que todo mundo pense que rolou alguma coisa, não rolou. Era um namoro totalmente inocente. Deitamos no chão e ele ficou me contando tudo que tinha acontecido na viagem. Ficamos deitados até pegarmos no sono, abraçadinhos ali no chão.

De repente eu ouvi a sirene tocar 3 vezes. Mas como?? Ainda eram 3 da tarde e so meu pai tocava assim...MEU PAI????? AI, JESUS! O soldadinho deu um salto e eu não tive outra opção senão esconde-lo dentro do guarda roupa, o temido guarda roupa. Saí do quarto com o coração pulsando em minhas mãos, com os olhos esbugalhados imaginando como eu iria me safar dessa. Foi então que notei que havia algo errado. Meu pai não estava em casa e as duas filhas da p*** estavam rindo no sofá. Era um trote. Voltei pro quarto arrasada. O coitado do menino ficou 5 minutos dentro daquele inferno, buraco negro, caos, que era o meu guarda roupa. Abri a porta e ele estava la sentadinho, como se nada estivesse acontecendo. Ele saiu, eu com a cara arrastando no chão, a gente se despediu e eu prometi que daquele dia em diante, nunca mais deixaria meu guarda roupa bagunçado. É óbvio que não cumpri a promessa.

Palavras achadas por uma Garota Perdida

Deprê.

Eu sei que não sou nenhum exemplo de alimentação saudável, mas um cara
aqui no escritório bateu todo e qualquer recorde de tosquice.

Ao chegar de manhã, de ressaca e com fome e não achar nada melhor na
geladeira do escritório, mandou de colherzinha um potinho de VINAGRETE
abandonado, daqueles que acompanham o frango do Galeto´s, saca?

Eu juro.

surra

Ai que ansiedade!

O resultado do master que mais me interessa (aquele que fiz prova escrita) era para sair hoje, mas já são 5 da tarde na Itália e nada... estou muito confiante que vai dar tudo certo, mas essa expectativa está me matando.

Esse final de semana tive que ficar de molho em casa. Porcausa daquelas manchas na pele estou fazendo um tratamento com ácido glicólico e não sei o que aconteceu dessa vez que fiquei com o rosto todo vermelhão e descascando. Não consegui achar a dermatologista hoje e estou começando a ficar bem preocupada, embora o vermelhão já tenha quase todo ido embora. Até a consulta de amanhã vou melecando a cara de bloqueador solar.

E o cachorro (um dos) do vizinho subiu no telhado, literalmente. Não sei como ele fez isso, mas agora estão todos tentando tirá-lo de lá. Eu confesso que tive uns pensamento maldosos... o que posso fazer se esses cachorros me irritam muito? São vários e eles latem e uivam muito, madrugada a dentro. Festa não se pode fazer porque a atrapalha o sono dos vizinhos, mas cães histéricos são socialmente aceitos. Não entendo isso. Até para ver TV tem que ser com o volume nas alturas, porque senão, justo na hora que o mocinho vai contar o segredo que eu quero tanto saber os cachorros latem e daí não dá para ouvir mais nada. E eu não estou exagerando não!

E os que não latem, mordem. Tem um outro vizinho que tem dois pastores alemães assassinos. E, como sempre, os donos acham que eles são inofensivos. Então saem para passear com os cães apavorando o bairro todo. Saem com coleira, mas isso não quer dizer muita coisa, pois na verdade são os cachorros que levam os cães para passear. O dono não consegue controlá-los. Isso quando eles não saem com os cachorros soltos. Certa vez estava chegamndo em casa, à pé, quando vejo os dois cachorros soltos na quadra de casa. Gelei, e comecei a voltar para o shopping a passos largos. Liguei para casa e tive que ficar lá esperando até que os cachorros voltassem para suas celas, de onde jamé deveriam sair. E na semana retrasada os cães aproveitaram quando alguém saiu da garagem da casa e saíram para a rua. Atacaram a mulher que mora no quinto andar do meu prédio. Teve que dar milhares de pontos e a mãe dela, que estava junto, quase morreu do coração. E os donos ainda acharam que não tiveram culpa porque não viram eles saindo... pra mim tem culpa só pelo fato de ter os cães.

Acho que já deu pra notar que eu não sou muito fã dos caninos, né... isso não é uma afirmação politicamente ou socialmente correta mas é isso mesmo. Tenho horror a cachorros e a seus donos que dizem que eles não fazem nada. Já deixei de ir na casa de muitas pessoas que se recusam a prender os cães porque eles "não fazem nada" e ainda ficam rindo do meu desespero (achando que eu tenho que rir junto!). Acho isso uma falta de educação sem tamanho.

OK, meu medo é um tanto irracional, tenho medo que eles chegem perto de mim, independentemente do tamanho ou da possibilidade de levar uma mordida. Mas esse medo é meu e se eu estou na rua tenho o direito de não querer um cão cheirando meus tornozelos. Eu corro, grito, atravesso a rua sem olhar, as pernas tremem, a boca fica seca, o coração dispara. E ainda por cima o dono faz cara de ofendido, porque naturalmente "ele não faz nada".

Pensando bem, meu medo também não é assim tão irracional. Ora, se você tem medo de barata (porque pode transmitir doenças) e eu coloco umas baratas limpinhas, criadas em laboratório, para correr sobre o seu corpo, você acharia engraçadinho? Ainda mais se eu fizesse isso sem a sua expressa permissão? E sem ganhar nada por isso?

Tenho certeza que não. Ué, mas elas não fazem nada...

Por Simone, Lá longe

13.10.03

Eu NÃO Acredito em....

* regimes revolucionários de oito dias
* livros de auto-ajuda
* facas guinzo
* canetas que escrevem no teto
* cabelos encaracolados que ficam lisos (se são reais, me dê a dica)
* pessoas que ficam sorridentes 24 horas por dia
* adolescentes comunistas
* adolescentes góticos e comunistas
* cálculos matemáticos de probabilidade
* teorias de hippies chapados
* bozo
* a história de que o espírito santo engravidou a maria
* geógrafos com habilidade semântica

Eu Acredito em...

* sobrevivência do rock
* sobrevivência do hitler
* sobrevivência dos cremes Claybon de amendoim
* simplificação máxima das regras gramaticais
* argentinos
* deterioração progessiva de esportes viris, como o futebol
* cremes anti-frizz (sim, sou ingênuo e insistente)
* existência de realidades paralelas em quadrinhos infantis (posso jurar que a mônica tem consciência própria)
* larry flint
* vida após a morte
* humanização da elke maravilha
* lesbianismo da xuxa
* fim dos strokes
* qualquer coisa que me falem

adoçante

Caminho distraida pela calçada. Carros, pedestres, confusão de rostos e corpos me esbarrando. Chove e deixo-me estar ali. pingando pelos caminhos, sem guarda-chuvas. Por que decidi que hoje é dia de lavar alma. Logo ela, tão cansada do eterno estar e ser do dia-a-dia. Deixo que descubra a poesia das gotas.

Ando incrivelmente com vontade de abraçar o universo. Sorriso bobo no espelho. Nem mesmo as rugas em torno dos olhos conseguem amenizar a estranha sensação de felicidade que por hora me invade. Sei que é breve. Em mim, há pouco espaço para alegrias, natureza noturna, circunspectamente minha face espreita indagações. Mas hoje, não. Hoje visto-me de certezas e sensações.

E caminho lavada de chuva pelas avenidas cinzas da cidade. Percebo cores no asfalto. Poesias nos bêbados e mendigos do sinal. Busco balês nos passos cabisbaixo do que vão e vem. Música me acompanha. Cantarolando baixinho mantras de boa sorte.Amanheci assim. Não sei se entardeço do mesmo modo. Estranha gangorra de emoções que vive dentro de mim.
a criatura e a moça

12.10.03

Voltas

Passei minha infância inteira com vestidos de saia rodada. Eu adorava rodar em torno de mim mesma pra ver o balão que ela formava. Rodava até ficar tonta, cair, sujar o vestido e chorar porque a brincadeira tinha de acabar. E assim passei a vida, olhando minha saia e achando que aquilo era a única coisa que existia no mundo, rodando no próprio eixo pra ter a falsa ilusão que tudo se movimentava em torno de mim e levei tombos.
Rasguei meus joelhos, levei pontos na testa e torci meu tornozelo. Troquei meu vestido sujo várias vezes, usei curativos que ardiam sem ter ninguém para soprar. Eu estava rodando no escuro sem ver nada o que estava acontecendo, feliz por estar sentindo minha saia florida podia rodar mesmo no escuro. A luz se acendeu, seguraram nas minhas mãos e me pediram para olhar dentro dos olhos, para esquecer o significado da palavra tempo e sentir todos os sentimentos que me rodeavam, me propôs parar de rodar, e sentir que a minha saia está voando apenas no momento que o vento se fizesse presente em um dos lugares que estaríamos vivendo sem provocar tantos tombos, e se eles acontecerem, foi porque o buraco ou a pedra eram maiores que a nossa lucidez.

A luz acendeu na madrugada.
-Traks preciso falar com você agora!
-São duas e meia da madrugada! Temos que acordar às 5h00! Não dá pra ser depois?
-Não, tem que ser agora, olha bem pros meus olhos!
-Eu nem consigo abrir os olhos!
-Por favor! É muito importante!
-Pronto tão abertos! Só te digo que eu não vou lembrar de nada disso de manhã por que sou sonâmbula!
-QUER CASAR COMIGO?
(...)

Em caso de coma - Me coma!

O que é que minha mãe tem

E olha que nem baiana ela é. Mas estava eu dizendo pra ela:

-- Mãe, mãe, Respectivo está vendo apartamentos e tudo mais.
-- Sim, mas ele vai só?
-- Por enquanto, nén? Depois só que eu vou.
-- Sei. Duvido que você agüente ficar em casa e não seguir rapidamente.
-- Ah, oras, digamos que somente não vou porque acho que o papai ia ter um surto, um ataque do coração, bem agora que ele sente a idade chegando, com o aniversário.
-- Mas a gente podia dar aquela geladeirinha que era da sua irmã.
-- E o sofá que era da vovó?
-- Acho que podia também. E tenho uns pratos sobrando. Podia dar pra vocês.
-- Mas o papai, mãe.
E minha mãe estende a palma da mão virada para mim e:
-- Deixa comigo, assossegue-se.
[e eu, internamente: *Noooooossa, quantos progressos!*]

Então eu estou lá no sofá assistindo sei lá a que programa televisivo e chega meu pai e senta-se do meu lado e logo vem minha mãe da cozinha. Isso era já outro dia. E minha mãe:
-- O seu pai queria te perguntar uma coisa.
-- Hm? Coisa?
-- Se você e Respectivo estão pretendo ir morar juntos.
-- Hm, bem... cof-cof-cof -- chega que engasgo. Nesse momeeeeento, agora-agora, não. Depois. Mas pai, você ia ter um surto muito grande?
-- Mas nã, que eu estou bem de olho na movimentação toda.
[e eu, internamente: *Noooooossa, quantos progressos!*]

E seguimos para a cozinha e minha mãe vai lá dizendo como Respectivo é tudo, como ele me traz flores, como ele fez Ciências Sociais e é ateu e admirador do socialimo e da dialética marxista (supostamente atributos que deveriam deixar meu pai babando por Respectivo), como Respectivo é responsável e ajuizado, porque quer comprar um apartamento e como ele só tem 27 anos de idade e fez tudo isso.

E meu pai fica lá, o pobre, sem ter a quem se aliar nessa mini guerra fria. O mundo que gosta de Respectivo versus papai, tentando proteger sua filhinha caçula a quem chama de minhoquinha. Sei que, medeus, estou incrível até agora, como foi que ele aceitou tudo e ainda disse que sim, que a geladeira e o sofá e blablabla a gente podia pegar.

E ainda no outro dia, minha mãe se chega a Respectivo e diz:

-- Dívida eterna, Respectivo.
-- Mas como?
-- Que eu estou fazendo um trabalho sério de convencimento do pai da Ione, pra aceitar a idéia toda de união estável.
Respectivo cora. Respectivo tem medo do meu pai. Meu pai é difícil, mas não é bravo. Mesmo assim.
-- Sim, Respectivo, agora eu vou querer, como pagamento, acarajés para todo o sempre.
-- Tá, tá bom -- Respectivo não sabe onde enfiar a cara.
-- Daquele da Liberdade, todo domingo.
-- Tudo bem, tudo bem. Feito.

DEUS! Minha mãe me vendeu por acarajés!

O primeiro fim-de-semana passou e Respectivo não comprou o acarajé da minha mãe. Vamos torcer para ela não fazer um trabalho de convencimento contrário do meu pai.

a menina do didentro

30 sinais de que você está em um legítimo boteco
Por Dark Jules

1 - Cerveja a menos de R$2,00. Só em um legítimo boteco para a cerveja custar tão pouco (se bem que é "Polar", "Belco", "Schincariol", "Cintra", etc)
2 - Marcas de cigarro alternativas. Nesses lugares vendem-se marcas como "Campeão", "Ritz", "Fúria Mentol","Oscar" e "Amigo".
3 - Bebum de fé (O Landin). Todo o boteco que se preza tem um bebum da casa, que aparece todo santo dia para "bater o ponto".
4 - Potão de conserva atrás do balcão. Quase sempre é de ovo de codorna no vinagre (aquela cebola com sardinha... hehehe).
5 - Nome com apóstrofe e um "S" no final. Sempre cheios de estilo, como: "Revelation's", "Bambu's" e "Ressaca's". Ou então é o nome do campeão, como Bar do João, Bar do Alemão, Bar do Negão, Bar do Zico, Bar do Pelé.
6 - Garrafa velha de refri. Quando se pede Coca, vem Pepsi, naquelas garrafas com logotipo branco, com a tinta já gasta, do tempo do Michael Jackson.
7 - Rádio AM como música ambiente. No fim das contas, faz mais barulho do que propriamente som.
8 - Catchup em diversas tonalidades de vermelho. Um festival para seu paladar.
9 - Cartãozinho de "Não aceito fiado". Outra variação criativa é: "Fiado só para maiores de 90 anos acompanhado dos pais". Ou aquele calendário com um cara com carrão e outro pedindo esmola... com aquela frase: "esse só vendia fiado").
10 - Banheiro à la Trainspotting. "O Pior Banheiro do Mundo" (...ou coisa pior). Se tiver tampa na privada e papel higiênico (o de lixa), não está no espírito.
11 - Cardápio escrito à giz e com vááários erros ortográficos, como "XCorassão", "Concrete" e "Wisk".
12 - Cozinheira gorda e mal humorada, com bigode e chinelo de dedos. Ou garçom de bigode, com camisa pra fora das calças e caneta bic atrás da "orêia".
13 - Balas "de troco" de um só tipo: duras, ruins e guardadas dentro de um pote nebuloso de plástico. Detalhe: a embalagem nunca desgruda da bala.
14 - Toalhas de plástico grudadas com percevejo. Daquelas que o seu cotovelo fica até colado, ou mesas de madeira repletas de furos de cupins.
15 - Um cachorro bem sarnento zanzando na porta. Note que ele nunca entra senão leva pau!
16 - Telhado de amianto ou de folha de zinco. Piso de cimento ou de "Xadrez Vermelhão". E o balcão sempre de pedra ardósia.
17 - Mesa de Sinuca de Madreperola. Com o pano verde encardido e cheio de desenhos de giz azul. Os tacos geralmente são tortos e grudentos, o que obriga a passar o giz azul na mão pro taco escorregar!
18 - Não existe caixa registradora. E sim uma calculadora destas de camelô que emite um "bip" a cada tecla apertada . O dinheiro é guardado numa gaveta com as divisórias feitas de ripa de caixote. As onças (notas de R$50,00) são guardadas embaixo da gaveta.
19 - Ventilador de Teto. Que faz mais barulho do que vento e está cheio de cocô de mosquito.
20 - Relógio de parede chinês com aquela borboletinha no ponteiro de segundos.
21 - Pôsters do time do dono do buteco. Destes que vem no Jornal dos Sports,pregados na parede (já bastante desbotados).
22 - O garçom abre a cerveja com um abridor que é um pedaço de cabo de vassoura com um parafuso na ponta. E joga a tampinha no meio da rua.
23 - Você pede Fanta Uva e o cara tem! Naquela garrafa velha ainda!
24 - Coleção de Garrafas de Conhaque Dreher e Presidente, Velho Barreiro, Becosa Steinhaeger, Caninha 51 (tem a 21 também), Coquetel de Frutas, Jurubeba Leão do Norte, Batida Bahianinha e Vermouth Cortezano numa prateleira na parede atrás do balcão.
25 - Isqueiro Transparente preso com corrente de cachorro.
26 - Estufa com os salgadinhos de sempre: Coxinha, Croquete, Empada, Pastel e Pastel Assado (este último é sempre o mais caro). E quando você pergunta o que é de hoje, o cara sempre responde que tudo "é de hoje", mesmo já tendo mais de uma semana na estufa.
27 - Você pede pimenta e o cara te traz uma garrafa de um litro, tampada com uma rolha e com as pimentas até amarelas.
28 - A "pinga da boa" é guardada embaixo do balcão, num garrafão verde de cinco litros.
29 - Sempre tem um orelhão por perto (pode ser externo do tipo "comunitário" ou interno nos botecos mais chiques).
30 - Além das bebidas e dos tira-gostos triviais, dá pra encontrar também cortadores de unha, barbeadores "bic" (aquele de uma lâmina só e que não vale nada), refil de pedra de isqueiro e canivete "quatro ases".

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